Os tucanos como portadores de alta moral política? Conta outra!

tucanos

Com o aparecimento das estripulias do neoPT que se envolveu em diversos casos de corrupção a partir da tomada do leme da presidência da república, tenho ouvido muitas pessoas (inclusive muitas detentoras de títulos de doutor) repetir a ladainha insustentável de que o PSDB seria portador de outro padrão de moral.

Sempre soube que esse é uma ilusão, pois me lembro bem do que o mesmo PSDB fez no processo de privatização das estatais, onde parte dos seus quadros participou da tomada daquele imenso patrimônio público. No caso de Fernando Henrique Cardoso, ele conseguiu a proeza de colocar o genro para dirigir a Agência Nacional do Petróleo (ANP), e o filho no conselho gestor da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) após a mesma ser privatizada a preços camaradas. Também lembro da vergonhosa venda da Vale que foi vendida a uma fração do seu valor real.

E ainda temos com os tucanos, vários escândalos nunca devidamente apurados, como é o caso do “Mensalão mineiro” e o “Tucanoduto” no Metrô de São Paulo, No entanto, seja por sectarismo ou conviniência esperta, nada disso serviu para abalar a suposta aura de moralidade que a mídia e parte da suposta intelectualidade nacional oferece ao PSDB.

Mas agora, com a confirmação de que o presidente da Câmara de Deputados possui numerosas contas secretas na Suíça onde estocou milhões de dólares não declarados ao fisco, eis que a líder do PSDB na Câmara de Deputados, o probo Carlos Sampaio (SP), nos dá outra demonstração da “alta moral” tucana, ao oferecer a seguinte declaração sobre o atoleiro onde Eduardo Cunha se encontra:

Evidente que o caso que envolve o presidente Eduardo Cunha é um caso grave, que precisa ser apurado, e as informações ainda não vieram. O Ministério Público aguarda as informações da Suíça para saber o que deve fazer. Ele tem, por ora, o benefício da dúvida. Nós temos que aguardar essa documentação que, se vier, é um fato gravíssimo”, afirmou o líder tucano na Câmara, Carlos Sampaio (SP), na tarde desta segunda-feira (5).(Aqui!)

Tamanha leniência só é compreensível se entendermos que o PSDB só quer mesmo é encurtar o mandato de Dilma Rousseff para tentar mais uma vez controlar a máquina federal para lá exercer as mesmas práticas que diz condenar durante o governo do neoPT.  O problema aqui é que este tipo de relativismo moral pode até render os frutos desejados a curto prazo, mas periga trazer resultados desastrosos já no médio prazo. É que, como já disse o jornalista Josias de Souza em seu blog na Folha de São Paulo, o que o PSDB está fazendo em relação a Eduardo Cunha é tomar banho e depois brincar no barro.

Entretanto, uma coisa positiva dessa postura do PSDB. Não vou mais ter de aturar as declarações antipetistas de determinados colegas, pois sempre poderei enviar-lhes essa bela declaração de Carlos Sampaio como prova da insustentabilidade de sua ladainha tucana.

Syriza e Podemos: mostra que ainda espaço para utopia no “realpolitik”

Tem algum tempo que cansei de ouvir as lamúrias pragmáticas e anti-utópicas que são disseminadas pelos militantes e simpatizantes do PT (ou neoPT como alguns gostam), É que se prestarmos um pouco de atenção nas lamúrias que são jogadas para explicar a guinada à direita do partido, o que veremos é a defesa dos limites de uma política real que deixaria Harry Fukuyama (aquele que previu o fim da história após o desmantelamento do Muro de Berlim) feliz demais. É que, por detrás as lamúrias pragmáticas, o que se tem é a decretação cínica do  fim das utopias e das possibilidades de algo mais do que gerir bem o Estado burguês no horizonte dos partidos que se proclamam de esquerda.

Como estava dentro do PT quando o Muro de Berlim virou poeira, lembro bem desse chorôrô. É que mal tinham acabado de voltar de um curso de formação política na Alemanha Oriental, Lula e Zé Dirceu tiveram que se defrontar com o fim do falso socialismo, e a abertura de chances reais de ser rediscutida a construção de uma nova sociedade. Ali enquanto os trotskistas como eu viam a abertura de uma chance real de construção do socialismo, os pais do neopetismo viram uma derrota histórica e desmoralizante.

De lá para cá, o que se viu foi a contínua concessão aos ditames do mercado por um lado e, de outro, a completa adesão aos piores elementos da política burguesa e nas suas formas mais abjetas dentro da forma atrasada de desenvolvimento do Estado burguês no Brasil. 

E em função disso, é que temos todo tipo de ataque aos que ousam dizer que o realismo do PT não serve ao interesse dos trabalhadores, camponeses e à juventude do Brasil.  Qualquer sinal de crítica é logo tachado de ultra-esquerdismo e por ai vai.

Agora, me parece que o PT está para se defrontar um novo Muro de Berlim, só que agora saído das eleições gerais na Espanha e na Grécia. É que nesses países devem emergir vitoriosos partidos políticos que lembram muito o PT no seu nascedouro, e com muitas das mesmas contradições que o partido então tinha. E o mais interessante é que o Syriza na Grécia e o Podemos na Espanha resultam de um cansaço extremo com a mesma lógica de “realpolitik” abraçada por forças tradicionais da esquerda espanhola e grega, e que foi a mesma à qual o PT abraçou no Brasil.

Alguns dos “teóricos” neopetistas vão querer dizer que Espanha e Grécia não possuem a mesma importância geopolítica do Brasil, e outros trololós, o que condena Syriza e Podemos à inexpressividade. Tudo besteira, já que posicionados na periferia imediata dos mercados centrais, Espanha e Grécia poderão causar sérios abalos na ordem geopolítica comandada pela aliança EUA-Alemanha, e que hoje mantem a Europa numa condição de quase Estado de sítio. 

O fato é que se as pesquisas eleitorais que hoje dão vitórias para Syriza e Podemos se confirmarem, e esses partidos não abandonarem suas bandeiras políticas como fez o PT, o que deveremos ter é um abalo sistêmico no sistema político europeu e, por extensão, mundial.

Dai será só esperar as explicações estapafúrdias que os neopetistas irão tentar dar. A ver!