Empresa alemã enfrenta litígios bilionários nos Estados Unidos, queda drástica no valor de mercado e amplia cortes em sua força de trabalho como parte de um plano global de reestruturação anunciado junto ao balanço do segundo trimestre

Bayer anuncia demissão de 12 mil funcionários em meio a crise jurídica bilionária nos EUA envolvendo o herbicida Roundup.
Por Alisson Ficher para “Clickpetroleoegas”
A Bayer anunciou na última quarta-feira (06) a demissão de 12 mil funcionários em tempo integral como parte de um amplo plano de reestruturação global.
A medida, confirmada pela agência Reuters, ocorre em meio à pressão financeira e jurídica gerada pelos processos contra o herbicida Roundup, adquirido junto com a Monsanto em 2018 por US$ 63 bilhões.
A aquisição, que visava ampliar a liderança no mercado agroquímico, resultou em um passivo bilionário e na perda de cerca de 80% do valor de mercado da companhia.
A multinacional alemã enfrenta atualmente mais de 67 mil ações judiciais nos Estados Unidos que associam o glifosato, ingrediente ativo do Roundup, a supostos riscos de câncer.
Tribunais norte-americanos têm condenado a empresa a indenizações milionárias e questionado a segurança do produto, apesar de pareceres favoráveis da Agência de Proteção Ambiental (EPA).
Cortes e reorganização administrativa
Segundo a Bayer, os cortes atingem principalmente cargos administrativos e de gestão.
O objetivo é acelerar decisões internas e reduzir custos fixos, estratégia considerada fundamental diante da concorrência de genéricos asiáticos e da queda nos preços do glifosato.
Desde o início do programa de reestruturação, em 2024, cerca de 7 mil postos já haviam sido eliminados.
Ao final de junho de 2025, a empresa contava com aproximadamente 90 mil empregados no mundo.
A companhia ressalta que a reorganização também busca simplificar sua estrutura gerencial, encurtando a cadeia de comando para reagir com mais rapidez às mudanças do mercado e ao andamento dos processos judiciais.
Provisões bilionárias e prejuízos acumulados
O impacto das ações judiciais já custou à Bayer mais de US$ 10 bilhões em indenizações.
Recentemente, a empresa reservou US$ 1,37 bilhão adicionais (cerca de € 1,2 bilhão) para cobrir novas demandas, elevando o montante total destinado a essas provisões para US$ 7,4 bilhões.
Em 2024, a Bayer registrou prejuízo líquido de € 2,55 bilhões.
O desempenho negativo, aliado à deterioração da confiança de investidores, aumentou a pressão sobre o CEO Bill Anderson e sua equipe de gestão.
Estratégias para conter a crise
Uma delas é negociar um novo acordo coletivo nos Estados Unidos, com atenção especial aos casos pendentes no estado do Missouri, onde fica a sede da Monsanto.
A outra opção em análise é recorrer ao Chapter 11, mecanismo equivalente à recuperação judicial norte-americana, mas restrito à subsidiária Monsanto.
Essa medida permitiria concentrar as ações em uma única jurisdição e suspender temporariamente novos julgamentos.
Estratégia semelhante foi tentada sem sucesso por empresas como Johnson & Johnson e 3M.
Condenações recentes e riscos futuros
Em janeiro de 2024, um júri da Pensilvânia determinou que a Bayer pagasse US$ 2,25 bilhões a um cliente que alegou ter desenvolvido câncer devido ao uso do Roundup.
O caso reforçou o temor de novas condenações bilionárias e aprofundou a incerteza sobre o futuro da empresa.
O glifosato é amplamente utilizado em lavouras de soja, milho e algodão.
A Bayer defende sua segurança e afirma que pesquisas científicas e avaliações regulatórias comprovam que o herbicida não oferece riscos à saúde humana quando usado corretamente.
Expectativa por decisão da Suprema Corte
Nos próximos meses, a Suprema Corte dos EUA deve decidir se aceitará um novo recurso relacionado ao glifosato.
Paralelamente, a Bayer intensifica sua atuação junto ao Congresso americano para tentar aprovar leis que limitem sua responsabilidade em ações futuras.
O caso Bayer-Monsanto expõe um dilema que vai além do setor agroquímico: até que ponto uma aquisição bilionária pode se transformar em um passivo estratégico irreversível?
Fonte: Clickpetroleoegas







