Extração ilegal de madeira na Amazônia tem aumento de 184% em Unidades de Conservação

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Por Imaflora 

De agosto de 2023 a julho de 2024, a exploração ilegal de madeira na Amazônia brasileira aumentou 184% em Unidades de Conservação (UCs). No período analisado, foram explorados 8,1 mil hectares nessa categoria fundiária, contra 2,8 mil no período anterior. A informação consta em estudo divulgado nesta quinta (18) pela rede Simex, composta pelo ICV, Imaflora e Imazon.

Ao todo, foram extraídos 327,6 mil hectares de florestas nativas para fins madeireiros no bioma, o que representa uma redução de 10,5% em comparação com o total identificado no estudo anterior. Desse número, 69% (225,1 mil ha) foram explorados de forma legal, com autorização emitida pelos órgãos competentes, enquanto 31% (102,5 mil ha) ocorreram de forma não autorizada.

Além do aumento da extração ilegal em UCs, houve também o aumento da exploração em Terras Indígenas (TIs) e assentamentos rurais. Em TIs, a extração de madeira chegou a 25,2 mil hectares, o que corresponde a um aumento de 24%. Já em assentamentos rurais, o número é de 6,7 mil hectares, 66% superior ao explorado no período anterior.

Do total explorado de forma não autorizada, os imóveis rurais privados respondem por 53%. Foram 54,4 mil hectares de floresta com exploração  nessa categoria durante o período analisado. Em comparação com o período anterior, contudo, o número representa uma redução de 39%.

As áreas de exploração madeireira foram identificadas e mapeadas por meio de imagens de satélite e contrapostas às autorizações de exploração emitidas pelos órgãos ambientais. O Simex é o principal indicador da atividade madeireira legal e ilegal na região amazônica. Os índices reúnem informações de sete estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato GrossoPará, Rondônia e Roraima).

Conforme destacou Leonardo Sobral, diretor de Florestas e Restauração do Imaflora, em 2024 foi observada uma tendência de estabilidade da área total explorada, mas a persistência de exploração não autorizada em áreas críticas reforça a necessidade de políticas continuadas de governança, transparência e comando e controle.

“A consolidação dos dados do Simex para a Amazônia mostra que o avanço do monitoramento da exploração madeireira tem produzido um retrato mais preciso da atividade na região, permitindo separar o que é manejo sustentável do que ainda ocorre à margem da legalidade”, explicou o diretor do Imaflora.

A pesquisadora Camila Damasceno, do Imazon, destacou que apesar da redução da extração ilegal ser positiva, a redução da extração legal acende um alerta, pois pode indicar um enfraquecimento da gestão florestal, o que gera um mercado desleal para quem segue as práticas do manejo florestal.

“Por isso, compreender esses movimentos é essencial para orientar políticas públicas que fortaleçam o manejo florestal sustentável e ampliem a proteção da floresta. Os números do Simex ajudam a identificar os pólos de maior pressão sobre a floresta e evidenciam onde é prioritário avançar na gestão, na fiscalização e no apoio à produção legal”, disse.

Ranking

Mato Grosso é o estado com mais área florestal explorada para fins madeireiros na Amazônia brasileira, com 190 mil hectares extraídos, o que corresponde a 58% do total. Em seguida, aparece o Amazonas, com 46,1 mil hectares (15%) e o Pará, com 43 mil hectares (13%).

No ranking dos dez municípios com mais exploração ilegal no período, 6 estão localizados em Mato Grosso, sendo o primeiro Aripuanã, com 12,7 mil hectares explorados ilegalmente. Em seguida, aparecem Colniza (3º), Nova Ubiratã (4º), Paranatinga (6º), Marcelândia (7º) e Juína (9º).

Também compõem a lista Lábrea/AM (2º), Paragominas/PA (5º), Porto Velho/RO (8º) e Dom Eliseu/PA (10º). Juntos, esses dez municípios concentram 51% de toda a exploração madeireira ilegal mapeada na Amazônia brasileira no período analisado.

Para Vinicius Silgueiro, coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do ICV, Mato Grosso lidera o ranking dos estados com mais exploração madeireira na Amazônia por uma série de fatores, entre eles o relevante papel econômico do seu setor de base florestal, a localização e o histórico de ocupação das áreas florestais, mas também a persistência da exploração não autorizada, que se beneficia especialmente da fragilidade em áreas protegidas.

“Os caminhos para coibir a exploração madeireira ilegal e buscar sua erradicação na Amazônia devem envolver uma combinação de fortalecimento da fiscalização, aprimoramento da rastreabilidade e da transparência, e incentivo à legalidade e ao manejo florestal sustentável”, explicou.

“A fiscalização precisa ser mais focada, ágil e punitiva para desmantelar as cadeias de ilegalidade. Com isso, concentrar o esforço de fiscalização, inclusive com operações conjuntas, nos municípios com maior incidência de ilegalidade, que historicamente concentram a maior parte do problema.”

A ilegalidade avança sobre áreas protegidas

O mapeamento de 2024 traz um sinal de alerta: a exploração madeireira sem autorização cresceu justamente onde a floresta deveria estar mais blindada – Terras Indígenas (TIs) e Unidades de Conservação (UCs). Ao todo, foram 33.454 hectares explorados ilegalmente nessas duas categorias, uma alta de 44% em relação a 2023 (23.120 ha). Na prática, isso significa que cerca de um terço de toda a área explorada sem autorização no período analisado ocorreu dentro de áreas protegidas.

A maior fatia da ilegalidade recaiu sobre as Terras Indígenas, com 25.278 hectares – 25% de toda a exploração ilegal mapeada. As Unidades de Conservação responderam por 8.177 hectares, o equivalente a 8% do total identificado.

Para Júlia Niero, analista técnica do Imaflora, o dado expõe um problema estrutural: “Quando a exploração ilegal cresce dentro de Terras Indígenas e Unidades de Conservação, isso indica fragilidade nos mecanismos de comando e controle e uma resposta insuficiente diante de um problema que se repete há anos”. Ela ressaltou que os impactos vão além da retirada de árvores: “A exploração madeireira ilegal abre caminho para degradação do habitat, perda de biodiversidade e aumento do risco de incêndios – pressionando áreas estratégicas para o clima e para a proteção dos modos de vida de povos indígenas e comunidades tradicionais”.

O padrão geográfico repete o mapa de pressão já observado em 2023, com maior impacto no sul do Amazonas, norte de Rondônia e noroeste do Mato Grosso – regiões historicamente marcadas por degradação e desmatamento.

Entre as Terras Indígenas, a TI Aripuanã (MT) aparece como o principal foco em 2024, com 8.601 hectares afetados. Na sequência, estão o Parque Indígena do Xingu (MT) (4.770 ha), a TI Kaxarari (AM/RO) (2.885 ha) e a TI Amanayé (PA) (2.026 ha). Somadas, essas quatro áreas concentram 54% de toda a exploração ilegal registrada em áreas protegidas.

Já nas Unidades de Conservação, a Reserva Extrativista Guariba/Roosevelt (MT) lidera como a mais impactada — e chama atenção por não ter figurado entre as mais afetadas no levantamento anterior. Para Júlia, o dado é um recado direto: “O avanço em uma UC que não estava no topo da pressão mostra que a ilegalidade é dinâmica e pode ‘migrar’ rapidamente. Nenhuma área protegida está fora de risco quando há falhas de fiscalização e impunidade no entorno”.


Fonte: Imaflora

Dados de desmatamento branqueados: relatos de redução da perda de floresta tropical no Brasil são enganosos

.A degradação florestal explodiu na Amazônia em 2024 

Serraria clandestina na região de Porto Velho, no estado brasileiro de Rondônia, em 6 de fevereiro

Por Norbert Suchanek para o “JungeWelt”

A história de sucesso “Menos Desmatamento no Brasil!” recebeu ampla cobertura da mídia em maio passado, inclusive na Alemanha. Tanto o governo brasileiro quanto a Mapbiomas, rede de pesquisa que monitora os ecossistemas do país, confirmaram uma queda significativa no desmatamento na Amazônia no ano passado. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), 30,6% menos floresta tropical foi destruída em 2024 do que em 2023, enquanto a Mapbiomas calculou uma redução de 16,8% em seu relatório anual de desmatamento (RAD). No entanto, dados sobre perda florestal do renomado World Resources Institute (WRI), também publicados em maio, indicam exatamente o oposto: a floresta amazônica brasileira registrou sua maior perda florestal em 2024 desde o recorde de 2016. Cerca de 110% a mais de desmatamento do que em 2023. A região amazônica perdeu 2,82 milhões de hectares de floresta tropical primária no ano passado, em comparação com “apenas” 1,14 milhão de hectares perdidos em 2023, de acordo com o WRI.

O INPE, por outro lado, estima 628.800 hectares de destruição da floresta tropical em 2024, em comparação com 906.400 hectares no ano anterior. Os menores números de desmatamento foram calculados pelo Mapbiomas, uma rede não governamental de universidades, organizações ambientais e empresas de tecnologia. Segundo o relatório, a área desmatada na Amazônia caiu de 454.230 hectares em 2023 para 377.708 hectares no ano passado.

Então, quem está certo? Os números do WRI são do Laboratório Global de Análise e Descoberta de Terras da Universidade de Maryland (UMD). Tanto o INPE quanto o Mapbiomas, assim como a UMD, coletaram os dados de desmatamento usando imagens de satélite, mas com diferentes métodos de análise e limitações do sistema.

A base de dados varia

O INPE avalia os dados usando seu sistema de monitoramento florestal Prodes. Este sistema registra cortes rasos maiores que 6,25 hectares. Os pesquisadores da UMD, por outro lado, consideram o desmatamento tão pequeno quanto 0,09 hectares e também registram perdas devido ao fogo , que o Prodes não inclui. No ano passado, de acordo com o WRI, 60% da destruição florestal foi causada pelo fogo. Devido a uma seca intensa e prolongada na Amazônia, os incêndios, que geralmente são iniciados por humanos, destruíram mais área florestal do que em outros anos. E quando mais área queima, menos floresta tem que ser desmatada com motosserras para expandir pastagens de gado ou campos de soja.

Outra diferença importante é o período de avaliação. Enquanto o Prodes considera os doze meses entre agosto e julho, os dados da UMD referem-se ao ano civil, ou seja, de janeiro a dezembro de 2024.

Por fim, o Mapbiomas combina dados de desmatamento de sistemas independentes de monitoramento, como o SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) do Instituto Amazonas para a Humanidade e o Meio Ambiente (Imazon), com dados de sistemas do INPE, como o Prodes, e se concentra exclusivamente no corte raso e na remoção completa da vegetação natural. O Mapbiomas não inclui perdas devido a incêndios florestais ou exploração madeireira seletiva em suas estatísticas de desmatamento, razão pela qual os números são significativamente menores. “Como o Mapbiomas não contabiliza a crescente perda florestal devido a incêndios no Brasil, uma proporção crescente da mudança florestal geral não é adequadamente representada”, resume a plataforma online do WRI, Global Forest Watch (GFW).

Os danos florestais são maiores

Para avaliar se a proteção florestal na região amazônica está de fato melhorando ou piorando, precisamos de dados sobre degradação florestal, além de estatísticas de desmatamento. Florestas danificadas, por exemplo, devido à exploração madeireira seletiva e estradas florestais, têm uma cobertura vegetal mais rala, são mais suscetíveis à seca e pegam fogo com mais facilidade. Por outro lado, iniciar incêndios em florestas tropicais intactas e úmidas não é uma tarefa fácil.

De acordo com o instituto de pesquisa Imazon em Belém do Pará, houve um aumento explosivo na degradação florestal na região amazônica em 2024. Segundo o relatório, 3,64 milhões de hectares de floresta tropical foram degradados, cerca de seis vezes mais do que em 2023. De acordo com o Imazon, os danos florestais registrados no ano passado pelo sistema de monitoramento do SAD foram os maiores desde que o instituto começou a monitorar florestas em 2009, superando em muito o recorde anterior estabelecido em 2017, quando 1,15 milhão de hectares de floresta amazônica foram degradados.

Segundo o Imazon, o aumento da degradação florestal na região amazônica está diretamente ligado ao aumento dos incêndios florestais no ano passado. A seca e a exploração madeireira também contribuíram para esse processo de degradação.


Fonte: JungeWelt

Campos dos Goytacazes aparece como nono pior município médio em ranking nacional de progresso social. Quem se surpreende?

Na ultima quarta-feira (28/05), o Imazon publicou a segunda edição do Índice de Progresso Social (IPS) analisa 5.570 municípios com base em indicadores sociais e ambientais, oferecendo um retrato multidimensional do desenvolvimento no Brasil, mas acabei não divulgando porque queria mais tempo para analisar o material.

Em seu site, o Imazon informa que neste caso, Progresso Social foi definido por um grupo de especialistas acadêmicos e sintetizado pelo SPI como “a capacidade da sociedade em satisfazer as necessidades humanas básicas, estabelecer as estruturas que garantam qualidade de vida aos cidadãos e dar oportunidades para que todos os indivíduos possam atingir seu potencial máximo”. Ainda segundo o Imazon, a “partir desse conceito, o IPS Brasil 2025 é formulado com base em 57 indicadores divididos em três dimensões: Necessidades Humanas Básicas; Fundamentos do Bem-Estar e Oportunidades”.

Pois bem, é aí que a porca torce o rabo para o município de Campos dos Goytacazes que, no grupamento relativo a cidades com mais de 500 mil, aparece no nada honroso posto de nono pior entre todos seus congêneres brasileiros (ver imagem abaixo).

Alguém poderá desdenhar do valor atribuído a Campos dos Goytacazes no IPS Brasil 2025, mas a leitura do relatório completo ajuda a entender como é que fomos colocados nesta posição pouco lustrosa.  Basta ver como se calcula os valores de diferentes componentes que compõe o IPS para notar quem a despeito de inevitáveis distorções que qualquer cálculo desta natureza, os números não estão mentindo.

Além disso, por mais distorção que possa haver, conheço algumas das cidades colocadas entre as melhores e já vivenciei diferenças notáveis na condição de vida dos mais pobres que são aqueles que mais sofrem quando necessidade básicas não são resolvidas ou, quando o são, as soluções oferecidas são precárias, como é o caso de Campos dos Goytacazes.

Aliás, é preciso dizer que o mundo dourado (que no caso é feito de muita pirita) que o prefeito Wladimir Garotinho nos presenteia em suas entrevistas não é problema de uma ou duas administrações municipais, mas sim de um longo processo histórico de criação de desigualdades. Mas é lamentável notar que em qualquer índice minimamente sério que se organize, a posição de Campos dos Goytacazes é sempre entre os piores. 

E essa posição se mantém apesar dos bilhões de reais que foram aportados nos cofres municipais desde a promulgação da Lei do Petróleo em 1998 na forma de royalties ou participação especial.  O fato inegável é que boa parte desse dinheiro foi utilizado para reforçar e até aprofundar as desigualdades históricas que colocam de um lado uma minoria de privilegiados e de outro uma maioria que é deixada na pobreza absoluta.

Pelo menos com esse relatório, aqueles que quiserem fazer um debate minimamente sério sobre os desafios em que estamos atolados vão poder ter um instrumento para se orientar, deixando de lado as fanfarronices que cercam as manifestações dos diferentes grupos que se engalfinham para controlar os cofres municipais.

Desmatamento na Amazônia cai 36% de janeiro a abril, mas é o 3º maior desde 2008

Devastação no primeiro quadrimestre chegou aos 1.203 km², ficando atrás apenas de 2021 e 2022

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A derrubada da floresta amazônica teve uma queda de 36% no primeiro quadrimestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2022. Porém, isso ainda não foi suficiente para tirar 2023 do pódio das maiores áreas desmatadas de janeiro a abril em 16 anos.

Conforme o monitoramento por satélites do Imazon, a destruição acumulada no período chegou aos 1.203 km², a terceira maior desde 2008, quando a medição foi implantada. Este ano só não teve os piores primeiros quadrimestres do que 2021 e 2022, quando a devastação aumentou expressivamente na região.

Apenas em abril, a queda no desmatamento chegou aos 72%, passando de 1.197 km² em 2022 para 336 km² em 2023. Diminuição que precisa seguir durante o chamado “verão amazônico”, época de seca na região, que inicia entre maio e junho, quando a derrubada costuma ser maior.

“Essa redução observada em abril é positiva, porém a área desmatada ainda foi a quarta maior desde 2008 para o mês. Isso indica que precisamos implantar ações emergenciais de fiscalização, identificação e punição aos desmatadores ilegais nos territórios mais pressionados, focando nas florestas públicas que ainda não possuem uso definido e nas áreas protegidas, principalmente com a chegada do verão amazônico, onde historicamente o desmatamento tende a aumentar”, afirma Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon.
 

Roraima e Tocantins apresentaram aumento na devastação

Embora o desmatamento acumulado tenha apresentado queda na Amazônia, Roraima e Tocantins tiveram alta em seus territórios. E a situação mais crítica ocorreu em Roraima, onde a devastação passou de 63 km² de janeiro a abril de 2022 para 107 km² no mesmo período deste ano, uma alta de 73%.

Pressão que tem afetado tanto terras indígenas, como a Yanomami e a Manoá/Pium, como assentamentos roraimenses, como o Paredão, o Caxias e o Taboca, todos territórios entre os 10 mais desmatados em suas categorias em abril. Já Tocantins apresentou um crescimento de 25% no desmatamento, passando de 4 km² de janeiro a abril de 2022 para 5 km² no mesmo período deste ano.

Mato Grosso, Amazonas e Pará seguem com as maiores áreas derrubadas

Apesar de terem registrado queda no desmatamento, Mato Grosso, Amazonas e Pará seguem como os estados com as maiores áreas derrubadas na Amazônia. De janeiro a abril deste ano, Mato Grosso devastou 400 km² de floresta, Amazonas 272 km² e Pará 258 km², o que representa 33%, 23% e 21% do total na região. Ou seja: juntos, esses estados foram os responsáveis por 77% da floresta destruída no primeiro quadrimestre de 2023.

Desmatamento por estado no primeiro quadrimestre de 2023

Estado Janeiro Fevereiro Março Abril Soma % em relação ao total
Mato Grosso 85 157 86 72 400 33%
Amazonas 21 55 104 92 272 23%
Pará 23 63 91 81 258 21%
Rondônia 18 21 22 52 113 9%
Roraima 41 19 28 19 107 9%
Maranhão 5 2 9 13 29 3%
Acre 3 7 3 5 18 2%
Tocantins 1 1 1 2 5 0%
Amapá 1 0 0 0 1 0%
Amazônia 198 325 344 336 1203 100%

Fonte: Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Imazon

Em abril, o estado que liderou a destruição foi o Amazonas, com 92 km². Desse total, 77 km² (84%) foram desmatados somente em cinco municípios da região sul: Canutama, Lábrea, Apuí, Manicoré e Novo Aripuanã. Além disso, o estado teve a terra indígena mais desmatada da Amazônia, a Tenharim Marmelos (Gleba B), que fica nos municípios de Humaitá e Manicoré.

“Estamos reiteradamente alertando sobre o avanço do desmatamento no sul do Amazonas, na região de divisa com os estados do Acre e Rondônia, conhecida como Amacro, onde atualmente existe uma forte pressão pela expansão agropecuária. São necessárias medidas urgentes de fiscalização e destinação de terras públicas no local para evitar novas derrubadas, como infelizmente estamos vendo todos os meses”, alerta Bianca Santos, pesquisadora do Imazon.

Segundo estado que mais desmatou a Amazônia em abril, com 81 km², o Pará vem sendo destaque negativo na defesa de suas áreas protegidas. Sob cuidado do governo do estado, a APA Triunfo do Xingu foi a unidade de conservação mais desmatada em toda a região, com a perda do equivalente a 500 campos de futebol de floresta (5 km²) apenas em abril. No mês anterior, em março, o território também teve uma área do mesmo tamanho derrubada, somando 10 km² de devastação em apenas dois meses.

“Outra unidade de conservação estadual onde o desmatamento avançou em abril foi a APA do Tapajós, onde 2 km² foram derrubados, o equivalente a 200 campos de futebol. Juntas, essas duas APAs paraenses concentraram 58% de toda a derrubada ocorrida em unidades de conservação na Amazônia em abril. Ou seja, são territórios que necessitam de ações urgentes de retirada dos invasores ilegais”, informa Raíssa Ferreira, pesquisadora do Imazon.

Já em Mato Grosso, onde 72 km² de floresta foram derrubados em abril, o desmatamento está avançando por diferentes pontos da região norte. Entre os municípios, o que mais desmatou foi Peixoto de Azevedo, com 15 km², o correspondente a 21% de toda a destruição registrada no estado.

“Outro ponto negativo é o avanço na devastação dentro de áreas protegidas de Mato Grosso, como as unidades de conservação Resex Guariba-Roosevelt e Esec do Rio Roosevelt, e as terras indígenas Sete de Setembro, Sararé e Kayabi”, comenta Larissa.

Rondônia tem 4 das 10 UCs mais desmatadas

Quarto estado que mais destruiu a Amazônia tanto no primeiro quadrimestre deste ano (113 km²) como apenas em abril (52 km²), Rondônia também tem tido destaque negativo em relação às áreas protegidas. Em abril, o estado teve quatro das 10 unidades de conservação mais desmatadas na Amazônia: PES de Guajará-Mirim, Resex Jaci Paraná, Resex Rio Preto-Jacundá e Resex Angelim.
 

Em Rondônia, 46% da devastação ocorrida em abril se concentrou dentro da capital, Porto Velho, que ficou como o segundo município mais desmatado da Amazônia. Além disso, o estado também teve a terceira terra indígena mais destruída da região, a Igarapé Lage.
 

Confira os dados completos aqui
Entenda o monitoramento do Imazon aqui

Estudo do Imazon mostra grande avanço do desmatamento e da degradação florestal na Amazônia

Apenas em agosto, foram derrubados 1.415 km². Além disso, a degradação florestal causada pela extração de madeira e pelas queimadas cresceu 54 vezes

desmatamento e queimadas

Sobrevoo do Greenpeace em julho mostrou queimada em Rondônia (Foto: Christian Braga/Greenpeace)

Por Imazon

O desmatamento acumulado na Amazônia já chegou a quase 8 mil km² apenas em oito meses, sendo o maior dos últimos 15 anos. Segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), somente em agosto foram derrubados 1.415 km² de floresta, uma área quatro vezes maior do que Belo Horizonte.

Outro problema foi a degradação florestal causada pela extração de madeira e pelas queimadas, que cresceu 54 vezes na região em relação ao mesmo mês do ano passado. A área degradada passou de 18 km² em agosto de 2021 para 976 km² em agosto de 2022, uma alta de 5.322%.

Além de ameaçar diretamente a vida de povos e comunidades tradicionais e causar perdas na biodiversidade, esse aumento na destruição também afeta a camada de ozônio e contribui para o aquecimento global em um momento de emergência climática. Por isso, neste Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio, é importante olhar para a floresta em pé como uma das soluções para proteger as populações das consequências desse desequilíbrio do clima, entre elas a maior frequência e intensidade de eventos extremos como secas e tempestades.

“Já passamos da metade do ano e o que vem acontecendo são recorrentes recordes negativos de devastação da Amazônia, com o aumento no desmatamento e na degradação florestal. E infelizmente temos visto ações insuficientes para combater esse problema”, lamenta a pesquisadora Bianca Santos, do Imazon.

SITE SAD JAN AGO 2008 2022 - Desmatamento na Amazônia chega a quase 8 mil km² em 2022, pior acumulado em 15 anos

Monitoramento da degradação pode ajudar no combate ao desmatamento

O instituto classifica como desmatamento quando a vegetação foi totalmente removida, o chamado “corte raso”, e como degradação florestal quando parte da mata foi retirada por causa da extração de madeira ou afetada pelo fogo. Por isso, é comum que uma área classificada como degradada seja posteriormente desmatada.

“Em muitos casos de áreas que sofrem degradação florestal por exploração madeireira, após a retirada total das espécies de valor comercial, é feita a remoção completa das árvores para destinar aquela área a outros tipos de uso, como por exemplo a agropecuária ou até para a especulação imobiliária, no caso da grilagem”, explica Bianca.

É por isso que monitorar também a degradação, e não apenas o desmatamento, é muito importante para a Amazônia. “Se os órgãos ambientais agirem para proteger as áreas degradadas recentemente, podem evitar que elas sejam desmatadas nos meses seguintes”, completa a pesquisadora.

Pará lidera no desmatamento e Mato Grosso na degradação

Apesar da área destruída na Amazônia em agosto deste ano ter sido 12% menor do que no mesmo mês de 2021, quando foram desmatados 1.606 km², Bianca alerta que é extremamente cedo para comemorar. Isso porque a devastação de 2022 foi a terceira pior para o mês de agosto desde 2008, quando o instituto implantou seu Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD). O segundo pior ano foi 2020, quando 1.499 km² de floresta foram postos abaixo.

SITE SAD AGO 2008 2022 - Desmatamento na Amazônia chega a quase 8 mil km² em 2022, pior acumulado em 15 anos

Os estados que mais desmataram em agosto foram Pará (647 km²), Amazonas (289 km²) e Acre (173 km²), que registraram respectivamente 46%, 20% e 12% de toda a derrubada na Amazônia.

“Nesses três estados, assim como nos outros que compõem a região, estamos identificando o avanço do desmatamento nas florestas públicas não destinadas. São áreas pertencentes aos governos dos estados ou federal que ainda não tiveram um uso definido, cuja prioridade estabelecida em lei é para a criação de novas áreas protegidas, como terras indígenas ou quilombolas e unidades de conservação. Porém, por essa falta de destinação, essas terras acabam sendo as preferidas dos grileiros, que as invadem com a expectativa de obter a posse”, afirma a pesquisadora.

Já o estado que teve a maior área de floresta degradada em agosto foi Mato Grosso (657 km²), o que representa 67% do registrado em toda a Amazônia. Pará (240 km²) e Acre (28 km²) ficaram em segundo e em terceiro, com respectivamente 25% e 3% das áreas degradadas na região.

Clique aqui para ver todos os dados de agosto
Saiba mais sobre o SAD aqui


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Este texto foi inicialmente publicado pelo Imazon [Aqui!].

O Ecocídio na Amazônia na Oceania e em Haia

Juntando vozes para um objetivo comum

16 de dezembro, a partir das 9am (horário de Brasília) .

Organização: No Peace Without Justice e Seja Legal com a Amazônia.

Moderação: Michelle Reyes Milk (No Peace)
A organização italiana No Peace Without Justice e campanha brasileira Seja Legal com a Amazônia tem o prazer de convidá-los para o evento virtual “Ecocídio na Amazônia na Oceania e em Haia”, que acontecerá no dia 16 de dezembro de 2021, à margem da Assembleia dos Estados Partes do Tribunal Penal Internacional, atualmente em reunião em Haia.

O evento visa contribuir para as discussões em curso sobre o ecocídio, ou seja, qualquer ato ilegal ou arbitrário realizado sabendo-se que existe uma possibilidade significativa de causar graves danos ao meio ambiente, promovendo a conscientização do público e estimulando a vontade política para a criminalização desse tipo de ato, tanto em nível nacional quanto internacional. Mais importante ainda, o evento convidará os líderes globais a se comprometerem e se unirem ativamente à nossa jornada em direção a proteções ambientais mais rigorosas através da lente da justiça criminal.

A fim de incluir vozes locais e especialistas de nível institucional, o evento também enriquecerá as discussões em andamento, trazendo perspectivas e testemunhos diretos dos povos e comunidades mais afetados pela destruição ambiental.

Entre os convidados estarão o pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e porta-voz da Seja Legal, Paulo Barreto; Olympia Bekou (professora de Direito Internacional da Nottingham University) ; James Baghwan (secretário-geral da Conferência de Igrejas do Pacífico); Marie Toussaint (membro do Parlamento Europeu); e Kattrin Jadin (membro do Parlamento Belga).

A tradução simultânea será disponibilizada em inglês, espanhol, português, francês e italiano .

Você pode registrar sua participação aqui para receber o link e participar do evento.

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Tocantins cobra preço mais baixo em venda de áreas públicas e hectare chega a valer apenas R﹩ 3,50, revela estudo

Levantamento liderado pelo Imazon mostra que, além de valores irrisórios por áreas públicas, estado tem pior colocação no ranking de transparência

terras públicas

Estudo conduzido por pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) concluiu que o preço cobrado pelo Tocantins para regularizar uma terra, na modalidade de venda, chega a ser em média apenas R﹩ 3,50 por hectare e é o mais baixo dentre os estados da Amazônia Legal. Na prática, isso significa que o estado vende por preços ínfimos áreas que foram invadidas e desmatadas ilegalmente, o que representa um estímulo à grilagem de terras e consequente aumento da destruição da floresta. Além disso, o Tocantins tem o pior desempenho na avaliação da transparência ativa, comparado a outros estados na Amazônia Legal.

As informações são do relatório “Leis e Práticas de Regularização Fundiária no Estado do Tocantins” , do Imazon, produzido para analisar como as terras públicas do estado são geridas, quais as lacunas e oportunidades de aprimoramento para aumentar a eficiência do seu órgão de terras (Instituto de Terras do Tocantins – Itertins) e o controle sobre as áreas públicas, combater grilagem de terras e o desmatamento associado a essa prática.

Segundo o levantamento, o preço de venda de uma área privada, que normalmente é cobrado no mercado de terras do Tocantins, é de R﹩ 8.714,74 por hectare. Já para regularizar uma área ocupada, antes de responsabilidade federal, por meio de venda, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) cobra R﹩ 930 por hectare e o Itertins, para a regularização de um imóvel que antes estava sob os cuidados estaduais nesta mesma modalidade, cobra em média apenas R﹩ 3,50 por hectare. Esse cálculo considerou a média ponderada nas áreas em que não há definição fundiária. Mas se considerar a legislação, um hectare de terra chega a valer R﹩ 1,00 em alguns municípios.

A média ponderada por região do Valor da Terra Nua (VTN) cobrado pelo Itertins (R﹩ 3,50) representa apenas 0,4% do valor do VTN médio da pauta de preço de terra do Incra e meros 0,04% do valor médio de mercado de terra no Tocantins. Esse é o menor valor médio cobrado entre todos os estados da Amazônia Legal para regularização fundiária. Os pesquisadores recomendam, para resolver o problema, que seja feita uma alteração no decreto estadual para aumentar o valor cobrado na venda de terras públicas por parte do governo do estado.

Outros gargalos

Além do baixo preço de venda de terra pública executada no estado, o relatório levanta outros problemas alarmantes e traz recomendações para a melhora das leis e práticas fundiárias do Tocantins. Os pesquisadores estimam que 34% do território do Tocantins não apresenta destinação fundiária ou informação sobre sua destinação. Do total de áreas sem informação, 83% (ou 28% do estado) seriam de responsabilidade do governo estadual.

O estado também tem a pior colocação de transparência ativa entre oito estados da Amazônia Legal avaliados. Isso porque não divulgava 69% dos dados obrigatórios pela Lei de Acesso a Informações Públicas, a LAI (Lei Federal n.º 12.527/2011), o que faz com que a sociedade não saiba quais áreas públicas estão sendo privatizadas e quem está recebendo títulos de terra emitidos pelo estado. A falta desses dados se agrava com a ausência de instâncias de participação pública para o acompanhamento das ações do órgão de terras. O relatório alerta para a necessidade de transparência e controle social sobre a privatização do patrimônio público privado.

Outro problema encontrado foi a ausência de data limite ou tempo mínimo para ocupação em terra pública. Na prática, isso significa que quem ocupa uma terra pública hoje, poderá solicitar um título de terra amanhã, deixando as terras públicas estaduais vulneráveis à prática de grilagem. Para eliminar essa possibilidade, os pesquisadores recomendam uma alteração na lei estadual para inserir um prazo máximo para início de ocupação que pode ser regularizada.

Amazônia Legal

O trabalho do Imazon também incluiu o lançamento do relatório “Dez fatos essenciais sobre Regularização Fundiária na Amazônia Legal” , com análises de todos os nove estados para ajudar a compreender como as leis e práticas fundiárias atuais acabam estimulando o desmatamento e a grilagem na região.

“O tema da indefinição fundiária na Amazônia está sendo discutido hoje por diferentes públicos e fóruns nacionalmente, devido à relação entre desmatamento e grilagem de terras. Porém, é necessário compreender como as leis e práticas fundiárias contribuem com o desmatamento. Com esse relatório, auxiliamos esse processo de compreensão dos desafios e recomendamos o que pode ser feito para que a União e os estados adotem leis e práticas fundiárias que contribuam com a conservação e redução de conflitos no campo”, explica a pesquisadora Brenda Brito, coordenadora do estudo.

Devastação desenfreada: Amazônia sofre maior nível de desmatamento em abril dentro de uma década, e degradação florestal também avança

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O desmatamento da Amazônia no último mês de abril foi de 778 km², o maior valor para o mês registrado nos últimos dez anos, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

O índice é 45% maior que o desmatamento registrado em abril de 2020. Em março, também foi registrado um recorde histórico, quando o Imazon constatou 810 km² de floresta devastada.

Os estados com maior área desmatada são: 

  • Amazonas – 28%
  • Pará – 26%
  • Mato Grosso – 22%
  • Rondônia -16%
  • Roraima -5%
  • Maranhão – 2%
  • Acre 1%

“Em Lábrea e Apuí, no Amazonas, municípios que lideram o ranking dos 10 que mais desmataram, houve perda de 126 km² de floresta, o que representa quase 60% de todo o desmatamento do Estado detectado em abril”, diz o Imazon.

Degradação florestal

Os dados do Imazon apontam ainda o total de “degradação florestalna Amazônia Legal, que somaram 99 km² em abril, o que representa um aumento de 60% em relação ao mesmo mês no ano passado, quando a degradação detectada foi de 62 km². O estado do Mato Grosso concentra 75% da área de floresta degradada, seguido pelo Pará (24%) e Roraima (1%).

“O Imazon classifica o desmatamento como o processo de realização do corte raso, que é a remoção completa da vegetação florestal. Na maioria das vezes, essa floresta é convertida em áreas de pasto. Já a degradação é caracterizada pela extração das árvores, normalmente para fins de comercialização da madeira”, explica o instituto.

Com informações do G1.

Novo estudo aponta que leis estaduais estimulam invasão de terras públicas e desmatamento na Amazônia

Relatório do Imazon lançado nesta quarta-feira (24) aponta estímulos à grilagem de terras e desmatamento com leis e práticas de órgãos fundiários na Amazônia Legal

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O aumento expressivo de desmatamento observado em 2019 e 2020 trouxe evidência ao tema de regularização fundiária na Amazônia. Isso porque cerca de 40% da perda de florestas ocorre em uma área sem definição de direito à terra. Tramitam no Congresso diversos projetos que, em tese, se propõem a resolver o problema, mas acabam apenas por enfraquecer as salvaguardas ambientais. Na prática, a mudança de regras federais de regularização fundiária é uma medida insuficiente diante dos desafios enfrentados nesse tema, além de estimular novas ocupações de terras públicas e, assim, acabar por promover ainda mais o desmatamento na região. É o que mostra o relatório “Dez fatos essenciais sobre regularização fundiária na Amazônia Legal”, publicado nesta quarta-feira (24.03) pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, Imazon.

O estudo é o resultado de um levantamento feito entre 2016 e 2020, que envolveu entrevistas a representantes dos institutos de terra estaduais e a instituições que atuam no tema; revisão da legislação fundiária dos nove estados da Amazônia Legal, além de levantamento de dados junto a órgãos federais e estaduais.

“O tema da indefinição fundiária na Amazônia está sendo discutido hoje por diferentes públicos e fóruns nacionalmente, devido à relação entre desmatamento e grilagem de terras. Porém, é necessário compreender como as leis e práticas fundiárias contribuem com o desmatamento, para que a tomada de decisão nesse tema apoie de fato a conservação da floresta e garantia de direitos às populações que a protege, ao invés de gerar ainda mais estímulos à destruição da floresta. Com esse relatório, pretendemos auxiliar nesse processo de compreensão dos desafios e recomendar o que pode ser feito para que a União e os estados adotem leis e práticas fundiárias que contribuam com a conservação e redução de conflitos no campo”, explica Brenda Brito, pesquisadora do Imazon e coordenadora do estudo.

O relatório destaca dez fatos principais para entender como as leis e políticas fundiárias atuais acabam estimulando o desmatamento e a grilagem. Entre eles estão: i) a falta de destinação ou informações fundiárias em 28,5% da Amazônia Legal; ii) os governos estaduais como responsáveis pela maior parte do território sem destinação na região; iii) a falta de controle e planejamento para a destinação das terras públicas; iv) a ausência de procedimentos que garantam a destinação de terras públicas de acordo com a hierarquia definida no ordenamento jurídico, como a prioridade de reconhecimento de terras indígenas e áreas necessárias à conservação ambiental. Nesse último exemplo, os autores indicam que 43% das áreas sem destinação fundiária possuem prioridade para conservação, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente. Mas esse dado não é levado em consideração nos processos de regularização fundiária, o que pode levar à privatização associada a desmatamento nessas regiões.

Além disso, na análise dos pesquisadores do Instituto, a maioria das leis incentiva o roubo de terras públicas. “As leis fundiárias vigentes na Amazônia refletem uma visão de que a terra pública está disponível para ocupação e apropriação, o que é um estímulo para a continuidade de invasões no território. Isso ocorre porque poucas leis estaduais determinam qual a data limite em que um particular pode iniciar uma ocupação para receber um título de terra. Ou seja, ocupações ocorridas em qualquer ano, inclusive futuramente, seriam, a princípio, elegíveis para receber um título de terra. Mesmo aquelas leis que possuem um prazo acabam sendo alteradas para adiá-los. Casos recentes de mudanças nesse marco temporal incluem uma alteração na legislação federal em 2017 e em Roraima em 2019”, afirma Jeferson Almeida, pesquisador do Imazon e um dos autores do estudo.

O relatório também aponta que a desorganização das bases de dados dos órgãos fundiários é uma das limitações para criar um ambiente de compartilhamento de dados entre instituições, o que poderia agilizar a análise de pedidos de titulação e dar maior transparência às informações fundiárias. “Há vários estudos apontando que precisamos de um cadastro de terras unificado no Brasil para melhorar a gestão fundiária, e concordamos com essa sugestão. Porém, a situação que encontramos nos órgãos fundiários estaduais mostra que isso só ocorrerá se houver um investimento de médio prazo na organização e digitalização de suas bases de dados, para que as informações consigam ser compartilhadas”, destaca Brenda Brito.

Finalmente, os pesquisadores ressaltam a alta expectativa de lucro com a invasão de terra pública devido ao baixo valor cobrado pelos governos na titulação de médios e grandes imóveis. Em média, o valor base cobrado pelos governos estaduais na venda de terra pública corresponde a apenas 15% do valor de mercado, com dispensa de licitação. Já o governo federal cobra em média 26%. Além disso, sobre esse valor ainda podem incidir vários índices que reduzem ainda mais o preço final.

Essa diferença entre o valor cobrado pelo governo e o valor de mercado representa um subsídio àqueles que ocupam terras públicas. Os autores também ressaltam que não há garantia de que essa facilidade para pagamento será convertida em geração de empregos ou adoção de práticas mais sustentáveis de produção nos imóveis. Isso porque nenhum órgão de terra na região monitora as obrigações socioambientais que devem ser cumpridas nas áreas tituladas. “Se a finalidade do governo é incentivar a produção sustentável, os subsídios aplicados no valor da terra deveriam ser substituídos por outros ligados ao uso do imóvel após titulação. Ou seja, cobrar valor de mercado na venda dos imóveis, mas conceder abatimentos nas parcelas anuais ou remunerar com esquemas de pagamentos por serviços ambientais se os titulados cumprirem o Código Florestal ou adotarem prática de agricultura de baixo carbono”, ressalta Brenda Brito.

O relatório indica recomendações para que as legislações estaduais e a federal sejam revisadas e alteradas para se adequarem aos esforços de redução de desmatamento. Porém, Brenda Brito destaca que um dos atuais projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional para alterar a legislação fundiária vai na direção contrária. “As alterações propostas no Projeto de Lei nº 2.633/2020 e no Projeto de Lei n.º 510/2021 podem reafirmar vários dos incentivos à grilagem que identificamos em nosso estudo, pois possuem brechas que podem permitir a titulação de terras públicas invadidas futuramente, não impedem a titulação de áreas recém-desmatadas e também afrouxam a cobrança de dívidas de quem já recebeu título e não pagou”. Por isso, os autores sugerem propostas de alterações na legislação devem considerar os seguintes aspectos:

1. Instituir procedimento transparente e com ampla consulta para destinação de terras públicas. Isso aumentaria, por exemplo, a chance de identificar áreas em conflito e com demandas prioritárias de reconhecimentos territorial ou de conservação ambiental.
2. Proibir privatização de áreas predominantemente florestais. A privatização de áreas que possuem, por exemplo, mais de 80% de sua cobertura florestal, permite que parte dessa floresta seja desmatada legalmente, contribuindo com o desmatamento.
3. Definir um marco temporal que limite a data de ocupação de terras públicas passíveis de titulação, para aquelas leis que não possuem essa previsão. E também inserir nas Constituições Estaduais um artigo prevendo o impedimento da mudança desse marco temporal futuramente, reconhecendo de forma explícita para essa finalidade o princípio da vedação do retrocesso ambiental.
4. Determinar valores de imóveis compatíveis com o mercado de terras na regularização por venda. Além disso, repassar a tarefa de cobrar os valores a instituições financeiras, para que haja efetivamente o pagamento ou a execução das dívidas.

Para ler orelatório completo e a situação em cada estado, clique  [aqui].

O acordo comercial entre UE-Mercosul é à prova de desmatamento?

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Em junho de 2019, a Comissão Europeia e os países do Mercosul concordaram com um acordo comercial (ACMUE) que, uma vez ratificado pelos países participantes, deverá aumentar o comércio de produtos agrícolas entre as duas regiões. O acordo comercial eliminará 93% das tarifas dos produtos do Mercosul para a União Europeia (UE), beneficiando notadamente produtos agrícolas, incluindo carne bovina e soja.

Preocupações têm sido levantadas com frequência sobre o risco de aumento do desmatamento na região do Mercosul – especialmente na Amazônia brasileira. Tais preocupações são pertinentes, uma vez que uma análise em 189 países, de 2001 a 2012, mostra que o desmatamento aumentou significativamente ao longo dos três anos após a promulgação de acordos de livre comércio (Abman & Lundberg 2020). No entanto, os proponentes do ACMUE têm argumentado que o risco de desmatamento poderia ser mitigado devido às disposições de seu Capítulo de Comércio e Desenvolvimento Sustentável e às recomendações fornecidas pela Avaliação de Impacto da Sustentabilidade.

No entanto, este relatório mostra que o desmatamento pode aumentar nos países do Mercosul em virtude do aumento da demanda por produtos agrícolas (Capítulo 1) e pode afetar regiões sensíveis no Brasil, incluindo áreas vizinhas de Terras Indígenas e Unidades de Conservação (Capítulo 2). Além disso, o Capítulo 3 evidencia que as disposições de Comércio e Desenvolvimento Sustentável do ACMUE são insuficientes para mitigar o aumento do risco de desmatamento com foco no caso brasileiro. Portanto, o acordo atual pode não promover o desenvolvimento sustentável conforme exigido pelo regulamento comercial da UE. No capítulo 3 apresentam-se sete recomendações para reduzir o risco de que a ratificação do atual ACMUE resulte em desmatamento suplementar e conflitos com populações indígenas. A seguir estão os principais resultados.

CAPÍTULO 1.  O ACMUE AUMENTARÁ O RISCO DE DESMATAMENTO ADICIONAL NOS PAÍSES DO MERCOSUL

Este capítulo mostra que o desmatamento pode aumentar entre 122 mil e 260 mil hectares nos países do Mercosul, de acordo com os seis cenários alternativos examinados. Cinquenta e cinco por cento do desmatamento seriam no Brasil, considerando-se a média dos seis cenários avaliados (variando de 45% a 66%).

Os cenários combinaram premissas relativas às elasticidades comerciais, ao nível de governança da terra e à adoção ou não do duplo cultivo. O desmatamento seria maior em um cenário de maior elasticidade comercial, menor governança da terra e não uso de duplo cultivo. Em resposta à liberalização comercial, os setores de pecuária processada, bebidas e açúcar do Mercosul aumentam a produção que é então exportada para a UE. Por outro lado, a UE diminuiria a produção desses produtos devido ao aumento da concorrência. As emissões terrestres variam de 75 milhões de toneladas de CO2e do primeiro cenário (S11) a 173 milhões de toneladas no último cenário (S23).

O ACMUE geraria ganhos de bem-estar (em termos de ganhos monetários dos produtores e consumidores) de quase 2,2 bilhões de euros para ambas as regiões da UE-Mercosul. A UE capturaria 68% dos ganhos, o Brasil 23% e os 9% restantes iriam para outros países do Mercosul.

Os impactos comerciais, as mudanças no uso da terra e as implicações do bem-estar foram estimados usando-se uma versão avançada de um modelo de Equilíbrio Geral Computável (CGE) (GTAP-BIO). Esse modelo representa a estrutura da economia global e traça a produção, o consumo e o comércio de todos os tipos de bens e serviços (incluindo, mas não se limitando a culturas, produtos pecuários, óleos vegetais e farelos, açúcar, arroz processado e alimentos processados) em escala global. Para implementar o ACMUE, as mudanças tarifárias propostas foram exogenamente introduzidas neste modelo.

CAPÍTULO 2.  O ACMUE ARRISCARIA O DESMATAMENTO EM ÁREAS SENSÍVEIS NA AMAZÔNIA E NO CERRADO BRASILEIRO

Este capítulo projeta onde o desmatamento adicional provavelmente ocorreria nos biomas Cerrado e Amazônia no Brasil. Esses biomas representaram 96,7% do desmatamento total no Brasil em 2019. Embora nem todo o desmatamento projetado seja no Brasil e/ou dentro de um único bioma, a análise é útil para destacar as áreas prioritárias para mitigação.

Na Amazônia brasileira, o desmatamento é mais provável em três estados: Pará (39,9%), Rondônia (32,6%) e Mato Grosso (25,2%). O ACMUE aumentaria o risco de desmatamento nas proximidades de Terras Indígenas e Unidades de Conservação. O desmatamento vem aumentando rapidamente nessas áreas, uma consequência provável da redução das operações policiais e das perspectivas de exploração dessas áreas para fins comerciais.

No Cerrado, o desmatamento estaria concentrado em sua região nordeste ou MATOPIBA. A previsão é que o Maranhão abrigue 31,6% do desmatamento total, seguido pelo Piauí (21,3%) e Bahia (20,4%). O ACMUE aumentaria o risco de desmatamento próximo a áreas protegidas no Cerrado. Identificamos duas regiões críticas: i) Maranhão, onde várias Terras Indígenas e um parque nacional ficam ao lado de focos de desmatamento; e ii) Mato Grosso, na ecótono entre o Cerrado e a Amazônia, onde três Terras Indígenas estão próximas da fronteira do desmatamento.

Duas etapas foram usadas para projetar a localização do desmatamento futuro. Primeiro, os autores estimaram a probabilidade de uma determinada área ser desmatada com base em fatores associados ao desmatamento de 2001 a 2018. O segundo passo foi alocar o desmatamento projetado do Capítulo 1 ao longo da paisagem florestal existente (pós-2018). Esta fase consistiu em: i) ordenar os pixels florestais restantes (pós-2018) da maior à menor probabilidade de desmatamento, e ii) selecionar os pixels superiores até que a soma da área desses pixels atingisse a área potencial desmatada total prevista pelo modelo GTAP-BIO.

 CAPÍTULO 3. AS DISPOSIÇÕES AMBIENTAIS ATUAIS DO ACMUE SÃO INSUFICIENTES PARA MITIGAR O RISCO DE DESMATAMENTO

Esses capítulos mostram que as disposições ambientais atuais do ACMUE são insuficientes para mitigar o risco de desmatamento.

O capítulo sobre Comércio e Desenvolvimento Sustentável (CDS) pede a efetiva implementação do Acordo de Paris. No entanto, as metas de mitigação climática da UE e do Mercosul estão abaixo do necessário para manter o aumento da temperatura bem abaixo de 2°C, de acordo com os cientistas. No caso do Brasil, a promessa de zerar o desmatamento ilegal foi colocada em um futuro distante: 2030.

Além disso, o capítulo sobre CDS carece de sanções, e o espaço para a participação da sociedade civil é limitado. O processo de resolução de controvérsias é demorado (mais de 460 dias), que favorecem atores não conformes.

Para defender os princípios de sustentabilidade, desenvolvimento e direitos humanos, o ACMUE deve condicionar sua ratificação à melhoria do desempenho das políticas e à criação de novas disposições. O foco da prevenção é essencial dada a natureza irreversível e de longo prazo dos impactos do uso da terra associados ao ACMUE (desmatamento e conflitos violentos).

As seguintes recomendações são consistentes com a resolução do Parlamento Europeu de 16 de setembro de 2020 sobre o papel da UE na proteção e restauração das florestas mundiais (Parlamento Europeu, 2020). A resolução i) reitera que a política de comércio e investimento da UE deve incluir capítulos de desenvolvimento sustentável vinculativos e exequíveis; e ii) salienta que devem ser incluídos compromissos claros com o combate ao desmatamento em todos os novos acordos comerciais, incluindo o Mercosul.

  1. Condicionar a ratificação do acordo à redução real do desmatamento. A ratificação ou o início das reduções tarifárias do ACMUE devem ser contingenciados no Brasil para reduzir seu desmatamento de acordo com a meta da Política Nacional de Mudanças Climáticas do país: 3.900 km2 (390.000 hectares). Como o Brasil não cumprirá sua meta para 2020, o ACMUE deve esperar até que essa linha de base seja finalmente alcançada no futuro. Para atingir esse objetivo, o Brasil precisaria retomar o exitoso Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na. Amazônia Legal (PPCDAM) e implantar outras abordagens de mercado e regulamentação, como a rastreabilidade de commodities de alto risco.
  2. Criar um fundo para apoiar a redução das políticas de desmatamento e degradação florestal. A ratificação ou o início das reduções tarifárias devem ser condicionados à implantação de assistência técnica e financeira, como a criação de um fundo de apoio sustentável. Esses fundos devem se concentrar em regiões com maiores riscos de desmatamento direto e indireto levando em conta o provável deslocamento da mudança de uso da terra – por exemplo, o aumento da intensificação do uso da terra em uma região que leva à expansão do desmatamento em outras áreas.
  3. Consultar e garantir os direitos dos povos indígenas. A UE deve condicionar a ratificação do acordo à consulta adequada aos povos indígenas e ao estabelecimento de direitos de terra seguros e proteção adequada dos territórios das Terras Indígenas, de acordo com a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Na prática, isso implicaria que os territórios indígenas deveriam ser demarcados, e os invasores deveriam ser realocados antes da redução tarifária.
  4. Estabelecer sanções legalmente vinculativas para resolver a não conformidade. O capítulo sobre CDS deve estabelecer sanções vinculantes legais semelhantes às previstas para outras questões no ACMUE. Vale ressaltar que acordos comerciais que usam sanções para resolver disputas, como acordos dos EUA, estimularam a adoção de melhores práticas antes que os acordos comerciais fossem ratificados. No entanto, mesmo que as disposições do capítulo sobre CDS fossem vinculantes, o longo processo para enfrentar as violações seria insuficiente para conter a onda de desmatamento.
  5. Estabelecer limite de tempo para julgamento de violações do ACMUE. As partes devem reduzir a duração da resolução de disputas ambientais. O ACMUE poderia considerar o modelo do Acordo Estados Unidos – México – Canadá (USMCA) que criou um Mecanismo de Trabalho de Resposta Rápida encarregado do monitoramento rápido e aplicação das disposições.
  6. Estabelecer práticas recomendadas obrigatórias. Dadas as atuais falhas sistêmicas da política ambiental no Brasil, o ACMUE deve exigir a adoção das melhores práticas, como certificação independente, rastreabilidade de produtos, devida diligência e consulta às comunidades indígenas antes de investir.
  7. Ampliar e melhorar o escopo de participação da sociedade civil. Echavarría et al. (2020) recomendam ao ACMUE expandir e melhorar o escopo de participação da sociedade civil, incluindo envolvimento em subcomitês de CDS, criação de mecanismos de diálogo com governos, provisão de financiamento para que a sociedade civil possa acompanhar a implementação e participar de reuniões.

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fecho

Este artigo foi inicialmente publicado no sítio ofícial do Imazon [   ].