O presidente Jair Bolsonaro e John Bolton em novembro de 2018, durante a visita do então assessor de Segurança Nacional de Trump ao Brasil. REPRODUÇÃO/JAIR BOLSONARO
Vista de longe a queda de John Bolton, assessor de segurança nacional do presidente Donald Trump, poderia ser considerada como algo que não afeta o já precário balanço diplomático em que o Brasil se encontra neste momento. Mas não ver a direta relação entre a remoção de Bolton e a ampliação do isolamento em que o Brasil foi posto pelas posições extremadas do presidente Jair Bolsonaro e a maioria dos seus ministros seria um erro primário.
O fato é que sendo um extremista em posições ideológicas pró-EUA, John Bolton oferecia ao governo Bolsonaro uma espécie de chancela a todo tipo de postura que afastasse a diplomacia brasileira de seu histórica postura pragmática de não interferência em assuntos alheios. Um exemplo disso foi a quase intervenção militar na Venezuela onde o ministro das relações exteriores, Ernesto Araújo, se colocou de forma entusiástica a favor de uma invasão do país vizinho em um clara coordenação com o que pregava o agora demitido assessor de segurança nacional de Trump.
Ao perder a ligação direta com os círculos mais duros do núcleo decisório de poder dentro dos EUA, o mais provável é que o Brasil, por causa das posturas do presidente Bolsonaro e sua entourage, passa cada vez mais a um isolamento também em relação ao governo Trump. A razão para isto é simples: Donald Trump está envolvido em uma batalha de vida ou morte por sua sobrevivência política em face da posição cada vez mais delicada da economia estadunidense, e não terá muito tempo para se distrair com presidentes com posturas extremadas, pois o que lhe dará frutos dentro de casa será justamente demonstrações de que pode os EUA podem exercer eficientemente sua influência política, econômica e militar sobre o resto do mundo.
Mas o fato objetivo é que sem John Bolton, o governo Bolsonaro tenha maiores dificuldades para exercer a influência brasileira até na América do Sul. Se à queda de Bolton se somar uma eventual, e cada vez mais provável, derrota eleitoral de Maurício Macri nas eleições presidenciais argentinas, aí a coisa tenderá a desandar de vez.