Vivencio as agruras e felicidades do campus Leonel Brizola que abriga os centros de pesquisa da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) desde que cheguei por aqui no início de 1998 e já vi muitas obras ocorrendo, a preços nem sempre modestos. Mas quem circula hoje pelo campus criado pela genialidade de Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer pode até pensar que vivendo um novo boom de construções de prédios novos, pois basta somar valores que constam de apenas 3 placas que se chega ao valor salgado de R$ 25.114.939,10 (ver imagem abaixo).
Ainda que seja notório que obras públicas sempre recebem um salzinho extra por causa das idiossincrasias do Estado na hora de pagar seus contratos, esse gasto mereceria a devida transparência por parte da reitoria da Uenf, na medida em que existem hoje nos dois campi da instituição (o outro é o campus Carlos Alberto Dias em Macaé) necessidades de reparos básicos para dar certa tranquilidade aos membros da comunidade universitária, a começar pela iluminação noturna que continua deficiente.
A questão é que o chamado “Portal da Transparência” que a Uenf mantém em sua página oficial é tudo menos transparente, o que dificulta o acesso dos interessados às informações que possam clarificar porque está se pagando tão alto por obras que não implicam, por exemplo, na construção de prédios novos como a muito esperada Biblioteca Central ou um novo pavilhão de aulas. Do jeito que a coisa aparece nessas placas, se um dia essas unidades forem construídas, o custo para o erário será ainda mais fabuloso.
Em meio a uma série de obras que estão inacabadas no campus da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), uma que vem chamando a atenção é a do anexo do prédio do Centro de Ciências do Homem (CCH) que foi iniciada durante a segunda metade do mês de março e que hoje segue num ritmo acelerado. Mas com um pequeno detalhe: até hoje não foi providenciada a placa de identificação onde deveriam ter sido tornados públicos, os dados sobre custo e duração total da obra ou, sequer, a empresa que está encarregada de fazer a construção (ver imagens abaixo).
Além dos problemas em torno da necessária transparência sobre uma obra que acaba de ser iniciada, o que anda causando espécie dentro da comunidade universitária é a falta de conclusões de outras que foram merecedoras das célebres placas de inauguração, como foi o caso da obra de acessibilidade que deveria ter facilitado a vida dos possuidores de necessidades físicas especiais. Entretanto, apesar da pedra fundamental do projeto ter sido lançada com pompa e circunstância em Maio de 2011 (!) , até hoje o que se vê é a falta de condições mínimas de acessibilidade para portadores de necessidades especiais ou não. Aliás, a falta de conclusão dessa obra está inclusive sendo “celebrada” nas redes sociais como bem demonstra a imagem abaixo.
Diante dessa situação é que há uma crescente demanda por transparência em relação à situação envolvendo essas obras, coisa que, aliás, já vem de longe. Mas para começo de conversa, uma questão que poderia ser respondida pelo escritório local do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (CREA/RJ) sobre a obra que está sendo construída sem uma placa de identificação.
Herança de Eike chama a atenção da imprensa internacional. As obras inacabadas
Com o colapso do Império X, obras sociais erguidas com a ajuda de Eike estão deteriorando no Rio
Jornal do Brasil
Além das belezas naturais e monumentais do Rio de Janeiro, outro cenário que despontou recentemente na cidade tem chamado a atenção da imprensa internacional. Os empreendimentos sociais inacabados que ficaram como herança do declínio do Império X, do ex-magnata brasileiro, Eike Batista. Uma reportagem do jornal americano The Wall Street Journal (WSJ), publicada nesta quinta-feira (16/1), enumera obras sociais que foram erguidas com a ajuda financeira de Eike e agora, com o colapso das suas empresas, estão paralisadas ou funcionando com muitas dificuldades.
Um desses empreendimentos é o hospital especializado em cirurgias cardíacas, Pro Criança Jutta Batista. O The Wall Street descreve que este centro médico, criado para atender crianças de baixa renda, ainda “tem cheiro de tinta fresca e piso de espumantes brancos”. No entanto, um estranho silêncio toma conta dos seus largos corredores e os seus sofisticados equipamentos nem saíram da embalagem. Enquanto isso, uma lista de crianças carentes que aguardam atendimento cresce a cada dia no Estado.
Imprensa internacional comenta obras inacabadas deixadas por Eike Batista no Rio
De acordo com a matéria do WSJ, Eike Batista pagou cerca de US $ 15 milhões, quase metade do faturamento total, para ajudar a construir esse hospital, que tem o nome de sua falecida mãe. Logo após o anúncio de falência das empresas do grupo de Eike, as generosas contribuições para a filantropia foram afetadas diretamente. As verbas para o Pró Cardíaco foram cortadas, quando a unidade médica precisava de um adicional de 7000 mil dólares para iniciar as operações. “Estou certa de que se Eike pudesse ajudar, este hospital não seria fechado”, disse ao WSJ a cardiologista pediátrica e fundadora do hospital, Rosa Célia Pimentel Barbosa. E mediante à ruína de Eike, a médica complementou: “Mas eu não iria pedir-lhe mais dinheiro. Ele deu tudo o que tinha comprometido e ainda mais do que pedimos”.
O Wall Street informa que o ex-bilionário lançou um punhado de projetos no Rio, que vão desde o hospital infantil até a limpeza de uma lagoa notoriamente suja localizada no coração da cidade, se referindo à Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul. O texto diz que Eike renovou hotéis históricos, comprou equipamentos e veículos para a polícia do Rio de Janeiro e patrocinou uma equipe de vôlei.
A reportagem do veículo norte-americano esclarece que os empreendimentos enumerados fazem parte do legado da queda do magnata brasileiro, cujos negócios no setor de construção naval e petrolífero entrou em colapso no ano passado, sendo considerado a maior queda empresarial da América Latina. “O declínio do magnata inclui a perda de cerca de US $ 30 bilhões nos últimos dois anos, quando era um dos investidores de alto perfil, atingiu, inclusive o maior fundo de bônus do mundo e os maiores bancos do Brasil. Mas também atingiu as pessoas de meios mais humildes, incluindo alguns no Rio de Janeiro, segunda maior cidade do Brasil e que foi adotada pelo magnata”, ressalta a reportagem.
Na visão do Wall Street, em um país com pouca cultura de filantropia, o ex-piloto e empresário do setor de energia gostava de dizer que ele não só queria ser o homem mais rico do mundo, mas também o mais generoso. Porém, nem todo mundo estava feliz com a sua filantropia. “Ele distribuiu dinheiro para a caridade, mas o dinheiro que pertencia aos acionistas e detentores de títulos”, afirmou ao jornal um dos investidores, Aurélio Valporto, que pretende mover uma ação judicial contra Eike. E Valporto ainda disse: “Não foi o seu dinheiro. Nós demos a ele para investir na produção da empresa”.
Para o secretário de Desenvolvimento econômico, energia, indústria e serviços do Rio, Julio Bueno, a cidade perdeu e o Brasil também. O Wall Street cita que a construção de uma nova sede da Unidade de Polícia Pacificadora do Rio (UPP), na favela do Batan, Zona Oeste da cidade, foi paralisada quando deixou de receber os recursos de Eike Batista. “Empresa de petróleo OGX de Eike Batista concordou em doar cerca de 34.500 mil dólares ao longo de quatro anos para ajudar a reforçar a iniciativa, uma das mais importantes tentativas do Rio de Janeiro para controlar a alta do crime na cidade”, diz o texto.
Segundo o Wall Street, um dos sinais mais visíveis no Rio do colapso da empresa de Eike Batista é o Hotel Glória, um edifício projetado pelo famoso arquiteto Joseph Gire, o mesmo que projetou o Copacabana Palace, para celebrar o centenário da Independência do Brasil, em 1922. Eike Batista comprou o hotel em 2008 por aproximadamente US $ 50 milhões, com a ideia de restaurá-lo antes da Copa do Mundo e das Olimpíadas. No entanto, o trabalho de restauração foi suspenso e Eike está tentando vender o hotel a um novo investidor. E o jornal ainda destaca que os moradores do entorno do Hotel Glória reclamam que o local de trabalho está ocioso, atraindo ratos e mosquitos, bem como moradores de rua, provocando um aumento da criminalidade no bairro.
E o Wall Street continua a descrever o cenário “fantasmagórico” deixado por Eike Batista na cidade. Outro projeto de hotel abandonado é o Hilton Gonçalves dos Santos, um edifício amplo que o ex-bilionário arrendou do Flamengo, clube de futebol carioca. Eike Batista planejava transformá-lo em um hotel de luxo com 452 quartos, também para atender à demanda dos Jogos Olímpicos. Segundo o jornal, a empresa imobiliária que atende Eike está tentando negociações com um número de empresas que podem assumir esse projeto.