A montanha pariu um rato: como a extrema-direita tentou iludir os eleitores de Campos dos Goytacazes

montanha

Por Douglas Barreto da Mata

A montanha

Um dos mais caros ensinamentos praticados pela extrema-direita é a distorção da realidade. O espancamento dos fatos até que estes se apresentem como uma versão favorável.  Nos últimos dias, como é de costume em campanhas eleitorais, o exército nazicampista (termo da lavra do meu amigo Gustavo Landim Soffiati), representado na candidatura da delegada, tentou, sem conseguir, apresentar um viés favorável dos números obtidos em uma pesquisa realizada pelo Jornal O Dia/Instituto Paraná Pesquisas.

Como comprovamos em várias publicações na plataforma Instagram (@douglasbarretodamata), o pessoal da KKK da planície usou um expediente maroto.  Em resumo, o instituto realizou as entrevistas por telefone, o que em si já traz um prejuízo das amostras e dos dados.

Neste caminho, a pesquisa revelou um dado inédito, 53% de indecisos, que deu à delegada um surpreendente índice de intenções de voto, no quesito votos válidos, que são, justamente, aqueles que descontam os indecisos, brancos e nulos.  Logo percebemos o “truque”, que é a ordem dos questionários, associada com a má vontade do eleitor entrevistado em atender telefonema, ainda mais na era digital, das mensagens por aplicativos.

Pois bem, se oferecida por último a pergunta no quesito espontâneo (o eleitor fala em quem votará, sem nenhuma indicação ou informação prévia do entrevistador), é certo que muitos dos entrevistados irão falar que “não sabem”, no desejo de encerrar logo a conversa telefônica.  Isso aumenta os indecisos, e claro, altera os números apurados.

Bem, dias depois, outro instituto, desta vez o Big Data, contratado pela Rede Record, fez outra sondagem, e surpresa (?):  o número de indecisos caiu para 30%.  Não digo aqui que o Jornal O Dia quisesse agradar o grupo político que patrocina a candidatura de oposição, já que esse grupo está instalado no Governo do Estado do RJ, um cliente poderoso.

Nada disso.  Acredito na seriedade do veículo e do seu contratado.  No entanto, não podemos desprezar que a discrepância entre os indecisos nos dois casos é relevante, a ponto de nos autorizar a conclusão de que métodos diferentes foram empregados, um mais preciso, neste caso o Big Data, e outro menos preciso, como o Instituto Paraná.

Outra coisa interessante, é que mesmo com essa ligeira diferença, que atendeu a uma demanda dos nazicampistas, os resultados de aprovação do prefeito, seus índices de intenções (63%), e enfim, rejeição (16%), não se alteraram tanto.

Insisto:  Se houvesse uma variação significativa de todos os demais resultados, poderíamos dizer que tal diferença seria fruto de metodologias diferentes, e claro, cada um escolhe a sua.  O que se viu não foi isso, e só em uma variável (a de indecisos) houve distorção.

Novamente, afirmamos que a discrepância de número de indecisos está na base do “aumento” de intenções de voto da delegada.

O rato

Vamos falar, agora, do quadro eleitoral atual, tendo como referência a pesquisa mais próxima da realidade, a do Instituto Big Data/Rede Record.

O prefeito Wladimir Garotinho parece sedimentado em um patamar bem elevado, que converge e reflete a aprovação da sua gestão (governo), e a diferença entre intenções dos votos válidos e aprovação de gestão ainda permitem um pouco de crescimento, a ser verificado nestes últimos 30  dias de campanha, ou não.

A TV tende a atingir uma faixa de eleitorado que usa pouco internet, mais pobre e mais do interior, menos escolarizada.  Justamente o eleitorado cativo da família Garotinho.  A rejeição do prefeito bate, quase que exatamente, com a soma dos eleitores que dizem preferir os candidatos adversários.

Guarde essa informação, vai ser útil ali adiante.

É uma rejeição que pode ser traduzida no sentimento anti garotista mais renhido, que não se move, e se dispõe a votar em qualquer um que se apresente como antagonista da família Garotinho.

Assim, é certo dizer que haveria um certo espaço para o PT dobrar, ou até mesmo passar dos dois dígitos, desbancando os nazicampistas do segundo lugar, se não insistisse em evitar este confronto com a extrema-direita, preferindo o ataque ao prefeito.

Para ser honesto, a recente polêmica do prefeito com o candidato petista sobre o IDEB conferiu ao petista um pouco de holofote, e lhe permitiu avançar, um pouco, sobre o eleitorado indeciso.  Sabemos que as intenções de Wladimir ficaram intactas, sendo óbvio que Jefferson Azevedo cresceu sobre os indecisos, já que não ganhou eleitores da delegada.

Esse expediente tem um limite, que não parece claro ao petista e sua coordenação, que animada por esse ligeiro, mas importante crescimento, imagina que manter as baterias sobre o prefeito trará mais eleitores.  O limite é a rejeição do prefeito, e alcançado esse teto, que, como já falamos acima, que já está bem próximo.  Este patamar consiste na soma das intenções dos adversários do prefeito face à rejeição. Além dele, o petista não avançará mais, nem ele, nem os demais.

Ao contrário, tendem a perder votos, já que atacar um prefeito e uma gestão bem avaliados é antipático, e mais ainda, interdita a nominata de vereadores, que passa a perder votos de eleitores híbridos (que votam em vereadores da oposição e no prefeito), o que esvazia mais a campanha do candidato majoritário.

A rejeição, na verdade, é a segunda colocada nas intenções de voto.

Nenhum dos adversários do prefeito conseguiu ter mais intenções que as suas rejeições, e é essa a barreira que os impede de avançar dentro dos votos do prefeito, como imaginam os coordenadores do PT.  Observar a série histórica das rejeições mostra que, exceto Wladimir, que, inclusive já é muito conhecido, todos os demais angariaram muito mais rejeições que intenções de votos, com o passar do tempo, na medida que se tornaram mais conhecidos.

Podemos dizer, no caso da delegada em destaque, e dos demais com menos variações, que quanto mais conhecidos se tornaram, mais rejeitados ficaram.

Deste modo, repito, cabe ao PT tentar canibalizar os votos da extrema-direita, por mais paradoxal que pareça, é uma possibilidade dentro da lógica dos anti garotistas, e ao mesmo tempo demarcar um campo/território, mostrando aos indecisos quem é o verdadeiro adversário do prefeito.  Se mantiver o ataque ao prefeito, o PT vai solidificar a polarização dele (prefeito) com os nazicampistas.

Qualquer dos dois cenários é bom para o prefeito, que do alto da sua enorme aprovação, e de suas intenções, pode escolher quem bater, ou melhor, quem ignorar.

Permitir isso é um revés trágico, ainda que o PT eleja um vereador, olhando a perspectiva de médio e longo prazos do partido na região.  É repetir erros passados, esperando resultados diferentes, como já cansamos de falar.