Em Campos, o estranho caso de uma prefeitura em guerra contra árvores

No último domingo saudei a recriação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente pelo prefeito Wladimir Garotinho. Achei, talvez em uma tola ilusão, que finalmente chegaríamos a um modelo de governabilidade minimamente ajustado às necessidades crescentes de adaptação ao processo de mudanças climáticas que assola o planeta neste momento.

Eis que hoje me chegaram imagens de podas drásticas realizadas em árvores existentes na sede da PMCG e, pasmemos todos, nos próprios da recriada Secretaria Municipal de Meio Ambiente ( ver imagens abaixo).

Àrvores completamente mutiladas no entorno da sede da Secretaria Municipal do Meio Ambiente

Árvores mutiladas por podas drásticas na sede da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes

A explicação dada a quem ousou perguntar o porquê de podas tão drásticas que claramente comprometem a saúde das árvores mutiladas. A resposta seria o combate à famigerada “Erva de Passarinho” (que são plantas arbustivas hemiparasitas das famílias Loranthaceae Santalaceae, pertencentes à Ordem das Santalales). Essas plantas são Nativa em todos os continentes do mundo, e parasitam diversas espécies de árvores de grande porte.

Pois bem, vejam abaixo uma das árvores que sofreram poda drástica na sede da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, e me digam se para fazer tamanha mutilação, já que as ervas de passarinho estavam localizadas em galhos inferiores e a poda foi para lá de drástica. Me parece claramente que não.

Árvore mostrada acima na Secretaria Municipal de Meio Ambiente antes de sofrer a poda drástica

A questão aqui é que existem soluções menos drásticas para a remoção das infestações de “Erva de Passarinho” que incluem a simples remoção manual ou apenas a retirada do galho infestado. A solução de podar toda a árvore não apenas é drástica, como vai muito além do que seria necessário, comprometendo a vida útil desses instrumentos fundamentais para a regulação climática urbana. Pelo jeito o que vale é o bordão “pode vir quente que estou fervendo”.

O pior é que se o governo municipal que deveria dar o exemplo no esforço de proteger o nosso limitado estoque de vegetação, o que dirá da população em geral?  Ao realizar essas podas drásticas, o que o governo municipal está dando é uma espécie de licença para podar drasticamente e do jeito que for. Eu digo isso porque se olhar atentamente as árvores podadas sequer a aplicação da calda bordalesa foi realizada, deixando as árvores em condições propiciais para a infestação por fungos e bactérias.  Tudo isso em nome de uma guerra às árvores em uma cidade em que chove pouco e as temperaturas médias são de um tropical “caliente”.

Finalmente, uma pergunta inocente: para onde é levada toda a madeira obtida com essas podas drásticas? É que eu lembro de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pelo prefeito Arnaldo Vianna junto ao Ministério Público Estadual para não apenas diminuir a prática das podas drásticas, mas também para impedir a comercialização da madeira obtida com elas. Aliás, depois de mais de 20 anos desde que aquele TAC foi assinado, eu me pergunto sobre quem acompanha o seu cumprimento.  Pelo jeito, ninguém.

A Enel e seu milhão de podas no estado do Rio de Janeiro: bom para quem?

A caixa postal deste blog recebe diariamente materiais preparados por empresas e agências de publicidade. Como parte disso, recebo frequentemente materiais preparados pela agência que cuida da imagem da concessionária de energia elétrica, a Enel.

A nota em questão aborda a realização de podas de árvores em cidades do estado do Rio de Janeiro entre 2023 e 2024. Segundo a nota que me foi enviada, neste período a Enel Distribuição Rio teria realizado cerca de um milhão podas preventivas de galhos e árvores em todas as 66 cidades da sua área de concessão. A ação, que faz parte do Plano de Ampliação e Confiabilidade do Fornecimento de Energia e Segurança da Rede Elétrica da empresa tem como objetivo declarado reduzir o impacto da vegetação na rede elétrica e reforçar a resiliência do sistema “diante dos crescentes desafios climáticos“.

Segundo dados da nota, só em 2024  teriam sido executadas 561.128 podas, número 41% maior do que o efetuado em 2023. Até o fim de 2025, a estimativa é de que a Enel Rio realizará 628 mil podas, um crescimento de 12% em relação a 2024.

PODA DRÁSTICA É CONSIDERADA INFRAÇÃO AMBIENTAL - AMAU - Associação de  Municípios do Alto Uruguai

Podas drásticas inviabilizam árvores e os serviços ambientais que elas oferecem

O que me preocupa é saber que na cidade de Campos dos Goytacazes, a Enel Rio efetuou 35.560 podas, um incremento de 172% em comparação com 2023! E por que a preocupação?  É que ontem mesmo pude assistir a uma série de podas realizadas na Rua Saldanha Marinho e elas tinham toda a característica do que se pode chamar de “drástica” que é aquela que chega ao ponto de inviabilizar a árvore tamanha é alteração de suas características físicas no pós-poda.

Além disso, é interessante notar que toda essa quantidade de podas está sendo realizada sem que haja o devido acompanhamento por parte de um órgão municipal. Quando observo que as podas estão sendo feitas em alguma rua de nossa cidade, o que se vê é apenas a presença de um caminhão da própria Enel que se encarrega de poda e da remoção do material retirado das árvores. Com isso, quem monitora se o tipo e a intensidade da poda feita é realmente necessária e adequada?

Por outro lado, quando a Enel fala dos crescentes desafios climáticos, o que fica evidente nas podas feitas é que o desafio da proteção climática dos cidadãos não é considerado. Se fosse assim, a primeira coisa que não se faria seria realizar podas no período mais quente do ano, quando qualquer sombra ajudaria a minimizar os efeitos drásticos da perda da proteção dada pelas poucas árvores que existem nas ruas campistas.

Por isso, há que se cobrar das prefeituras fluminenses que parem de deixar algo tão essencial na mão de uma empresa que claramente encara as árvores como um elemento de risco para os seus interesses privados. É que se a Enel continuar podando no ritmo que está, e sem nenhuma supervisão, não sobrará nenhuma árvore para nos proteger dos recordes de temperatura que estão e continuarão ocorrendo por causa das mudanças climáticas.

Ampla comanda, leve e faceira, o massacre da floresta urbana em Campos dos Goytacazes

Não bastasse o verão escaldante e sem chuvas para tornar a vida do campista num verdadeiro caldeirão, a concessionária Ampla continua massacrando a já depauperada floresta urbana que existe na cidade de Campos dos Goytacazes. Basta ter uma câmera na mão que fica fácil documentar a realização de podas drásticas como a mostrada na fotografia tirada esta manhã na Avenida 28 de Março!

ampla

Apesar de acompanhar o problema das podas drásticas em logradouros públicos na cidade de Campos desde meados de 1998, ainda fico impressionado com o fato desta prática lesiva aos nossos interesses coletivas continuar de forma descontrolada e, porque não, impune.

Cadê a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e o Ministério Público Estadual para exigir que a Ampla adote práticas ambientalmente responsáveis na hora de fazer podas que só são necessárias porque a empresa continua distribuindo energia elétrica de forma ultrapassada e sem respeitar o meio ambiente local?