Cooperativa de criadores de salmão da Noruega decide banir soja brasileira

NorwayFishFarmAerialCooperativa norueguesa de criadores de salmão decidiu suspender uso de soja brasileira  em sua ração para diminuir pegada de carbono de sua produção

Em mais uma demonstração que o mar não está nada calmo para a nau do presidente Jair Bolsonaro e seus ministros negacionistas das mudanças climáticas,  a cooperativa norueguesa de piscicultores de salmão , o Salmon Group, emitiu um comunicado de imprensa informando que está suspendendo imediatamente a aquisição de soja brasileira como parte do esforço de redução de 17% da “pegada de carbono” associada à sua produção de salmão em cativeiro.

salmon group press release

Segundo o comunicado de imprensa do Salmon Group, os seus 44 acionistas “levam a sério a sustentabilidade e, por um longo tempo, trabalharam propositalmente e concretamente com questões relacionadas a isso”.  O comunicado do Salmon Group acrescentou ainda que “estamos falando de empresas familiares de segunda e terceira geração, que operam no ambiente local onde elas mesmas nasceram e foram criadas. Eles estão muito conscientes da responsabilidade que lhes cabe ao conduzir seus negócios em público. Eles pensam a longo prazo e assumem responsabilidade moral e ética.

Ainda que esta decisão do Salmon Group possa não estar diretamente associada ao atual ciclo de queimadas na Amazônia brasileira, o certo é que a condição dos mercados para a soja brasileira que já não está tão confortável como gostariam os líderes do latifúndio agro-exportador, poderá ainda ficar ainda pior após o delirante discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU no dia de ontem (24/09).

Onyx Lorenzoni e a Noruega: quem ensina o quê para quem?

norway

Irritado sobre uma pergunta trivial sobre quem comandaria o Ministério do Meio Ambiente a partir de janeiro de 2019, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM/RS) resolveu sair pela tangente e questionou a posição da Noruega de suspender o aporte de recursos no chamado “Fundo Amazônia” porque o Brasil não está cumprindo a meta de conter o desmatamento na Amazônia [1].

Do alto de sua ignorância, Lorenzoni afirmou que  “O que nós fizemos não vale nada, o que vale é a Noruega. E a floresta norueguesa, quanto eles preservaram? Só uma coisa importante que tem que se em que ser lembrada: o Brasil preservou a Europa inteira territorialmente, toda a União Europeia, com as nossas matas, mais cinco Noruegas. Os noruegueses têm que aprender com os brasileiros, e não a gente aprender com eles.”

Afora notar que a Noruega entregou bilhões de reais para que o Brasil cuidasse das florestas amazônicas, o que efetivamente não foi feito, Lorenzoni deveria ser informado que o país escandinavo foi o primeiro a banir qualquer produto que contribua para o desmatamento  em maio de 2016. Essa determinação acabará tendo impactos diretos sobre o comércio com países onde o desmatamento esteja alimentando a cadeia produtiva, como é obviamente o caso do Brasil.

Se fizesse a lição de casa de forma mínima que fosse, Lorenzoni saberia que a Noruega já fez a sua, e após instalar a partir de 1991 uma série de programas de recuperação de sua cobertura florestal, os noruegueses triplicaram a quantidade de florestas em relação a 100 anos atrás [2]. Em outras palavras, a Noruega tem sim algo a ensinar para o país que detém parte considerável da biodiversidade mundial, mas que a está jogando fora para plantar commodities agrícolas de forma insustentável.

Assim, em vez de ser ingrato e bravateiro, o que Lorenzoni deveria fazer, e possivelmente não fará, seria garantir que o próximo ministro do meio ambiente não seja uma mera peça decorativa ou, pior ainda, um instrumento de legitimação da destruição dos ecossistemas amazônicos em nome de um punhado de reais.


[1] https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2018/11/12/onyx-se-irrita-e-diz-para-noruega-aprender-com-brasil-sobre-desmatamento.htm

[2] http://www.bbc.com/earth/story/20151104-discover-how-norway-saved-its-vanishing-forests

Relatório produzido pela Rainforest Foundation Norway coloca pressão nos consumidores de soja brasileira

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Para quem acha que o jogo de espelhos que está ocorrendo em torno da extinção/fusão do Ministério do Meio Ambiente não está sendo acompanhando nos países que consomem os produtos saídos da Amazônia, pense de novo.

Um exemplo disso é a extensa matéria que foi publicada pela “Regnskogfondet” (Rainforest Foundation Norway) , organização sediada em Oslo na Noruega, sob o título “As águas turvas do mar norueguês” onde são apresentadas as ligações da indústria do salmão da Noruega com fornecedores de soja brasileira, e que também serviu para a divulgação de um amplo relatório sobre a produção de soja no Brasil  sob o título de ” Salmon on soybeans — Deforestation and land conflictin Brazil”[1].

A matéria começa informando que o salmão que os noruegueses estão consumindo foi alimentado com concentrado de proteína de soja (SPC) do Brasil. E que este produto, que é uma forma avançada de farelo de soja, é fornecido por três empresas brasileiras; Caramuru, Selecta e Imcopa.

A Regnskogfondet informa ainda que a soja entregue na Noruega é essencialmente certificada pelo ProTerra, que, entre outras coisas, garante que a soja não é geneticamente modificada e não contribuiu para o desmatamento. Entretanto,   é  feito o alerta de que apesar dessa certificação parecer ser boa,  é sabido que que muito mais na indústria brasileira de soja não é bom.

Para deixar isso claro, a Regnskogfondet produziu um relatório que confirma que as três empresas brasileiras podem estar associados a crimes graves, envolvendo:

Desmatamento ilegal

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Sangrentos conflitos de terr

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Uso de pesticidas ilegais

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Ocupação de territórios indígenas

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Uso de trabalho escravo

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A matéria coloca em questão a postura das empresas norueguesas de continuar comprando soja com origem tão problemática e envolvida em tantas violações de direitos fundamentais e da agressão ao meio ambiente.

Como já alertei em postagens anteriores, quem acha que a  eleição de um presidente anti-ambiente não será acompanhada atentamente fora do Brasil está completamente enganado.  E, mais, se continuar a retórica anti China, o mais provável é que a Europa seja o único destino viável da gigantesca produção de soja brasileira.  Mas na Europa, a maioria das pessoas está convencida do papel fundamental que a floresta Amazônica ocupa na regulação climática da Terra. Daí que ninguém se surpreenda se houver uma cobrança mais direta e incisiva em torno das condições em que a soja é produzida no Brasil.

Quem desejar ler o relatório completo que a Rainforest Foundation Norway produziu e que deu base à reportagem analisada, basta clicar [Aqui!].


[1] http://historier.regnskog.no/den-norske-laksens-grumsete-farvann/index.html