
A chamada Operação Lava Jato serviu para a construção de uma narrativa ao longo dos dois últimos anos: tudo o que era ruim e corrupto no sistema político brasileira. Tudo ia bem até que surgisse o impávido colosso conhecido como “Listão da Odebrecht”.
O surgimento do famigerada listão caiu como uma bomba na narrativa da Lava Jato. É que querendo a Rede Globo ou não, boa parte dos brasileiros hoje sabe que no verdadeiro “coração de mãe” das doações da Odebrecht, só não couberam quatro partidos: PCB, PCO, PSOL e PSTU. O resto dos 28 partidos existentes em 2014 receberam algum tipo de doação, por vias legais ou não.
Mas não bastasse a lista da Odebrecht, veio em sequência a informação de que o ex-deputado Pedro Correa, do insuspeito Partido Popular (PP), revelou que o sistema de corrupção eleitoral (notem que ele teria dito SISTEMA, o que implica em algo muito além de um partido. E mais, Pedro Corrêa teria dado detalhes sobre como o falecido banqueiro Olavo Setúbal, do Banco Itaú que hoje apoia Marina Silva, teria comprado a reeleição de Fernando Henrique Cardoso do PSDB.
O listão da Odebrecht mais a delação de Pedro Correa implodem a narrativa construída pelo Lava Jato, e ainda servem para lançar uma questão: será que os braços das empreiteiras se estenderam apenas sobre o executivo e o legislativo, ou cedo ou tarde (ou talvez mais cedo do que se imagina) veremos alguma figura ilustre do judiciário aparecer em outras listas de generosidades, seja da Odebrecht ou das outras empreiteiras enroladas na Lava Jato?
De toda forma, as próximas semanas deverão ser interessantes para que saibamos como os envolvidos vão tentar estabelecer a narrativa que melhor lhes sirva na luta pelo poder que hoje assola o Brasil. O problema vai ser convencer a maioria dos brasileiros sobre a efetiva relação entre narrativa e realidade. É que se pode enganar muitos por algum tempo, mas jamais todos o tempo inteiro.