Cientistas mapeiam ponto em que ecossistemas serão afetados de forma irreversível por mudanças climáticas

geloFOTO: MELISSA BRADLEY / UNSPLASH

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Ecossistemas importantes à vida na Terra, como as camadas de gelo, recifes de corais ou a floresta amazônica podem atingir pontos de ruptura nas próximas décadas, com alterações irreversíveis e catastróficas caso as mudanças climáticas não sejam atenuadas nos próximos anos. É o que observam doze pesquisadores do Brasil, Canadá, China, Estados Unidos e Reino Unido que mapearam as evidências científicas atuais acerca de pontos de não retorno para dez elementos, descrevendo mecanismos, riscos humanos e ecossistêmicos. Ao atingir o ponto de ruptura, tais elementos passam por mudanças drásticas em relação ao seu estado original, que podem iniciar um efeito cascata sobre outros sistemas terrestres, como aponta o estudo publicado na revista internacional “Reviews of Geophysics”.

O artigo de revisão considerou dez elementos com risco de ruptura, incluindo mudanças em correntes oceânicas, liberação de metano do assoalho marinho, perda de grandes camadas de gelo, liberação de carbono de camadas congeladas do solo, mudanças na floresta boreal, alterações em ventos de monções, dispersão de nuvens estrato cumulus, perda do gelo do Ártico no verão, transformações na floresta amazônica e o branqueamento de corais de águas rasas. Tais aspectos permitem prever riscos atuais e futuros, direcionando as ações da sociedade para o combate às alterações climáticas.

“Sobre a perda do recife de coral das águas rasas tropicais, por exemplo, temos nível de entendimento científico muito alto, com uma condição muito boa de prevê-los. Este limiar mostra que se a temperatura aumentar mais que 1.5ºC, os impactos serão dramáticos e severos em uma escala de décadas”, exemplifica Liana Anderson, coautora e pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).

A Amazônia também enfrentará mudanças severas em décadas caso não haja mitigação das mudanças climáticas. Ameaçada pelo estresse climático e pela ação humana, secas extremas, desmatamento, corte seletivo e queimadas levariam à falta da umidade necessária para sua manutenção, em um ciclo de menos chuvas e maior mortalidade de espécies. “A floresta teria esse ponto de não retorno, em que fica pequena o suficiente para não conseguir sustentar sua umidade e vai se transformando em outro tipo de floresta, tendo uma degradação climática, porque não consegue se manter, e não haveria uma forma de voltar ao estado original, ao menos na escala de séculos”, afirma Liana.

Por sua vez, a degradação da floresta amazônica influencia os padrões climáticos ao redor do mundo, mas Liana Anderson acrescenta que ainda há um baixo conhecimento científico sobre o efeito cascata provocado pelas conexões entre estes processos. Porém, sabe-se que seus impactos podem ser duradouros, perdurando por séculos ou milênios, e que ainda é possível minimizar o risco da ruptura, como através de atitudes e políticas públicas para reduzir tanto a pressão por degradação que impactam localmente e na escala regional a floresta quanto as emissões de combustíveis fósseis, que atuam em extremos climáticos e colocam ainda mais pressão nesse ecossistema.

“Essas mudanças podem passar de um determinado limiar em que não vão voltar, e isso vai impactar de modos sem precedentes talvez a nossa geração, mas seguramente  a de nossos filhos e netos. Então é uma responsabilidade muito grande que a gente precisa incorporar como sociedade e como prática diária, de repensar nossas ações, nossas decisões, e isso inclui em quem vamos votar, porque são os representantes políticos em última instância que realmente movimentam e direcionam em grande escala as decisões nacionais”, conclui a especialista.


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Este foi originalmente publicado pela Agência Bori  [Aqui!].

Pesquisadores da Uenf no time que acaba de revelar existência de recifes no delta do Amazonas

A força do corpo científico que existe na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) acaba de ser demonstrado mais uma vez e, desta vez , com direito a espaços generosos na mídia corporativa mundial dada a importância do que foi descoberto. 

Liderados pelo Prof. Carlos Eduardo Rezende vários membros do Laboratório de Ciências Ambientais são co-autores de um artigo que acaba de ser publicado na Science Advances, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, e que mostra a existência até então desconhecida de um sistema de recifes de corais no delta do Rio Amazonas.

Essa é uma descoberta que pode alterar muito do que se estimava ser o estabelecimento e manutenção de comunidades coralíferas, visto que este sistema se encontra estabelecido em águas turvas, enquanto os sistemas conhecidos até então estão em águas cristalinas.

E o interessante é que os resultados desta pesquisa vem a público num momento em que a Uenf corre o risco de fechar as portas pela falta de pagamento de contas de água,  eletricidade, telefones, e tudo o mais que se possa necessitar para que possa funcionar. 

Abaixo o link para este importante artigo que muito honra a ciência brasileira e, em especial, a Uenf e seus pesquisadores que participaram da pesquisa.

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