Entidades repudiam homenagem da ALEMG à mineradora Sigma Lithium

MAB e aliados elaboraram Nota Pública de Repúdio à homenagem pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais à empresa Sigma Lithium. Em menos de 36 horas, o manifesto teve a adesão de 68 entidades e parlamentares e mais de 460 assinaturas

Foto da Comunidade Piauí Poço Dantas, município de Itinga (MG), onde retrata a realidade das casas dos atingidos próximos às pilhas de rejeito da mineradora SIGMA LITHIUM. Foto: Joyce Silva / MAB

Com surpresa e muita indignação, recebemos a informação da convocação de uma reunião especial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais visando a entrega de título de Cidadã Honorária do Estado de Minas Gerais à Ana Cabral, CEO da empresa Sigma Lithium. O evento ocorrerá nesta quinta-feira, dia 21/08.

A condecoração e homenagem à representante da empresa Sigma Lithium está em sintonia com as iniciativas e articulações conduzidas pelo Governador Romeu Zema (Partido Novo), que busca ostensivamente mercantilizar as riquezas minerais da região do Vale do Jequitinhonha, como barganha política para interesses políticos pessoais, saquear e vender o território e impor um novo epistemicídio à região, propagandeando o termo pejorativo “vale do lítio”.

Na mesma esteira, importante recordar alguns fatos transcorridos, sobretudo na gestão do Governo Zema:

  1. i) através da Deliberação Normativa Copam n° 240/2021, a classificação da atividade de pilha de rejeito/estéril para pegmatitos – rocha de onde se extrai o lítio – deixou de ser considerada alta, passando a ser analisada como médio potencial poluidor/degradador, o que simplificou os pedidos de licenciamento ambiental, sem análise rigorosa, criteriosa e em etapas dos impactos decorrentes;
  2. ii) em 2022, 33,33% das ações da Companhia Brasileira de Lítio (CBL), que pertencia ao Estado de Minas Gerais, foram vendidas pelo Governo Zema à preço de banana para o mercado e;

iii) em 2024, o próprio governador esteve em Nova Iorque, Wayne e Washington, nos Estados Unidos, para propagandear o “vale do lítio” às empresas e acionistas do mercado. Além de buscar, por atos administrativos, restringir o direito de consulta prévia, livre e informada (CLPI) aos Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) em processos de licenciamento ambiental em nosso estado.

Atualmente, a empresa canadense Sigma Lithium tem promovido sistemáticas violações de direitos humanos, irregularidades nos processos e deficiências nos estudos de licenciamento ambiental. Além da utilização de tecnologias ultrapassadas, que provocam um dano socioambiental 30 vezes maior do que outras tecnologias existentes. Neste ano, em audiências públicas realizadas no município de Araçuaí (MG), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), decorrente de abertura de inquérito civil, apresentou relatórios técnicos que evidenciam a “ocorrência de impactos socioambientais negativos não adequadamente mitigados, compensados ou indenizados” pela empresa, proprietária do empreendimento Grota do Cirilo.

Desde 2023, mais de 100 famílias atingidas no entorno do empreendimento sofrem diariamente com impactos negativos, danos coletivos e individuais, como altos índices de ruídos, poeira, rachaduras nas casas, problemas de saúde e perdas na produção de alimentos. Ainda mais grave, confirmado pelo MPMG, tanto no licenciamento inicial quanto no processo de novo licenciamento ambiental de ampliação do empreendimento, a empresa Sigma Lithium negligenciou e violou a legislação brasileira de proteção às comunidades quilombolas, com conivência dos órgãos ambientais estaduais e omissão do poder executivo estadual.

Assim, manifestamos nosso completo repúdio à homenagem pretendida, que se pinta de novo e de verde, mas expressa a manutenção de um modelo de exploração neocolonialista, primário exportador, com a rapina de nossos recursos naturais de forma submissa à volúpia do lucro de grandes empresas, que aprofunda o racismo ambiental, as desigualdades sociais e promove a violação de direitos de sociais e ambientais.

Seguiremos em defesa de um outro projeto de mineração e de país: que valorize e respeite a manutenção, a reprodução dos modos de vidas e os direitos dos povos e comunidades tradicionais, que esteja alicerçado no desenvolvimento de pesquisas, tecnologias e da indústria nacional, com geração de emprego, de renda e na distribuição social das riquezas produzidas, que respeite os direitos humanos e da natureza, na edificação de um país justo e soberano.

Minas Gerais, 21 de agosto de 2025.

Assinam esta Nota Pública:

Academia de Letras do Vale do Jequitinhonha (ALVA)
Aldeia Cinta Vermelha – Pankararu e Pataxó (Araçuaí/MG)
Articulação de Mulheres Negras de Minas Gerais (AMN/MG)
Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD – Núcleo MG)
Associação Brasileira de Pesq. Negros (ABPN)
Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (AEDAS)
Associação Nacional dos Atingidos por Barragens (ANAB)
Associação Sócio Cultural Nzo Mona Jindanji
Casa Socialista
Central de Movimentos Populares do Vale do Aço – CMP VA
Central Única dos Trabalhadores – CUT MG
Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica – CAV
Coletivo Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana (Coletivo PCTRAMA)
Coletivo Vozes Maria
Comissão das Comunidades Quilombolas do Vale Jequitinhonha (COQUIVALE)
Comissão de Direitos Humanos (OAB/MG)
Comissão Pastoral da Terra – Regional MG (CPT/MG)
Comunidade Quilombola Baú – Araçuaí/MG
Comunidade Quilombola Cardoso – Virgem da Lapa/MG
Comunidade Quilombola Córrego Narciso do Meio – Araçuaí/MG
Comunidade Quilombola Malhada Branca – Virgem da Lapa/MGComunidade Quilombola Onça – Virgem da Lapa/MG
Conselho Missionário
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ)
Deputada Estadual Beatriz Cerqueira – PT
Deputada Estadual Bella Gonçalvez – PSOL
Deputada Estadual Leninha Souza – PT
Deputada Federal Célia Xakriabá – PSOL
Deputado Estadual Leleco Pimentel – PT
Deputado Federal Padre João Siqueira – PT
Deputado Federal Rogério Correia – PT
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais (FETAEMG) – Polo Regional Alto Jequitinhonha
Federação Regional dos Urbanitários do Sudeste (FRUSE)
Grupo de Estudos e Pesquisas Socioambientais (GEPSA/UFOP)
Grupo Terra Teia de Estudos Rurais e Raciais (UFVJM)
Guardiãs das Palavras Benditas
Instituto Carlos Campos
Instituto de Promoção Humana
Instituto Esperança Maria
Instituto Guaicuy
Instituto Janelas do Jequitinhonha
Marcha Mundial das Mulheres (MMM)
Mídia Ninja
Movimento Brasil Popular
Movimento Camponês Popular de Minas Gerais (MCP/MG)
Movimento de Atingidos por Barragens (MAB)
Movimento de Mulheres Camponesas (MMC/MG)
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST)
Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM)
Movimientos de Afectados por Represas (MAR)
Núcleo Interdisciplinar de Investigação Socioambiental (NIISA) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)
Observatório dos Vales e do Semiárido Mineiro da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)
Observatório Fundiário do Vale do Jequitinhonha (OBVFJ) da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
Povo Indígena Aranãs Caboclo
Povo Indígena Maxakali
Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares (RENAP/MG)
Salve as Serras – Movimento Socioambiental
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Araçuaí (STR) Araçuaí
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Turmalina (STR) Turmalina
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Virgem da Lapa (STR) Virgem da Lapa
Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais (SINDIELETRO/MG)
Terra de Direitos
Vereador Bruno Abreu Gomes Pedralva – PT
Vereadora Luiza Dulci – PT
Vereadora Moara Saboia – PT
Vereadora Professora Cida Lima – PT
Vereadora Shyrlei Rodak – PT

Movimento dos Atingidos por Barragens organize jornada para marcar dois anos do tsulama em Brumadinho

Às 12h28 do dia 25 de janeiro de 2019, a barragem da mina Córrego do Feijão, em Minas Gerais, estourou.

As consequências deste crime ressoam nas comunidades atingidas, nos familiares das 272 vítimas assassinadas pela Vale, nos trabalhadores que ficaram sem renda, na interrupção de sonhos e milhares de pessoas que tinham o rio Paraopeba como fonte de água e abastecimento, além de forma de lazer e descanso.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) organiza a “Jornada de Lutas: 2 anos do crime da Vale em Brumadinho – Justiça só com luta e organização“, um momento de apresentação da mobilização permanente da população atingida frente à mineradora Vale e o que a empresa representa, as consequências concretas na vida da população e defesa dos direitos humanos.

Junto com a @midianinja, a @minasninja e a @ninja.foto realizamos uma curadoria para ocupar nossos feeds essa semana com ensaios fotográficos da cobertura realizada por fotógrafas e fotógrafos que estiveram na cidade ajudando a narrar visualmente e trazer imagens e palavras para contar o que estava acontecendo em Brumadinho. Cada dia da semana será postado um ensaio às 12h28.

Hoje apresentamos fotos de Julia Pontes:

1- Complexo minerário Jangada-Feijão, da Vale, em Fevereiro 2016.

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2- Helicóptero de resgate sobrevoa a Barragem VI, adjacente à Barragem I, que rompeu em 25 janeiro 2019, ambas são parte da mina do Feijão.

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3- Fundo da barragem B1 em maio 2019.

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4 -Estrada aberta entre os rejeitos da mina do Feijão.

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5- Talude rompido da Barragem I.

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6- Correia transportadora da mina do Feijão submersa pela lama, e caminhões trabalhando na de remoção de rejeitos.

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7- Barragem VI à esquerda e estrutura colapsada da Barragem I à direita.

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8- Comunidade do Córrego do Feijão, à esquerda.

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9-Rua Augusto Diniz Murita, Parque da Cachoeira, Brumadinho.

bruma 1010-Boneca em área coberta pela lama, Córrego do Feijão.

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#2anosBrumadinho

#AcordoSemParticipaçãoÉGolpe

#JustiçaSóComLuta

Urgente: atingidos pelo Tsulama do Córrego do Feijão ocupam sede da Vale em Brumadinho (MG)

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Na manhã desta quinta-feira (22/10) atingidos da bacia do rio Paraopeba ocuparam sede da mineradora Vale no bairro Aurora, em Brumadinho (MG). Na pauta de reivindicações que orienta o movimento, os atingidos reivindicam água de qualidade, prorrogação do auxílio financeiro emergencial e exigem a consolidação do Programa Direito a Renda, proposto pelo MAB junto aos atingidos.

Na véspera das audiências de conciliação sobre o julgamento antecipado dos pedidos de danos morais coletivos e sociais e de indenização ao Estado, e a conciliação do futuro do pagamento do auxílio financeiro emergencial, os atingidos se colocam em luta pela garantia de direitos e não aceitarão negociações que minimizem os direitos já conquistados, como foi proposto pela mineradora Vale, que reduz os valores até o fim do pagamento do auxílio financeiro.

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Acompanha a manifestação dos atingidos pelo Tsulama da Vale em  Brumadinho Aqui!

No Pará, atingidos por barragem da Norsk Hydro (Alunorte) adoecem e lutam por tratamento

Há um ano, vazamento da barragem operada pela mineradora atingiu cerca de 20 mil pessoas da cidade de Barcarena e comunidades vizinhas, e tem levado a casos de doenças infecciosas e câncer

 

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Mineradora Hydro Norte se nega a reconhecer as 20 mil atingidas pelo rompimento da barragem de bauxita

Por Redação RBA

São Paulo – Moradores do município de Barcarena, no interior do Pará, e de cidades vizinhas, protestaram nesta segunda-feira (18) em frente à empresa mineradora Hydro Alunorte responsável pelo vazamento de uma barragem que despejou rejeitos tóxicos na bacia do rio Murucupi e do rio Pará, contaminando a água e atingindo ao menos 20 mil pessoas.

O crime da empresa completou um ano neste mês de fevereiro, mas de acordo com denúncias dos manifestantes, até hoje a situação ainda está impune e a Hydro Alunorte se nega a reconhecer o número total de atingidos. Desde a degradação das águas dos rios que cercam diversas comunidades ribeirinhas, moradores têm convivido com doenças infecciosas até casos de câncer. “As pessoas estão morrendo caladas”, alerta a agricultura e uma das atingidas, Cleide Monteiro em entrevista à Rádio Brasil Atual

De acordo com o representante do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), no Pará, Robert Rodrigues, por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado por representantes estaduais, federais e pela mineradora, foram reconhecidas 20 mil vítimas, mas, desse total, 13 mil foram cadastradas para receber indenização por parte da empresa, mas apenas 1.600 estão sendo indenizadas.

Nesta sexta-feira (15), representantes do Estado e da mineradora não compareceram à uma audiência pública marcada para determinar as próximas ações de recuperação. “O Ministério Público está sendo conivente com a empresa. E o governo do estado apesar de ter recebido no ano de 2018, R$ 250 milhões de royalties da mineração, não tem nenhum projeto, programa estadual de segurança de barragem ou um fundo que desvie esse dinheiro para ser aplicados para a população atingida”, critica o membro do MAB à repórter Beatriz Drague Ramos.

FONTE: Rede Brasil Atual [Aqui!]

Fundação Renova (a.k.a. Mineradora Samarco): poluir pode, atingido exigir direitos não

Em Mariana, Fundação Renova abandona reunião com atingidos

 Reunião foi interrompida pela Fundação Renova dizendo que os atingidos não queriam dialogar 

Aconteceu na última sexta-feira (06), uma reunião entre atingidos e atingidas pela Barragem de Fundão, em Mariana, e Fundação Renova, na comunidade de Paracatu de Cima. Os atingidos são da zona rural da cidade e cobram direito a reassentamento rural, melhoria de sinal de celular, manutenção e afastamento de estradas, fornecimento de cartão de auxílio financeiro, reposição de áreas coletivas nas comunidades, como igreja, escolas e campo de futebol.

Durante o ano de 2017, a Fundação Renova construiu critérios, junto com as famílias, para o processo de reassentamento dos atingidos. No entanto, em uma forma clara de enrolar os atingidos mais uma vez, a Fundação explicou como seria o processo de compra de novos terrenos e novas casas para os atingidos das comunidades rurais, o que causou questionamentos e indignação aos atingidos.

“No final do ano passado (2017), na reunião que fizemos com eles aqui, eles disseram que a gente podia olhar o terreno que eles iam comprar, agora vem hoje e argumentam que estão analisando ainda para quem vão comprar e para quem não vão. Assim não dá! ”, disse José Estevão, atingido da comunidade de Pedras. 

Essas explicações da Renova foram interrompidas pelas falas dos atingidos dizendo que suas propriedades não estavam à venda quando a lama chegou e que por isso o valor delas não pode ser estimado com um processo simples de análise de mercado. Maria do Carmo, atingida de Paracatu de Cima, lembrou à Fundação Renova, que todas as famílias que reivindicam novo terreno estão dentro dos critérios que foram elaborados em conjunto com a própria Renova.

 “Essa Fundação, que é uma farsa, ficou um ano construindo critérios para quem deseja novos terrenos, e agora, vai ver se a gente se ‘enquadra’? É um absurdo. Nós só vamos continuar o diálogo e a fazer essas reuniões se for para resolver alguma coisa. Estamos há um ano sem respostas e não vamos aceitar isso”, comenta Marino D’Ângelo, atingida em Paracatu.

De repente, a reunião foi interrompida pela própria Fundação Renova dizendo que não continuaria a reunião porque os atingidos não queriam dialogar e estavam sendo agressivos. Os atingidos ficaram surpresos com a reação da Renova, uma vez que são eles que estão sofrendo há dois anos e cinco meses com um crime, sem punição e sem respostas satisfatórias.

Os atingidos tentaram retomar a reunião dizendo que se a Renova possuísse algo mais claro para apresentar sobre as demandas, eles se dispunham a ouvir, mas os representantes da Fundação se retiraram da reunião. Os atingidos continuaram reunidos e reafirmaram que continuarão firme na luta por seus direitos e não aceitarão que os criminosos digam como devem ser as regras do processo. Quem dá as regras do processo de reparação são os atingidos.

FONTE: http://mabnacional.org.br/noticia/em-mariana-funda-renova-abandona-reuni-com-atingidos