Em uma matéria assinada pelo jornalista Daniel Carvalho, o jornal Folha de São Paulo informa que o presidente Jair Bolsonaro ampliou a sua cruzada contra o uso de máscaras cirúrgicas ou artesanais como forma de diminuir a transmissão de coronavírus em diversos tipos de ambientes, incluindo presídios onde hoje a pandemia da COVID-19 dá sinais de estar se ampliando velozmente. A cruzada é tão abrangente que agora Jair Bolsonaro está isentando estabelecimentos comerciais de “afixar cartazes informando sobre o uso correto de máscaras“.
Note-se que este mesmo presidente está promovendo uma liberação exponencial para a venda de armas com medidas que impedem, entre outras coisas, que se possa realizar o rastreamento de procedência de munições.
Mas o que está cruzada revela é a mais perfeita desconsideração com regras mínimas de segurança em um momento que a pandemia da COVID-19 já atingiu números oficiais alarmantes, com 1.604.885 infectados e quase 65 mil mortos.
A razão mais óbvia para esta ação agressiva contra uma ferramenta básica de defesa das pessoas contra um vírus letal é reafirmar a posição de ceticismo frente às evidências amplamente aceitas em relação à utilidade do uso de máscaras no enfrentamento da pandemia. Ao dificultar a imposição do uso e até ao acesso de informações que esclareçam o seu uso correto, Jair Bolsonaro está objetivamente contribuindo para que setores ainda mais amplos da população deixem de se proteger e, por consequência, aumente o tempo de duração da pandemia.
A marcha de Jair Bolsonaro contra o uso de máscara revela o caráter anti-científico do seu governo
O que mais chama a atenção nesse processo que causa perplexidade em líderes mundiais, inclusive os de direita como o ex-presidente da Colômbia. Juan Manuel Santos, que considerou uma loucura a condução feita por Jair Bolsonaro da pandemia, é a aceitação tácita, e até mesmo a participação na cruzada de Bolsonaro contra as máscaras, parte do judiciário e do legislativo, bem como de governadores e prefeitos.
Uma possível explicação para que o presidente Jair Bolsonaro possa continuar com sua cruzada anti-ciência é a informação de que a maioria dos mortos pela COVID-19 são homens negros e pobres que normalmente habitam as periferias pobres das grandes cidades brasileiras.
As características demográficas da maioria dos mortos também explica o porquê das cenas de multidões sorvendo bebidas alcóolicas em bairros frequentados principalmente pela classe média branca cuja maioria votou em Jair Bolsonaro para presidir o Brasil. Nesse sentido, há um encontro entre classe e cor da pele entre os que alimentam a cruzada promovida por um presidente que nunca mostrou preocupação pela maioria dos que estão morrendo ao longo de seus quase 30 anos no parlamento brasileiro. A negação das máscaras é, portanto, um encontro perfeito entre criador (a classe média) e a sua criatura (Jair Bolsonaro) (ver vídeo abaixo).
Por fim, nada mais coerente então que deixar os ministérios da Saúde e da Educação abandonados no mar de incompetência em que o governo federal se transformou nas mãos de um presidente que despreza as evidências científicas mais básicas. E segue a cruzada.