Os perigos dos agrotóxicos para a saúde

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Por Sabrine Teixeira Grünewald para a Medscape

Um relatório [1] publicado recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revela que um em cada quatro alimentos consumidos com frequência por brasileiros apresenta resíduos de agrotóxicos proibidos ou em quantidades acima do permitido. As amostras foram coletadas em supermercados de diversos municípios nos anos de 2018, 2019 e 2022.

Agrotóxicos são produtos químicos sintéticos usados para matar insetos, larvas, fungos, carrapatos etc. sob a justificativa de controlar os danos provocados por esses vetores e de regular o crescimento da vegetação, tanto no ambiente rural como no urbano. [2]

No entanto, a exposição aos agrotóxicos pode causar uma série de doenças, dependendo do produto utilizado, do tempo de exposição e da quantidade absorvida pelo organismo.

Toda a população está suscetível a múltiplas exposições aos agrotóxicos por meio de consumo de água e alimentos contaminados, porém gestantes, crianças e adolescentes são considerados grupos de risco devido a questões metabólicas, imunológicas ou hormonais.

Efeitos agudos e crônicos

A exposição a agrotóxicos pode causar efeitos agudos, que são mais frequentes em trabalhadores envolvidos na aplicação ou manipulação desses produtos. No relatório da Anvisa, concentrações de agrotóxicos grandes o bastante para representarem risco agudo à saúde foram encontradas em 0,55% das amostras coletadas entre 2018 e 2019 e em 0,17% das coletadas em 2022.

Já os efeitos crônicos aparecem após exposições repetidas a pequenas quantidades de agrotóxicos por um período prolongado. [3] Alguns exemplos desses impactos: distúrbios do sono, alterações da memória, abortamento, impotência sexual, transtorno depressivo, problemas respiratórios graves, alteração de função hepática e renal, alteração da produção de hormônios da tireoide, dos ovários e da próstata, infertilidade, malformação e problemas no desenvolvimento em crianças.

Além disso, os agrotóxicos são prováveis agentes carcinogênicos, embota a associação entre essas substâncias e o surgimento de tumores ainda é muito debatida.Segundo o novo relatório da Anvisa, 25% do total de amostras apresentavam alguma inconformidade, ou seja, tinham resíduos de um agrotóxico não autorizado ou as quantidades encontradas estavam acima do limite permitido. Esses alimentos teriam o potencial de causar efeitos crônicos em seus consumidores.

Cerca de 40 mil casos de intoxicação aguda por agrotóxicos são registrados no Brasil a cada década, de acordo com o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox). No entanto, especialistas sugerem que os problemas para a saúde decorrentes dos agrotóxicos são subnotificados no Brasil, principalmente em áreas rurais mais afastadas, onde o contato com esses produtos é mais intenso.

Diante de tudo isso, fica o questionamento: será que nós, enquanto profissionais da saúde, estamos preparados para atender a pacientes com efeitos agudos e crônicos dos agrotóxicos? Os dados preocupantes do relatório da Anvisa sugerem que em breve essa conta vai chegar nos consultórios e hospitais.


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Este artigo foi originalmente publicado pela Medscape [Aqui!].

Com retomada do PARA, Anvisa identifica agrotóxicos em 25% dos alimentos vendidos nos supermercados

A Anvisa coletou alimentos como feijão, mandioca, pimentão, café em pó e batata em supermercados de todo o Brasil em 2018, 2019 e 2022

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Por  Karolini Bandeira, em Brasília, para ” O Globo”

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) identificou que 25% dos alimentos de origem vegetal em supermercados, como café em pó, arroz e frutas, possuem agrotóxicos não autorizados ou com resíduos acima do limite permitido. 

O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) da reguladora coletou amostras dos alimentos em supermercados de todas as regiões do país em 2018, 2019 e 2022, com pausa em 2020 e 2021 devido à pandemia. No último ano, foram analisadas 1.772 amostras de amendoim, batata, brócolis, café em pó, feijão, mandioca, laranja, maracujá, morango, pimentão, quiabo, repolho e farinha de trigo.

Das amostras, 41,1% não tinham resíduos de agrotóxicos, 33,9% tinham resíduos dentro do limite permitido e 25% continham a presença de um agrotóxico não autorizado ou com resíduos acima do limite permitido.  Já 0,17%, equivalente a 3 amostras, apresentaram risco agudo à saúde, podendo causar danos à saúde do consumidor em curto espaço de tempo.

No período de 2018 a 2019 foram analisadas 3.296 amostras em 84 municípios. Foram monitorados 14 alimentos de origem vegetal: abobrinha, aveia, banana, cebola, couve, laranja, maçã, mamão, milho, pepino, pera, soja, trigo e uvas.

Na época, o programa identificou 33,2% das amostras sem resíduos; 41,2% com resíduos dentro do limite permitido; 25,6% com agrotóxico não autorizado ou acima do limite permitido; e 0,55%, equivalente a 18 amostras, apresentando risco agudo à saúde.

Segundo a Anvisa, as situações de risco agudo encontradas foram pontuais e de origem conhecida. “Para esses casos, a Anvisa vem adotando providências e recomendações com vistas à redução dos riscos identificados.”, afirmou, em nota.

O programa de monitoramento foi criado em 2001 para verificar a quantidade de elementos químicos em produtos presentes no dia a dia do brasileiro e orientar a fiscalização dos alimentos nos supermercados.


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Este texto foi originalmente publicado pelo jornal “O GLOBO” [  ].