Acabo de ler uma postagem da Associação de Docentes da UFRJ (ADUFRJ) informando que a reitoria da minha “Alma Mater” finalmente resolver dar fim a uma placa que havia sido posta em um bloco de pedra situado na frente do Centro de Tecnologia (CCT) e do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) na Cidade Universitária (ver imagem abaixo).
Conclui minha graduação em 1986, um ano após o fim oficial da ditadura civil-militar instalada pelo golpe de 1964, tendo iniciado minha trajetória na UFRJ em 1980 no curso de Meteorologia, tendo me transferido para o de Geografia em 1982.
Aqueles eram outros tempos, pois cheguei na UFRJ em meio à atentados de bombas contra a OAB e bancas de jornais no centro do Rio de Janeiro. Mas também eram tempos em que o regime se decompunha abertamente e muitos estudantes da universidade como eu se sentiam na obrigação de participar do esforço de derrubar aquela ditadura hedionda. Em função disso, como muitos outros, participei do movimento estudantil, tendo ocupado posições no Centro Acadêmico de Meteorologia, e também no Diretório Central dos Estudantes Mário Prata, e ainda da coordenação geral do Alojamento Estudantil da UFRJ.
Como estudante do CCMN, passava diariamente na frente daquela pedra e da placa instalada pela reitoria da UFRJ em setembro de 1972 para homenagear o talvez mais sanguinário dos ditadores instalados pelo golpe de 1964, o general Emilio Garrastazu Médici. Como aquela placa me causava profunda repulsa, desenvolvi o esporte de pixá-la diariamente com a frase “Abaixo a Ditadura”, sempre carregando uma lata de tinta na mochila para realizar meu pequeno gesto de rebeldia sem ser ser descoberto. Eu fiquei tão bom no disfarce que pixava a pedra a qualquer momento do dia. Felizmente nunca fui flagrado realizando minha atividade artística, pois se fosse pego, a minha vida acadêmica provavelmente teria sido encurtada por algum julgamento disciplinar especial.
Agora a azeitona na empada: sempre aparecia algum servidor da UFRJ, com o qual nunca me encontrei, para apagar a pixação. Era uma espécie de pinta e remove que se estendeu até os generais decidirem, sob pressão das ruas, voltarem para a caserna.
Agora, exatos 35 anos depois de eu ter concluído o meu Mestrado em Geografia pela UFRJ, me chega a notícia de que, finalmente, a placa de homenagem a Garrastazu foi removida. A coisa é que no Brasil determinadas coisas se movem muito lentamente, muito mais do que deveria, incluindo a homenagem de uma universidade pública a um ditador sanguinário.
Uma coisa me alegrou na imagem: alguém continuou o trabalho de pixar a placa, uma prova de que, apesar da lentidão, ainda existe aqueles que lutam, mesmo que seja com uma lata de tinta na mão.
