O futuro que as rochas de plástico nos indicam

unnamed (16)Ilha de Trindade/Foto Marinha do Brasil

Por Ademilson Zamboni*

A notícia de rochas formadas por detritos plásticos na Ilha de Trindade (litoral do Espírito Santo) acende, na sociedade, o espanto sobre os impactos da poluição marinha sobre o meio ambiente. A descoberta foi feita por cientistas que, em artigo publicado no periódico Marine Pollution Bulletin, demonstraram como a poluição por plásticos nos mares está afetando padrões geológicos, modificando até formações rochosas.

A partir da coleta de rochas compostas por plásticos, numa reserva marinha a 1.140 quilômetros de Vitória (ES), foi possível observar os impactos da ação humana e, ao mesmo tempo, reconhecer um dos problemas ambientais mais graves e complexos do mundo contemporâneo: a produção excessiva de plásticos – sobretudo, os chamados descartáveis de uso único. O Brasil produz mais de 2,95 milhões de toneladas desse material por ano.

A Oceana e a comunidade científica internacional vêm demonstrando os riscos desses poluentes sobre o ecossistema marinho. No Brasil, estudos mostram que um em cada dez animais marinhos que ingerem plástico morrem, e que ele é responsável por 70% do lixo encontrado nas praias. São mais de 325 mil toneladas lançadas no mar anualmente.

A Ilha de Trindade é um local remoto, monumento natural que integra um território marítimo abundante de recursos naturais, berço de espécies singulares. Próximo ao local, onde a cientista Fernanda Avelar Santos identificou tais formações, há um berçário de tartarugas-verdes (Chelonia mydas). Trata-se, portanto, de um ecossistema vulnerável que se encontra impactado por esses poluentes levados pelas correntes marinhas.

Os impactos das rochas “não-naturais” da Ilha de Trindade que nasceram dessa imensa massa de plástico precisam ser melhor investigados. Mas já sabemos que esses derivados do petróleo afetam a biodiversidade marinha, que ingere os fragmentos, e pode trazer riscos também para a saúde por meio dos microplásticos já encontrados em fetos, placenta, no sangue e no pulmão humanos.

Essa formação rochosa híbrida está associada à queima de detritos plásticos em locais à beira-mar. Uma vez derretido, forma-se o chamado “cimento plástico”, que se mistura a sedimentos naturais, como cascalho, areia e rochas vulcânicas.

A Oceana trabalha pela diversidade e abundância da vida marinha e temos certeza que, para reverter o quadro de poluição que inunda os nossos oceanos, precisamos reduzir a produção e oferta de itens descartáveis, desnecessários e problemáticos.

Essa abordagem está alinhada com os princípios da Economia Circular e abre espaço para o desenvolvimento de negócios inovadores, novas tecnologias e mercados que favorecem a reutilização de embalagens e a posterior redução do descarte no meio ambiente, parte crucial da solução para a poluição plástica.

A base dessa mudança é uma demanda da sociedade brasileira e sustenta o Projeto de Lei (PL) 2524/2022, que aguarda por uma tramitação urgente no Senado Federal. Uma pesquisa nacional realizada pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) em 2021, a pedido da Oceana, revelou que 68% da população brasileira consideram que a poluição por plástico no meio ambiente diminuirá se o Congresso aprovar uma lei restringindo a produção de descartáveis, enquanto 92% dos respondentes entendem a poluição plástica como muito problemática para o meio ambiente.

As rochas de plástico da Ilha de Trindade possuem no mínimo vinte anos de existência e indicam um futuro diante dos nossos olhos no qual – em breve – seremos tragados por esse mar de detritos que, ironicamente, foram feitos para durar alguns minutos nas mãos ávidas dos tempos modernos, mas seguem, sem pressa, atravessando fronteiras e devastando a natureza.

Ademilson Zamboni é  Diretor-geral da Oceana, oceanólogo, Mestre e Doutor em Engenharia Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor-geral da Oceana no Brasil.


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Este texto foi originalmente publicado pelo site Oeco [Aqui!].

Pintura spray é fonte negligenciada de microplásticos no solo

Pesquisa com participação de cientista da UFSCar detectou maior concentração já encontrada, junto a grafites no Muro de Berlim

unnamed (15)Microscopia mostra microplásticos coloridos e, ao centro, fragmento com camadas de grafites (W. Waldman)

Que micro e nanoplásticos são uma fonte de poluição dos oceanos extremamente preocupante não é mais novidade. Agora, uma pesquisa realizada em Berlim, na Alemanha, com a participação de cientista brasileiro, mostrou que as tintas usadas para pintura spray – amplamente utilizada em processos industriais nos setores automotivo, naval e de mobiliário, por exemplo – são uma fonte negligenciada de microplásticos no solo.

A pesquisa foi realizada por um time liderado pelo biólogo Matthias C. Rillig, na Freie Universität Berlin, com participação de Walter Waldman, docente no Departamento de Física, Química e Matemática da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Campus Sorocaba. O grupo coletou amostras de solo ao redor de paredes preservadas do Muro de Berlim, no Mauerpark, em que a prática do grafite é legalizada. A escolha se deu pela hipótese de alta presença de microplásticos originados na tinta no local, já que, tradicionalmente, grafites mais antigos são recobertos por novas pinturas no parque urbano, há décadas.

“Entendemos a atividade de grafite como um proxy, ou seja, uma variável que podíamos medir e que seria indicativa dos impactos da pintura por spray amplamente usada na indústria naval, automobilística e de construção civil, que tem uma emissão muito grande de aerossóis durante seu uso em ambientes abertos e que, invariavelmente, forma microplásticos quando se evapora o solvente”, explica o pesquisador da UFSCar.

A grande contribuição do estudo foi o desenvolvimento de um novo protocolo para separação dos microplásticos. “Os microplásticos presentes nas tintas são mais densos que outras partículas plásticas e, por isso, imaginamos que não estariam sendo detectados nas análises tradicionais, baseadas justamente na baixa densidade desses microplásticos de outras fontes e, consequentemente, na sua flutuação em solução de brometo de sódio, NaBr”, explica Waldman. Assim, os pesquisadores, após coletarem amostras de solo em diferentes locais nas cercanias das paredes grafitadas e em profundidades diversas, realizaram a separação em duas etapas: primeiro, na solução de NaBr e, depois, em uma mistura de solução de NaBr com solução de cloreto de zinco, mais densa que o líquido geralmente utilizado.

“Por estar ao lado de um meio sólido, o solo, imaginamos que a emissão e a deposição constante dos aerossóis no Muro, e a sua baixa taxa de transporte em solos, gerariam um hotspot de microplásticos, ou seja, uma área de altíssima concentração dessas partículas”, compartilha Waldman. “Dito e feito: coletamos as amostras de solo em seis pontos próximos ao Muro, processamos no laboratório e nos defrontamos com as imagens mais coloridas e abundantes de microplásticos que eu eu vi na vida”, conta o pesquisador. E não só ele: as concentrações encontradas, da ordem de centenas de milhares de partículas por quilo de solo seco, são as mais altas já registradas na literatura científica.

Diante desses resultados, os pesquisadores alertam para a urgência de mais estudos sobre os efeitos ecológicos de microplásticos no solo. Defendem também a realização de novos levantamentos para a alimentação de bancos de dados sobre essa poluição, bem como a inclusão desse tipo de microplásticos em levantamentos futuros, especialmente em áreas urbanas.

O estudo está publicado no periódico de acesso aberto Environmental Chemistry Letters. A participação de Waldman seu deu durante seu estágio de pós-doutorado na Alemanha, com bolsa Capes-Humboldt (gerenciada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes – em parceria com a Fundação Alexander von Humboldt).

O fundo do mar profundo está mais carregado de plástico do que se supunha

Milhões de toneladas de resíduos plásticos acabam nos oceanos todos os anos, a maioria dos quais se acumula na forma de minúsculas partículas nos sedimentos. Mesmo o fundo do mar profundo não está sendo poupado

Grund der Tiefsee stärker mit Plastik belastet als angenommen

Camarão de alto mar na Fossa Kuril-Kamchatka. Foto: Nils Brenke / dpa

Onde quer que os cientistas tenham procurado por partículas finas de plástico, eles encontraram. Por exemplo, no fígado de humanos – anteriormente também em outros órgãos. Ou em todos os cantos dos continentes e oceanos: no Monte Everest, no Himalaia, bem como na Fossa das Marianas, onde mergulhadores encontraram um saco plástico a quase 11.000 metros de profundidade.

Agora, uma equipe de pesquisadores da Senckenberg Nature Research Society, da Universidade Goethe de Frankfurt e do Alfred Wegener Institute (AWI) em Bremerhaven também analisou outras áreas do mar profundo. O resultado: o fundo do mar está ainda mais contaminado com microplásticos do que se supunha anteriormente.

A equipe coletou amostras de sedimentos na Fossa Kuril-Kamchatka do Pacífico Ocidental em 2016. Nestes, entre 215 e 1596 das minúsculas partículas de plástico foram detectadas por quilograma de sedimento, mais do que antes, disse a Sociedade Senckenberg. A grande diversidade biológica no fundo do mar mais profundo está gravemente ameaçada pela poluição.

Grande parte dos resíduos plásticos nos mares vem das áreas continentais, através dos rios ou de nossas águas residuais, por exemplo. Pedaços maiores de plástico são moídos em partículas cada vez menores ao longo de décadas. Parte do lixo se acumula em enormes pilhas de lixo na superfície dos oceanos, mas a maioria afunda em trincheiras marítimas milhares de metros abaixo da superfície.

 “Retiramos um total de 13 amostras em sete estações diferentes na vala, em profundidades entre 5.740 e 9.450 metros. Nenhum deles estava livre de microplásticos”, disse a bióloga marinha do Instituto de Pesquisa Senckenberg e Museu de História Natural de Frankfurt am Main, Serena Abel. Ninguém teria esperado uma quantidade tão grande de partículas de microplástico antes.

Marine plastic pollution.

Um saco plástico flutua no Mar Vermelho Foto: Alexis Rosenfeld/Getty Images

“A cada ano, cerca de 2,4 a 4 milhões de toneladas de plástico chegam aos rios através dos rios como resultado do consumo global extremo de plástico e do descarte de resíduos mal organizado”, diz a pesquisadora Angelika Brandt. O mar profundo se tornará o depósito do lixo. Um total de 14 tipos diferentes de plástico foram descobertos. Os pesquisadores apresentaram seus resultados na revista Science of the Total Environment.

microplástico

“Até agora, o fundo do mar mais profundo era considerado um ambiente relativamente inalterado e estável no qual os microplásticos são depositados e permanecem em um só lugar”, disse Abel. Os pesquisadores ficaram surpresos que as amostras tiradas a poucos metros de distância tinham uma estrutura muito diferente. “Isso mostra que ambiente dinâmico são as profundezas do mar profundo.” Redemoinhos, correntes e organismos manteriam o sedimento em movimento.

Os cientistas já haviam demonstrado poluição plástica em regiões oceânicas mais profundas. De acordo com um estudo australiano, até 16 milhões de toneladas de microplásticos são armazenados no fundo do mar. Para o estudo de 2020 , os pesquisadores usaram um braço robótico para coletar amostras do fundo do mar da Grande Baía Australiana a uma profundidade de até 3.000 metros.

Os microplásticos são partículas de plástico com cinco milímetros ou menos. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) estima que cerca de 1,5 milhão de toneladas de microplásticos entram no mar todos os anos. Os efeitos ainda não foram amplamente pesquisados. Mas o plástico também entra na cadeia alimentar através de animais marinhos e, portanto, para os seres humanos. Dois terços destes são fibras de roupas. De acordo com novas estimativas, a enxurrada de lixo provavelmente aumentará no futuro. De acordo com dados anteriores da AWI, a produção global de plástico deve dobrar até 2045.


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Este texto foi originalmente publicado em alemão pela revista Der Spiegel [Aqui!].

Microplásticos são detectados em carne, leite e sangue de animais de fazendas na Holanda

Partículas encontradas em produtos de supermercados e em fazendas holandesas, mas impactos na saúde humana ainda são desconhecidos

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Os cientistas encontraram microplásticos em 75% das carnes e produtos lácteos testados e em todas as amostras de sangue em seu estudo piloto. Fotografia: David Kelly

Por Damian Carrington, editor de Meio Ambiente do “The Guardian”

A contaminação por microplásticos foi relatada pela primeira vez em carne bovina e suína, bem como no sangue de vacas e porcos em fazendas.

Cientistas da Vrije Universiteit Amsterdam (VUA), na Holanda, encontraram as partículas em três quartos da carne e produtos lácteos testados e em todas as amostras de sangue em seu estudo piloto.

Eles também foram encontrados em todas as amostras de ração animal testadas, indicando uma rota de contaminação potencialmente importante. Os produtos alimentícios foram embalados em plástico, que é outra rota possível.

Os pesquisadores da VUA relataram microplásticos no sangue humano pela primeira vez em março e usaram os mesmos métodos para testar os produtos de origem animal. A descoberta das partículas no sangue mostra que elas podem viajar pelo corpo e se alojar em órgãos.

O impacto na saúde humana ou de animais de fazenda ainda é desconhecido, mas os pesquisadores estão preocupados porque os microplásticos causam danos às células humanas em laboratório e as partículas de poluição do ar já são conhecidas por entrar no corpo e causar milhões de mortes precoces por ano. Alguns animais selvagens também são conhecidos por serem prejudicados por microplásticos .

Enormes quantidades de resíduos plásticos são despejadas no meio ambiente e os microplásticos contaminaram todo o planeta, desde o cume do Monte Everest até os oceanos mais profundos . As pessoas já eram conhecidas por consumir as minúsculas partículas através de alimentos e água , além de inalá-las .

“Quando você está medindo o sangue, você está descobrindo a dose absorvida de todas as diferentes vias de exposição: ar, água, comida, etc”, disse a Dra. Heather Leslie da VUA. “Então é muito interessante porque imediatamente diz o que está penetrando no rio da vida.”

estudo piloto foi realizado para avaliar se os microplásticos estão presentes em animais de fazenda, carne e laticínios. “Isso deve funcionar como um impulso para explorar ainda mais o escopo completo da exposição e quaisquer riscos que possam estar associados a ela”, disse Leslie.

Os cientistas testaram 12 amostras de sangue de vaca e 12 de sangue de porco e encontraram microplásticos em todas elas, incluindo polietileno e poliestireno. As 25 amostras de leite incluíam leite de caixas de supermercado, tanques de leite em fazendas e ordenha manual. Dezoito das amostras, incluindo pelo menos uma de cada tipo, continham microplásticos.

Sete das oito amostras de carne bovina e cinco das oito amostras de carne suína estavam contaminadas. “Ainda não se sabe se há algum risco toxicológico potencial dessas descobertas”, disse o relatório. Animais de fazenda e carne ainda não foram testados em outros países, mas microplásticos foram relatados em leite comprado na Suíça em 2021 e leite de fazenda na França.

Maria Westerbos, da Plastic Soup Foundation , que encomendou a pesquisa, disse: “Com os microplásticos presentes na alimentação do gado, não é surpreendente que uma clara maioria dos produtos de carne e laticínios testados contenham microplásticos. Precisamos urgentemente livrar o mundo do plástico na alimentação animal para proteger a saúde do gado e dos seres humanos”.


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Este texto foi escrito inicialmente em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].

A grande infestação plástica

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Agora o diagnóstico é oficial: você não só pode ter micropartículas plásticas correndo nas veias como, muito provavelmente, as carrega nos pulmões. É para tapar o nariz, não? De solução prática para substituir papel, metal, vidro e outras matérias-primas, o plástico vem se tornado uma infestação que está se espalhando implacavelmente por nossos corpos e pelo planeta. Segundo o estudo “A ameaça global da poluição plástica”, assinado por cientistas alemães, suecos e noruegueses, publicado em julho passado na revista “Science”, estamos chegando ao ponto de não retorno – quando os danos ao meio ambiente serão irreversíveis. Em outubro, foi anunciado na Plastic Health Summit, conferência realizada em Amsterdã, na Holanda, que temos apenas nove anos para reverter este quadro.

Esta contagem regressiva vem se acelerando. Desde 2019 sabemos que há microplástico na água que bebemos e em nossa comida; em agosto de 2020, pesquisadores da Universidade do Arizona encontraram vestígios do material em todas as 47 autópsias realizadas em amostras de pulmão, fígado, baço e rins humanos examinadas. Em março deste ano, cientistas da Universidade Livre de Amsterdã, detectaram fragmentos no sangue de 17 dos 22 doadores anônimos testados. “A grande questão é: o que está acontecendo em nosso corpo? As partículas ficam retidas no corpo? E esses níveis são suficientemente altos para desencadear doenças?”, alertou o professor Dick Vethaak.

Ainda é cedo para dimensionar os danos que beber, comer e respirar plástico podem causar diretamente à nossa saúde; mas os estragos que o material vem causando à Terra, o grande organismo onde vivemos, são conhecidos e bem visíveis. Micropartículas plásticas estão por todos os lados, da Fossa das Marianas ao Monte Everest, e chegam até mesmo à atmosfera. No mês passado, descobriu-se que estamos aspirando plástico: um estudo da Hull York Medical School, na Inglaterra, publicado na revista “Science of the Total Environment” descobriu, pela primeira vez, partículas plásticas em pulmões de pessoas vivas. O resultado espantou até a professora Laura Sadofsky, sua principal autora. “Não esperávamos encontrar o maior número de partículas nas regiões inferiores dos pulmões, ou partículas dos tamanhos que encontramos. É surpreendente, pois as vias aéreas são menores nas partes inferiores dos pulmões e esperávamos que partículas desses tamanhos fossem filtradas ou presas antes de chegar tão fundo”.

Lançado a dez dias do início da COP26, que foi realizada no início de novembro passado na Escócia, o relatório “Da Poluição à Solução: Uma Análise Global sobre Lixo Marinho e Poluição Plástica”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), deu uma ideia do tamanho da encrenca. De acordo com ele, o material responde por 85% dos resíduos que chegam ao mar e que até 2040 a quantidade deve triplicar, caso nada seja feito, podendo chegar a 37 milhões de toneladas por ano. “Esta pesquisa fornece o argumento científico mais forte até hoje para responder à urgência, agir coletivamente e proteger e restaurar nossos oceanos e todos os ecossistemas afetados pela poluição em seu curso”, disse a diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen.

A ambientalista dinamarquesa ressalta que o plástico também tem forte ligação com as mudanças climáticas. Calcula-se que em 2015 ele era responsável pela geração de 1,7 gigatoneladas de CO₂ equivalente (GtCO2e), e em 2050 este número deverá chegar a 6,5 GtCO2e, ou 15% do total global. E os resíduos que chegam ao mar também ajudam a temperatura do planeta a subir. As micropartículas se unem à flora marinha – microalgas, bactérias e fitoplânctons –, e prejudicam sua capacidade de fazer fotossíntese: “Se você para de consumir gás carbônico, o oceano acaba perdendo um pouco do seu papel em controlar o efeito estufa”, explicou Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da USP e coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano.

No dia 2 de março, a ONU deu o pontapé inicial para a criação do primeiro tratado global contra a poluição por plástico, durante a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Anue), que se realizou em Nairóbi, no Quênia. A resolução recebeu o aval de nada menos que 175 países e, por isso, foi comparada ao Acordo de Paris. Mas, assim como o pacto firmado em 2015, na França, ele só vai sair do papel se houver pressão popular – e tudo indica que haverá. Sob encomenda das ONGs Plastic Free Foundation e WWF, o Instituto Ipsos fez uma pesquisa no fim do ano passado, com mais de 20 mil pessoas de 28 países, incluindo o Brasil. O resultado foi uma goleada: cerca de 90% dos entrevistados se disseram favoráveis a uma coalizão global para buscar soluções. A maioria já entendeu que deter essa infestação depende de todos nós; falta convencer os desentendidos.

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Este texto foi inicialmente publicado pelo site “Uma gota no oceano” [Aqui!].

Microplásticos encontrados no sangue humano pela primeira vez

Exclusivo: A descoberta mostra que as partículas podem viajar pelo corpo e se alojar em órgãos

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Microplásticos causam danos às células humanas em laboratório. Fotografia: David Kelly/Fotografia David Kelly

Por Damian Carrigton, editor de Meio Ambiente do “The Guardian”

A poluição causada por microplásticos foi detectada no sangue humano pela primeira vez, com cientistas encontrando as minúsculas partículas em quase 80% das pessoas testadas.

A descoberta mostra que as partículas podem viajar pelo corpo e podem se alojar em órgãos. O impacto na saúde ainda é desconhecido. Mas os pesquisadores estão preocupados porque os microplásticos causam danos às células humanas em laboratório e as partículas de poluição do ar já são conhecidas por entrar no corpo e causar milhões de mortes precoces por ano.

Enormes quantidades de resíduos plásticos são despejadas no meio ambiente e os microplásticos agora contaminam todo o planeta, desde o cume do Monte Everest até os oceanos mais profundos . As pessoas já eram conhecidas por consumir as minúsculas partículas através de alimentos água , além de inalá-las , e elas foram encontradas nas fezes de bebês e adultos .

Os cientistas analisaram amostras de sangue de 22 doadores anônimos, todos adultos saudáveis ​​e encontraram partículas de plástico em 17. Metade das amostras continha plástico PET, que é comumente usado em garrafas de bebidas, enquanto um terço continha poliestireno, usado para embalar alimentos e outros produtos. Um quarto das amostras de sangue continha polietileno, do qual são feitas sacolas plásticas.

“Nosso estudo é a primeira indicação de que temos partículas de polímero em nosso sangue – é um resultado inovador”, disse o professor Dick Vethaak, ecotoxicologista da Vrije Universiteit Amsterdam, na Holanda. “Mas temos que estender a pesquisa e aumentar o tamanho das amostras, o número de polímeros avaliados etc.” Outros estudos de vários grupos já estão em andamento, disse ele.

“Certamente é razoável se preocupar”, disse Vethaak ao Guardian. “As partículas estão lá e são transportadas por todo o corpo.” Ele disse que trabalhos anteriores mostraram que os microplásticos eram 10 vezes maiores nas fezes dos bebês em comparação com os adultos e que os bebês alimentados com garrafas plásticas estão engolindo milhões de partículas de microplástico por dia.

“Também sabemos, em geral, que bebês e crianças pequenas são mais vulneráveis ​​à exposição a produtos químicos e partículas”, disse ele. “Isso me preocupa muito.”

A nova pesquisa foi publicada na revista Environment International e adaptou as técnicas existentes para detectar e analisar partículas tão pequenas quanto 0,0007 mm. Algumas das amostras de sangue continham dois ou três tipos de plástico. A equipe usou agulhas de seringa de aço e tubos de vidro para evitar contaminação e testou os níveis de fundo de microplásticos usando amostras em branco.

Vethaak reconheceu que a quantidade e o tipo de plástico variaram consideravelmente entre as amostras de sangue. “Mas este é um estudo pioneiro”, disse ele, com mais trabalho agora necessário. Ele disse que as diferenças podem refletir a exposição de curto prazo antes das amostras de sangue serem coletadas, como beber de um copo de café forrado de plástico ou usar uma máscara facial de plástico.

“A grande questão é o que está acontecendo em nosso corpo?” disse Vethaak. “As partículas ficam retidas no corpo? Eles são transportados para certos órgãos, como passar pela barreira hematoencefálica?” E esses níveis são suficientemente altos para desencadear doenças? Precisamos urgentemente financiar mais pesquisas para que possamos descobrir.”

A nova pesquisa foi financiada pela Organização Nacional Holandesa para Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde e Common Seas, uma empresa social que trabalha para reduzir a poluição plástica.

“A produção de plástico deve dobrar até 2040”, disse Jo Royle, fundadora da instituição de caridade Common Seas. “Temos o direito de saber o que todo esse plástico está fazendo com nossos corpos.” A Common Seas, juntamente com mais de 80 ONGs, cientistas e parlamentares, estão pedindo ao governo do Reino Unido que aloque £ 15 milhões para pesquisas sobre os impactos do plástico na saúde humana. A UE já está financiando pesquisas sobre o impacto do microplástico em fetos e bebês e no sistema imunológico.

Um estudo recente descobriu que os microplásticos podem se prender às membranas externas dos glóbulos vermelhos e podem limitar sua capacidade de transportar oxigênio. As partículas também foram encontradas nas placentas de mulheres grávidas e, em ratas grávidas, elas passam rapidamente pelos pulmões para os corações, cérebros e outros órgãos dos fetos.

Um novo artigo de revisão publicado na terça-feira , em coautoria de Vethaak, avaliou o risco de câncer e concluiu: “Pesquisas mais detalhadas sobre como micro e nanoplásticos afetam as estruturas e processos do corpo humano e se e como eles podem transformar células e induzir a carcinogênese, é urgentemente necessária, principalmente devido ao aumento exponencial da produção de plástico. O problema está se tornando mais urgente a cada dia.”


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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].

Empresas correm para conter a inundação de fibras microplásticas nos oceanos

Novos produtos vão desde filtros e bolas para máquinas de lavar até tecidos feitos de algas e cascas de laranja

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Cerca de 700.000 fibras microplásticas são eliminadas de tecidos sintéticos durante cada ciclo de lavagem em uma máquina de lavar padrão. Fotografia: a-ts / Alamy

Damian Carrington, editor de Meio Ambiente do “The Guardian”

De filtros a sacos e bolas, o número de produtos destinados a impedir a torrente de fibras microplásticas que saem das máquinas de lavar e para os rios e oceanos está aumentando rapidamente.

A Grundig tornou-se recentemente o primeiro fabricante de eletrodomésticos a integrar um filtro de microfibra em uma máquina de lavar, enquanto uma empresa britânica desenvolveu um sistema que elimina os filtros de retenção de fibra descartáveis.

Os empresários também estão enfrentando o problema na origem, desenvolvendo tecidos biodegradáveis ​​de algas e cascas de laranja e aprimorando uma proteína autocurativa descoberta originalmente nos tentáculos das lulas.

A poluição microplástica permeou todo o planeta, desde ocume do Monte Everest até os oceanos mais profundos. Sabe-se que as pessoas consomem as partículas minúsculas por meio de alimentos eágua , além de respirá-las . Foi demonstrado que osmicroplásticos prejudicam a vida selvagem, mas o impacto nas pessoas não é conhecido, embora os microplásticos danifiquem células humanasem laboratório.

As fibras de tecidos sintéticos, como acrílico e poliéster, são desprendidas em grande quantidade durante a lavagemcerca de 700.000 por ciclo de lavagem , sendo que o ciclo de lavagem “delicado”é pior do que os ciclos convencionais. Estima-se que 68 milhões de cargas de lavagem sejam feitas todas as semanas no Reino Unido.

Novos dados de 36 locais coletados durante a The Ocean Race Europe descobriram que 86% dos microplásticos nas amostras de água do mar eram fibras. “Nossos dados mostram claramente que os microplásticos estão presentes no oceano e que, surpreendentemente, o componente principal são as microfibras”, disse Aaron Beck, do Geomar Helmholtz Center for Ocean Research em Kiel, Alemanha.

A Grundig, que lançou sua máquina de lavar de captura de fibra em novembro, disse que o sistema capturou até 90% das fibras sintéticas liberadas durante os ciclos de lavagem. Os cartuchos de filtro são feitos de plástico reciclado e duram até seis meses, após os quais podem ser devolvidos gratuitamente.


Gelo marinho ártico
A poluição microplástica é um flagelo crescente no Ártico, bem como nos rios e oceanos em todo o mundo. Fotografia: Stefan Hendricks / Alfred-Wegener-Institut / PA

Um sistema que pode ser adaptado às máquinas de lavar existentes e não precisa de cartuchos de substituição foi criado pela empresa britânica Matter e recebeu recentemente £150.000 do British Design Fund. O aparelho, denominado Gulp , é conectado entre o tubo de saída e o ralo e prende as fibras em um recipiente que é esvaziado a cada 20 lavagens.

O fundador da empresa, Adam Root, ex-engenheiro da Dyson e grande mergulhador, disse que a ideia começou com uma doação de £ 250 do Prince’s Trust. “Usei-o para desmontar uma máquina de lavar e foi aí que tive o meu momento ‘eureca’.”

No Reino Unido, Alberto Costa e outros parlamentares estão fazendo campanha por um novo regulamento exigindo que todas as novas máquinas de lavarsejam equipadas com filtros de microfibra de plástico a partir de 2025, com o apoio do Women’s Institutee outros. A França introduziu a exigência de instalação de filtros a partir de 2025. A UE, a Austrália e a Califórnia estão considerando regras semelhantes.

Já existe uma gama de dispositivos de captura de microfibra no mercado, mas eles produziram um desempenho misto em testes independentes. Uma pesquisa da Universidade de Plymouth, no Reino Unido, examinou seis produtos diferentes .

Um se destacou, o Xfiltra , que evitou que 78% das microfibras fossem pelo ralo. A empresa está focada em fornecer tecnologia aos fabricantes para integração em máquinas de lavar. Os cientistas testaram dois outros dispositivos que podem ser adaptados às máquinas – os sistemas de filtro Lint LUV-R e Planet Care– mas eles prendem apenas 25% e 29% das fibras, respectivamente.

Os outros três produtos testados foram utilizados no tambor da máquina de lavar. A sacola delavagemGuppyfriend, na qual as roupas são colocadas, coletou 54% das microfibras, enquanto uma sacola de lavagem protótipo do Quarto Elemento reteve apenas 21% das fibras. O último produto testado foi uma única bola Cora, cujos caules capturaram 31% das fibras, embora mais de uma bola pudesse ser usada.

Um relatório anterior da Agência Sueca de Proteção Ambientalencontrou desempenhos significativamente melhores dos produtos Planet Care e Guppyfriend, embora não tenha sido revisado por pares.

O professor Richard Thompson, que trabalha na Universidade de Plymouth e fazia parte da equipe de testes, alertou que os filtros não resolveriam sozinhos o problema das microfibras de plástico. “Também mostramos que cerca de 50% de todas as emissões de fibras ocorrem enquanto as pessoas vestem as roupas”, disse ele ao Guardian. “Além disso, a maioria da população humana não tem máquina de lavar.

“Tal como acontece com quase todos os problemas atuais associados ao plástico [poluição], o problema é mais bem resolvido por uma consideração mais abrangente na fase de design”, disse ele. “Precisamos projetá-los para minimizar a taxa de emissão, o que também deve fazer com que as roupas durem mais e, portanto, sejam mais sustentáveis.”

Uma dúzia de grupos que trabalham em tecidos melhores foram recentemente selecionados como finalistas em um desafio de inovação em microfibra de  US$ 650.000 (£ 482.000) conduzido pela Conservation X Labs. A AlgiKnit está criando fios biodegradáveis ​​a partir de algas marinhas, enquanto a Orange Fiber, no sul da Itália, está fazendo tecidos a partir de subprodutos da produção de sucos cítricos.

Outro finalista, a Squitex , desenvolveu uma proteína originalmente encontrada nos tentáculos da lula. A empresa afirma que é o material de autocura mais rápido do mundo e pode ser transformado em fibras para têxteis e revestimentos que reduzem o derramamento de microfibras.

Outros finalistas estão adotando uma abordagem diferente. A Nanoloom está criando tecidos anti-queda usando grafeno e outro grupo está usando lasers de alta potência para tratar a superfície dos tecidos para diminuir a probabilidade de perda de fibras.

O algodão, por ser um material natural, é biodegradável, mas sua produção costuma envolver o uso excessivo de água e agrotóxicos. A Better Cotton Initiative , que cobre mais de 20% da produção global de algodão, anunciou recentemente uma meta de redução das emissões de carbono por tonelada de algodão em 50% até 2030, em comparação com 2017. Outras metas adicionais abrangem o uso de pesticidas, saúde do solo e meios de subsistência de pequenos proprietários e o empoderamento das mulheres é esperado até o final de 2022.

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Este texto foi escrito originalmente em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].

Microplásticos causam danos às células humanas, mostra estudo

Os danos incluíam morte celular e ocorreram em níveis de plástico ingerido pelas pessoas através de seus alimentos

plastico oceanosResíduos de plástico em Rize, Turquia. Fotografia: Agência Anadolu / Getty Images

Por Damian Carrington, editor de Meio Ambiente do “The Guardian”

Microplásticos causam danos às células humanas em laboratório em níveis conhecidos por serem ingeridos pelas pessoas através da alimentação, descobriu um estudo.

Os danos incluíram morte celular e reações alérgicas e a pesquisa é a primeira a mostrar que isso acontece em níveis relevantes para a exposição humana. No entanto, o impacto na saúde do corpo humano é incerto porque não se sabe por quanto tempo os microplásticos permanecem no corpo antes de serem excretados.

A poluição por microplásticos contaminou todo o planeta, desde o cume do Monte Everest até os oceanos mais profundos . Já se sabia que as pessoas consumiam as minúsculas partículas por meio de alimentos e água , além de respirá-las .

A pesquisa analisou 17 estudos anteriores que analisaram os impactos toxicológicos dos microplásticos em linhas de células humanas. Os cientistas compararam o nível de microplásticos no qual o dano foi causado às células com os níveis consumidos pelas pessoas através da água potável contaminada , frutos do mar e sal de cozinha .

Eles descobriram tipos específicos de danos – morte celular, resposta alérgica e danos às paredes celulares – causados ​​pelos níveis de microplásticos que as pessoas ingerem.

“Os efeitos nocivos nas células são, em muitos casos, o evento inicial para os efeitos na saúde”, disse Evangelos Danopoulos, da Hull York Medical School, no Reino Unido, e que liderou a pesquisa publicada no Journal of Hazardous Materials. “Devemos nos preocupar. No momento, não há realmente uma maneira de nos proteger. ”

Pesquisas futuras poderiam permitir identificar os alimentos mais contaminados e evitá-los, disse ele, mas a solução definitiva foi parar a perda de resíduos de plástico: “Uma vez que o plástico está no meio ambiente, não podemos realmente retirá-lo. ”

A pesquisa sobre o impacto dos microplásticos na saúde está aumentando rapidamente, Danopoulos disse: “Está explodindo e por um bom motivo. Estamos expostos a essas partículas todos os dias: estamos comendo-as, estamos inalando-as. E não sabemos realmente como eles reagem com nossos corpos, uma vez que estão dentro. ”

A pesquisa também mostrou que microplásticos de formato irregular causam mais morte celular do que os esféricos. Isso é importante para estudos futuros, pois muitos microplásticos comprados para uso em experimentos de laboratório são esféricos e, portanto, podem não ser representativos das partículas ingeridas pelos humanos.

Danopoulos disse que o próximo passo dos pesquisadores é examinar os estudos de danos microplásticos em animais de laboratório – experimentos em seres humanos não seriam éticos. Em março, um estudo mostrou que minúsculas partículas de plástico nos pulmões de ratas grávidas passam rapidamente para o coração, cérebro e outros órgãos de seus fetos.

Em dezembro, microplásticos foram identificados nas placentas de bebês em gestação, o que os pesquisadores disseram ser “uma questão de grande preocupação”. Em outubro, cientistas mostraram que bebês alimentados com leite em pó em mamadeiras engoliam milhões de partículas por dia.

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Este texto foi inicialmente escrito em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].

Pesquisa mostra que milhões de microplásticos são liberados em mamadeiras

Algumas garrafas liberam até 16 milhões de microplásticos por litro, e a temperatura desempenha um papel importante.

mamadeiraA exposição diária é maior em países desenvolvidos, onde a amamentação é menos importante: 2,3 milhões na América do Norte, 2,6 milhões na Europa. FRED DUFOUR / AFP

Por Le Monde com AFP

Um bebê engole em média mais de um milhão de micropartículas de plástico de sua mamadeira todos os dias, de acordo com um estudo publicado na segunda-feira, 19 de outubro. Os autores do estudo publicado na revista Nature Food expuseram cada um dos modelos mais vendidos de mamadeira de polipropileno ao procedimento de preparo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS): esterilização da mamadeira, depois preparação do leite. fórmula infantil com água aquecida a 70 ° C, para eliminar qualquer bactéria perigosa.

Resultado: algumas garrafas liberam até 16 milhões de microplásticos por litro, e a temperatura desempenha um papel importante. Assim, se a água de preparo do leite for aquecida a 95 ° C, a quantidade pode chegar a 55 milhões por litro; e descer para pouco mais de meio milhão com água a 25°C.

Um bebê de 12 meses engole em média 1,5 milhão de microplásticos todos os dias, de acordo com pesquisadores que se basearam principalmente nas vendas de mamadeiras e no volume de leite ingerido por dia em 48 países. A exposição diária é maior em países desenvolvidos, onde a amamentação é menos importante: 2,3 milhões na América do Norte, 2,6 milhões na Europa.

“Não temos informações suficientes sobre as possíveis consequências dos microplásticos na saúde dos bebês”, comentou um dos autores, John Boland. Alguns estudos mostram a extensão da contaminação dos alimentos por microplásticos – o WWF estimou que uma pessoa ingere em média até 5 gramas de plástico por semana, o peso de um cartão de crédito. Mas faltam dados sobre o impacto dessa ingestão na saúde ou os riscos químicos associados a possíveis aditivos.

Os autores fazem recomendações para limitar a exposição dos bebês: enxágue as mamadeiras três vezes com água esterilizada fria após a esterilização, prepare o leite em pó em um recipiente que não seja de plástico antes de despejar o líquido resfriado na mamadeira , não agite muito a garrafa, não coloque no microondas. E para aquecer a água, não use uma chaleira elétrica de plástico que libera “uma quantidade semelhante de microplásticos” .

O estudo não analisou as mamadeiras de vidro, que reconhecidamente “não liberam partículas” , mas são “pesadas e quebráveis” e permanecem marginais no mercado, observam os autores. Dado o uso generalizado de modelos de plástico, “estudar o destino e transporte dos microplásticos através do corpo é o nosso próximo passo” , explicaram, especificando que queriam focar em questões de imunologia e bioquímica relacionadas com ingestão de micro ou mesmo nanopartículas de plásticos.

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Este artigo foi escrito originalmente em francês e publicado pelo jornal Le Monde [Aqui!].

Mais de 14 milhões de toneladas de plástico podem estar no fundo dos oceanos

Trinta vezes mais plástico no fundo do oceano do que na superfície, sugere a análise, mas mais preso na terra do que no mar

turtle‘Precisamos ter certeza de que o grande azul não é uma grande cova de lixo’, diz Denise Hardesty do CSIRO, cuja pesquisa sugere que pode haver 30 vezes mais plástico no fundo do oceano do que na superfície. Fotografia: Paulo Oliveira / Alamy Foto de stock

Por Graham Readfearn para o jornal “The Guardian”

Pelo menos 14 milhões de toneladas de peças de plástico com menos de 5 mm de largura provavelmente estão no fundo dos oceanos do mundo, de acordo com uma estimativa baseada em uma nova pesquisa.

A análise de sedimentos oceânicos em profundidades de até 3 km sugere que pode haver mais de 30 vezes mais plástico no fundo dos oceanos do que flutuando na superfície.

A agência científica do governo da Austrália, CSIRO, coletou e analisou núcleos do fundo do oceano tirados em seis locais remotos a cerca de 300 km da costa sul do país, na Grande Baía Australiana.

Os pesquisadores analisaram 51 amostras e descobriram que, após excluir o peso da água, cada grama de sedimento continha uma média de 1,26 pedaços de microplástico.

Os microplásticos têm 5 mm ou menos de diâmetro e são principalmente o resultado de itens maiores de plástico se quebrando em pedaços cada vez menores.

Reprimir a maré de plástico que entra nas hidrovias e nos oceanos do mundo surgiu como um grande desafio internacional.

A Dra. Denise Hardesty, pesquisadora principal do CSIRO e coautora da pesquisa publicada na revista Frontiers in Marine Science , disse ao The Guardian que encontrar microplásticos em um local tão remoto e em tais profundidades “aponta para a ubiqüidade dos plásticos, não importa onde você esteja no mundo ”.

“Isso significa que está em toda a coluna d’água. Isso nos dá uma pausa para pensar sobre o mundo em que vivemos e o impacto de nossos hábitos de consumo no que é considerado um lugar mais primitivo ”, disse ela.

“Precisamos ter certeza de que o grande azul não é uma grande cova de lixo. Esta é mais uma evidência de que precisamos parar com isso na fonte.”

Os testemunhos foram perfurados em março e abril de 2017 entre 288 km e 349 km da costa, em profundidades entre 1.655 metros e 3.016 metros.

Hardesty disse que não era possível saber a idade dos pedaços de plástico ou de que tipo de objeto um dia fizeram parte.

Mas ela disse que o formato das peças sob um microscópio sugere que já foram itens de consumo.

Para o estudo, os pesquisadores extrapolaram a quantidade de plástico encontrada em suas amostras centrais e de pesquisas de outras organizações para concluir que até 14,4 milhões de toneladas de microplástico estavam agora no fundo do oceano em todo o mundo.

Embora possa parecer um número grande, Hardesty disse que era pequeno em comparação com a quantidade de plásticos que provavelmente entram no oceano a cada ano.

Em setembro, um estudo estimou que, em 2016, entre 19 milhões e 23 milhões de toneladas de plástico chegaram aos rios e oceanos.

Um estudo anterior na revista Science estimou que cerca de 8,5 milhões de toneladas de plástico acabam nos oceanos todos os anos.

Outro estudo estimou que há 250.000 toneladas de plástico flutuando na superfície do oceano .

No último artigo, os autores observam que sua estimativa do peso dos microplásticos no fundo do oceano é entre 34 e 57 vezes o que pode ser na superfície.

Hardesty disse que havia imperfeições nas estimativas, mas elas foram baseadas nas melhores informações disponíveis.

“É útil dar às pessoas uma noção do escopo e da escala de que estamos falando”, disse ela.

Mas ela disse que a quantidade de plástico no fundo do oceano é relativamente pequena em comparação com todos os plásticos sendo liberados, sugerindo que os sedimentos do fundo do mar não são atualmente um grande local de descanso para os plásticos.

Ela disse acreditar que a grande maioria dos plásticos está realmente se acumulando no litoral. “Muito mais está preso na terra do que no mar”, disse ela.

Dr Julia Reisser, um biólogo marinho da Universidade da Austrália Ocidental Oceans Institute, vem pesquisando a poluição de plástico por 15 anos.

“A comunidade de ciência marinha tem estado realmente obcecada em descobrir onde está o plástico”, disse Reisser, que não esteve envolvido no estudo.

Vários métodos científicos foram necessários para entender o impacto potencial dos plásticos na vida selvagem do oceano. Plásticos maiores podem emaranhar a vida selvagem, enquanto microplásticos e peças ainda menores podem ser consumidos por uma variedade de espécies, desde o plâncton até as baleias.

Ela disse que o novo estudo foi uma contribuição importante para os esforços globais e espera que os dados do mar profundo da Austrália possam ser combinados com outros esforços em todo o mundo para estudos futuros para obter uma imagem mais precisa.

Reisser também fundou uma nova organização para investigar novos plásticos usando algas marinhas como material básico.

“Acho que o destino final [dos plásticos marinhos] é o fundo do mar, mas estamos longe de estar em equilíbrio”, disse ela.

“Se pudéssemos viajar mil anos no futuro, esse plástico teria se fragmentado lentamente e sido removido de nossa costa.”

Líderes de mais de 70 países assinaram um compromisso voluntário em setembro para reverter a perda de biodiversidade, que incluía a meta de impedir que o plástico entre no oceano até 2050.

Os principais países que não assinaram o compromisso incluem Estados Unidos, Brasil, China, Rússia, Índia e Austrália.

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Este artigo foi inicialmente escrito em inglês e publicado pelo jornal “The Guardian” [Aqui!].