Estudantes da UENF são convidados para participar em pesquisa sobre manguezais

Aves e Árvores: Visita à Reserva Biológica de Guaratiba (RJ)

Os professores Carlos Eduardo de Rezende, do Laboratório de Ciências Ambientais do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB), e William Vasquez,  da Fairfield University (EUA),  estão convidando os estudantes da  Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) para participar de uma pesquisa sobre as preferências dos estudantes em relação às reservas florestais de manguezal.

O questionário é simples, leva aproximadamente 15 minutos para ser respondido, e a participação dos estudantes é voluntária, não remunerada e totalmente confidencial. As respostas coletadas contribuirão com dados relevantes para subsidiar políticas públicas e programas voltados ao aprimoramento da gestão dessas áreas. 

Quem desejar  saber mais sobre o projeto e responder ao questionário, deve clicar no link abaixo:

[https://fairfield.iad1.qualtrics.com/…/SV_7WY8pUUBke3tNnE]

Os professores Rezende e Vasquez agradecem antecipadamente a quem se dispuser a participar da pesquisa.

Manguezais no Rio de Janeiro: em tempos de mudanças climáticas, o descuido desses ecossistemas é garantia de tragédia

Por Carlos Eduardo de Rezende

Os manguezais são ecossistemas de extrema importância ecológica, social e econômica, ocupando uma extensa faixa do litoral brasileiro, ao longo de 6.800 km de costa. Com uma cobertura estimada em 1,38 milhão de hectares, o Brasil, junto com a Austrália, abriga a segunda maior área de manguezais do planeta.

Apesar de representarem apenas cerca de 1% da cobertura vegetal global, os manguezais desempenham um papel essencial na manutenção da biodiversidade marinha, fornecendo matéria orgânica e áreas de reprodução para diversas espécies de vertebrados e invertebrados. Além disso, são fundamentais para a estabilidade da zona costeira, atuam como barreiras biogeoquímicas na retenção de poluentes e são considerados ecossistemas estratégicos para a mitigação das mudanças climáticas.

No entanto, a ideia de que os manguezais vêm sendo valorizados e preservados nos últimos tempos não se sustenta diante dos dados disponíveis. Estudos baseados em levantamentos de campo e sensoriamento remoto revelam uma perda progressiva dessas áreas ao longo do último século, chegando, em alguns locais, à supressão total do ecossistema.

Um exemplo próximo é a foz do Rio Paraíba do Sul, onde estudos realizados, por nosso grupo de pesquisa em 2010, constataram perdas significativas, como nas regiões de Atafona e nas Ilhas do Lima e Graça. A degradação, principalmente por ação humana, dos manguezais nessa área tem contribuído para o avanço da erosão costeira e para a redução da pesca, especialmente do camarão. A queda na produção pesqueira, por sua vez, está associada a dois fatores principais: o uso de redes de pesca com malhas inadequadas, que capturam indivíduos ainda jovens, sem ter se reproduzido uma única vez, e a drástica redução da vegetação de manguezal nos estuários dos rios Paraíba do Sul e Itabapoana.

A destruição dos manguezais tem implicações econômicas expressivas. Entre 1986 e 2001, por exemplo, o estuário do Rio Paraíba do Sul perdeu aproximadamente 200 hectares de manguezal, representando uma taxa de supressão de 13 hectares por ano, assumindo obviamente uma taxa anual, que pode ter sido diferente, isto é, alguns anos maiores e em outros menores. Considerando que cada hectare de manguezal armazena cerca de 6 toneladas de carbono e que o valor de mercado do carbono é de R$ 400,00 por tonelada, essa perda equivale a aproximadamente R$ 500.000,00 por ano. No entanto, esse cálculo não inclui outros impactos econômicos indiretos, como a intensificação da erosão costeira, a redução da pesca e a perda de serviços ambientais essenciais, como o controle hidrológico.

Diante desse cenário, é fundamental promover estratégias de conservação e manejo sustentável dos manguezais, garantindo sua proteção e integrando a valorização econômica desse ecossistema com o desenvolvimento sustentável. Políticas públicas eficazes e ações locais de recuperação e monitoramento contínuo são essenciais para reverter esse quadro e assegurar que os benefícios ambientais, sociais e econômicos dos manguezais sejam mantidos para as gerações futuras.

Os serviços ambientais  fundamentais que são cumpridos pelos ecossistemas de manguezais e a necessidade urgente de sua proteção

Mangue conservado transforma pescadores em guias de turismo | Agência Brasil

No estado do Rio de Janeiro, as maiores áreas de manguezal encontram-se na foz do rio Paraíba do Sul e nas baías de Guanabara, Sepetiba e Angra dos Reis. Esses ecossistemas, que ocupam aproximadamente 16.000 km², abrigam espécies típicas como Avicennia germinans (L.) Stearn., Avicennia schaueriana Stapft & Leechm., Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. e Rhizophora mangle L. Segundo uma proposta de classificação (1990), os manguezais do Norte Fluminense estão incluídos na Unidade que se estende do Recôncavo Baiano (13º00’S) até Cabo Frio (23º00’S). Nessa região, destacam-se os manguezais localizados na foz dos três principais rios do litoral norte: Itabapoana, Paraíba do Sul e Macaé.

Os manguezais são ecossistemas fundamentais para a manutenção da biodiversidade, pois abrigam espécies vegetais e animais de elevada importância ecológica. Muitas plantas ocorrem associadas a esses ambientes, e sua diversidade reflete tanto as condições climáticas locais quanto a proximidade com outros ecossistemas. A composição da flora é altamente variável entre regiões e até mesmo dentro de um mesmo sistema. Entre as espécies associadas mais amplamente distribuídas no Brasil, destacam-se Acrostichum aureum L., Conocarpus erecta L., Hibiscus pernambucensis Arruda e a gramínea Spartina alterniflora Loisel.

A fauna dos manguezais também é rica e diversa. Os caranguejos, por exemplo, são espécies bandeira desse ecossistema e ocorrem em toda a costa brasileira, desempenhando um papel crucial na ciclagem de nutrientes e na manutenção do equilíbrio ecológico. Além deles, diversas espécies de moluscos (ostras, mexilhões), aves, répteis e peixes encontram abrigo e alimento nesses habitats, evidenciando sua importância ecológica e socioeconômica.

Apesar da relevância desses ecossistemas, há poucas informações sobre os atributos estruturais e a dinâmica dos manguezais da região Norte do Estado do Rio de Janeiro. Alguns estudos foram conduzidos pelo nosso grupo de pesquisa, como os da Dra Elaine Bernini, ex-aluna da Uenf e atualmente professora na Universidade Federal da Paraíba. No entanto, a carência de dados dificulta a determinação de padrões estruturais para esses manguezais. Por outro lado, pesquisas mais avançadas já foram desenvolvidas nos manguezais da Baía de Guanabara, Baía de Sepetiba e Lagoa da Tijuca, fornecendo subsídios importantes para a compreensão desses ecossistemas.

O estudo da estrutura da vegetação dos manguezais é essencial para sua conservação e manejo sustentável. Esse tipo de pesquisa envolve a caracterização da altura das árvores de cada espécie, o número de indivíduos vivos e mortos em uma determinada área, o diâmetro médio dos troncos, a quantidade de plântulas – plantas jovens – por área, os períodos de floração e frutificação, além do padrão de distribuição das espécies ao longo do tempo e do espaço. Esses parâmetros são fundamentais para embasar qualquer iniciativa de recuperação da vegetação suprimida ilegalmente por atividades humanas.

A preservação dos manguezais é uma questão ambiental e social de grande relevância. Além de funcionarem como berçários naturais para inúmeras espécies marinhas e estuarinas, esses ecossistemas protegem a linha costeira contra erosão, regulam a qualidade da água e fornecem recursos essenciais para comunidades tradicionais. Assim, estudos sobre sua estrutura e dinâmica devem ser incentivados, garantindo a manutenção da biodiversidade e a sustentabilidade dos serviços ecossistêmicos que eles oferecem para toda sociedade.

 Tarefas que continuam ignorados pelas diferentes esferas de governo na proteção e conservação dos manguezais

Com toda sinceridade, não vejo nenhuma ação concreta por parte do poder público para modificar o cenário de desmatamento e degradação desta importante vegetação costeira, exceto pela elaboração de documentos formais que, na prática, têm apresentado poucos resultados na conservação e no uso sustentável desses valiosos recursos naturais. O Brasil, de fato, é pródigo em documentar boas intenções, mas, muitas vezes, falha em implementar o que é proposto nos expedientes legais.

Recentemente, a Presidência da República, por meio da Casa Civil e da Secretaria Especial para Assuntos Jurídicos, publicou o Decreto nº 12.045, de 5 de junho de 2024, que institui o Programa Nacional de Conservação e Uso Sustentável dos Manguezais do Brasil, denominado ProManguezal. A divulgação desse decreto é relevante, pois demonstra uma intenção formal de conservar esse ecossistema crucial. Contudo, um decreto não possui a mesma força normativa de uma lei, o que já evidencia a dificuldade na implementação do que está previsto no ProManguezal. O descumprimento de decretos pelos estados e municípios muitas vezes ocorre pelo simples fato de que não foram discutidos e aprovados no legislativo, o que enfraquece a eficácia de qualquer iniciativa estabelecida por esse meio.

Portanto, embora existam mecanismos legais que deveriam garantir a conservação e o uso sustentável dos manguezais ao longo da costa brasileira, o cenário atual é alarmante e extremamente vulnerável em todas as regiões, especialmente devido ao alto interesse econômico sobre essas áreas costeiras. Para que uma política pública consistente e eficaz seja estabelecida, é imprescindível que ela se baseie em sólidos argumentos científicos e que haja um compromisso genuíno por parte dos políticos em promover uma mudança de comportamento em relação aos recursos naturais e sua conservação.

Entre os múltiplos bens e serviços frequentemente destacados na literatura – como o fornecimento de matéria orgânica para a cadeia alimentar costeira, a função de área de reprodução para vertebrados e invertebrados marinhos, e a estabilização da zona costeira –, este texto enfatiza, sobretudo, a relevância dos manguezais no ciclo global da matéria orgânica e seu papel crucial na dinâmica de poluentes. Além disso, espero que este texto contribua para estimular o interesse de novos pesquisadores na atuação junto aos ecossistemas de manguezais, pois acredito que essa é uma das muitas responsabilidades de cientistas e professores de universidades comprometidas com o bem-estar da humanidade.

Carlos Eduardo de Rezende é Professor Titular do Laboratório de Ciências Ambientais, Centro de Biociências e Biotecnologia, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).


Uma reportagem sobre a importância dos manguezais e a necessidade de sua proteção foi publicada por J3 News neste domingo 09/fev/2025 (Aqui!)

Professor e estudantes da Uenf participam de cruzeiro científico binacional na Foz do Rio Amazonas

meteor 0Ainda no Porto do Fortaleza, o professor Carlos Eduardo de Rezende explica a uma platéia atenta os objetivos do cruzeiro científico na Foz do Rio Amazonas

No dia 1º de dezembro teve início de cruzeiro interdisciplinar envolvendo universidades brasileiras e alemãs à bordo do navio de pesquisas RV Meteor. O cruzeiro partiu do Porto Fortaleza  para estudar a distribuição de metais-traço, matéria orgânica e isótopos que entram no Oceano Atlântico a partir da pluma que saiu do interior do cinturão costeiro manguezais que está localizado na foz do Rio Amazonas.

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Esse cruzeiro de pesquisa é de natureza binacional, envolvendo equipes de pesquisa do Brasil e da Alemanha. Do lado brasileiro o apoio é dado pela CAPES e do alemão, o suporte é dado pelo Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) por meio do programa PROBAL.

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A equipe binacional de pesquisa responsável pelo cruzeiro científico realizado pelo RV Meteor

A coordenação brasileira desse cruzeiro está por conta  do professor titular do Laboratório de Ciências Ambientais da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Carlos Eduardo de Rezende. O professor Rezende coordena diretamente atividades de  duas estudantes e alemãs, e mais 4 da Uenf e mais 3 da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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O professor Carlos Eduardo de Rezende e estudantes da Uenf a bordo do RV Meteor

Além da Uenf e da UFSM, no Brasil também participa do PROBRAL, a Universidade Federal do Ceará  (UFC), enquanto que na Alemanha há o envolvimento das universidade de Oldenburg e Constructor.

Esta é a segunda vez que a equipe investiga a área. Em 2018, eles visitaram a área durante a estação chuvosa, enquanto que neste ano a amostragem está ocorrendo durante a estação seca, que é caracterizada por uma seca extrema em toda a região, mas especialmente no alto Amazonas, comparado aos anos normais. Isto provavelmente já é um efeito da crescente intervenção humana no sensível ecossistema amazônico (por exemplo: através da construção de barragens, da desflorestação e da agricultura intensiva). Além disso, há a questão das climáticas que estão afetando de forma mensurável os fluxos e as entradas de materiais do Amazonas e de outros rios no Atlântico.

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O professor Carlos Eduardo de Rezende realizando o processo de calibração de equipamentos

Os interessados em acompanhar essa incrível jornada de pesquisas, poderão fazê-lo acessando um blog organizado por uma das pesquisadoras participando do cruzeiro, e que foi criado especialmente para documentar os principais detalhes e momentos dessa expedição científica (Aqui!),

Essa participação da Uenf em um cruzeiro científico de tamanha importância para o entendimento dos fluxo continental de materiais para o Oceano Atlântico na região da Foz do Amazonas apenas confirma a alta competência e liderança do professor Carlos Eduardo de Rezende que seguramente é atualmente o pesquisador de maior renome internacional em atividade dentro da instituição criada por Darcy Ribeiro e Leonel Brizola.

PEC das Praias ameaça ecossistemas que protegem zonas costeiras do aumento do nível do mar

shorelinePEC propõe vender um espaço que está sob risco de desaparecer em função da erosão e da elevação do nível do mar

Por Alexander Turra

A recente discussão da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 03/2022 – a chamada PEC das Praias – no Senado Federal viralizou com a manifestação de políticos, ambientalistas, cientistas e, principalmente, personalidades do mundo das artes e do futebol. Os variados argumentos mais parecem confundir do que explicar o real problema associado à PEC e sua mais controversa intenção, a transferência onerosa de terrenos de marinha já ocupados por cessionários autorizados pela União. Em outras palavras, a privatização de uma área pública com importantes funções sociais e ambientais, como veremos adiante.

De acordo com a Constituição Federal, terrenos de marinha têm uma profundidade de 33 metros, medidos horizontalmente, a partir da linha média de maré máxima. Na prática, tipicamente, os terrenos “de” marinha (e não “da” Marinha) incluem uma porção de praia e uma porção do ambiente sobrejacente, como a planície costeira. A porção de praia equivale à parte de areia mais seca acima da linha da maré alta.

Portanto, as porções de praia dos terrenos de marinha não são e não poderão ser ocupadas e não poderão ter sua titularidade transferida para privados. Por conseguinte, as praias não são objeto direto da PEC.

Por outro lado, na planície costeira há um forte processo de ocupação, pois as áreas defrontantes ao mar são altamente cobiçadas pelo mercado imobiliário. Essa porção dos terrenos de marinha, já concedida a particulares e já ocupada por eles, é que está no foco da PEC.

Mas ao invés da PEC buscar uma solução voltada para o aspecto tributário, como a redução ou eliminação dos impostos cobrados aos ocupantes desses terrenos, ela cria uma situação paradoxal, vendendo um espaço que está sob risco de desaparecer em função dos processos erosivos e da elevação do nível do mar.

Os terrenos de marinha, atualmente, acabam cumprindo essa função, de acomodar os movimentos de elevação do nível do mar e de proteger as ocupações humanas e os ambientes costeiros visando garantir a vitalidade da zona costeira. Agora, com as ocupações humanas, esse movimento tem sido impedido, e o resultado é a intensificação dos processos erosivos que levam à supressão desses ambientes. Curiosamente, a discussão da PEC está voltada para as praias, mas seus efeitos serão tragicamente transpostos para os manguezais. Mas qual o problema de perder as praias e os manguezais?

De uma forma geral, os ecossistemas praiais e de manguezal, importantes componentes da biodiversidade marinha, provêm relevantes benefícios para as pessoas. Dentre eles, temos a proteção da linha de costa de eventos extremos, sustentação da biodiversidade e da produção pesqueira e sequestro e estocagem de carbono, contribuindo para a regulação climática. Além disso, no caso específico das praias, há o suporte a uma variada gama de atividades de lazer e recreação, promovendo benefícios imateriais para a sociedade.

Diante desse cenário, o Congresso Nacional, como ente fiscalizador do Poder Executivo, deveria mudar o foco de sua ação e exigir que as políticas públicas existentes e que estão relacionadas com essa temática sejam implementadas adequadamente.

Mas, em última instância, a PEC é uma oportunidade de falar do oceano e do planeta como um todo, pois o oceano tem um papel transversal na transição para a sustentabilidade. A discussão da PEC nesse momento, no meio da Década do Oceano da ONU (2021-2030) e na iminência de comemorarmos o dia do meio ambiente (05/06) e o dia do oceano (08/06), curiosamente, nos permite reforçar o compromisso com um oceano limpo, saudável, resiliente e próspero para todos, com o qual ela peca em contribuir.

 

Sobre o autor

Alexander Turra é coordenador da Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados e do Instituto Oceanográfico Universidade de São Paulo


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Fonte: Agência Bori

Metade dos manguezais do mundo em risco devido ao comportamento humano – mostra estudo

A perda dos ecossistemas, que são vastas reservas de carbono, seria “desastrosa para a natureza e para as pessoas em todo o mundo”, diz a UICN

Duas pessoas com macacões e máscaras de proteção azuis usam absorventes para limpar o óleo de um pequeno mangue na praia

Filipinos limpam óleo de manguezais em Mindoro após vazamento. A poluição, as condições meteorológicas extremas, a subida do nível do mar, a agricultura, o desenvolvimento e as barragens ameaçam os mangais. Fotografia: FR Malasig/EPA 

Por Patrick Greenfield para o “The Guardian”

Metade de todas as florestas de manguezais do mundo estão em risco de colapso, de acordo com a primeira avaliação especializada destes ecossistemas cruciais e reservas de carbono.

O comportamento humano é a principal causa do seu declínio, de acordo com a análise da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), com os mangais no sul da Índia, no Sri Lanka e nas Maldivas em maior risco.

Os sistemas no Mar da China Meridional, no Pacífico central e no Triângulo de Coral oriental em torno da Malásia, Papua Nova Guiné e Filipinas foram classificados como ameaçados.

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Angela Andrade, presidente da comissão da UICN sobre gestão de ecossistemas, afirmou: “Os ecossistemas de manguezais são excepcionais na sua capacidade de fornecer serviços essenciais às pessoas, incluindo a redução do risco de catástrofes costeiras, o armazenamento e sequestro de carbono e o apoio à pesca. A sua perda será desastrosa para a natureza e para as pessoas em todo o mundo.”

Encontrados em todo o planeta, os manguezais incluem dezenas de espécies diferentes de árvores e arbustos ao longo das costas tropicais, que abrigam uma vasta gama de biodiversidade. Eles funcionam como viveiros de peixes e sustentam mamíferos tão variados quanto tigres, cães selvagens africanos e preguiças. 

 
Um tigre de Bengala à beira de uma floresta de mangue
Um tigre de Bengala nos Sunderbans indianos, a maior extensão de manguezal do mundo. Os manguezais abrigam uma enorme variedade de espécies. Fotografia: Arindam Bhattacharya/Alamy

Os ecossistemas armazenam uma quantidade desproporcional de carbono para o seu tamanho, absorvendo quase três vezes o carbono armazenado pelas florestas tropicais do mesmo tamanho.

Cerca de 15% das costas do mundo são cobertas por manguezais, mas o estudo concluiu que estes estão cada vez mais ameaçados pela subida do nível do mar, pela agricultura, pelo desenvolvimento ao longo das costas, pela poluição, como os derrames de petróleo , e pelas consequências da construção de barragens.

As fazendas de camarão, o desenvolvimento costeiro e as barragens nos rios, que alteram o fluxo de sedimentos, foram todas estabelecidas como causas anteriores de perda pelos pesquisadores. Mas as ameaças crescentes decorrentes da subida do nível do mar e da crise climática ameaçam a sua sobrevivência devido ao aumento da frequência e da gravidade das tempestades intensas .

Os investigadores utilizaram as ferramentas da UICN para avaliar o risco para os ecossistemas – semelhantes à sua lista vermelha , utilizada para calcular o risco de extinção de espécies – para realizar a investigação, que envolveu mais de 250 especialistas em todo o mundo.

“A lista vermelha de ecossistemas fornece caminhos claros sobre como podemos reverter a perda de manguezais e proteger estes delicados ecossistemas para o futuro, ajudando, por sua vez, a salvaguardar a biodiversidade, a enfrentar os efeitos das alterações climáticas e a apoiar a concretização do Quadro Global de Biodiversidade”, disse Andrade. disse.

Os manguezais no Havai e no sudeste da Polinésia não foram incluídos na avaliação porque não fazem naturalmente parte dos ecossistemas.


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Fonte: The Guardian

A Braskem e a escancarada destruição socioambiental no litoral brasileiro

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Por Ademilson Zamboni*

Quando se trata dos cuidados com a zona costeira-marinha do Brasil, presente, passado e futuro se fundem numa única palavra: descaso. Apesar da extensão e riqueza do nosso litoral, somos um país, no pior dos sentidos, virado de costas para o mar, onde histórica e cotidianamente o interesse privado se sobrepõe ao público provocando toda sorte de danos. 

Isso se dá de muitas maneiras. Poluição por óleo; esgoto e resíduos sólidos; erosão costeira; especulação imobiliária em suas formas mais perversas; turismo predatório; destruição de ecossistemas preciosos e de modos de vida tradicionais são algumas das faces que ilustram o desprezo com políticas públicas para o mar e a costa.

Se o Estado não age para a evitar um quadro cada vez mais complexo de destruição, poderia, ao menos, controlar e punir exemplarmente as grandes empresas causadoras. Quem sabe teríamos evitado tragédias como a de Brumadinho, de Mariana e, agora, Maceió, que devido à extração de sal-gema para produção de plástico pela gigante petroquímica Braskem, tem o potencial de se tornar o maior desastre socioambiental em área urbana no mundo.

Mundaú em risco

Os impactos causados pela Braskem alcançaram as águas do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú-Manguaba (CELMN), um dos ecossistemas centrais do litoral alagoano. Com o afundamento do terreno na região em mais de 2 metros, a Defesa Civil detectou o avanço das águas para terra antes seca. O que pode acelerar o iminente colapso da mina 18, já rompida na superfície, e causar, como antecipam os pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas, o risco de hipersalinização das águas, o que afetaria um ecossistema complexo, matando, provavelmente, o sururu, patrimônio imaterial e símbolo da culinária do estado.

Na primeira análise de impactos, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) de Alagoas indica a submersão permanente do manguezal nas margens de Mundaú, com prejuízos à fauna e à flora. Há plantas do mangue mortas, árvores submersas e perda de habitat de espécies. Estamos tratando de um dos biomas essenciais para a vida marinha e terrestre, verdadeiros berçários litorâneos.

Cadeia da pesca quebrada

Essa tragédia já afetou o modo de vida, os fazeres e saberes dos territórios pesqueiros e das comunidades tradicionais que ali se manifestam. São cerca de 500 pescadores e pescadoras artesanais que tinham na pesca e na catação do sururu suas principais fontes de sobrevivência. Hoje, estão impedidos de trabalhar com a proibição do acesso à lagoa, aonde circulam, em seus 23 mil quilômetros quadrados, tainhas, bagres e mandins.

A pesca não é só a captura do peixe. A fratura ocorre em toda a cadeia produtiva. Das embarcações que se preparam para navegar, envolvendo profissionais diversos, como marceneiros, restauradores de petrechos ou mecânicos, às compras de insumos, passando pelos trabalhos de beneficiamento ao abastecimento e comercialização nos restaurantes. A previsão é de que o peixe tenha a oferta drasticamente diminuída em Maceió.

Tragédia estendida

A Braskem, que se autointitula em Alagoas “âncora na cadeia produtiva da química e do plástico”, tem também as suas digitais impressas na exorbitante poluição que faz chegar ao mar ao menos 325 milhões de quilos de lixo plástico todos os anos no Brasil, conforme estudo “Um Oceano Livre de Plástico”, da Oceana, publicado em 2020.

De tão grave, urgente e sistêmica, essa poluição é tratada em âmbito global como a segunda maior ameaça ambiental ao planeta; atrás apenas da emergência climática. Tanto é que Organização das Nações Unidas lidera a construção de um Tratado Global Contra a Poluição Plástica.

No Brasil, seguimos com a indústria do plástico produzindo anualmente cerca de 3 bilhões de itens descartáveis que, sem interesse para a reciclagem, chegam ao oceano. Um em cada 10 animais marinhos que interagem com os dejetos morrem. O plástico também se transforma em microplásticos que já infestam o organismo humano e desafia até os paradigmas geológicos ao se tornar uma rocha artificial, como vimos perplexos no Arquipélago de Trindade.

Não se assustem se lá da longínqua Trindade, monumento natural e local mais remoto do território marítimo do Brasil, encontrarmos um rejeito plástico descartável cuja origem foi o PVC produzido graças às minas de extração do sal-gema de Maceió. Entre um extremo e outro, vemos se repetir o roteiro de destruição em grande escala, no qual uma empresa líder impõe uma produção brutal de plásticos, quase um “tsunami”, enquanto prega sustentabilidade em eventos do porte da Conferência das Partes (COP) 28.

* Ademilson Zamboni é diretor-geral da Oceana, oceanólogo, mestre e doutor em Engenharia pela Universidade de São Paulo.

Sul e Sudeste lideram perda de manguezais no Brasil em oito anos

MANGUEEstudo identificou perda de 34 km de manguezais; No detalhe, manguezais em Florianópolis (SC) próximo aos grandes centros comerciais. Foto:  Pedro Walfir Souza-Filho/ Arquivo Pesquisadores 

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Estudo realizado pela Universidade Federal do Pará (UFPA), o Instituto Tecnológico Vale (ITV) e a empresa Soluções em Geoinformação (Solved), a partir de sensoriamento remoto, revela que os manguezais das regiões Sul e Sudeste do Brasil perderam 34 quilômetros quadrados de sua extensão em apenas 8 anos. Essa redução representa 4% da cobertura total desse bioma na área em questão e pode ser um alerta para ampliar os cuidados com o ecossistema. Os resultados estão descritos em artigo científico publicado na sexta (22) na revista “Anais da Academia Brasileira de Ciências”.

Os pesquisadores submeteram imagens de satélites radares e ópticos e dados coletados em campo a uma Análise Baseada em Objetos Geográficos (GEOBIA), método que classifica as imagens nas seguintes categorias: corpos d’água, terra firme e manguezais. Segundo um dos autores do estudo, Pedro Walfir Souza-Filho, da UFPA e do ITV, a técnica escolhida é mais precisa do que aquelas baseadas apenas em imagens de satélites ópticos. “Ela reúne pixels semelhantes baseadas na classificação do conteúdo. Assim, ela forma uma visualização mais integrada”, explica o cientista.

Os resultados revelaram a perda de 34 quilômetros quadrados de manguezais nas regiões Sul e Sudeste  entre 2008 a 2016, ou seja, a cobertura total passou de 823 para 789 quilômetros quadrados em oito anos. A diminuição foi observada em todos os cinco estados do Sul e Sudeste banhados pelo mar, com exceção do Rio de Janeiro. “Os manguezais têm um papel importante na proteção costeira em resposta a eventos extremos, na conservação de habitats marinhos e da vida selvagem, além de capturar grandes quantidades de carbono da atmosfera”, destaca Souza-Filho.

Em comparação com outras regiões do Brasil, o Sul e o Sudeste foram os mais afetados pela perda de manguezais no período estudado. No Nordeste, as áreas cobertas por esse bioma permaneceram estáveis entre 2008 a 2016, enquanto, no Norte, elas cresceram cerca de 10%. Baseado em observações e análises, os pesquisadores levantaram hipóteses para explicar essa diferença e atribuíram a redução na cobertura principalmente à ocupação da zona costeira com aumento de urbanização e de atividades portuárias.

Para os pesquisadores, o método utilizado no estudo é uma ferramenta eficaz para o monitoramento dos manguezais, e os dados podem colaborar para uma proteção mais acentuada desse ecossistema. “Os resultados podem ser utilizados como referência para o estabelecimento de políticas de conservação, principalmente em função do mapeamento das áreas de manguezais estáveis”, salienta Souza-Filho.

Os cientistas pretendem seguir estudando o tema para contribuir com a compreensão e a preservação das áreas de mangue no Brasil. “Continuamos desenvolvendo pesquisas na região estudada e atualizando o mapeamento anualmente para que possamos observar as tendências atuais”.


Fonte: Agência Bori 

Manguezais são o habitat preferido de espécie de cavalo-marinho em risco de extinção no Ceará, revela estudo

FHD1138Os cavalos-marinhos se prendem com a cauda em raízes de manguezal, mas turbidez da água dificulta alimentação dos peixes. FOTO: RONALDO CÉSAR GURGEL-LOURENÇO / UFC

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Mais do que os níveis de salinidade ou de transparência da água, é a vegetação local que define a distribuição de cavalos-marinhos Hippocampus reidi em estuários de rios. Um estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC) mostra que esta espécie em risco de extinção se concentra em áreas de manguezais do rio Pacoti, no Ceará, pois consegue se fixar nas raízes das árvores do mangue, o que torna urgente a preservação deste bioma. Estas conclusões estão em artigo científico publicado nesta semana na revista “Neotropical Ichthyology”.

Os pesquisadores monitoraram a população de cavalos-marinhos em regiões próximas à foz do rio Pacoti, no Ceará, durante um ano entre dezembro de 2017 e novembro de 2018. Ao todo, 248 indivíduos foram identificados e tiveram perfil, sexo, tamanho, gravidez registrados. Aspectos do ambiente, como salinidade e transparência da água também foram observados pelos cientistas.

“A salinidade costuma variar nos estuários de acordo com a entrada de água doce, a partir dos rios, ou de água salgada, a partir das marés”, explica Gabriela Valentim, pesquisadora da UFC e autora do artigo. O estudo observou que a quantidade de cavalos-marinhos grávidos aumenta na época seca, entre os meses de janeiro e dezembro, período em que o nível de salinidade das águas tem menos variação.

A pesquisadora relata que a turbidez da água pode dificultar a alimentação de espécies como os cavalos-marinhos, que ficam parados aguardando suas presas para sugá-las com a boca em formato de tubo. Outros fatores como alterações de temperatura e profundidade das águas também podem influenciar o tamanho da população desses animais. “O cavalo-marinho é dependente de seu habitat, como forma de abrigo de predadores, e de locais de fixação, já que ele se prende com sua cauda em substratos como raízes, ervas-marinhas e algas”, conta Valentim.

Hippocampus reidi é uma das espécies de cavalos-marinhos que constam como vulneráveis na edição de 2018 do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que lista as espécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçados de extinção. Para a cientista, os resultados da pesquisa podem ser relevantes para a criação de futuros programas de conservação do cavalo-marinho e de seu habitat preferido, os manguezais. “Para que qualquer programa de conservação seja desenhado e posto em prática, é necessário obter informações básicas sobre o estado das espécies-alvo. Por isso, a importância de monitoramentos como esse”, conta a autora.

A partir de agora, os autores seguem em busca de respostas sobre a fauna aquática do nordeste brasileiro. O próximo passo é monitorar as comunidades de peixes que vivem em diversos estuários distribuídos no Ceará para levantar dados sobre a fauna desta região costeira.


Fonte: Agência Bori

Cobertos por floresta, manguezais da Amazônia brasileira se mantêm preservados

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FOTO: MARCOS SANTOS / USP IMAGENS

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Os manguezais da costa amazônica brasileira estão bem preservados, aponta artigo publicado na revista “Anais da Academia Brasileira de Ciências” nesta sexta (21) por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e das universidades federais do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (UFRA). Os principais impactos identificados na região são a expansão urbana e a construção de estradas, mas menos de 1% da área total foi convertida por essas atividades. As florestas de mangue correspondem à maior cobertura, ocupando 92% da área de estudo.

Os pesquisadores analisaram imagens de satélite de alta resolução entre 2011 e 2015 para obter um mosaico de imagens sem nuvens, que foram comparadas com imagens antigas da região. “Os manguezais da Amazônia brasileira são os maiores e mais bem conservados manguezais do planeta”, explica Pedro Walfir Martins e Souza Filho, autor correspondente do trabalho. Trata-se de área de 7820 km², com planícies de maré vegetadas que têm cerca de 30 a 40 quilômetros de largura, descreve o pesquisador do ITV. Além de florestas, a área estudada também conta com a presença de planícies salinas conectadas ao manguezal, conhecidas como apicuns.

A região de Bragança, no Pará, concentra pontos de degradação mapeados pelo estudo devido à construção de da Rodovia PA-458, que corta o manguezal por 26 quilômetros, aponta Souza Filho. Por outro lado, observa o pesquisador, a estrada construída entre as décadas de 70 e 80 permitiu maior acesso dos pesquisadores à região, gerando mais conhecimento sobre geoquímica, biodiversidade e conservação desses ecossistemas.

O apicum é a menor porção da área estudada, correspondendo a 12 km² ou 0,15% do total, mas é proporcionalmente mais afetada pela ação humana, que já atingiu mais de 2% dessas áreas salgadas. Souza Filho relata que a vegetação nesses locais é escassa por conta do sal. Assim, o apicum é muito usado para aquacultura, que envolve atividades como a criação de peixes e camarões em tanques. “Já no manguezal, temos uma floresta de 20 metros de altura, então é mais difícil fazer uso desta área em meio a extensos depósitos de lama”, observa.

O pesquisador lembra que o Código Florestal de 2012 permite o uso do apicum, enquanto manguezais são considerados áreas de preservação permanente. O artigo frisa que a preservação dessas florestas também pode ser explicada por fatores como a presença de unidades de conservação ao longo da costa, incluindo 12 reservas extrativistas, e a baixa densidade populacional na região, relacionada à ausência de infraestruturas como estradas e redes de transmissão de energia elétrica.

Souza Filho destaca que o objetivo dos pesquisadores é avaliar o estado de conservação dos manguezais em todo o planeta, já que a literatura tem apontado grandes alterações em manguezais da Índia, Bangladesh e Nova Guiné. “Partimos então da hipótese de que os manguezais da Amazônia precisam de uma política especial para que permaneçam nesse estágio de conservação e que não se permita o avanço da degradação como vem ocorrendo em outros lugares do mundo”, completa o autor.


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Este texto foi originalmente publicado pela Agência Bori [Aqui!].

Manguezais do Sudeste brasileiro são mais vulneráveis às mudanças climáticas

MANGUEZAL

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Áreas de mangue no Sudeste e Sul estão mais vulneráveis às consequências das mudanças climáticas em comparação a manguezais de outras regiões do Brasil. É o que indica estudo publicado nesta quarta (29) em capítulo de livro da editora científica “Springer Nature” por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV), da Universidade Federal do Pará (UFPA), da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o trabalho, as características geomorfológicas dos ecossistemas de mangue do Brasil influenciam na sua capacidade de adaptação ao aumento do nível do mar.

“A ideia do trabalho era entender como os mangues se comportam frente a essa tendência e quais serão as diferentes reações em cada setor da costa brasileira, que são bem distintos um dos outros”, comenta Pedro Walfir Souza Filho, geólogo, professor da UFPA e do ITV e autor principal do trabalho. Para tal, a pesquisa usou características geológicas, geomorfológicas, oceanográficas e climáticas e identificou quatro grandes setores costeiros em quais vegetação de mangue ocorrem no Brasil: Norte, Nordeste, Leste e Sudeste. O trabalho constatou que o nível de vulnerabilidade à subida do mar é maior nos ecossistemas do setor Sudeste.

“O principal fator que controla essa vulnerabilidade é a morfologia costeira”, explica Souza Filho. Na região Norte, cujas áreas de costa são formadas por extensas planícies, os manguezais podem se expandir e colonizar novos habitats rio acima, em direção ao continente a partir do aumento do nível do mar e, consequentemente, da salinidade do solo. Já no Sudeste, cujo litoral tem proximidade com regiões de até mil metros de altitude, com destaque para as Serras do Mar e da Mantiqueira, há menos perspectiva para expansão do ecossistema. O pesquisador menciona rodovias, estradas e barragens construídas por ação humana como outros fatores capazes de ameaçar a sobrevivência dos mangues à medida que o nível do mar sobe.

Além da geomorfologia costeira, Souza Filho também destaca a variação da maré como outro fator que influencia na capacidade de adaptação dos mangues. “A maré na região Norte chega a variar até seis metros, o que gera extensas planícies alagáveis propícias para o desenvolvimento de mangues, cujas franjas litorâneas chegam a ter 30 quilômetros de largura”, relata o pesquisador. Em comparação, as marés na região Sudeste variam alguns centímetros apenas, o que também limita a capacidade de ocupação de habitat, e qualquer variação no nível do mar coloca em risco a sobrevivência futura dos manguezais.

Segundo o pesquisador, já é possível notar como os manguezais estão respondendo às mudanças climáticas e como isso está afetando as pessoas que dependem do ecossistema para o sustento. Por exemplo, consequências do aumento do nível do mar ou de ações humanas, como assoreamento de rios, salinização de estuários ou soterramento de manguezais afetam a disponibilidade de várias espécies que servem de sustento às comunidades próximas. “Do mangue, os locais tiram o caranguejo e a ostra, por exemplo”, diz Souza Filho.

A pesquisa, no entanto, alerta que a variabilidade biogeográfica dos manguezais e condições ambientais ao longo da costa brasileira fazem com que prever com exatidão o efeito da elevação do nível do mar nos mangues ainda seja um desafio. “Se depender apenas do nível do mar, estamos falando de alterações progressivas, que não são um alarme para a próxima década, mas sim de uma escala de tempo histórica de dezenas de anos à geológica de centenas a milhares de anos para frente”, afirma o autor.  Por isso, o trabalho indica que mais pesquisas são necessárias para distinguir fatores multidimensionais que podem afetar os manguezais.


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Este texto foi originalmente publicado pela Agência Bori [Aqui!].