André Singer: A presidente parece uma personagem de Kafka

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O Planalto de Kafka

ANDRÉ SINGER, na Folha de S. Paulo, sugerido por Caio N. Toledo

A divulgação de duas listas complementares — a de 28 políticos arrolados na delação premiada de Paulo Roberto Costa (19/12) e a de 13 ministros indicados por Dilma Rousseff (23/12) — deram um toque de absurdo ao Natal de 2014. É tal a proximidade entre uma e outra que a presidente chegou a consultar, sem sucesso, a Procuradoria Geral da República para evitar repetições. Parece anedota: “Em que lista você entrou?”. “Na da Dilma”. “Ufa!”.

Tem mais. Depois de entregar a política econômica à direita, tendo feito uma campanha classista, a nomeação de símbolos conservadores para outras pastas sem, por enquanto, qualquer compensação à esquerda, somou o insulto à ofensa. A presidente parece uma personagem de Kafka, condenada a cumprir papel que sabe não ter sentido. Senão, vejamos.

A duras penas, graças à manutenção do emprego e da renda, ela conseguiu recuperar e manter parte da alta popularidade que tinha até as manifestações de junho de 2013. Agora, por meio de Joaquim Levy, vai serrar o galho no qual está sentada em nome de uma austeridade feita para agradar o capital financeiro que sempre a odiou e ela combateu. Pior: a cada rodada, os novos “amigos” da presidente vão exigir mais austeridade para resolver os problemas que a própria austeridade vai criar.

De outro lado, com o megaescândalo da Petrobras, o intuitivo seria Dilma nomear um honrado ministério técnico de alto nível. Além de ser compatível com o seu próprio perfil, isso a blindaria contra qualquer possível denúncia. Porém, por mais paradoxal que pareça, à medida que as revelações prosseguem, a presidente fica refém da opção oposta.

Ocorre que Dilma precisa munir-se agora da maior base congressual possível, pois quando o navio começar a balançar, os mais fisiológicos irão rápido para a oposição, tornando o palácio alvo de isolamento e a chantagem. Mas para montar tal suporte, ela precisa recorrer exatamente àqueles que estão na mira da Operação Lava a Jato. Afinal, simplesmente não há outras forças com as quais possa se aliar.

Em outras palavras, para proteger-se do escândalo, precisa apoiar-se nos que estão nele enredados. É como tentar avançar caminhando sobre areia movediça com um peso enorme nas costas.

Para completar, tendo a Petrobras papel produtivo central — por vezes portadora de mais investimentos que a União –, os danos provocados na companhia podem ter também repercussão econômica. Para não falar do que significa paralisar as maiores empreiteiras do país. And last but not least: o solavanco russo da semana passada acena com a possibilidade de turbulência externa.

Apesar do cenário ruim, desejo a todos o melhor 2015 possível.

FONTE: http://www.viomundo.com.br/politica/andre-singer-presidente-parece-uma-personagem-de-kafka.html

Depois de Bakunin, pesquisa de mestrado é “arrolada” pela Polícia Civil no inquérito dos ativistas

Depois de incluir Mikhail Bakunin, um ativista político morto em 1876, no inquérito acatado pela justiça para prender 23 ativistas, agora se sabe que a Polícia Civil também incluiu uma pesquisa de mestrado na lista de “grupos perigosos” que estariam atuando nas manifestações que ocorrem no Rio de Janeiro desde junho de 1993.

Não fosse apenas um possível caso de falta do que fazer, essa postura revela uma perigosa tendência ao cerceamento e, pior, utilização de forma pouco ética do que é produzido por pesquisas acadêmicas.

Mas, vamos lá, quem ainda se surpreende com um inquérito que beira o universo social que aparece no livro ” O Processo” de Franz Kafka?

Aliás, antes que alguém queira também indiciar Kafka é preciso que se saiba que ele morreu em 1924! Bom, pensando bem, Bakunin morreu em 1876 e mesmo assim foi indiciado…

Pesquisa de mestrado no inquérito da Polícia

Foi com grande surpresa que vi o nome da minha pesquisa de mestrado na lista de “grupos organizados” no inquérito da Operação Firewall, que investiga os protestos desde junho de 2013. Desenvolvido na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), sob orientação da professora doutora Alita Sá Rego, o Rebaixada pesquisa a atuação da mídia alternativa nos megaeventos do Rio de Janeiro (Copa do Mundo, JMJ, Olimpíadas…).

O mestrado é do programaEducação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas e tem sua sede no campus da UERJ na Baixada Fluminense. Como todos os projetos de minha orientadora, desenvolvi uma parte prática do trabalho: o portal Rebaixada. Sua construção se deu em oficinas realizadas com estudantes e moradores vizinhos da Universidade, processo todo documentado no site.

O portal Rebaixada é um laboratório que experimenta tecnologias usadas pelos midiativistas durantes as recentes manifestações: mapas, wikis, games, agregadores, streaming, tradução, entre outras. Foi desenvolvido em software livre com código aberto. Sua principal funcionalidade é o Web Scraping, ou seja armazenar todas as informações produzidas pelas mídias alternativas para avaliação. Isso porque o Facebook é umwalled garden“, um sistema fechado, o que acaba dificultando a pesquisa acadêmica. Tal experimento também é realizado por iniciativas como o BRnasRuas e o AGREGA.LA.

Algumas experiências do Rebaixada ganharam destaque internacional de instituições como a UNESCO.

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Um pouco do que já saiu sobre o projeto Rebaixada em todo o mundo:

FONTE: http://rebaixada.com.br/pesquisa-de-mestrado-no-inquerito-da-policia/