Rindo em face do perigo: a sátira nos países muçulmanos

isis satire

O preconceito que comumente acompanha os habitantes dos países muçulmanos é de que não possuem senso de humor e são normalmente pessoas com instinto para a aplicação de regras estritas. Como convivi com colegas muçulmanos nos anos em que vivi nos EUA, já aprendi faz tempo que isso é apenas um dos muitos estereótipos com que somos alimentados diariamente. Meus colegas muçulmanos eram dotados de senso humor fino e pessoas extremamente delicadas no trato cotidiano. Além de serem amantes inveterados do futebol brasileiro, é claro.

Mas desde o ataque às Torres Gêmeas em 2001, o que mais se vê é o aprofundamento dos estereótipos e dos preconceitos, o que deverá ainda aumentar após o recente atentado contra a Charlie Hebdo. A confusão que certamente será feita envolverá a desumanização dos muçulmanos, a ponto de torná-los passíveis das maiores barbaridades como, aliás, já sofreram os judeus e os ciganos ao longo dos tempos.

A questão que me parece importante nessa situação é buscar mais conhecimento sobre como efetivamente vivem as pessoas  que abraçaram o Islamismo. Só assim, tiraremos o véu da ignorância que paira sobre nós, para que possamos, quem sabe, entender o que realmente está em jogo neste momento. 

Nesse sentido, um artigo publicado pelo jornal The Guardian traça um importante paralelo entre os riscos que os mortos da Charlie Hebdo enfrentavam na França, e aqueles a que estão submetidos os humoristas que,dentro de países muçulmanos se colocam no arriscado papel de satirizar autocratas, políticos corruptos e jihadistas (Aqui!).  Como exemplo são abordados trabalhos humorísticos realizados em países como Egito, Turquia, Síria, Irã, Líbano e Iraque.

O que a matéria mostra é que há sim uma efervescente tradição de sátira, a qual sobrevive em meio ao risco de castigos draconianos ou simplesmente o extermínio físico. Nesse caso, o que a matéria mostra é que as eventuais dificuldades enfrentadas por humoristas “neocons” brasileiros por causa de suas piadas é brincadeira de criança quando comparadas ao que passam os humoristas árabes. E então por que nunca ouvimos nada sobre isso?  Talvez porque seria totalmente anti-estereótipo saber que os árabes arriscam a própria pele por uma boa piada.

E qual o moral da postagem? Simplesmente que os que se atrevem a nos ajudam a rir dos inimigos da liberdade são perseguidos seja qual for a religião predominante e, sim, respondem com sátira sempre que são ameaçados.  Se isso não nos torna mais igualmente humanos, eu não sei o que faria.