A insatisfação dos comandantes militares com a Comissão da Verdade é exagerada e despropositada

A mídia corporativa anda disseminando a informação de que o alto comando das forças armadas brasileiras anda insatisfeito com os trabalhos da chamada Comissão da Verdade que está para entregar seu relatório final (Aqui!). Essa insatisfação se for efetivamente existente é, afora os elementos democráticos sobre o lugar das forças armadas no Estado brasileiro, exagerada e despropositada.

É exagerada porque a Comissão da Verdade tem um mandato tão restrito que seria até espantoso se resultasse em algum tipo de indiciamento de quaisquer figuras militares envolvidas em crimes lesa-humanidade, apesar da história estar repleta de exemplos de que os mesmos ocorreram durante o período do regime de exceção que durou de 1964 a 1985. É despropositado porque dentro da ordem democrática vigente, as forças armadas não têm mandato para se colocar no caminho do que é legalmente estabelecido pelo Estado brasileiro. Qualquer tolerância com essas manifestações é, deste modo, inconstitucional. 

Agora, se os comandantes das forças armadas brasileiras dessem uma olhada à sua volta e vissem o que aconteceu com ditadores e agentes da repressão militar em países como Argentina, Chile e Uruguai veriam que o que foi feito nos nossos vizinhos foi muito mais agudo, com generais-ditadores morrendo na prisão que, aliás, era o melhor lugar para que isto acontecesse. 

Enquanto isso no Brasil convivemos com os resquícios da ditadura de 1964 e tendemos a perpetuar práticas que apenas nos distanciam de um futuro plenamente democrático e socialmente justo. Basta ver a persistência das práticas de tortura e corrupção, duas heranças malditas do regime de 1964. Em suma, se alguém tem de ficar insatisfeito com os resultados práticos dos trabalhos da Comissão da Verdade não os comandantes militares, mas a maioria do povo brasileiro que convive com os efeitos de uma experiência histórica que não teve a devida paga em tempos de regime democrático.