Em manifesto, organizações repudiam financiamento do Banco do Brasil à gigante da carne BRF

ONGs assinam carta de repúdio a linha de crédito bilionária e apontam falta de compromisso da instituição com o combate à crise climática

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São Paulo, 19 de dezembro de 2022 — Organizações de proteção animal e de defesa do consumidor assinam manifesto enviado ao Banco do Brasil repudiando a renovação de linha de crédito no valor de R $1,5 bilhão para a BRF, uma das maiores empresas processadoras de carne do mundo. As organizações alegam que o empréstimo vai na contra-mão da sustentabilidade e que a instituição deve passar a redirecionar suas concessões de crédito a modos de produção agrícola sustentáveis.

“É inadmissível que uma instituição como o Banco do Brasil vá na direção oposta de todas as recomendações para uma economia sustentável que ajude o Brasil a mitigar os efeitos da crise climática”, afirma Taís Toledo, gerente de relações corporativas da Sinergia Animal, organização internacional de proteção animal e uma das signatárias da carta. 

Além da Sinergia Animal, também assinam a carta o Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, a World Animal Protection, a Mercy for Animals, Animal Equality e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

O agro e a crise climática

Conforme as organizações relatam em seu manifesto, para que se atinja as metas do Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2021, deve haver uma transição significativa dos atuais modos de produção de alimentos para práticas mais sustentáveis, baseadas mais na produção de vegetais e menos na de carne animal.

“A indústria agropecuária representa justamente o oposto do que devemos almejar para evitar a completa catástrofe climática. Ela é uma das principais responsáveis pela perda de biodiversidade, pelo desmatamento e por cerca de um terço de todas as emissões globais de gás metano”, afirma Toledo. A longo prazo, o gás metano possui um impacto até 25 vezes maior do que o de dióxido de carbono.

Segundo o relatório do IPCC, se não houver reduções imediatas e em larga escala nas emissões de gases de estufa, evitar que o aumento de temperatura em 1,5°C ou 2°C pode ser impossível. “Quando se trata da pecuária, o CO2 é emitido principalmente por mudanças no uso da terra – por exemplo, o desmatamento para abrir áreas para pastagem ou cultivo de grãos, como a soja, para alimentação animal – enquanto o metano é predominantemente resultado da digestão dos animais explorados para consumo humano”, relatam as ONGs em seu manifesto.

A percepção dos brasileiros sobre o clima

“81% dos brasileiros acima de 18 anos consideram a crise climática uma questão importante, segundo o IPEC. Por isso, não podemos aceitar nem nos calar quando instituições como o Banco do Brasil usam o dinheiro do cidadão brasileiro para agredir a segurança das futuras gerações do meio-ambiente nacional”, explica Toledo. Ainda segundo o levantamento do IPEC, de 2021, 77% dos brasileiros atribuem o aquecimento global principalmente à ação humana. 

“Assim, pedimos que o Banco do Brasil faça um reconhecimento público da necessidade de se afastar de financiamentos na produção pecuária intensiva e de redirecionar as concessões de crédito a práticas agrícolas sustentáveis”.

Sobre a Sinergia Animal:

A Sinergia Animal é uma organização internacional que trabalha em países do Sul Global para diminuir o sofrimento dos animais na indústria alimentícia e promover uma alimentação mais compassiva. A ONG é reconhecida como uma das mais eficientes do mundo pela renomada instituição Animal Charity Evaluators (ACE)

Amazônia: degradação da floresta remanescente pode emitir tanto ou mais carbono que o desmatamento

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Em decorrência da ação humana, a maior floresta tropical do mundo já perdeu 30% de sua capacidade de reter CO2. Tema foi debatido em webinário promovido pela Aciesp em homenagem aos 60 anos da FAPESP (foto: Vinícius Mendonça/Ibama)

José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – Desde o início deste século, a Amazônia já perdeu cerca de 30% de sua capacidade de reter dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases de efeito estufa. Se for mantida a atual política, que favorece ou até mesmo promove o desflorestamento e a degradação das áreas remanescentes, essa capacidade pode zerar até o final da próxima década, com a Amazônia deixando de ser um sumidouro para se tornar um emissor de carbono.

O alerta foi feito pelo pesquisador David Montenegro Lapola, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade Estadual de Campinas (Cepagri-Unicamp), no dia 6 de julho, em webinário promovido pela Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) para celebrar os 60 anos da FAPESP.

Além do desflorestamento, há um outro fator de impacto, menos conhecido, que é a degradação da floresta remanescente. “Considerando a degradação por seca, a degradação por fogo, a degradação por corte seletivo de madeira e a degradação pelo chamado efeito de borda, de 4% a 38% da floresta remanescente já se encontra degradada, com emissões de CO2 equivalentes ou até maiores do que as das áreas desmatadas”, disse Lapola, enfatizando a necessidade de um novo paradigma de desenvolvimento capaz de reverter o curso da destruição e salvar a floresta.

Em março deste ano, na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, declarou que o governo brasileiro havia escolhido ir além das leis e políticas existentes e se comprometia a eliminar o desflorestamento ilegal da Amazônia até 2028. No entanto, dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que, apenas no primeiro semestre de 2022, 3.971 quilômetros quadrados (km2) da Amazônia Legal foram destruídos. O desmatamento registrado em junho deste ano foi o maior para o mês desde que o instituto iniciou o monitoramento, em agosto de 2015. Aproximadamente 90% desse desflorestamento é desmatamento ilegal.

Os estudos mais consistentes mostram que conter o aquecimento global abaixo de 2 oC, preferencialmente em até 1,5 oC, comparativamente aos níveis pré-industriais, é a única maneira de evitar a catástrofe climática. E essa orientação foi consignada pelo Acordo de Paris, que entrou em vigor no final de 2016. Passados mais de cinco anos, porém, os dados mostram que estamos indo para um aumento de 3 oC, com uma notável irresponsabilidade de vários governos e a indiferença de boa parte da população.

A implementação das metas acordadas em Paris depende das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, conforme as letras iniciais da expressão em inglês) de cada país signatário do acordo. Na primeira versão da NDC brasileira, ainda de 2015, o país assumiu a meta de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 37% até 2025 e em 43% até 2030, tomando como base as emissões de 2005. Na revisão da NDC, publicada no final de 2020, esses percentuais foram mantidos, mas os valores considerados como base de cálculo foram mais altos do que os utilizados na NDC original. Ou seja, não apenas deixou-se de melhorar as metas, como seria desejável, mas também foi embutido, sob os números apresentados, um aumento real das emissões. A promessa feita pelo ministro na COP26, de reduzir em 50% as emissões de GEE até 2030, não encontra, portanto, respaldo em medidas concretas.

A maior ameaça da história

Intitulado “Mudanças climáticas globais: seus impactos e estratégias de mitigação e adaptação”, o webinário organizado pela Aciesp teve o objetivo de apresentar e discutir o segundo capítulo do livro FAPESP 60 Anos: A ciência no desenvolvimento nacional.

A abertura foi feita por Adriano Andricopulo, diretor-executivo da Aciesp, Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP, e Paulo Artaxo, integrante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), vice-presidente da Aciesp e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG).

Além de Lapola, participaram como palestrantes Gabriela Marques Di Giulio, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP); Pedro Leite da Silva Dias, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP; e Mercedes Bustamante, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília (ICB-UnB).

As dimensões humanas das mudanças climáticas foram objeto da intervenção de Di Giulio, que tratou de como as sociedades devem estruturar suas políticas públicas para responder aos riscos sociais em curso. “Há uma necessidade de mudanças transformativas em todas as dimensões – principalmente de uma urgente substituição desse modelo predatório de espoliação da natureza por um modelo baseado na solidariedade, no respeito à diversidade biológica e na justiça social”, afirmou a pesquisadora, lembrando que, atualmente, há quase 35 milhões de brasileiros sem acesso à água tratada e cerca de 100 milhões sem acesso à coleta de esgoto.

“Outro desafio é o da segurança alimentar, neste momento em que o Brasil volta com muita força a estar presente no mapa da fome da Organização das Nações Unidas (ONU). Há mais de 125 milhões de brasileiros e brasileiras em insegurança alimentar e mais de 33 milhões em situação de fome”, informou.

Silva Dias tratou dos desafios da modelagem diante da extrema complexidade do sistema climático e das influências antropogênicas. “Há duas formas principais para entender os mecanismos responsáveis pela variabilidade do clima e o potencial papel do homem: a modelagem climática de um sistema extremamente complexo e a análise observacional do período e de estimadores do clima passado, o paleoclima. Os dois são complementares e devem caminhar juntos”, falou, destacando que é preciso cotejar e selecionar os melhores modelos, que sejam capazes de reproduzir bem o clima atual.

Bustamante associou dois processos extremamente importantes em curso, as mudanças climáticas e o declínio da biodiversidade, ressaltando que a elevação de cada fração de grau implica a intensificação dos eventos climáticos extremos, com múltiplos riscos, e que os impactos serão enormes se o aquecimento global exceder 1,5 oC. “O aquecimento global representa a maior ameaça à diversidade biológica na história humana”, disse.

A pesquisadora lembrou que o Brasil possui extraordinários ativos ambientais, que deveriam ser a oportunidade para uma nova agenda de desenvolvimento. Bem o contrário do que está sendo feito.

O webinário “Mudanças climáticas globais: seus impactos e estratégias de mitigação e adaptação” pode ser assistido na íntegra em: www.youtube.com/watch?v=0XEw7wATBWs.


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Este texto foi inicialmente publicado pela Agência Fapesp [Aqui!].

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a pergunta latente é: ‘O Brasil está preparado para as mudanças climáticas?’  

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Por Christianne Bernardo *

Os eventos climáticos atípicos têm sido cada vez mais frequentes no Brasil. Estamos acompanhando com tristeza a devastação que fortes chuvas causaram em Pernambuco nesses últimos dias. Estudos sobre as mudanças climáticas já revelaram que eventos extremos, como ondas de frio e de calor, chuvas em grandes volumes ou extensos períodos de estiagem, serão cada vez mais frequentes no planeta. Mas, o Brasil está preparado?

A tragédia que se abateu em Pernambuco, o ciclone extratropical Yakecan, que derrubou as temperaturas em boa parte do país e causou frio histórico no mês de maio, o desastre de Petrópolis neste ano e as enchentes que atingiram cidades de Minas Gerais e da Bahia no fim de 2021 e início de 2022 são apenas alguns exemplos recentes de eventos climáticos atípicos.

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado neste ano, a “crise do clima” é causada pela ação humana, com efeitos irreversíveis, e vai vitimizar a parcela mais pobre e mais vulnerável da população mundial. O relatório, que alerta para secas e ondas de calor, incêndios, inundações, insegurança alimentar, escassez de água, aumento do nível de corpos hídricos, doenças e outros impactos, aponta as Américas Central e do Sul (onde está o Brasil) como regiões altamente expostas a esses efeitos cada vez mais catastróficos. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, classificou o relatório como “um atlas do sofrimento humano”.

Na região hidrográfica da Baía de Guanabara, a situação não é diferente. Já enfrentamos verões menos chuvosos e com temperaturas mais elevadas, confluência de fatores que causam diversos problemas para uma população de cerca de 10 milhões de pessoas, que representa 80% da população do estado do Rio de Janeiro.

A fim de mapear o cenário atual e identificar perspectivas futuras, o Comitê da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara está elaborando o Plano de Recursos Hídricos da Região V (PRH-RV), que já aponta alguns indicativos preocupantes. Segundo estudos contidos no documento, até 2045, o prognóstico é de aumento da temperatura e diminuição das chuvas. Isso significa que a carga hídrica da região, que apresenta alta densidade demográfica, está em risco.

O que vemos na Região Hidrográfica da Baía de Guanabara é um aumento da carga poluidora que chega nos rios e córregos e acabam desaguando na baía e no mar. A ocupação irregular é um dos fatores que agravam significativamente o problema e o número de imóveis construídos em áreas impróprias e sem infraestrutura básica, como rede de água e esgoto, só cresce.

Sem uma coleta adequada de lixo e esgoto, como podemos pensar em qualquer ação ambiental? A defesa do meio ambiente é construída de forma integrada e precisa contar com instrumentos e políticas públicas. O cidadão atendido em suas necessidades básicas é um vetor de ações ambientais com muito mais condições do que o que não está inserido nestse sistema mínimo de sobrevivência.

O Comitê da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara é uma entidade que cria um ambiente de construção coletiva e discussão entre três pilares da sociedade – Poder Público, Usuários (pessoas jurídicas como concessionárias e empresas) e a Sociedade Civil – para que, como todos “sentados à mesa”, possamos encontrar meios de garantir o atendimento da população, propor melhores usos de recursos naturais, principalmente dos recursos hídricos, e incentivar as boas práticas de recuperação e preservação do meio ambiente.

O discurso ambiental e de prevenção aos eventos climáticos atípicos não pode, e não deve, ser uma pauta descolada da realidade das pessoas. Ele deve estar nas decisões de compra e de consumo de recursos, mesmo as menores e mais corriqueiras. E é só garantindo a cidadania que a preservação ambiental será efetiva.


*Christianne Bernardo tem mestrado em Ciência Ambiental pela UFF e é presidente do Comitê da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara  

Políticas atuais trarão colapso climático ‘catastrófico’, alertam ex-líderes da ONU

Três ex-chefes climáticos da ONU dizem que a lacuna entre as promessas do governo e as ações mudará o meio ambiente de forma irreversível

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Ativistas vestidos como líderes mundiais protestam ao lado do canal Forth and Clyde, em Glasgow, contra o aumento do nível da água durante a cúpula da Cop26. Fotografia: Dylan Martinez/Reuters

Por Fiona Harvey, correspondente de Meio Ambiente, para o “The Guardian”

As políticas atualmente em vigor para enfrentar a crise climática em todo o mundo levarão a um colapso climático “catastrófico”, já que os governos não tomaram as ações necessárias para cumprir suas promessas, alertaram três ex-líderes climáticos da ONU.

Há uma grande lacuna entre o que os governos prometeram fazer para proteger o clima e as medidas e políticas necessárias para atingir as metas. Na cúpula da Cop26 em novembro passado , os países concordaram em apresentar planos para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais – o limite de segurança, segundo cientistas . Até agora, eles apresentaram promessas que limitariam as temperaturas a menos de 2°C .

Mas as políticas e medidas aprovadas e implementadas pelos governos levariam a aumentos de temperatura muito maiores, de pelo menos 2,7°C, muito além do limite de segurança relativa, e potencialmente até 3,6°C. Isso teria impactos “catastróficos”, na forma de clima extremo, elevação do nível do mar e mudanças irreversíveis no clima global.

Os três ex-diretores vivos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas escreveram juntos no Guardian de quarta-feira – a primeira vez que escreveram juntos em um jornal – sobre as consequências desastrosas de não combinar as promessas nacionais sobre o clima com ações e políticas concretas para segui-los.

Eles escrevem: “No acordo de Paris de 2015 , todos os governos concordaram em ‘seguir esforços’ para limitar o aquecimento global a 1,5°C (34,7°F). Temos agora o direito de perguntar onde chegaram seus esforços, para onde estão indo e quão genuínos são. A ciência mostra que a ação nesta década para reduzir todos os gases de efeito estufa é crítica”.

Eles apontam para as conclusões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, publicado no início deste ano , descrito como um “atlas do sofrimento” que mostrou a devastação generalizada que provavelmente ocorrerá se não combatermos as emissões de gases de efeito estufa com urgência.

“Os inúmeros relatos de clima extremo que testemunhamos em 2022 sugerem que não há tempo a perder”, escrevem eles. “Quanto mais as mudanças climáticas progridem, mais bloqueamos um futuro com colheitas mais arruinadas e mais insegurança alimentar, juntamente com uma série de outros problemas, incluindo aumento do nível do mar, ameaças à segurança da água, seca e desertificação. Os governos devem agir contra as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, lidar com outras crises urgentes”.

As ações dos países desenvolvidos até agora têm sido “decepcionantes”, por não terem conseguido reduzir as emissões com rapidez suficiente e por não disponibilizarem financiamento aos países mais pobres para ajudá-los a lidar com os impactos do colapso climático, acrescentam.

Os ex-altos funcionários da ONU – Michael Zammit Cutajar, Yvo de Boer e Christiana Figueres – ocuparam sucessivamente o cargo de secretário executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, tratado pai do acordo de Paris, que foi assinado há 30 anos nesta semana em a histórica Cúpula da Terra do Rio.

Este mês também marca o 50º aniversário da conferência de Estocolmo , quando representantes de todo o mundo resolveram pela primeira vez que o estado global do meio ambiente era motivo de preocupação, e uma ação internacional concertada era necessária para resolver problemas como poluição, perda de espécies, degradação e esgotamento de recursos.

O aniversário deve levar os governos a renovar sua determinação, apesar da geopolítica “gelada”, antes que seja tarde demais, escrevem os ex-funcionários da ONU. “A economia em rápida mudança significa que um futuro seguro para o clima também é mais próspero. A vontade do público – especialmente entre os jovens – de ver as mudanças climáticas restringidas é clara. Ao recordarmos a conferência de Estocolmo , precisamos que os líderes nacionais lembrem o que ela demonstrou sobre o potencial da ação cooperativa mesmo em tempos conturbados. Precisamos ver os líderes cumprindo suas promessas de mudança climática, no interesse das pessoas, da prosperidade e do planeta”.

À medida que os governos lidam com os altos preços da energia e o aumento dos preços dos alimentos, os ex-chefes climáticos da ONU defendem uma mudança rápida para a energia limpa, que agora é economicamente competitiva com os combustíveis fósseis. “A menos que se invista em combustíveis fósseis, agora não há razão para não seguir o caminho da energia limpa. Muitos atores corporativos entendem a necessidade de ação antecipada nessa frente. Mas os governos ainda precisam incentivar a transição”, escrevem.


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Este texto foi originalmente escrito em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui! ].

Coalizão Brasil adverte que nova meta climática do país ignora necessidade urgente de corte das emissões de gases do efeito estufa pelo desmatamento

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 Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimento multissetorial composto por mais de 300 empresas, organizações da sociedade civil, setor financeiro e academia, vê com preocupação a revisão da meta climática brasileira (NDC) junto à Organização das Nações Unidas.

Para a entidade, a revisão frustra expectativas por ignorar a necessidade urgente de corte das emissões de gases de efeito estufa pelo desmatamento. Também preocupa o fato de que o texto desconsidera compromissos internacionais firmados em Glasgow no ano passado, durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 26), tais como a Declaração de Florestas e o acordo sobre emissões de metano. Por fim, o movimento assinala que o texto foi construído sem um processo de consulta à sociedade.

Segundo a nota da Coalizão Brasil, essas lacunas demonstram que o Brasil não está suficientemente engajado no combate ao desmatamento, que é fundamental para o combate às mudanças climáticas.

Confira a seguir a íntegra da nota:

Nova meta climática do Brasil ignora urgência de corte de emissões de gases de efeito estufa provocadas pelo desmatamento

O Brasil acaba de apresentar a revisão de sua meta climática, a NDC, junto à Organização das Nações Unidas. Frustrando expectativas, não estabeleceu metas vinculantes ou apresentou as ações setoriais que pretende implementar para cumprir o compromisso assumido na Declaração de Florestas, assinada em Glasgow no ano passado, durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 26). Também ignorou a promessa de reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, estabelecida em outro acordo firmado na Escócia. No texto entregue à ONU, há apenas uma breve menção à eliminação do desmatamento ilegal até 2028, sem detalhes sobre como seria atingida.

A nova NDC foi construída sem um processo de consulta à sociedade, e suas lacunas demonstram que o Brasil não está suficientemente engajado no combate ao desmatamento, uma operação fundamental para o combate às mudanças climáticas. Do total de emissões de gases de efeito estufa do país, 44% são provocadas por mudanças de uso da terra, em especial o desmatamento.

É cada vez mais nítido o perigo que paira sobre o futuro da Amazônia. O primeiro trimestre de 2022 registrou a maior ocorrência de alertas de desmatamento na Amazônia desde o início da série histórica, em 2016. Segundo o sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram mapeados 941,3 km² de floresta perdida entre janeiro e março, um avanço de 64,1% ante o visto no mesmo intervalo em 2021 (573,3 km²).

A redução do desmatamento é uma questão urgente. O país já trilhou este caminho — entre 2004 e 2012, conseguiu diminuir o índice de desmate na Amazônia em 84% — e tem condições de fazê-lo mais uma vez. Precisa, portanto, traçar uma política pública comprometida a atingir resultados concretos e ambiciosos. Também é importante contar com o Fundo Amazônia, que financia diversas iniciativas voltadas à conservação do bioma, inclusive o fornecimento de infraestrutura para ações de comando e controle contra ilícitos ambientais. O retorno da aplicação dos recursos, congelado desde 2019, está em análise no Supremo Tribunal Federal.

A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, movimentado formado por mais de 300 representantes do agronegócio, sociedade civil, setor financeiro e academia, apresentou seis ações que levariam à queda rápida do desmatamento e, por consequência, das emissões provocadas por esta atividade:

· Intensificação da fiscalização, com exemplar responsabilização pelos ilícitos ambientais identificados;

· Aceleração urgente do processo de análise e validação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e suspensão imediata de todos os registros sobrepostos a terras indígenas, florestas públicas não-destinadas e áreas embargadas, bem como nos casos de desmatamento sem autorização legal;

· Retomada imediata do ordenamento territorial, iniciando-se pela demarcação de terras indígenas e territórios quilombolas já oficialmente definidos, além da destinação de 10 milhões de hectares de florestas públicas para implementação de unidades de conservação;

· Ampliação da governança e regulação do Banco Central para financiamentos sob critérios socioambientais rigorosos;

· Transparência, rastreabilidade e rigor nas autorizações de supressão da vegetação; e

· Suspensão de processos de regularização fundiária em áreas onde tenha ocorrido desmatamento após julho de 2008.

A Coalizão continua promovendo o diálogo sobre o uso sustentável da terra, por entender que a revitalização da Amazônia é uma grande oportunidade para o desenvolvimento do país. Da mesma forma, também é fundamental honrar os compromissos estabelecidos por lei e os assinados em convenções internacionais. O futuro do país está diretamente relacionado à conservação da floresta em pé.

A degradação da educação, da ciência e do meio ambiente no Brasil

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(crédito: Caio Gomez)

Por Mercedes Bustamante- Professor titular do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília, membro da Academia Brasileira de Ciências

“Cupinização silenciosa e invisível.” Assim descreveu a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, o processo de degradação sistemática dos órgãos de fiscalização e controle do meio ambiente. A destruição por dentro, conduzida nos meandros das instituições, está claramente expressa nas taxas crescentes de desmatamento e conversão agrícola em vários biomas, na violação da legislação ambiental e de direitos territoriais de povos indígenas e comunidades tradicionais e comprometimento de recursos naturais e da estabilidade climática.

A cupinização também é aparente no Ministério da Educação e seus órgãos associados, como Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Capes, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), afetando um componente crucial para a redução das desigualdades sociais e econômicas ainda tão agudas no Brasil e que foi extremamente prejudicado durante a pandemia de covid-19. Escolas e universidades públicas atravessaram dois anos sem uma condução efetiva do Ministério da Educação (MEC) para lidar com os desafios impostos por esse choque global. Tal realidade, aparentemente, passou desapercebida no balcão (ou púlpito) de negócios que se instalou nas entranhas no ministério.

Igualmente crucial, a área de ciência e tecnologia é vítima de outra estratégia — a destruição por inanição. A redução drástica de recursos de custeio, bolsas e investimentos mina décadas de políticas que determinaram avanços científicos importantes e a formação de recursos com competências para abrir os caminhos do país diante dos significativos desafios que nos aguardam.

Tais desafios estão, precisamente, na convergência das políticas de educação, ciência e meio ambiente. Em 4 abril, foi lançada a terceira parte do 6o ciclo de avaliação do Painel Intergovernamental para Mudança do Clima (IPCC). Para nos recolocar na rota de atingir a meta de manter o aquecimento global em 1,5oC, estabelecida globalmente pelo Acordo de Paris, precisaremos reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa até 2030.

Enquanto o mundo como um todo reduziu as emissões em 2020 em função da pandemia de covid-19, o Brasil aumentava suas emissões impulsionadas pelo desmatamento que seguiu impunemente mesmo diante de grave crise sanitária. Em 2021, o Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) registrou a maior taxa de desmatamento da Amazônia desde 2006. A conservação de ecossistemas naturais e sua restauração ecológica são precisamente alternativas com grande potencial de mitigação das emissões, custos acessíveis de implementação e inúmeros benefícios como conservação da biodiversidade, segurança hídrica e alimentar.

Igualmente, a mensagem clara sobre a necessidade de abandonar combustíveis fósseis, em especial o carvão, não encontrou eco no governo federal. Recentemente, foi sancionada uma lei que obriga a compra de eletricidade gerada por termelétricas a carvão mineral, localizadas em Santa Catarina. A lei determina a contratação da energia produzida a partir de fonte extremamente poluente até 2040, uma década após o prazo em que deveríamos estar contribuindo para o esforço global de redução das emissões.

O relatório destaca como ciência e tecnologia foram fundamentais para reduzir o custo de energias renováveis como solar e eólica e de baterias, e traz ainda um novo capítulo sobre inovação, desenvolvimento e transferência de tecnologia. Um sistema de inovação bem estabelecido, orientado por políticas bem projetadas, pode contribuir para a mitigação, adaptação e alcance das metas de desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, evitar consequências indesejadas. No entanto, mais uma vez, caminhamos na direção contrária. Vamos a um futuro incerto, menos preparados e mais dependentes de alternativas desenvolvidas por outros países em função do estrangulamento de nossa ciência.

A transição para economias de baixo carbono implica em profundas mudanças na estrutura econômica e consequências distributivas dentro e entre países. A equidade e justiça social continuam sendo elementos centrais para a solução da crise climática. Transições justas devem abrir oportunidades de empregos adequados a essa nova realidade, mas demandam novas habilidades e a capacitação de recursos humanos e instituições. A educação em um mundo sob aquecimento global deve contribuir para o debate da sustentabilidade e a justiça ambiental. A antecipação de novas necessidades demanda a identificação das questões certas, bons dados e estatísticas e uma visão de política pública educacional que preconize a construção desse futuro e não as cartilhas do passado.

Entre as lições da pandemia que o IPCC elencou para a mudança climática estão: o valor do gerenciamento de risco prospectivo, o papel da avaliação científica, ações preparatórias e a importância de instituições. Exatamente o oposto que os três últimos anos trouxeram para a educação, ciência e meio ambiente no Brasil.

(Artigo endossado pela Coalizão Ciência e Sociedade que reúne pesquisadores de todas as regiões brasileira)


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Este artigo foi inicialmente publicado pelo Correio Braziliense [Aqui!].

No limiar de uma catástrofe climática

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, as emissões globais de gases de efeito estufa devem ter atingido o pico dentro de três anos, o mais tardar

incendios florestaisDevido às mudanças climáticas, a seca da primavera está se tornando uma tendência na Europa Central. Como resultado, a temporada de incêndios florestais começa mais cedo. Em meados de março houve um incêndio perto do Castelo de Neuschwanstein. Foto: dpa/Daniel Liebl

Por Christopher Mueller para o Neues Deutschland

As negociações sobre o “resumo para tomadores de decisão” de um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) nunca duraram tanto. Não foi até a noite de domingo que os representantes dos 195 estados membros do IPCC finalmente concordaram; a apresentação foi adiada para o final da tarde de segunda-feira. No entanto, ainda não foi possível saber quais países e temas foram responsáveis ​​pelo atraso de dois dias.

O capítulo do relatório, publicado na segunda-feira, descreve o que a humanidade deve fazer para deter as mudanças climáticas. Resumindo: trata-se de reduzir as emissões, o que provavelmente é parcialmente responsável pelas polêmicas negociações. O relatório é a terceira parte do que é hoje o sexto relatório de status do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e apresenta as descobertas científicas desde que o quinto relatório foi publicado em 2014. Desta vez, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas está se concentrando mais sobre o papel de atores não governamentais, como empresas e instituições financeiras. Pela primeira vez há passagens sobre a demanda por energia e bens intensivos em energia. Os aspectos sociais da reestruturação de nossas sociedades também são examinados com muito mais detalhes do que antes.

O ponto de partida é o desenvolvimento das emissões de gases com efeito de estufa, que continuam a aumentar apesar de todos os compromissos políticos, e das medidas de proteção do clima existentes. De acordo com descobertas científicas, estes estão longe de ser suficientes para parar o aquecimento em dois graus, muito menos 1,5 graus. O relatório calcula que as emissões globais teriam que atingir o pico nos próximos três anos, ser reduzidas pela metade até 2030 e cair para zero líquido em 2050. No entanto, ele deixa claro que isso ainda é possível – e a um custo razoável. Todos os cenários calculados pressupõem que a economia continuará a crescer. “Se tomarmos as medidas necessárias para limitar o aquecimento a dois graus ou menos, o produto interno bruto global seria apenas alguns pontos percentuais menor em 2050”, disse Priyadarshi Shukla, um dos copresidentes do grupo de trabalho que produziu o relatório. E isso “sem levar em conta os benefícios econômicos que resultam de menores custos de adaptação ou impactos climáticos evitados”.

No entanto, de acordo com o IPCC, medidas individuais e isoladas não são suficientes para parar o aquecimento em 1,5 graus. A reestruturação da economia e da sociedade só pode ser bem sucedida com uma abordagem holística que também tenha em conta as condições do quadro institucional e económico. Os mercados financeiros também são importantes aqui, porque os fluxos financeiros para a conversão ainda são três a seis vezes menores do que seriam necessários até 2030. “Trata-se de usar os enormes fluxos financeiros deste mundo para ajudar a garantir nosso futuro em vez de colocá-lo em perigo”, disse Kerstin Lopatta, economista da Universidade de Hamburgo. Para isso, as empresas teriam que reportar de forma padronizada suas emissões e os riscos climáticos a que estão expostas. Vários comitês estão atualmente trabalhando em padrões para tais relatórios.

Mas mesmo com uma política de proteção climática muito mais efetiva , a humanidade também terá que retirar o CO2 da atmosfera, segundo o IPCC. Por um lado, isso se deve à natureza das “metas net-zero”, onde ainda há emissões residuais, mas que são compensadas de outras formas. Além disso, o aquecimento global pode exceder temporariamente 1,5 graus. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, existem várias opções disponíveis para remover o CO2, mas todas têm capacidade limitada e às vezes são controversas. As menos controversas são a arborização de áreas adequadas e a re-humedecimento das turfeiras. Feito corretamente, os benefícios para a biodiversidade também podem ser alcançados. BECCS é mais difícil. Aqui, biomassa como a madeira é queimada para gerar energia, o CO2 é então separado e injetado no subsolo (CCS). Se o BECCS fosse usado em grande escala, seriam necessárias enormes plantações de biomassa, que não estariam disponíveis para a produção de alimentos. O armazenamento seguro do dióxido de carbono do gás de efeito estufa também não está à vista. Outra opção mencionada é filtrar o CO2 do ar e depois descartá-lo novamente usando CCS. O espaço necessário para isso é relativamente pequeno, o que exigiria enormes quantidades de eletricidade verde.

Por outro lado, as mensagens do IPCC aos estados são mais claras: a segunda parte do relatório de status do IPCC, publicado em fevereiro, já mostrava a urgência de reduzir pela metade as emissões até 2030 e reduzi-las a zero líquido até 2050: o O atual aquecimento global de 1,1 grau acima dos níveis pré-industriais tem consequências mais sérias do que o esperado anteriormente. E: “Os efeitos a médio e longo prazo são muitas vezes maiores do que os observados atualmente.” Espera-se, portanto, que os “tomadores de decisão” mundiais realmente usem a terceira parte do relatório do IPCC como um “mapa ” e a humanidade sai da crise climática.

O IPCC não realiza nenhum estudo por conta própria. Como instituição intergovernamental, tem a tarefa de resumir o estado da pesquisa científica sobre mudanças climáticas para governos com o objetivo de fornecer uma base para decisões baseadas na ciência. O processo tem duas etapas: primeiro os cientistas escrevem um relatório de mais de 1.000 páginas, depois os diplomatas negociam o resumo de 60 páginas desta vez. Mesmo que isso às vezes seja tedioso, de acordo com Ottmar Edenhofer, isso tem duas vantagens: todos os 195 países do IPCC precisam analisar o relatório em detalhes e reconhecer oficialmente seu conteúdo ao adotá-lo.


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Este texto foi escrito originalmente em alemão e publicado pelo jornal Neues Deutschland [Aqui!].

IPCC libera novo relatório e aponta para a incidência presente e futura dos efeitos das mudanças climáticas

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O Grupo de Trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação do IPCC lançou hoje um novo relatório onde são avaliados os impactos das mudanças climáticas, analisando os ecossistemas, a biodiversidade e as comunidades humanas nos níveis global e regional.  O relatório também analisa as vulnerabilidades e as capacidades e limites do mundo natural e das sociedades humanas para se adaptar às mudanças climáticas.

Abaixo são listados os principais pontos abordados neste relatório.

Impactos e riscos observados e projetados

Impactos e riscos observados e projetados As mudanças climáticas induzidas pelo homem, incluindo eventos extremos mais frequentes e intensos, causaram impactos adversos generalizados e perdas e danos relacionados à natureza e às pessoas, além da variabilidade climática natural. Alguns esforços de desenvolvimento e adaptação reduziram a vulnerabilidade. Em todos os setores e regiões, observa-se que as pessoas e sistemas mais vulneráveis ​​são afetados desproporcionalmente. O aumento do clima e dos extremos climáticos levou a alguns impactos irreversíveis, pois os sistemas naturais e humanos são levados além de sua capacidade de adaptação (alta confiança).

A vulnerabilidade dos ecossistemas e das pessoas às mudanças climáticas difere substancialmente entre e dentro das regiões (confiança muito alta), impulsionada por padrões de interseção de desenvolvimento socioeconômico, uso insustentável do oceano e da terra, desigualdade, marginalização, padrões históricos e contínuos de desigualdade, como colonialismo, e governança (alta confiança). Aproximadamente 3,3 a 3,6 bilhões de pessoas vivem em contextos altamente vulneráveis ​​às mudanças climáticas (alta confiança). Uma alta proporção de espécies é vulnerável às mudanças climáticas (alta confiança). A vulnerabilidade humana e do ecossistema são interdependentes (alta confiança). Os atuais padrões de desenvolvimento insustentável estão aumentando a exposição de ecossistemas e pessoas aos riscos climáticos (alta confiança).

O aquecimento global, atingindo 1,5°C no curto prazo, causaria aumentos inevitáveis ​​em vários perigos climáticos e apresentaria múltiplos riscos para os ecossistemas e os seres humanos (confiança muito alta). O nível de risco dependerá de tendências concorrentes de curto prazo em vulnerabilidade, exposição, nível de desenvolvimento socioeconômico e adaptação (alta confiança). Ações de curto prazo que limitam o aquecimento global a cerca de 1,5°C reduziriam substancialmente as perdas e danos projetados relacionados às mudanças climáticas em sistemas e ecossistemas humanos, em comparação com níveis mais altos de aquecimento, mas não podem eliminá-los todos (confiança muito alta).

Além de 2040 e dependendo do nível de aquecimento global, as mudanças climáticas levarão a inúmeros riscos para os sistemas naturais e humanos (alta confiança). Para 127 riscos-chave identificados, os impactos avaliados de médio e longo prazo são até várias vezes maiores do que os observados atualmente (alta confiança). A magnitude e a taxa de mudança climática e os riscos associados dependem fortemente de ações de mitigação e adaptação de curto prazo, e os impactos adversos projetados e as perdas e danos relacionados aumentam a cada incremento do aquecimento global (confiança muito alta).

Os impactos e riscos das mudanças climáticas estão se tornando cada vez mais complexos e mais difíceis de gerenciar. Múltiplos perigos climáticos ocorrerão simultaneamente e vários riscos climáticos e não climáticos irão interagir, resultando na composição do risco geral e dos riscos em cascata entre setores e regiões. Algumas respostas às mudanças climáticas resultam em novos impactos e riscos (alta confiança).

Se o aquecimento global exceder transitoriamente 1,5°C nas próximas décadas ou mais tarde (overshoot), muitos sistemas humanos e naturais enfrentarão riscos graves adicionais, em comparação com permanecer abaixo de 1,5°C (alta confiança). Dependendo da magnitude e duração do overshoot, alguns impactos causarão liberação de gases de efeito estufa adicionais (confiança média) e alguns serão irreversíveis, mesmo que o aquecimento global seja reduzido (confiança alta).  

Adaptação atual e seus benefícios

O progresso no planejamento e implementação da adaptação foi observado em todos os setores e regiões, gerando múltiplos benefícios (confiança muito alta). No entanto, o progresso da adaptação é distribuído de forma desigual com lacunas de adaptação observadas (alta confiança). Muitas iniciativas priorizam a redução imediata e de curto prazo dos riscos climáticos, o que reduz a oportunidade de adaptação transformacional (alta confiança).

Existem opções de adaptação viáveis ​​e eficazes que podem reduzir os riscos para as pessoas e a natureza. A viabilidade de implementar opções de adaptação no curto prazo difere entre setores e regiões (confiança muito alta). A eficácia da adaptação para reduzir o risco climático é documentada para contextos, setores e regiões específicos (alta confiança) e diminuirá com o aumento do aquecimento (alta confiança). Soluções integradas e multissetoriais que abordam as desigualdades sociais, diferenciam as respostas com base no risco climático e atravessam os sistemas, aumentam a viabilidade e a eficácia da adaptação em vários setores (alta confiança). 

Limites flexíveis para algumas adaptações humanas foram alcançados, mas podem ser superados abordando uma série de restrições, principalmente financeiras, de governança, institucionais e políticas (alta confiança). Limites rígidos para adaptação foram alcançados em alguns ecossistemas (alta confiança). Com o aumento do aquecimento global, as perdas e danos aumentarão e os sistemas humanos e naturais adicionais atingirão os limites de adaptação (alta confiança).

Há evidências crescentes de má adaptação em muitos setores e regiões desde o AR5. Respostas mal adaptadas às mudanças climáticas podem criar bloqueios de vulnerabilidade, exposição e riscos que são difíceis e caros de mudar e exacerbar as desigualdades existentes. A má adaptação pode ser evitada por meio de planejamento flexível, multissetorial, inclusivo e de longo prazo e implementação de ações de adaptação com benefícios para muitos setores e sistemas (alta confiança).

As condições favoráveis ​​são fundamentais para implementar, acelerar e sustentar a adaptação em sistemas e ecossistemas humanos. Estes incluem compromisso político e acompanhamento, estruturas institucionais, políticas e instrumentos com metas e prioridades claras, conhecimento aprimorado sobre impactos e soluções, mobilização e acesso a recursos financeiros adequados, monitoramento e avaliação e processos de governança inclusivos (alta confiança).

Desenvolvimento resiliente ao clima

Evidências de impactos observados, riscos projetados, níveis e tendências de vulnerabilidade e limites de adaptação demonstram que a ação mundial de desenvolvimento resiliente ao clima é mais urgente do que previamente avaliada no AR5. Respostas abrangentes, eficazes e inovadoras podem aproveitar as sinergias e reduzir os compromissos entre adaptação e mitigação para promover o desenvolvimento sustentável (confiança muito alta).

O desenvolvimento resiliente ao clima é viabilizado quando os governos, a sociedade civil e o setor privado fazem escolhas de desenvolvimento inclusivas que priorizam a redução de riscos, a equidade e a justiça, e quando os processos de tomada de decisão, finanças e ações são integrados em todos os níveis de governança, setores e prazos (confiança muito alta ). O desenvolvimento resiliente ao clima é facilitado pela cooperação internacional e por governos em todos os níveis que trabalham com comunidades, sociedade civil, órgãos educacionais, instituições científicas e outras, mídia, investidores e empresas; e desenvolvendo parcerias com grupos tradicionalmente marginalizados, incluindo mulheres, jovens, Povos Indígenas, comunidades locais e minorias étnicas (alta confiança). Essas parcerias são mais eficazes quando apoiadas por liderança política, instituições, recursos, incluindo finanças, bem como serviços climáticos, informações e ferramentas de apoio à decisão (alta confiança).

As interações entre a mudança da forma urbana, exposição e vulnerabilidade podem criar riscos e perdas induzidas pelas mudanças climáticas para cidades e assentamentos. No entanto, a tendência global de urbanização também oferece uma oportunidade crítica no curto prazo, para promover o desenvolvimento resiliente ao clima (alta confiança). O planejamento integrado e inclusivo e o investimento na tomada de decisões cotidianas sobre infraestrutura urbana, incluindo infraestruturas sociais, ecológicas e cinzas/físicas, podem aumentar significativamente a capacidade de adaptação dos assentamentos urbanos e rurais. Resultados equitativos contribuem para múltiplos benefícios para a saúde e bem-estar e serviços ecossistêmicos, inclusive para Povos Indígenas, comunidades marginalizadas e vulneráveis ​​(alta confiança). O desenvolvimento resiliente ao clima em áreas urbanas também apoia a capacidade de adaptação em mais locais rurais através da manutenção de cadeias de abastecimento periurbanas de bens e serviços e fluxos financeiros (confiança média). As cidades e assentamentos costeiros desempenham um papel especialmente importante no avanço do desenvolvimento resiliente ao clima (alta confiança).

A salvaguarda da biodiversidade e dos ecossistemas é fundamental para o desenvolvimento resiliente ao clima, à luz das ameaças que as alterações climáticas representam para eles e seus papéis na adaptação e mitigação (confiança muito alta). Análises recentes, com base em uma série de evidências, sugerem que a manutenção da resiliência da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos em escala global depende da conservação efetiva e equitativa de aproximadamente 30% a 50% das áreas terrestres, de água doce e oceânicas da Terra, incluindo atualmente ecossistemas quase naturais (alta confiança).

É inequívoco que as mudanças climáticas já perturbaram os sistemas humanos e naturais. As tendências de desenvolvimento passadas e atuais (emissões passadas, desenvolvimento e mudanças climáticas) não promoveram o desenvolvimento global resiliente ao clima (confiança muito alta). As escolhas e ações da sociedade implementadas na próxima década determinam até que ponto os caminhos de médio e longo prazo proporcionarão um desenvolvimento mais ou menos resiliente ao clima (alta confiança). É importante ressaltar que as perspectivas de desenvolvimento resiliente ao clima são cada vez mais limitadas se as emissões atuais de gases de efeito estufa não diminuirem rapidamente, especialmente se o aquecimento global de 1,5°C for excedido no curto prazo (alta confiança). Essas perspectivas são limitadas pelo desenvolvimento passado, emissões e mudanças climáticas, e possibilitadas por governança inclusiva, recursos humanos e tecnológicos adequados e apropriados, informações, capacidades e finanças (alta confiança).

Relatório IPCC: a crise do clima já apresenta consequências irreversíveis

Para evitar o agravamento dos eventos extremos e garantir a segurança das populações, planos de adaptação climática são primordiais

Sobrevoo em Sena Madureira sob inundação (Acre, Brasil). Crédito: © Alexandre Noronha / Greenpeace

São Paulo, 28 de fevereiro de 2022 – A segunda parte do 6º Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC – sigla em inglês) foi apresentada hoje aos governos mundiais. Com foco em impactos, adaptação e vulnerabilidade, o relatório apresenta quão graves já são os impactos das mudanças climáticas, especialmente para as populações que vivem em situação de vulnerabilidade.

Desde a divulgação do último relatório, os riscos climáticos estão aparecendo mais rápido e se tornarão mais graves mais cedo.

“O relatório do IPCC mostra que os impactos da crise do clima são irreversíveis. A população em situação de vulnerabilidade, que já sofre com o descaso de nossos governantes, será a mais impactada. É urgente que haja uma mudança rápida nas políticas públicas de adaptação no Brasil e no mundo, com orçamento adequado para perdas e danos das populações atingidas”, alerta Fabiana Alves, porta-voz de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil.

Cientistas do mundo todo alertam:

  • Os efeitos do aquecimento nos ecossistemas acontecerão mais rápido, são mais difundidos e com consequências de maior alcance do que o previsto;
  • Não estamos preparados sequer para os impactos atuais, e isso está custando vidas.
  • Mais aquecimento traz mais problemas. Limitar o aquecimento a 1,5°C reduziria substancialmente as perdas e danos projetados, mas as perdas já se tornaram irreversíveis.
  • Devemos restaurar a natureza e proteger pelo menos 30% da Terra para que ela nos proteja.
  • Esta é a década crítica para garantir um futuro habitável, equitativo e sustentável. É necessário que a mudança seja sistêmica e inclusiva.

Brasil e América Latina

Os principais riscos à crise climática no Brasil e na América Latina incluem segurança hídrica; saúde devido a epidemias crescentes; degradação dos ecossistemas dos recifes de corais; riscos para a segurança alimentar devido a secas frequentes ou extremas; e danos à vida e à infraestrutura devido a inundações, deslizamentos de terra, elevação do nível do mar, tempestades e erosão costeira. Para a Amazônia, o risco de uma transição gradual de floresta tropical para savana (savanização) começa a aumentar em um nível entre 1,5°C e 3°C com um valor médio em 2°C.

Os eventos de chuvas fortes, que resultam em inundações, deslizamentos de terra e secas, devem se intensificar bastante em magnitude e frequência. Estima-se que o aquecimento de apenas 1,5°C resulte em um aumento de 100-200% no número da população afetada por inundações na Colômbia, Brasil e Argentina; 300% no Equador e 400% no Peru.

Em abril, será divulgada a terceira parte do 6° relatório do IPCC, que avaliará formas de mitigar as mudanças climáticas. O relatório completo será divulgado em outubro.

O aquecimento global já está doendo, adaptar é preciso

A segunda parte do sexto relatório de status do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas está prestes a ser finalizada – trata-se de adaptação às mudanças

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Secas extremas – como as do oeste dos Estados Unidos – estão se tornando mais frequentes mesmo com o aquecimento atual. Foto: AFP/Josh Edelson

Por  Jorg Staude para o Neues Deutschland

Centenas de especialistas do grupo de trabalho dois do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estão sentados juntos virtualmente há uma semana, pesando sentença por sentença e ainda têm uma semana inteira de debates pela frente.

A cada seis anos, o IPCC apresenta um relatório abrangente resumindo o status da pesquisa sobre mudanças climáticas, nomeando suas consequências e formas de proteger o planeta. A segunda parte do sexto relatório de status do IPCC será publicada em 28 de fevereiro . Os especialistas do grupo de trabalho dois estão atualmente debruçados sobre isso, especialmente sobre a parte mais importante: o resumo para os políticos.

Em sua essência, a proteção climática é sempre sobre duas coisas, conhecidas como mitigação e adaptação . Mitigação – no significado latino original da palavra, significa apaziguar, mitigar ou aliviar algo. Em termos de clima, mitigação significa eliminar as causas das mudanças climáticas. Então, acima de tudo, reduzir as emissões de gases de efeito estufa, inicialmente para zero; e depois voltar a extrair gases de efeito estufa da atmosfera e assim gerar as chamadas emissões negativas.

Mas mesmo que consigamos limitar o aquecimento global a dois graus ou menos, as mudanças climáticas já terão consequências para a vida humana. É aqui que entra em jogo o segundo pilar da proteção climática: a adaptação . O ponto aqui é chegar a um acordo com as mudanças no clima ou se adaptar de tal maneira que os danos à civilização possam ser evitados na medida do possível ou as oportunidades que surgirem possam ser aproveitadas.

A segunda parte do sexto relatório do IPCC, que está em fase final de edição, trata principalmente dessas consequências das mudanças climáticas e das possibilidades de adaptação a elas. Boas notícias não estão em casa.

Conexão homem – clima – natureza

Como nenhum outro antes, o novo relatório mostrará “o quanto o mundo já mudou devido às mudanças climáticas e quais riscos climáticos catastróficos devemos esperar no futuro – dependendo da rapidez e do quanto reduzirmos as emissões de gases de efeito estufa”, disse ele. disse Hans-Otto Pörtner, um dos dois co-presidentes do grupo de trabalho dois, explicou recentemente o que pode ser esperado em uma entrevista coletiva do Consórcio Climático Alemão.

O novo relatório causará sensação, não apenas porque trata de impactos climáticos como calor, seca, precipitação extrema ou novos patógenos. Pörtner caracteriza a nova qualidade desta vez, os cientistas apresentariam as conexões entre humanos, clima e natureza “de uma maneira muito mais próxima e clara” do que antes.

Para o biólogo marinho do Alfred Wegener Institute for Polar and Marine Research, o “pensamento em silo” ainda domina o debate climático. O que ele quer dizer pode ser ilustrado pelas demandas que estão sendo feitas atualmente sobre o uso da terra, por exemplo.

Os operadores de energia eólica querem, com razão, mais espaço – mas também os conservacionistas para salvar a biodiversidade, ou o governo federal, que quer construir 400.000 novas casas todos os anos.

Para Pörtner, no entanto, também é uma espécie de “mentalidade de silo” quando hoje, por exemplo, 70% da terra arável global é usada para a produção de ração animal. “Precisamos de cerca de dez quilos de massa vegetal para produzir um quilo de carne animal”, calcula. Com uma mudança consistente na dieta , a humanidade não só faria algo diretamente para a proteção do clima, porque as emissões de metano e óxido nitroso da pecuária diminuiriam – ao mesmo tempo, muito espaço seria ganho para biodiversidade, espécies e proteção de terras e de curso também para a produção de alimentos que não são obrigados a fazer o desvio através do animal.

Para Pörtner, o armazenamento de dióxido de carbono ainda é visto demais do ponto de vista da tecnologia “silo”. A meta climática da UE – neutralidade climática até 2045 – já inclui uma porcentagem de CO2 que deve ser “embalada” em ecossistemas naturais.

Segundo Pörtner, tal abordagem pressupõe que os ecossistemas também possam gerenciar o armazenamento. “Mas já temos uma atenuação de importantes sistemas de armazenamento de CO2, como a floresta tropical e as florestas boreais”, alerta o biólogo. Esses são sinais de alerta. “Não há mais uma gaveta onde você pode colocar CO2, mas é preciso valorizar e cuidar dessa gaveta”, explica. Quando você sai do »silo«, você reconhece, como diz Pörtner, »dependências compulsivas« e »influências mútuas«. Em outras palavras: as pessoas, o clima e a natureza estão mais intimamente relacionados do que pensávamos – e certamente não agimos de acordo.

Atualmente, não há como nutrir e cuidar deles, reclama Josef Settele, chefe de pesquisa de conservação da natureza do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental (UFZ) em Halle. As mudanças climáticas provocadas pelo homem estão ameaçando cada vez mais a natureza hoje, alerta ele.

A Settele não se concentra apenas na grande e visível destruição causada por secas, ondas de calor ou incêndios florestais. Mesmo atividades menores que foram atrasadas devido a mudanças de temperatura foram suficientes para desequilibrar a natureza. Como exemplo, ele cita os tempos de voo dos insetos polinizadores, que muitas vezes não coincidem mais com os tempos de floração atrasados ​​das plantas relacionados ao clima. Então os polinizadores voam muito cedo ou muito tarde.

Áreas protegidas ajudam o clima

Settele pede que 30 a 50% dos habitats continentais e dos oceanos do mundo sejam protegidos para impedir o declínio da biodiversidade. Este “não é um número utópico” se você incluir diferentes categorias de proteção . Não se trata apenas de reservas totais, mas também de paisagens culturais protegidas.

O cientista certamente está ciente de que essa demanda é uma afronta para muitos empresários – mas, como sugere Settele, provavelmente não há alternativa. “Quem ignora as conexões entre clima, natureza e a base da vida humana não comemorará nenhum sucesso na proteção do clima”, enfatiza o ecologista. »Qualquer coisa que impeça o declínio da biodiversidade também beneficia a proteção do clima.«

Mesmo em regiões urbanas, proteção climática e adaptação climática ainda são amplamente consideradas separadamente, confirma Daniela Jacob, diretora do Climate Service Center Germany, que coleta e processa os resultados da pesquisa climática para a Alemanha em nome do governo federal. Quando se trata de proteção climática, geralmente trata-se da “cidade de curtas distâncias”, da expansão do transporte público ou de edifícios energeticamente eficientes – e quando se trata de adaptação, trata-se de ondas de calor ou de lidar com chuvas fortes.

Jacob defende que se pense em ambos juntos, por exemplo, a infraestrutura “azul” das cidades, voltada para o equilíbrio hídrico, com a “verde”, voltada para árvores e espaços verdes.

É tudo sobre construção inteligente e verde , diz ela. Nas cidades, é concebível uma rede de espaços verdes e telhados verdes. O sombreamento natural pode enfraquecer o efeito do sol e, ao mesmo tempo, reduzir os requisitos de refrigeração doméstica e a quantidade de energia necessária para fazê-lo. De fato, os efeitos duplos e múltiplos da política climática na combinação de natureza e tecnologia já seriam possíveis hoje. Fachadas que protegem contra o calor também podem gerar eletricidade usando energia fotovoltaica de fachada. Poderia brotar verde sob sistemas de telhados fotovoltaicos.

O mesmo vale para as paisagens. Não apenas a energia eólica, mas também a energia fotovoltaica poderia continuar a abranger áreas agrícolas usadas ou – a última idéia – charnecas renaturalizadas. Um conceito fascinante: A maioria das antigas charnecas na Alemanha são agora usadas como pastagens – como pastagem ou como forragem para o gado. Uma mudança na dieta para menos carne e leite de vaca, como Hans-Otto Pörtner tem em mente, tornaria mais fácil tirar grande parte dos mouros de uso, remolhe –os e recuperá-los como armazenamento natural de CO2. Se os fotovoltaicos fossem adicionados no topo sem prejudicar a proteção da charneca, isso resultaria em um sumidouro de CO2 de técnica natural até então desconhecido.

Eco-puristas podem torcer o nariz aqui. Mas preservar a natureza como a conhecemos atualmente dificilmente será possível de qualquer maneira. »Os organismos são especializados para determinadas características climáticas e janelas de temperatura. Este é um ponto importante para o planejamento futuro das medidas de renaturação«, destaca Pörtner. »Simplesmente supondo que podemos restaurar algo histórico, em alguns casos não será suficiente.«

Especialistas em florestas na Alemanha, por exemplo, estão atualmente intrigados sobre quais árvores são adequadas para as condições climáticas que prevalecerão na Alemanha em 20 a 30 anos. Não se sabe exatamente o quanto o clima regional terá mudado até então, nem quais árvores podem ser adequadas para as novas condições. Para descobrir, seria preciso testar uma variedade de árvores por longos períodos de tempo – tempo que a humanidade e a natureza não têm mais se as mudanças climáticas mantiverem seu ímpeto atual.

A redução de CO2 continua crucial

Em todos os esforços para proteger a natureza e a biodiversidade – os especialistas em clima não deixam dúvidas sobre isso – a proteção climática clássica deve continuar a desempenhar o primeiro papel. Josef Settele: »Só teremos sucesso se reduzirmos massivamente o uso de combustíveis fósseis. Não há maneira de contornar isso. Compensar completamente as emissões não é possível.«

Também para Pörtner, a redução de CO2 é o pré-requisito decisivo para que haja um futuro. Para o especialista do IPCC, a interação de temperaturas alteradas e o orçamento global de CO2 ainda disponível resulta em um prazo apertado no qual uma política climática sensata ainda pode ser buscada e as sociedades podem se tornar resilientes e resistentes às mudanças climáticas. E para ele, a mensagem do próximo capítulo do relatório climático mundial é bastante clara: »A janela de tempo para um mundo resiliente ao clima está se fechando.«

Daniela Jacob também avisa. “Não podemos nos adaptar a tudo, especialmente se ultrapassarmos três graus de aumento da temperatura global. Então teremos até seis graus mais regionalmente – e então acabou.« Então não se trata mais de proteção e adaptação climática, mas sobre a pura sobrevivência da civilização.

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Este texto foi escrito originalmente em alemão e publicado pelo jornal “Neues Deutschland” [Aqui!].