O tudo ou nada de Malu Gaspar: a ascensão e queda de Eike Batista, e a ameaça da Fênix

Passei os últimos dias de 2014 e os primeiros de 2015 lendo os capítulos que me restavam da obra “Tudo ou Nada” da jornalista Malu Gaspar cujo mote é analisar a ascensão e queda do império “X” de Eike Batista. A obra que está dividida em um prologo, 22 capítulos e um epílogo e que consome 494 páginas para realizar uma narrativa de tirar o fôlego de todas as idas e vindas, peripécias e personagens que serviram de escada de Eike Batista em seu processo de passar de milionário e bilionário, e depois, como ele mesmo disse, de volta à “classe média”.

Como Malu Gaspar reconhece que o livro começou a ser escrito em 2006, eu até entendo porque os capítulos que narram a ascensão e a incipiente permanência de Eike Batista no topo da glória são mais cativantes e ocupam um número maior de capítulos, enquanto a maioria dos dedicados à debacle são mais curtos e menos detalhados. Eu atribuo isso à debandada de funcionários, diretores e Chief Executive Oficcers (CEOs) que certamente abasteceram a autora com detalhes tão íntimos quanto picantes sobre o cotidiano de Eike Batista e seu conglomerado financeiro. No entanto, no conjunto da obra, este desiquilíbrio acaba não afetando a qualidade do seu conteúdo.  Não como negar, o livro de Malu Gaspar é muito informativo e elucida as entranhas do maior colapso financeiro ocorrido na história das bolsas de valores latino-americanas.

Uma reserva que eu tenho é o roll restrito de vítimas desse processo, já que Malu Gaspar acabou restringindo sua análise ao âmbito do mundo financeiro. Fora disso, todos são invisíveis e aparentemente secundárias na grande narrativa estabelecida no livro. Esse é um detalhe que pode parecer secundário, mas não é. É que se levarmos o único caso em que Malu Gaspar vislumbra a oportunidade de que haja algum tipo de legado histórico, o Porto do Açu, existem tantas vítimas deixadas na obscuridade que, se reveladas, deixariam os acionistas minoritários da G(X) parecendo apenas como personagens merecedoras de seu cadafalso. É que, para começo de conversa, ninguém colocou a Polícia Militar para obrigar ninguém a comprar as ações turbinadas da OG(X), como aconteceu com os agricultores do V Distrito de São João da Barra, os quais continuam até hoje abandonados à própria sorte. Neste aspecto em particular, Malu Gaspar simplificou o enredo. Mas como nunca declarou que iria dar uma fotografia completa, talvez nem devesse ser criticada por essa “pequena” lacuna.

A obra é concluída com um interessante capítulo de Epilogo que soa como uma lembrança de que Eike Batista pode, afinal de contas, não estar acabado como muitos vaticinam neste momento, e que ele pode, dadas condições novamente propícias, irromper no cenário restrito dos bilionários. Malu Gaspar sintetiza essa possibilidade do dito galego de que “não creio em bruxas, mas que elas existem, existem“. 

Agora, algo que deveria ser mais bem analisado por todos os interessados nos problemas econômicos afligindo a economia fluminense, e que é apenas insinuado por Malu Gaspar, se refere ao impacto do tombo de Eike Batista sobre as chances de algum tipo de crescimento econômico sustentado no Rio de Janeiro. E se alguém se dispor a fazer essa análise, provavelmente encontrará pela frente não apenas Eike Batista, mas também Sérgio Cabral e todos os que orbitaram ao seu redor nos anos dourados do ex-bilionário.

Finalmente, eu indicaria o livro aos que ainda se iludem com as chances do Porto do Açu vir a ser uma Roterdã dos trópicos. É que apesar de não se prender a prognósticos sobre o futuro do empreendimento “legado”, Malu Gaspar coloca definitivamente “os pingos definitivamente no is”.  Depois de ler o livro, que se iluda quem quiser.

Tudo ou nada: resenha parcial do livro de Malu Gaspar

tudo ou nada

Para quem ainda não comprou, eu não hesito em recomendar o livro da jornalista Malu Gaspar sobre a mirabolante história em que se configura a ascensão e queda de Eike Batista. Após ler quase um terço do livro em menos de dois dias, eu só posso dizer que o livro vale todo o dinheiro que eu gastei nele.  Eu o caracterizaria como uma mistura de um thriller policial com um daqueles filme de realidade fantástica e tudo numa velocidade do filme Velocidade Máxima que foi estrelado por Keanu Reeves.

Apesar de eu achar o detalhado relato de vários episódios que antecederam o derretimento do Império X um tanto difícil de aceitar no tocante à precisão da descrição, o estilo que Malu Gaspar emprega em sua narrativa é bastante convidativo a que se devorem as páginas com avidez, sempre na espera do que acontece em cada um dos capítulos que ela dividiu a sua obra.

Em relação à Eike Batista, eu ainda vou esperar o que Malu Gaspar vai apresentar nos dois terços restantes do livro para decidir como ela efetivamente o pretende retratar. Até o onde eu cheguei, a narrativa mistura traços de completo escárnio com certo grau de reverência. É como se Malu Gaspar quisesse retratar as fraquezas e limitações de Eike sem, no entanto, perder de vista sua capacidade realizadora.

Mas ao contrário de que possa parecer, eu estou quase convencido que este livro não é nem sobre Eike Batista nem sobre seu império de empresas pré-operacionais que um dia apareceram como verdadeiros cometas no céu das bolsas de valores. Acredito que o cenário que Malu Gaspar é muito mais complexo e revela um projeto jornalístico mais ambicioso que seria algo como uma crônica dos tempos áureos do neodesenvolvimentismo lulista e, ao mesmo tempo, uma crítica à forma com que as engrenagens de grandes corporações se movem em busca de lucro em escala planetária.

E, sim, tudo isso é envolto em muita prepotência, egocentrismo, manipulação, viagens luxuosas, bebedeiras homéricas, e comilanças regadas com todo o tipo de vantagens financeiras para quem opera um sistema onde o cidadão comum é simplesmente invisível.

Para os leitores do Norte Fluminense, eu diria que esse livro é fundamental para se ver como os projetos de Eike Batista, começando pelo decantado Porto do Açu, foram tramados e implementados sem a menor consideração com um projeto minimamente preocupado com a superação das históricas dificuldades sociais e econômicas que ali existem.

 

Tudo ou nada: a verdadeira história de Eike Batista aparece em livro

“Eike Batista e a verdadeira história do grupo X” é lançado no Rio

Jornalista fala sobre trajetória do empresário com documentos e declarações inéditas

A jornalista Malu Gaspar lançou na noite desta terça-feira (25) seu livro “Tudo ou Nada – Eike Batista e a verdadeira história do grupo X”, na Livraria Travessa do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro. Motivada pelo ineditismo e importância de histórias e evidências que se revelaram enquanto acompanhava a trajetória das empresas de Eike, e também pelo personagem este representa, iniciou uma pesquisa minuciosa que gerou a publicação. Documentos inéditos e depoimentos de 106 personagens fundamentais ajudam a contar a história do homem que já foi apontado como o 7° mais rico do mundo, e agora se vê envolvido em processos sobre crime contra o mercado e com empresas em recuperação judicial.

Malu Gaspar é editora da revista Veja no Rio de Janeiro e acompanha a trajetória de Eike Batista e seu grupo desde 2005, quando chegou ao Rio de Janeiro para ser chefe da sucursal carioca de Exame. Em conversa com o Jornal do Brasil, ela destaca o fato da aproximação ter iniciado justamente no período de auge do empresário. Ao seguir os passos do grupo X e ouvir pessoas relacionadas, percebeu que se tratava de um grande personagem. Quando teve início a trajetória de queda, viu que o que acontecia não era retratado e que renderia uma grande história. “Eike representa um período do capitalismo brasileiro”, resume.

Malu reconstitui a trajetória de ascensões e quedas do empresário, com pesquisa sobre ele e sua carreira desde o início dos anos 1980 até o colapso em 2012. Especialista na cobertura econômica, ela pesquisou fontes inéditas, levantou documentos jamais vistos e ouviu amigos, ex-amigos, colaboradores, ex-colaboradores, admiradores e adversários de Eike, que nunca haviam falado a respeito dele e das empresas. Eles revelam tramas que montam um novo quebra-cabeça, que promete ajudar a compreender não só o caminho do grupo mas também a cabeça de seu líder.

“Vi de muito perto o grupo X ascender ao topo do capitalismo brasileiro. Conheci seus executivos, acompanhei os momentos de tensão e glória, o surgimento das primeiras dificuldades. (…) Sempre me impressionou o tamanho da ambição e a grande quantidade de projetos e planos que suas empresas cultivavam, assim como a facilidade que tinha de convencer o mercado e o público sobre sua capacidade de executá-los. Soube, de início, mais por fontes de fora do grupo, que muitos não eram factíveis. Fiquei preocupada quando  vi a bolha X se formando e logo passei a buscar as pistas de que ela estava prestes a estourar”, conta a autora.

A autora ainda buscou mostrar como a personalidade peculiar de Eike Batista influenciava na tomada de importantes decisões. Segundo ela, Eike tem um grande carisma, capacidade de liderança e um talento especial para vender seus projetos, atrair pessoas e mobilizar recursos, mas vive em conflito com executivos, administrava colocando uns contra os outros, subestimava dificuldades e sempre foi incapaz de manter o foco num único projeto, por mais complexo que ele fosse.

Graças aos devaneios que vendeu ao mercado, ele se tornou o sétimo homem mais rico do mundo

“Deixo claro no livro que Eike sabia estar patrocinando uma mentira. O fato de ter ido à falência junto com suas empresas não o absolve, como ele costuma afirmar. Graças aos devaneios que vendeu ao mercado, ele se tornou o sétimo homem mais rico do mundo e passou a integrar a elite global dos negócios. Teve muitos lucros, colheu muitos louros e só quebrou de forma tão fragorosa porque, ao se julgar alguém iluminado e especial, cometeu erros demais. Estamos falando, porém, de um empresário experiente nos meandros do mercado financeiro, que já lidou no passado com mercados até mais regulados e restritos do que o brasileiro e sabe que não poderia ter conduzido os negócios e a relação com o mercado da forma como fez”, conclui Malu Gaspar.

FONTE: http://m.jb.com.br/economia/noticias/2014/11/25/eike-batista-e-a-verdadeira-historia-do-grupo-x-e-lancado-no-rio/#