
Por Cláudia Freitas e Matt Roper*
O magnata dos negócios que já foi um dos homens mais ricos do mundo, Eike Batista, está prestes a ser arrastado para o maior escândalo de corrupção do Brasil, após ser acusado de desviar milhões de dólares em crimes contra investidores em contratos de petróleo”. Segundo uma fonte ligada a Eike, depoimentos de ex-parceiros do empresário no conhecido Império X, em fevereiro, no âmbito da operação Lava Jato, da Polícia Federal, revelam que o consórcio Integra, formado pelas empresas OSX e Mendes Junior, teve participação em esquema de propina envolvendo a Petrobras.
Além disso, os depoentes teriam dito na Procuradoria-Geral da República no Paraná que os contratos com as multinacionais Veolia, da França, e Chemtec, subsidiária da Siemens da Alemanha, estariam superfaturados. As negociações estariam ligadas à construção de dois navios-plataforma P-67 e P-70 para as atividades do pré-sal na Bacia de Campos.
Batista se tornou o homem mais rico do Brasil no momento em que as ações da sua empresa de petróleo – a OGX – atingiu preços estratosféricos, logo após ele anunciar poços que seriam explorados pelo seu grupo, prometendo um capital de 1 trilhão de dólares em petróleo. No entanto, uma queda vertiginosa veio assim que o mercado descobriu que, na verdade, os poços eram secos. O fato se reverteu em denúncias por crimes contra investidores que tramitam na terceira varal criminal do Tribunal Federal do Rio de Janeiro.
Em fevereiro deste ano, depoimentos explosivos dados por ex-parceiros de negócios de Batista, segundo conta uma fonte que pediu para não ser identificada, surgiu nas investigações da Lava Jato e acusam o ex-magnata da mineração de participar de um esquema fraudulento para embolsar centenas de milhões em dinheiro público. Em declarações aos investigadores da operação, estes ex-parceiros teriam contado que Batista criou o consórcio de empresas – a sua OSX e a Mendes Júnior – com o único propósito de receber enormes quantias da Petrobras, na construção de dois navios-plataformas, o P-67 e P-70. A maior parte do dinheiro recebido por este consórcio chamado Integra serviu para alimentar o esquema de pagamento de propina, favorecendo outras empresas.
De acordo com o economista Aurelio Valporto, vice-presidente da Associação de Investidores Minoritários do Brasil – “há evidência suficiente para colocar Eike na prisão e por muitos anos. Na verdade, se as autoridades do Rio de Janeiro não tivessem sido tão complacentes, ele já teria sido preso há muito tempo”. Valporto confirma que vem contribuindo com a operação Lava Jato há mais de um ano, fornecendo informações que teve de forma privilegiada enquanto líder do movimento dos minoritários.
O economista ainda acusa Eike de usar indevidamente os investimentos feitos pelos minoritários no Império X, usando o dinheiro para manter seu estilo de vida extravagante e a sua posição de magnata. “Eike usava os recursos dos acionistas, que deveriam ser aplicados nas atividades da empresa, para fazer filantropia, que na verdade era uma compra de popularidade com dinheiro dos acionistas”, considera Valporto.
O grupo Integra teria sido formada após acordos entre Batista e executivos da Petrobras investigados no esquema de corrupção, de acordo com as declarações dos ex-parceiros. No centro das negociações a construção dos navios-plataforma P-67 e P-70. Novos documentos, apresentados pela mesma fonte, mostram que o consórcio movimentou centenas de milhões de reais para pagar as empresas envolvidas nos acordos suspeitos. Uma planilha de pagamento entregue à equipe de reportagem mostra um total de £ 400 milhões (todos os contratos dessa folha foram efetuados até 2014, a taxa de câmbio foram 2 reais por libra) pagos pelo consórcio Integra aos empreiteiros, no período entre 2012 e 2014. Os pagamentos foram feitos a outras empresas nacionais e internacionais.

Um deles, de acordo a fonte, envolve a empresa francesa Veolia, cujos contratos estariam sendo superfaturados, segundo a fonte. A empresa de consultoria Tecna, que supostamente estaria ligada ao ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu, seria outra participante do esquema e supostamente recebia por serviços 100% não executados.
Em um dos trechos dos depoimentos dados na Lava Jato, segundo a fonte, um ex-sócio de Eike teria dito que a Mendes Junior – “foi contratada para integrar as plataformas de petróleo, nunca apertou um único parafuso”. Outra empresa internacional supostamente envolvida no esquema é a Chemtec, uma subsidiária da Siemens da Alemanha, que teria recebido um total de £ 10 milhões em contratos de serviços de engenharia. A Siemens foi acusada de fazer parte de um esquema fraudulento semelhante envolvendo a construção de sistema de metrô de São Paulo, levando a polícia congelar os seus ativos no início de 2014.
Em sua delação premiada no âmbito da Lava Jato, o ex-gerente da área Internacional da Petrobras, Eduardo Musa, confirmou no ano passado que a OSX participou do esquema de propinas na estatal. O depoimento foi dado nas investigações sobre as influências para indicação do cargo no setor internacional da companhia, que teria a palavra final do presidente afastado da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Musa citou a planilha de pagamentos e as tratativas para a contratação dos FPSOs, no estaleiro do Porto do Açu, na região norte fluminense, no ano de 2012. Na época Musa disse não saber se Eike tinha conhecimento do esquema de corrupção, fato confirmado este ano por ex-diretores da OSX, em depoimentos na Lava Jato. Segundo Musa, a Veolia seria “representada” por José Dirceu.
“O sonho do Eike era entrar neste esquema de corrupção da Petrobras e ele estava forçando uma barra para isso acontecer. Ele conseguiu isso com o consórcio Integra”, conta um ex-sócio do empresário.
O procurador da República na Lava Jato, Júlio Noronha, não confirmou, mas também não descartou a informação de que teria ouvido os depoimentos dos ex-sócios de Eike. O procurador preferiu não comentar o assunto, para não interferir no andamento das investigações.
*Cláudia Freitas e Matt Roper são jornalistas