
Não vou me ater a uma análise global das eleições municipais que acabam de selar a reeleição de Wladimir Garotinho e da formação, em tese, de uma sólida bancada governista na Câmara Municipal de Campos dos Goytacazes. O meu propósito aqui é enfatizar algo que as análises rasteiras que ando lendo sobre os resultados eleitorais estão tratando de esconder.
Falo da impressionante votação obtida pela Professora Natália Soares (PSOL) que obteve impressionantes 3.583 votos com uma campanha propositiva, bem humorada, barata, e que foi capaz de angariar votos por diferentes partes do município. Uma votação histórica, mas que não logrou obter o objetivo de colocar a Natália em uma das cadeiras da próxima legislatura.
Apesar do aparente fracasso, uma coisa é certa: se a esquerda campista precisava de uma liderança para avançar suas pautas, ela agora já existe e está sedimentada eleitoralmente.
Mas como superar o bloqueio histórico que impede a esquerda campista de vencer, não apenas no número de votos, mas também consolidação de um campo político que faça avançar as demandas em prol dos segmentos mais pobres da população?
Eu diria que existem vários passos básicos, mas o principal é de que se reconheça que Natália Soares sintetiza as expectativas e esperanças por mudança, começando pelo próprio PSOL cujo diretório municipal parece ainda não entender a força eleitoral que possui em seus quadros. O segundo é que os partidos que se dizem de esquerda na cidade deixem de ser partidos eleitorais que só se mexem a cada dois anos, enquanto as diferentes matizes da direita fazem um trabalho diuturno para manter o status quo vigente totalmente intacto e impermeável a qualquer compromisso com a democratização do orçamento municipal.
Além disso, eu diria que é preciso que a própria Natália rejeite os caminhos tortuosos que figuras como Marcelo Freixo e Guilherme Boulos, cada um em seu estilo, adotaram para se tornarem elegíveis e palatáveis para as classes dominantes. Mas se ela mantiver a firmeza de compromisso e avançar na sua compreensão sobre sua própria estatura política, é possível que estejamos vendo o nascimento de uma liderança com raízes efetivamente populares e sem qualquer cabresto em relação às dinastias familiares que controlam a vida política em Campos dos Goytacazes desde sempre.
Como a Natália é uma pessoa leve e descontraída, eu aproveito para repetir a ele uma frase saída do livro “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry: Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé ou em bom português ”tú te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. E o que ela cativou não é pouco: esperança por dias melhores.


