O combate à corrupção (seletiva eu diria) levou ontem milhares de brasileiros às ruas de cidades e capitais atendendo à convocações de grupamentos de inspiração neoliberal e/ou fascista. As pessoas atraídas para essas manifestações carregavam feições normalmente claras na pele e aparência de que, em sua maioria, provinham das classes médias e altas da sociedade brasileira.
O uso da luta contra a corrupção como instrumento de galvanização desse tipo de segmento social está longe de ser novo, basta ver o cartaz que segue abaixo do Partido Nazista Alemão que a usava em sua propaganda eleitoral.

Mas afinal qual é o papel cumprido pela corrupção numa sociedade capitalista e é possível erradicá-la? Se olharmos os elementos práticos das diferentes formas de corrupção, este é um mecanismo eficiente de transferência de recursos públicos para o controle privado, seja por indíviduos ou empresas. E esse mecanismo tem sido utilizado em diferentes formas e níveis desde os primórdios do Capitalismo. Então, erradicar suas diferentes manifestações é uma decisão das elites e não dos trabalhadores que são suas principais vítimas.
Este fato gera uma contradição interna para os membros das elites, ou de setores satélites das elites, que dizem querer o fim da corrupção. É que primeiro depende deles mesmo encerrar a corrupção, em que pese o fato de que estão sempre entre os que mais ganham com sua continuidade.
Por isso é que a luta contra a corrupção é uma tigre de papel, especialmente em países de economia dependente como o Brasil. É que é aqui, pela natureza da forma particular de consolidação do capitalismo, que a corrupção é mais necessária para a expansão do sistema, e essa necessidade ultrapassa qualquer elemento de moralidade ou ética. Apenas é uma necessidade que deve ser realizada para garantir a hegemonia das relações capitalistas de produção e ponto final.
A verdade é que a bandeira da luta contra a corrupção é essencialmente pequeno-burguesa e, por isso, a esquerda tende a secundarizá-la em nome de bandeiras mais voltadas para fazer avançar direitos sociais e o combate às distintas formas de opressão de classe.
Se me perguntarem se é um erro deixar a luta contra a corrupção nas mãos de quem mais lucra com isso, eu diria que é mais perigoso embarcar de cabeça na defesa de uma bandeira que dificilmente será tirada das mãos dos setores mais reacionários das classes médias e altas. E isso vale para o Brasil neste momento, onde os ataques aos direitos sociais e dos trabalhadores recebem a total aprovação de quem vai às ruas supostamente contra a corrupção.
Além disso, me parece óbvio que cedo ou tarde teremos confrontos diretos entre os setores médios e altos que só se mobilizam contra a corrupção e segmentos de esquerda e democráticos que entendem o risco real que vivemos hoje que é o de nos transformarmos em sua sub-colonia das economias centrais.
Isto não significa dizer que devamos ser condescendentes com a corrupção dentro de partidos, sindicatos e movimentos sociais da esquerda. E o fato é simples: quando a corrupção se dá na direita, a mesma é tolerada, enquanto que quando ocorre na esquerda ela se transforma num elemento de escolha dos setores mais retrógrados de qualquer sociedade para retirar direitos e reprimir os mais pobres.