Baía de Guanabara: cartão-postal olímpico do abandono do Rio
Durante Jogos, mundo vai conhecer de perto poluição que degrada uma das mais belas vistas da cidade

Em meio a tantos pontos negativos, como o Rio vai manter no exterior a fama de Cidade Maravilhosa depois que a comunidade internacional desembarcar para os Jogos Olímpicos e se deparar com o degradante cenário? O Jornal do Brasil abre espaço em uma série de reportagens para ouvir especialistas e a sociedade sobre o tema.
“É um tiro no pé para o Brasil, porque eles [governos estadual e municipal] prometeram despoluir a Baía há décadas. No Pan-Americano já houve esta promessa. O que a gente viu foi uma piora, os índices de poluição estão maiores. E colocar os Jogos Olímpicos alí é de uma desfaçatez, pois vai expor os atletas a riscos de saúde, fora o desrespeito. As praias da Baía são impróprias para banho hoje. Vão ser próprias para a regata nos Jogos? Isso é um absurdo”, comenta o professor de Marketing Esportivo da Fundação Getúlio Vargas, Pedro Treengrouse.

O especialista alerta que os Jogos Olímpicos nada mais são do que uma “grande vitrine”. “Eles mostram a cidade para o mundo. Eles expõem as nossas qualidades, mas também as nossas mazelas. Colocar as competições de vela, por exemplo, no meio da Baía de Guanabara é expor as nossas mazelas da pior maneira possível”, afirma. Treengrouse não tem dúvidas de que há um impacto negativo na imagem do Rio, e por consequência do Brasil, com a poluição na Baía. O tamanho deste dano, na sua opinião, ainda será medido com a repercussão do escândalo na imprensa internacional. “A gente ainda não sabe o quanto isso vai interferir na saúde dos atletas. São várias verdades, a primeira delas é que representa um risco. A segunda é que não se cumpriu com a promessa feita para os Jogos”, destaca o professor, acrescentando que a competição está sendo patrocinada pela própria população brasileira, através dos impostos.

Treengrouse lembra ainda que o governo municipal, há muitos anos, vem prometendo o serviço de Metrô até o bairro da Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade. “A gente precisa levar em consideração que isso tudo não é um legado das Olimpíadas para o carioca. Tão importante quanto a imagem da cidade para o mundo, significa a qualidade de vida do carioca, que vive na cidade e sofre com a poluição na Baía de Guanabara, os assaltos recorrentes, a violência que estamos acompanhando pela mídia todos os dias. Independentemente de Jogos, a gente merece uma cidade melhor”, comenta.
O professor lamenta que esta discussão acerca da poluição na Baía esteja limitada apenas na perspectiva da Olimpíada. “A situação deve ser contrária, os Jogos devem ser uma festa que estamos fazendo para o mundo, mas nós temos motivos para celebrar com estas dificuldades todas? Esta é a pergunta que fica”, diz ele.

O biólogo Mário Moscatelli relembra que, em 2011, o governo estadual criou o plano Baía de Guanabara Limpa. Na época, o projeto foi orçado em R$ 2,5 bilhões e incluía a ampliação dos sistemas de tratamento de esgoto, o programa Sena Limpa, que tinha como objetivo a despoluição das praias, além do programa de saneamento ambiental dos 15 municípios banhados pelas águas da enseada. Os resultados foram pífios, na análise do ambientalista. As lagoas da Barra e de Jacarepaguá deveriam ser limpas até o inicio dos Jogos, como consta no dossiê de candidatura da cidade, mas a própria Secretaria Municipal de Meio Ambiente já sentenciou que esta missão é impossível. Em imagens aéreas feitas por Moscatelli na última sexta-feira (1/5), é possível ver o acúmulo de lixo e esgoto nas áreas de competição. As fotos (acima) foram registradas na Marina da Glória e no litoral de São Gonçalo, na região Metropolitana do Rio.
FONTE: http://www.jb.com.br/rio/noticias/2015/05/05/baia-de-guanabara-cartao-postal-olimpico-do-abandono-do-rio/

