Estudo revela que humanos inalam até 68.000 partículas de microplástico por dia

Partículas são pequenas o suficiente para penetrar nos pulmões, diz relatório, com impactos na saúde ‘mais substanciais do que imaginamos’

close de microplásticos nos dedos

Entre outras questões, os microplásticos estão associados à inflamação pulmonar crônica, que pode levar ao câncer de pulmão. Fotografia: pcess609/Getty Images/iStockphoto

Por Tom Perkins para o “The Guardian” 

Cada respiração que as pessoas dão em suas casas ou carros provavelmente contém quantidades significativas de microplásticos pequenos o suficiente para penetrar profundamente nos pulmões, de acordo com uma nova pesquisa revisada por pares , trazendo à tona uma rota pouco compreendida de exposição e ameaça à saúde.

O estudo, publicado na revista Plos One, estima que os humanos podem inalar até 68.000 minúsculas partículas de plástico por dia. Estudos anteriores identificaram pedaços maiores de microplásticos no ar, mas estes não representam uma ameaça tão grande à saúde, pois não permanecem no ar por tanto tempo nem se movem tão profundamente no sistema pulmonar.

Os pedaços menores medem entre 1 e 10 micrômetros, ou cerca de um sétimo da espessura de um fio de cabelo humano, e representam um risco maior à saúde, pois podem ser distribuídos mais facilmente por todo o corpo. As descobertas “sugerem que os impactos da inalação de microplásticos na saúde podem ser mais substanciais do que imaginamos”, escreveram os autores.

“Ficamos bastante surpresos com os níveis de microplástico que encontramos – eram muito maiores do que o estimado anteriormente”, disse Nadiia Yakovenko, pesquisadora de microplásticos e coautora do estudo na Universidade de Toulouse, na França. “O tamanho da partícula é pequeno e sabidamente se transfere para os tecidos, o que é perigoso porque pode entrar na corrente sanguínea e penetrar profundamente no sistema respiratório.”

Microplásticos são pequenos pedaços de plástico adicionados intencionalmente a bens de consumo ou que são produtos da decomposição de plásticos maiores. As partículas contêm cerca de 16.000 substâncias químicas presentes no plástico, muitas das quais, como BPA, ftalatos e Pfas, apresentam sérios riscos à saúde .

A substância foi encontrada em todo o corpo humano e pode atravessar as barreiras placentárias e cerebrais . Acredita-se que alimentos e água sejam a principal via de exposição, mas a nova pesquisa destaca os riscos da poluição do ar. Entre outras questões, os microplásticos estão associados à inflamação pulmonar crônica, que pode levar ao câncer de pulmão.

Todos os dias, respiramos dezenas de milhares de partículas microplásticas.
Estimativa da média diária de partículas microplásticas inaladas (1 a 10 micrômetros de diâmetro).

As concentrações no ar interno são muito maiores do que no ar externo, o que, segundo os autores do estudo, é preocupante, visto que os humanos passam cerca de 90% do dia em ambientes fechados. Yakovenko afirmou que as concentrações em ambientes fechados são maiores porque se trata de um ambiente fechado com altos níveis de plástico em uma área pequena, e geralmente há pouca ventilação.

O estudo mediu o ar em vários cômodos de vários apartamentos, bem como em cabines de carros enquanto os autores dirigiam. Acredita-se que a fonte dos microplásticos nos apartamentos seja o plástico degradado presente em produtos de consumo, desde roupas a utensílios de cozinha e carpetes.

Praticamente qualquer atividade humana libera microplásticos, pois os fragmentos são muito leves. Os níveis eram muito mais altos em um apartamento onde moravam duas pessoas, devido a praticamente qualquer atividade humana que liberasse partículas. Partículas menores permanecem suspensas no ar por mais tempo porque são mais leves, disse Yakovenko.

“Qualquer movimento de ar, vibrações, seu movimento, se você anda, senta, levanta, se você abre uma janela — tudo isso vai ressuspender as partículas”, disse Yakovenko.

Enquanto isso, a concentração de plástico no ar dos carros era cerca de quatro vezes maior do que nos apartamentos. Por ser um ambiente fechado e menor, os carros têm uma concentração maior de plástico, e a ventilação não é boa, disse Yakovenko. Os pesquisadores compararam o material microplástico com o usado no painel, maçaneta, volante e outros componentes.

Embora seja impossível evitar todos os microplásticos no ar, as exposições podem ser reduzidas eliminando o máximo possível de plástico do ambiente doméstico – compre produtos feitos de madeira, metal e fibras ou materiais naturais.

Os sistemas de filtragem de ar HEPA demonstraram ser eficazes na remoção de microplásticos, e Yakovenko afirmou que aspirar regularmente com um aspirador HEPA e tirar o pó pode ajudar. Reduzir os níveis no carro é mais desafiador. Abrir as janelas pode ventilar o interior do carro, mas isso pode permitir a entrada de microplásticos provenientes dos pneus.


Fonte: The Guardian

Fake news: inalação com solução de água sanitária pode expor pessoas a riscos sérios

Sistema CFQ/CRQs e Abipla se unem no combate à desinformação

FAKE NEWS

Circula nas redes sociais um vídeo sugerindo que a inalação de uma substância formada por água, bicarbonato de sódio e hipoclorito de sódio (água sanitária) ajuda a prevenir e curar a COVID-19. Preocupados com a desinformação, o Sistema CFQ/CRQs (Conselho Federal de Química e 21 Conselhos Regionais) e a Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes (Abipla) divulgaram, nesta quinta-feira (25), Nota Oficial sobre o perigo dessa inalação. O objetivo é orientar a população neste momento grave da pandemia.

A nota destaca que os produtos saneantes, tais como a água sanitária, foram desenvolvidos para utilização sobre superfícies inanimadas, jamais para aspersão sobre a pele e menos ainda para inserção nas vias respiratórias. A inalação proposta é possível através da aquisição de produtos simples e acessíveis a maior parte da população, o que aumenta a possibilidade de sua utilização em massa e potencializa seus riscos.

“Compreendemos que, neste momento de pandemia, grupos acabam tentados a experimentações sem qualquer tipo de controle ou registro técnico de resultados. Em consequência, é previsível que se promova a divulgação de tais experimentos. A nós, como profissionais da Química e representantes da indústria do setor de higiene e limpeza, cabe o alerta de que as consequências dessas iniciativas são invariavelmente danosas à saúde. Quaisquer substâncias são completamente seguras apenas quando obedecidas as instruções dos fabricantes que foram previamente analisadas e aprovadas pela Anvisa”, diz a nota.

O Sistema CFQ/CRQs e a Abipla reforçam ainda no documento que as “medidas de distanciamento social, higiene pessoal e vacinação em massa são as principais iniciativas respaldadas na Ciência e, por enquanto, as que devem ser consideradas para o controle da pandemia”.

Veja a íntegra da nota:

NOTA CFQ/ABIPLA SOBRE VÍDEO QUE DESINFORMA AO PROPOR INALAÇÃO COM SOLUÇÃO DE ÁGUA SANITÁRIA PARA COVID-19

É com profunda preocupação que o Sistema CFQ/CRQs, composto pelo Conselho Federal de Química (CFQ) e pelos 21 Conselhos Regionais de Química (CRQs), observa uma crescente no volume de desinformação que circula nas redes sociais e especialmente via aplicativos de mensagens instantâneas. Por tal razão, nos somamos à Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e de Uso Profissional (ABIPLA) na difusão do presente alerta à sociedade.

Nos últimos dias, um vídeo em especial traz apreensão pelos potenciais riscos a que expõe a população. Trata-se de um relato em primeira pessoa em que um homem sugere a inalação de uma solução envolvendo, entre outros produtos, água sanitária e bicarbonato de sódio para nebulização de infectados com o vírus Sars-Cov-2, responsável pela Covid-19.

Como é de conhecimento geral, o tratamento precoce para essa doença é um assunto polêmico, que carece de comprovações científicas e que divide opiniões até entre os próprios médicos. Medidas de distanciamento social, higiene pessoal e vacinação em massa são as principais iniciativas respaldadas na Ciência e, por enquanto, as que devem ser consideradas para o controle da pandemia.

A solução proposta no vídeo em questão expõe a riscos sérios aqueles que a aplicam: esses produtos foram desenvolvidos para utilização sobre superfícies inanimadas, jamais para aspersão sobre a pele e menos ainda para inserção nas vias respiratórias. A inalação proposta é possível através da aquisição de produtos simples e acessíveis a maior parte da população, o que aumenta a possibilidade de sua utilização em massa e potencializa seus riscos.

Substâncias químicas possuem aplicabilidades diversas no cotidiano das pessoas, e muitas delas são indispensáveis direta ou indiretamente para a nossa própria saúde: basta lembrar dos medicamentos ou dos produtos de limpeza que, entre outras funcionalidades, eliminam bactérias e vírus de ambientes comuns.

É preciso ter em mente, entretanto, que para que essas substâncias promovam os benefícios que delas se espera são necessários diversos testes e ensaios. Esse período de testagem se dá em condições controladas de uso, tudo para que sejam garantidas à população a eficácia e a segurança na utilização – desde que, claro, sejam mantidas as condições para as quais foram testadas e indicadas pelos fabricantes.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), agência reguladora responsável pela regularização e monitoramento de uma série de produtos químicos destinados ao suporte a saúde, emite frequentes alertas relativos aos riscos assumidos pela população sempre que condições e destinações de uso são alteradas deliberadamente por cidadãos comuns – ou até mesmo por profissionais que atuam sem qualquer suporte técnico ou sanitário oficial, condição que somente a Anvisa poderia assumir.

Destacamos que a essa alteração de destinação de uso de produtos químicos a Anvisa chama “Desvio de Finalidade”, sendo previstas pela lei advertências e penalidades aos autores desta infração.

Compreendemos que, neste momento de pandemia, grupos acabam tentados a experimentações sem qualquer tipo de controle ou registro técnico de resultados. Em consequência, é previsível que se promova a divulgação de tais experimentos. A nós, como profissionais da Química e representantes da indústria do setor de higiene e limpeza, cabe o alerta de que as consequências dessas iniciativas são invariavelmente danosas à saúde. Quaisquer substâncias são completamente seguras apenas quando obedecidas as instruções dos fabricantes que foram previamente analisadas e aprovadas pela Anvisa.

Como supracitado, no caso específico da água sanitária, trata-se de saneante regulado pela Anvisa de aplicação exclusiva para higienização de superfícies inanimadas e hortifrutícolas, em solução diluída. A ABIPLA reforça ainda os termos da NOTA TÉCNICA Nº 47/2020/SEI/COSAN/GHCOS/DIRE3/ANVISA que diz que é aconselhável o uso de luvas, máscara e óculos para manuseio seguro destes produtos, pois possui grau de corrosividade à pele, olhos e mucosas, portanto, em nenhuma hipótese recomenda-se a inalação, ingestão ou exposição à pele deste tipo de substância em animais ou humanos.

Brasília, 24 de março de 2021

 

José de Ribamar Oliveira Filho

Presidente do Conselho Federal de Química

 

Paulo Engler Carvalho Pinto Jr.

Diretor-executivo da ABIPLA