Depois das revistas e conferências predatórias, os prêmios científicos predatórios

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Venho há alguns anos noticiando neste blog o impacto das chamadas revistas predatórias (veículos disseminadores do que eu considero lixo científico) que resultaram na famosa “Lista de Beall“, trabalho do hoje aposentado bibliotecário da Universidade do Colorado, Jeffrey Beall.  O impacto deste tipo de veículo é tão grande que no Brasil acaba de ser lançado um artigo escrito por pesquisadores ligados ao Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia que apresenta o primeiro mapeamento de revistas predatórias brasileiras.

Eis que hoje aportou em minha caixa de correspondência eletrônica uma nova forma de fraude acadêmica que é a dos primeiros científicos predatórios (ver imagem abaixo).

premio predatório

Um primeiro sinal de que esse convite era parte de um esquema foi o fato de quem me comunicava a “outorga temporária” de um prêmio científico não se dignou a assinar a correspondência. Além disso, também me chamou a atenção que o artigo motivo do “prêmio” foi publicado em 2012, o que seria, caso o “prêmio” fosse legítimo, um belo exemplo de reconhecimento tardio de uma obra científica.

No entanto, ao acessar o site que concede a “honraria” pude logo ver que ser reconhecido me custaria a bagatela de 199,00 dólares americanos, fruto de um generoso desconto já que o preço cheio seria de 399 dólares americanos (ver imagem abaixo).

prêmio predatório 1

Após constatada o esquema fraudulento, me pus a verificar na internet se já existe alguma referência a este esquema de premiações predatórias, e confirmei que sim.  Em um texto publicado no blog EV Science Consultant, encontrei o texto “Predatory award organization – yet another scam” (“Organização de premiação predatória – mais uma fraude”) da autoria da professora associada da Leiden University, Esther van de Vosse, que lista uma série de organizações que emitem prêmios científicos fraudulentos. Ao verificar a lista criada pela professora van de Vosse,  encontrei o nome da “ScienceFather”, justamente a organização que me enviou a notificação de que eu havia sido “premiado”.

Com a sensação de que poderia haver mais informação disponível sobre a ScienceFather e seus métodos fraudulentos, fiz uma rápida procura no Youtube e rapidamente encontrei um vídeo em inglês que descreve com relativo detalhamento as características fraudulentas (ver abaixo).

Além do vídeo, encontrei uma “carta ao editor” do “Journal of Optometry” que é publicado pelo Spanish General Council of Optometry onde a autora, a doutora Jameel Rizwana Hussaindeen, alerta sobre o aparecimento de mais essa forma de fraude na forma de prêmios falsos a cientistas.

Um dos problemas em cair nesse tipo de esquema fraudulento se refere ao fato de que muitos dos incautos acabam utilizando não apenas recursos pessoais, mas também parte das verbas que são obtidas de agências do estado. Além disso, como não se sabe exatamente quem são os cabeças desses esquemas de captação de recursos via fraudes científicas, o dinheiro que é entregue em troca desses troféus sem valor pode estar alimentando outras formas de enriquecimento ilegal.

Por último, há que se ficar cada vez mais atento para que os convites desse natureza não sejam premiados com a entrega dos numerários que eles demandam.