TsuLama da Samarco: Dilma Rousseff se encontra a portas fechadas com a Vale e a BHP Billiton para decidir o futuro do Rio Doce

Brasília - DF, 25/01/2016. Presidenta Dilma Rousseff durante reunião com Izabella Teixeira, Ministra do Meio Ambiente. Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Sob o sugestivo título de “Presidenta Dilma se reúne com mineradoras para definir acordo pela reparação do Rio Doce“, o blog da presidência da república anunciou a reunião que ocorreu ontem (25/1) para que Dilma Rousseff e seus ministros sentassem junto com os presidentes da Vale e da BHP Billiton para fechar o acordão que, na prática, deverá livrar a cara das mineradoras de arcar com as responsabilidades pelo TsuLama da Samarco (Aqui!).

Para validar esse acordão estavam presentes o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung e o procurador-geral do estado, Rodrigo Rabello; além do advogado-geral de Minas Gerais, Onofre Batista, e dos ministros Jaques Wagner (Casa Civil); Luis Inácio Adams (Advocacia-Geral da União); Izabella Teixeira (Meio Ambiente); e Eduardo Braga (Minas e Energia).

Na reunião também foi discutida a criação e a forma de gerenciamento do fundo de cerca de R$ 20 bilhões que será criado supostamente para dar conta dos problemas criados pela negligência das mineradoras que vão, pasmemos todos, controlar como  os recursos serão usados!

Alguma alma mais cínica poderia perguntar por que nesta foto não aparece nenhum representante dos atingidos pelo TsuLama. E aí eu responderia num tom bem mineiro: porque os atingidos não foram convidados, uai!

E com esse “acordo” fica tudo como dantes no quartel de Abrantes, e o Brasil se mantém como o paraíso dos poluidores!

Pesquisador da UENF responde questões levantadas a partir da leitura da entrevista do Prof. Paulo César Rosman à BBC

Após ler com mais atenção a entrevista que o professor Paulo Cesar Rosman do COPPETEC/UFRJ concedeu à BBC sobre o incidente da Mineradora Samarco (Vale+BHP Billiton) no município de Mariana (MG), este blog conduziu uma entrevista com o Prof. Carlos Eduardo Rezende, professor titular e chefe do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).  Além disso, o Prof. Carlos Rezende é um expert na dinâmica de poluentes metálicos, nutrientes, composição elementar e isotópica da matéria orgânica, e biomarcadores na interface dos ecossistemas terrestres e aquáticos, e tem atuado com intensidade na área de Ecologia Aplicada desde que chegou à Uenf em 1993.

carlos rezende

Além de prestar essa entrevista ao blog, o Prof. Carlos Rezende disponibilizou o seu telefone de contato na Uenf para que sejam feitos contatos diretos acerca dos pontos que ele levanta em sua entrevista. O número de contato do Prof. Carlos Rezende é 22-2748-6080.

Blog do Pedlowski (BP): Em sua entrevista à BBC, o Prof. Paulo César Rosman declarou que “embora especialistas tenham divulgado previsões de danos catastróficos, que incluiriam danos à reserva marinha de Abrolhos, no sul da Bahia, e um espalhamento da lama por até 10 mil m²”. “Além disso, o Prof. Rosman afirmou que os efeitos no mar serão “desprezíveis”, que o material se espalhará por no máximo 9 km e que em poucos dias a coloração barrenta deve se dissipar.” Como o senhor vê essas declarações do Prof. Rosman?

Carlos Eduardo Rezende (CER): Eu notei que o Professor Rosman informou que os efeitos serão desprezíveis, mas não fez qualquer tipo de avaliação quanto ao que é ou não desprezível. O que eu poderia responder sobre isto é que com a redução na penetração da luz teremos certamente uma drástica redução na produção primária, ou seja, fixação de carbono com consequência na cadeia alimentar costeira. Outra coisa, o que é considerado desprezível, a morte de espécies fluviais e marinhas? Não quero sequer entrar na questão socioeconômica em toda região. Bom, quanto ao modelo que ele usou, não vi qualquer informação, e hoje por imagem de satélite já se pode chegar a uma conclusão. Neste momento, precisamos de informações precisas e não foram apresentados números para contestar as afirmações de outros grupos. Este momento é muito delicado e a comunidade acadêmica deve se manifestar, a meu ver, com mais precisão nas suas avaliações técnicas.

BP: O Professor Rosman também declarou á BBC que “para ele, a sociedade e os governos mineiro e federal precisam cobrar de Vale e BHP Billington, donas da Samarco, o processo de reflorestamento e reconstrução ambiental, de custo “insignificante” para as empresas.”.

CER: Custo insignificante em que termos? E os serviços ambientais que foram totalmente alterados ou comprometidos com o TsuLama que foi liberado pelo rompimento da barragem da Samarco? Eu diria que o reflorestamento e a reconstrução ambiental se forem feitos como se deve, precisaríamos de um acompanhamento ao longo de alguns anos para avaliar quando os serviços ambientais serão recuperados (ex.: A recarga das águas subterrâneas foi ou não comprometida?). Eu penso que não se pode tratar a questão ambiental varrendo coisas para debaixo do tapete e a população precisa de readquirir confiança na empresa e nos órgãos ambientais. Este momento deve ser usado como exemplo de pior hipótese, visto que o problema poderá ser repetido se mantivermos a precariedade na fiscalização, pois existem 765 barragens no estado de Minas Gerais, e poucos fiscais realizando este serviço.

BP: O Prof. Rosman declarou ainda que “no caso da ciência as coisas são mais factuais, quantitativas, mais numéricas. No caso do indígena, ele constata e sofre com a “morte” do rio. A diferença é que o rio está morto neste momento, é verdade, mas ressuscitará muito rapidamente, e eles vão poder comprovar isso.” O que o senhor tem a dizer sobre essa previsão de ressurreição que o Prof. Rosman fez?

CER: A minha resposta a esta afirmação é muito simples. Para quem afirma que ciência é quantitativa e mais numérica, precisamos de números, e estes não foram apresentados, mas foram realizadas afirmativas que deveriam vir respaldadas com maiores detalhes. Ao afirmar que em 5 meses tudo estará normalizado, seria fundamental saber o que realmente tínhamos neste sistema antes da passagem dos rejeitos e sabemos que as informações, neste exato momento, são insuficientes.

BP: O Professor Rosman também afirmou que “há muitos exemplos de acidentes muito mais graves e mais sérios do que este da barragem de Mariana. Veja a erupção vulcânica do monte Santa Helena, nos Estados Unidos (em 1980). Foi tudo devastado e destruído, numa área imensamente maior. Você vai lá hoje e vê que os animais voltaram e a mata voltou.” Como o senhor responde a estas afirmações?

CER: Aqui, mais uma vez, há uma tentativa de naturalização do problema ao usar um evento extremo e natural e compará-lo com um que poderia ter sido minimizado com medidas que deveriam estar sendo cumpridas. Para um profissional da área, o Prof. Rosman me parece estar negligenciando um ponto importante na engenharia de reservatórios e de segurança. Além disso, o evento de Itajaí precisa ser detalhado, pois muitas pessoas não conhecem. Os números precisam ser apresentados, e não basta, a meu ver, afirmar que foi maior, sem estabelecer claramente as diferenças entre os eventos.

BP: Na sua entrevista, o Prof. Rosman afirmou também que as fortes chuvas entre novembro e abril “lavarão” o rio Doce, num processo natural. Como o senhor vê essa previsão?

CER: O fato concreto é que parece ter sido esquecido que estamos sobre o efeito do El Niño, e que este fenômeno gera um déficit pluviométrico na região Sudeste, onde os dois estados atingidos pelo derrame da Mineradora Samarco estão inseridos, e que há 3 anos estamos passando por secas prolongadas.

BP: O Prof. Rosman também afirmou que “para se ter uma ideia, a água transparente do mar, costeira, tem tipicamente 5 mg/l de sedimentos em suspensão. A água dentro de uma baía tem tipicamente entre 50 mg/l a 100 mg/l de sedimentos em suspensão. A água de um rio com cor barrenta tem em torno de 500 mg/l de sedimentos de suspensão, são todos dados naturais.”. Nesse caso, há alguma coisa que o senhor gostaria de apontar?

CER: A região estuarina ou marinha do rio Doce não está diretamente associada a uma baía, muito pelo contrário é aberta e ligada diretamente ao oceano, assim 50 a 100 mg/L não é um valor baixo, inclusive estando dentro da faixa encontrada para rios (ex.: rio Paraíba do Sul). Inclusive, para considerarmos legalmente algumas questões, devemos observar a Resolução CONAMA 357/2005 e confirmar se as águas estão em conformidade com os padrões estabelecidos para a Classe I, pois a região é usada para recreação e, portanto, contato primário.

BP: Um aspecto final que eu gostaria de perguntar ao senhor se refere às responsabilidades pelo incidente em Mariana.  No tocante à isto, o Prof. Rosman disso o seguinte “Olha, irresponsabilidade é quando você tem consciência do fato e não faz nada. Tudo é óbvio depois que você já sabe o que aconteceu.”.  Como é que o senhor vê a questão das responsabilidades sobre o incidente que ocorreu em Bento Rodrigues com o rompimento da barragem Fundão da Mineradora Samarco?

CER: Creio que nesta resposta em particular, não houve uma resposta concreta, pois existem informações conflitantes sobre as condições deste e de outros reservatórios segundo informações publicadas em diferentes órgãos de imprensa nacional e internacional. Dai quando ocorrer algum outro rompimento de barragem de rejeitos, haverá ou não responsáveis? Parece-me que sim.

E a ironia continua… licenciamento ambiental “Fast Food” em BH, queda das ações da BHP em Sidney

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Já fiz várias postagens sobre a ironia que está sendo ver o Estado brasileiro se esmerando em proteger as mineradoras envolvidas no caso de Mariana, enquanto as ações da Vale e da BHP Billiton estão literalmente afundando nas bolsas de valores, como mostra a matéria abaixo do jornal Estado de Minas.

E a coisa está piorando por causa da posição expressa num relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) onde está expressa que as medidas tomadas pela Mineradora Samarco da qual a BHP Billiton detém 50% do capital “foram claramente insuficientes” para impedir o agigantamento dos efeitos socioambientais que incidente na represa de Fundão acabou tendo.

Pois é, o Estado brasileiro pode até perdoar, mas o mercado de ações não. É irônico ou não?

Por causa da tragédia de Mariana, ações da BHP têm queda na Bolsa de Sidney

Situação do grupo australiano ficou pior depois que especialistas da ONU publicaram relatório denunciando que as empresas e as autoridades brasileiras não conseguiram evitar os danos causados pelo rompimento da barragem do Fundão

Os reflexos negativos do rompimento da barragem do Fundão em Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, no dia 5, atingiram a mineradora australiana BHP Billiton, que detém 50% do controle da Samarco (os outros 50% são da Vale). Matéria publicada nesta quinta-feira no site do jornal inglês The Telegraph mostra que as ações da BHP na Bolsa de Sidney tiveram queda de 3,7% e alcançaram o menor valor desde 2005, sendo vendidas a A$ 18,94 (dólares australianos), o equivalente a 9 euros, nesta quinta-feira.

Um dos fatores para a queda do valor das ações do grupo empresarial australiano foi o relatório divulgado pela ONU nesta quarta-feira, no qual dois especialistas em direitos humanos afirmarm que as medidas tomadas para evitar os danos causados pelo rompimento da barragem do Fundão “foram claramente insuficientes”. A ONU cobrou publicamente ações mais efetivas da BHP, da Vale, da Samarco e das autoridades brasileiras, alertando que os resíduos tóxicos da lama que vazou da barragem são ameaças reais ao meio ambiente e às pessoas.

Para tentar reverter a curva descendente do valor de suas ações, a BHP tem negado de forma veemente que os resíduos presentes na lama sejam tóxicos, mas, até o momento, a atuação para diminuir a desconfiança dos investidores não tem dado bons resultados. Em Londres, na manhã desta quinta, a queda do valor das ações do grupo australiano chegou a 2,5%.

FONTE: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/11/26/interna_gerais,711855/por-causa-da-tragedia-de-mariana-acoes-da-bhp-tem-queda-na-bolsa-de-s.shtml

Caso Samarco e a mãe de todas as ironias: enquanto o Estado brasileiro perdoa, o mercado pune!

A matéria abaixo assinada pelo jornalista Nicola Pamplona é uma daquelas provas irrefutáveis de que o Estado brasileiro é mesmo um paradoxo ambulante. Enquanto assistimos as três esferas do Estado (executivo, legislativo e judiciário) cumprindo um papel muito aquém do que deveriam para punir a Mineradora Samarco e suas corporações-mãe (Vale e BHP Billiton) pelo crime socioambiental cometido em Mariana e que atingiu proporções de uma verdadeira hecatombe de lama, o mercado está punindo de forma exemplar ao rebaixar a nota de crédito da empresa.

O problema é que se continuarmos nessa toada, o máximo que vai acontecer é a Mineradora Samarco entrar em “recuperação judicial”, atrasando ainda mais o processo de reparação que deverá custar bilhões de dólares.  Simples assim!

Samarco é rebaixada por risco de calote após tragédia em MG

A agência de classificação de risco Standard & Poors rebaixou nesta terça-feira (24) a nota de crédito da Samarco, alegando riscos de calote da companhia após o rompimento das barragens de rejeitos em Mariana.

Os títulos da dívida da mineradora, controlada pela Vale e pela BHP, estão sendo negociados por menos da metade do pico atingido em 2014, em um sinal de que os credores também têm dúvidas com relação ao futuro da empresa após a tragédia.

“A ação de rebaixamento reflete o aumento nos riscos de liquidez da empresa porque o prazo para retomar sua produção de pelotas atualmente é incerto”, afirmou a S&P, em nota.

A agência teme que a Samarco descumpra, já no ano que vem, compromissos assumidos com credores [chamados de covenants], o que implicaria em resgate antecipado de parte de sua dívida.

Em seu balanço de 2014, a empresa explica que, entre os compromissos, está manter o indicador de dívida líquida e Ebitda em 3 vezes ou, em alguns casos, 4 vezes. No final de 2014, estava em 2,1 vezes.

A S&P diz que a suspensão das atividades terá impacto nos indicadores porque reduz a geração de caixa. A dívida total da Samarco, segundo o balanço, é de R$ 11,6 bilhões, metade em títulos e metade em financiamentos à exportação.

“Nesse cenário, assumimos que a empresa descumprirá seus covenants em 2016, o que poderia deflagrar acelerações de dívida”, conclui a S&P.

A nota de crédito da dívida estrangeira da empresa foi rebaixada de BB+ para BB-, com perspectiva negativa.

Nesta terça (24), os títulos com vencimento em 2022 eram negociados a US$ 0,46, queda de 45% com relação ao patamar de antes do acidente e de 53,5% com relação ao maior valor registrado, de US$ 0,99, em novembro de 2014.

“Os credores estão esperando pelo pior”, diz o diretor de operações da gestora de recursos Mirae, Pablo Spyer. “Há uma preocupação com relação à capacidade da empresa segurar essa bomba.”

Como a Samarco não tem ações em bolsa, os títulos da dívida são o principal indicador do humor do mercado com relação à companhia.

Juliana Coissi/Folhapress
REGENCIA, ES, BRASIL - 21.11.2015: Moradores da praia de Regência, em Linhares, receberam com protesto a chegada ao mar da lama liberada com o rompimento de barragens em Mariana (MG). Um dos líderes do povoado guiou o protesto vestido de Morte, com túnica preta e uma foice com a inscrição Samarco, mineradora responsável pelas barragens e que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton. (Foto: Juliana Coissi/Folhapress)
Moradores de Linhares (ES) protestam contra a chegada da lama das barragens da Samarco ao mar

Os credores são, em sua maioria, investidores institucionais estrangeiros, como os bancos UBS e Credit Suisse e o fundo Blackrock.

Os títulos com vencimento em 2022 são os mais negociados, mas há também papéis com vencimento em 2023 e 2024.

Nos primeiros dias após o rompimento das barragens, o valor dos papéis despencou da casa dos US$ 0,85 para abaixo de US$ 0,60.

Chegou a se recuperar, mas voltou a cair nos últimos dias, com a percepção de que o custo de recuperação das áreas atingidas pode ser maior do que o esperado inicialmente.

“Ainda é difícil mensurar a extensão dos danos para o futuro da empresa, até porque há interesse do município que ela volte a operar. Se fosse nos Estados Unidos, estaria fechada”, diz o analista Pedro Galdi, do site Whatscall.

Segundo avaliação da S&P, a Samarco deve fechar o ano com R$ 3 bilhões em caixa, mas pode ter problemas de liquidez, uma vez que os primeiros compromissos assumidos após a tragédia já somam R$ 1,3 bilhão.

Além disso, tem R$ 190 milhões em pagamentos de dívidas e R$ 250 milhões em impostos.

ALTERNATIVAS

Em teleconferência com analistas na semana passada, a Vale admitiu que o seguro de responsabilidade civil da Samarco não cobre sequer as multas já emitidas pelo Ibama, no valor de R$ 250 milhões.

Segundo o diretor financeiro da Vale, Luciano Siani, a apólice cobre bem os prejuízos pela parada de produção e por danos nas minas, mas é pequena no que diz respeito a danos a terceiros ou ao meio ambiente.

Embora garantam que o foco neste momento é a mitigação dos danos causados pela tragédia, os controladores da Samarco já estudam alternativas para convencer as autoridades a liberar as operações da companhia.

Uma delas é a tecnologia de tratamento do minério a seco ou o depósito de rejeitos na cava da mina de Germano.

“Precisamos convencer a sociedade de que podemos operar de formar segura e que podemos limpar os danos. Este é o primeiro passo a ser dado”, afirmou Siani.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/11/1710380-samarco-e-rebaixada-por-risco-de-calote-apos-tragedia-em-mg.shtml