Descasque as maçãs: novo estudo confirma que lavar não remove resíduos de agrotóxicos

maças

Por Carey Gillam para o “The New Lede”

Um novo relatório científico reforça as preocupações dos consumidores sobre resíduos de agrotóxicos em alimentos, apresentando novas evidências de que lavar as frutas antes de comê-las não remove vários produtos químicos tóxicos comumente usados ​​na agricultura.

 O artigo, escrito por pesquisadores chineses e publicado na quarta-feira no periódico  NanoLetters da Sociedade Química Americana , surge em meio a um debate em andamento sobre a extensão da contaminação de alimentos por agrotóxicos e os potenciais riscos à saúde associados a uma dieta constante que inclui resíduos de produtos químicos herbicidas, inseticidas e outros produtos químicos agrícolas.

Em maio, a Consumer Reports disse ter determinado que 20% de 59 categorias diferentes de frutas e vegetais continham resíduos de agrotóxicos em níveis que representavam “riscos significativos” aos consumidores, com base em uma análise de dados coletados pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

O ponto central do novo artigo é principalmente compartilhar os detalhes técnicos de um processo que os autores desenvolveram permitindo a detecção aprimorada de traços de agrotóxicos em alimentos. Mas a descoberta subjacente sobre a ineficácia da lavagem de frutas é importante para os consumidores que podem estar contando com práticas de segurança alimentar que são insuficientes, disseram os autores.

As tradicionais “operações de limpeza de frutas não conseguem remover totalmente os agrotóxicos”, afirma o documento.  

Ao usar a técnica para examinar uma maçã, por exemplo, os pesquisadores disseram que os “resultados de imagem provam que os agrotóxicos penetram na camada da casca até a camada da polpa”.

Usando a tecnologia que desenvolveram, os autores disseram que descobriram que a contaminação por agrotóxicos diminuiu quando a casca da maçã foi removida junto com parte da camada de polpa.

“Este estudo, situado dentro do reino expansivo da segurança alimentar, se esforça para fornecer orientação de saúde aos consumidores”, disse Dongdong Ye, professor da Escola de Materiais e Química da Universidade Agrícola de Anhui e autor do artigo. “Em vez de fomentar apreensão indevida, a pesquisa postula que descascar pode efetivamente eliminar quase todos os resíduos de agrotóxicos, contrastando com a prática frequentemente recomendada de lavagem.”

O cientista sênior da Consumer Reports, Michael Hansen, disse que a nova técnica pode ser útil para acadêmicos e cientistas do governo entenderem melhor a persistência de agrotóxicos em alimentos e como proteger melhor os consumidores.

“Isso é realmente útil para entender como esses agrotóxicos se movem”, disse Hansen. “Isso é mais ciência mostrando que, sim, há preocupações. Não pense que lavar vai ajudar você.”

Os riscos à saúde impostos por agrotóxicos  foram documentados em vários estudos, mas a maioria deles lida com exposição ocupacional, em vez de dietética. O USDA, assim como a Food and Drug Administration (FDA), sustentam que resíduos de agrotóxicos em alimentos não são geralmente uma preocupação para a saúde se eles estiverem dentro dos limites legais.

Ambas as agências monitoram os níveis de resíduos de agrotóxicos em alimentos há décadas, relatando suas descobertas anualmente.

No relatório mais recente do programa de dados de agrotóxicos do USDA , a agência disse que 99% dos alimentos testados tinham resíduos que estavam dentro dos limites legais e, portanto, não “representavam risco à saúde dos consumidores e eram seguros”.

Ainda assim, mais de 72% das mais de 10.000 amostras de alimentos continham resíduos de pesticidas detectáveis, informou o USDA.

(Foto de  Juan Ellul  no  Unsplash.)

(Uma versão desta história foi co-publicada pelo The Guardian .)


Fonte: The New Lede

Pesquisa identifica resíduos de agrotóxicos em papinhas infantis

papinhasAnálise feita na Espanha usou metodologia desenvolvida por pesquisadores da Unicamp para rastrear grande variedade de compostos de uma só vez (foto: Freepik)

Monica Tarantino | Agência FAPESP – Estudo conduzido por cientistas do Brasil e da Espanha rastreou a presença de 21 agrotóxicos (incluindo fungicidas, inseticidas e herbicidas) e quatro toxinas produzidas por fungos do gênero Aspergillus (aflatoxinas) em 50 amostras de alimentos industrializados para bebês comercializados em supermercados no estado de São Paulo.

A boa notícia é que não foram encontradas nas amostras selecionadas as temidas aflatoxinas, que são tóxicas ao organismo humano e de animais e podem surgir em cereais, grãos e outros cultivos. A aflatoxina B1, por exemplo, é comprovadamente carcinogênica.

A pesquisa foi conduzida pela engenheira de alimentos Rafaela Prata, com apoio da FAPESP, e divulgada na revista Food Control,.

Quanto aos agrotóxicos, o estudo revelou inicialmente a presença de sete dos 21 compostos rastreados. “Encontramos resíduos de agrotóxicos em 68% das amostras analisadas de alimentos infantis. No recorte por composição e sabor, 47% das papinhas com frutas apresentaram pelo menos um resíduo de agrotóxico, índice que foi de 85% para as comidas de bebês à base de carne e vegetais”, descreve a pesquisadora.

As concentrações dos agrotóxicos identificados ficaram abaixo dos limites máximos de resíduos estabelecidos pela legislação europeia desde 2006, que foi usada como padrão no estudo. De modo geral, na União Europeia, o limite é de 10 microgramas por quilo de alimento para diferentes agrotóxicos. Limites ainda mais baixos foram determinados para agrotóxicos específicos, como fipronil (4 microgramas por quilo). “Não existe, no Brasil, uma legislação própria para limitar a concentração de resíduos de agrotóxicos em alimentos infantis”, diz Prata. “O que existe são monografias sobre agrotóxicos no site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa], que consultamos para ver em quais cultivos o uso de determinado produto é autorizado, bem como os limites máximos em alimentos, mas nada sobre as papinhas”, diz Prata.

Para a pesquisadora, falta uma regulamentação específica para esses produtos. “Os bebês são um grupo populacional sensível e vulnerável porque ingerem mais alimentos por quilograma de peso corporal do que os adultos e seus sistemas de desintoxicação e vias metabólicas não estão totalmente desenvolvidos. É importante conhecer a composição dos alimentos oferecidos a eles”, justifica a pesquisadora.

“Ainda que estejam dentro dos limites preconizados pela legislação europeia, o ideal é que essas substâncias não sejam encontradas em alimentos infantis”, afirma o pesquisador espanhol Roberto Romero-González. Referência internacional no estudo de contaminantes e supervisor deste projeto de pesquisa no exterior, González é um dos líderes do Laboratório de Química Analítica e Contaminantes do Research Centre for Mediterranean Intensive Agrosystems and Agri-Food Biotechnology (Ciaimbital), na Universidade de Almeria, na Espanha, onde foi realizada parte das análises das papinhas brasileiras, com financiamento da FAPESP.

Faltam estudos

A presença de agrotóxicos e de toxinas produzidas por fungos em alimentos infantis ainda é pouco estudada no Brasil, embora avance em países europeus. “Somos um dos maiores consumidores dessas substâncias do mundo. Precisamos investir nesse tipo de pesquisa”, defende Prata. “Até onde sabemos, foi a primeira análise feita com uma metodologia desenvolvida para identificar pesticidas de classes diferentes e micotoxinas em alimentos infantis à base de carnes e vegetais.”

Parte da investigação foi conduzida no Laboratório de Análises de Alimentos I da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), sob a coordenação da professora Helena Godoy, que estuda contaminantes em alimentos infantis e validação de métodos com apoio da FAPESP. Anteriormente, o país dispunha apenas de dados sobre a contaminação por agrotóxicos em papinhas feitas com frutas.

Logo depois dessa análise, o grupo submeteu as mesmas amostras a uma nova triagem para rastrear a presença de 2.424 contaminantes não abordados a princípio, entre eles outros agrotóxicos, hormônios, medicamentos veterinários e seus metabólitos (substâncias derivadas da metabolização desses compostos químicos pelo organismo humano).

“Encontramos mais dez agrotóxicos e um metabólito, demonstrando que o método que desenvolvemos é sensível e eficaz”, diz Prata. Ela se refere ao processo de inovação, com uso de novos materiais, para adaptar metodologias usadas para identificar um único composto à detecção simultânea de um conjunto de resíduos de agrotóxicos e micotoxinas. “Nós conseguimos desenvolver um método analítico multirresíduos confiável e validá-lo totalmente. Pode ser uma ferramenta útil para programas de vigilância de alimentos”, afirma.

Segundo a pesquisadora, o metabólito sulfóxido de aldicarbe foi encontrado em três sabores de papinhas: caldo de feijão, arroz e carne; legumes e carne; e abóbora, feijão preto e peito de frango. O teste não mediu a quantidade de resíduos.

O aldicarbe é um agrotóxico proibido no Brasil desde 2012. Por sua alta toxicidade, era usado ilegalmente como raticida (o popular “chumbinho”). Segundo o toxicologista Daniel Junqueira Dorta, professor de química forense na USP de Ribeirão Preto, trata-se de pesticida que se degrada rapidamente no solo, em cerca de duas ou três semanas. A presença de resíduos no alimento sugere, portanto, o uso irregular nas lavouras. Da mesma forma, o composto se degrada rapidamente no organismo e é eliminado.

“O efeito pior do aldicarbe é agudo, por concentração mais alta”, diz o toxicologista. “De todo modo, não deveria haver resíduo desse tipo de jeito nenhum”, diz o toxicologista. Para a professora Helenice de Souza Spinosa, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, que analisou a toxicidade do composto em cães e gatos, o achado é relevante e precisa ser mais bem investigado e detalhado. Ela lembra ainda que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), além das próprias empresas, faz o monitoramento da presença de contaminantes nos alimentos por amostragem regularmente.

“Se você pensar que a criança vai se alimentar com pequena quantidade e nesse estudo nem está quantificado, ou seja, podem ser apenas traços, isso não vai causar intoxicação aguda. Mas o achado é importante: embora proibido, pode ser que estejam usando e não sabemos”, diz Spinosa.

Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) sugeriu, por meio de sua assessoria de imprensa, que a Agência FAPESP entrasse em contato com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins e Congêneres (Abiad). Em nota, a Abiad afirmou que as empresas a ela associadas seguem todas as normas e legislações nacionais vigentes e que têm restritas políticas para garantir a qualidade dos produtos aos consumidores.

“Os alimentos passam por diversos e rígidos processos de controle de vigilância sanitária, sendo aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e só então liberados para o consumo do público. A Abiad também reforça que nenhuma das empresas associadas foi informada por órgãos que regulamentam a qualidade dos produtos no Brasil sobre substâncias irregulares encontradas em alimentos infantis.”

O artigo Targeted and non-targeted analysis of pesticides and aflatoxins in baby foods by liquid chromatography coupled to quadrupole Orbitrap mass spectrometry pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0956713522002651?via%3Dihub.


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Este texto foi publicado originalmente pela Agência Fapesp [Aqui!].

Antas contaminadas alertam para uso de agrotóxicos proibidos no Brasil

Por Fábio Gallacci, Terra da Gente

Sentinelas: saúde comprometida das antas evidencia contaminação — Foto: Divulgação IPÊ

Sentinelas: saúde comprometida das antas evidencia contaminação — Foto: Divulgação IPÊ

O Brasil tem usado em suas áreas agrícolas agentes químicos e agrotóxicos que foram banidos em outros países há três décadas. São materiais que oferecem riscos à saúde humana e também aos animais que circulam por essas regiões.

A comprovação veio de uma pesquisa inédita realizada pela Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), grupo ligado ao Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). De acordo com um levantamento feito entre 2015 e 2017, no Mato Grosso do Sul, as antas do Cerrado, bioma que fica no epicentro do desenvolvimento agrícola do país, estão com a saúde altamente comprometida pela exposição a esses produtos.

A espécie pode ser considerada uma “sentinela”, que utiliza áreas de monocultura como passagem e tem contato com esses materiais com frequência. Isso mostra que o cenário de contaminação também afeta, consequentemente, as pessoas ao redor.

Os inseticidas foram os produtos mais constatados no organismo das antas  — Foto: Divulgação IPÊ

Os inseticidas foram os produtos mais constatados no organismo das antas — Foto: Divulgação IPÊ

No período do estudo, pesquisadores coletaram centenas de amostras biológicas de 116 antas capturadas em armadilhas – em uma ação que serviu para a colocação de colares de telemetria por satélite para monitoramento – ou de carcaças de antas mortas por atropelamento em rodovias de sete municípios do MS. As amostras foram avaliadas no Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox), da Unesp de Botucatu (SP), que é referência nacional para esse tipo de estudo.

O resultado foi que mais de 40% das amostras avaliadas estavam contaminadas com resíduos de produtos tóxicos, incluindo inseticidas organofosforados, piretróides, carbamatos e quatro diferentes tipos de metais pesados.

13 agentes químicos foram encontrados em 116 indivíduos  — Foto: Divulgação IPÊ

13 agentes químicos foram encontrados em 116 indivíduos — Foto: Divulgação IPÊ

“Encontramos um carbamato chamado Aldicarb, que é de uso proibido aqui no Brasil. Ele foi encontrado em conteúdo estomacal de algumas das antas analisadas. Isso comprova uma irregularidade na fiscalização e chama a atenção para a necessidade de medidas mais efetivas sobre o uso e o comércio desse agrotóxicos pelos órgãos competentes”, explica a pesquisadora Patrícia Medici, que se preocupa com a dificuldade em descobrir a origem do uso irregular.

“O problema é que a questão dos agrotóxicos é muito difusa. Nós jamais saberemos exatamente quem são os responsáveis pela aplicação dos produtos já que, no ponto onde fizemos o levantamento, são quase 3 mil quilômetros quadrados de área com um mosaico de diferentes usos da terra. O que temos é que foram 13 diferentes agentes químicos encontrados em 116 indivíduos, fato que serve de alerta para que a situação seja enfrentada”, diz.

“Temos que encarar essa problemática de uma forma diferente, oferecer as nossas informações e mostrar que a anta é uma sentinela que acusa o problema.”

AGENTE QUÍMICO

O Aldicarb é um agrotóxico de alta toxicidade, praguicida, também usado ilegalmente para a produção de raticida – conhecido como chumbinho. Ele é responsável por milhares de envenenamentos e mortes de pessoas, especialmente crianças, e de animais domésticos e silvestres, além da contaminação do solo, de alimentos, rios e lençóis freáticos.

Esse agente químico já é proibido em diversos países, como Alemanha e Suécia, desde 1990. Outros países europeus como Portugal, França, Itália, Reino Unido, Espanha, Grécia e Holanda deixaram de utilizar o produto em 2007. No Brasil, o Aldicarb é proibido desde 2012. Estimativas do governo, na época, apontavam que o produto seria responsável por quase 60% dos 8 mil casos de intoxicação relacionados a chumbinho no país, todos os anos.

Um único grama do veneno pode matar uma pessoa de até 60 quilos em meia hora. Se inalado, o produto percorre a corrente sanguínea e também pode levar rapidamente à morte. Nos animais, o efeito é bem semelhante, atingindo principalmente pulmões, fígado e rins.

Os indivíduos apresentaram lesões de fígado e rins — Foto: Divulgação IPÊ

Os indivíduos apresentaram lesões de fígado e rins — Foto: Divulgação IPÊ

“Verificamos que os 116 indivíduos amostrados estavam contaminados, a maioria deles por mais de um agente químico. Muitas lesões de fígado e rins. Isso pode levar os animais à morte, redução da longevidade e até mesmo influência em sua capacidade reprodutiva”, aponta Patrícia.

A pesquisa mostra ainda que as antas estão expostas a essas substâncias no ambiente que habitam por contato direto com as plantas, solo e água contaminados. A análise estomacal demonstrou exposição pela ingestão de plantas nativas contaminadas e de itens das culturas agrícolas eventualmente utilizados como recurso alimentar.

PULVERIZAÇÃO

Segundo dados do Sistema Nacional de Informações Toxicológicas (Sinitox), ocorre no Brasil uma média de 3.125 casos de intoxicação por agrotóxico de uso agrícola ao ano, ou oito intoxicações diárias. O Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) acreditam que, para cada caso notificado, existem outros 50 não notificados, o que aumentaria significativamente essa estatística, reforça a pesquisa.

Patrícia ressalta que o país tem um histórico de pulverização indiscriminada, sendo que em alguns estados não há nem protocolos estabelecidos para essa atividade. “Mesmo nas regiões onde há critérios, de maneira geral , eles não são respeitados”, diz a pesquisadora.

“No caso dos agrotóxicos, aqui no Brasil, não é mais uma questão de exposição, mas imposição. Isso está no nosso ambiente, na nossa água, na comida fresca, nos grãos, no leite materno, enfim, está em tudo.”

No mesmo período da coleta de amostras com as antas, a equipe da Incab realizou um levantamento de dados sobre o uso de agrotóxicos no estado do Mato Grosso do Sul, buscando dados e informações de inserções de imprensa, registros junto à Polícia Militar Ambiental e Tribunal de Justiça do MS.

Segundo as informações encontradas, a pulverização aérea é a forma de aplicação de agrotóxicos mais utilizada no estado, sendo ainda o método mais relacionado à ocorrência de contaminação do meio ambiente, especialmente por influência do vento e deriva do produto para áreas indesejadas.

No Mato Grosso do Sul, os inseticidas – principal grupo de agrotóxicos constatado no organismo das antas – são as substâncias responsáveis por mais de 70% dos casos de intoxicação aguda em humanos.

Substâncias autorizadas no Brasil estão proibidas para uso e comercialização em outros países — Foto: Arte/TG

Substâncias autorizadas no Brasil estão proibidas para uso e comercialização em outros países — Foto: Arte/TG

Mas se engana quem pensa que esse é um problema restrito ao Centro-Oeste. “Certamente, esse cenário de contaminação está sendo repetido em todas as outras regiões do país onde agrotóxicos são utilizados em larga escala. É um problema amplo, que afeta o meio ambiente e as pessoas. O Brasil, de maneira geral, pega muito leve em relação às restrições”, comenta Patrícia, dando um exemplo alarmante em relação à água.

“A grande maioria dos países da União Europeia aceita, no máximo, 0,5 micrograma de quaisquer agrotóxico ou metal pesado na água que é consumida pela população. Aqui, em alguma regiões, aceitamos até 5 mil microgramas desses produtos. É bastante chocante a leveza com a qual o nosso país leva essa problemática e a leveza com que deixam passar diversas oportunidades de criar critérios mais fortes para proteger a população”, lamenta.

“Não tem nenhum ser humano que não esteja contaminado por agrotóxicos e, quando se fala em Brasil, as áreas do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul são onde existem as condições mais sérias.”

Muitas das substâncias autorizadas para uso nestas culturas no Brasil estão proibidas para uso e comercialização em outros países. Existem 504 ingredientes ativos com registro autorizado e uso permitido no Brasil. Destes, 149 (30%) são proibidos na União Europeia.

Em casos de intoxicação crônica os efeitos podem incluir malformações congênitas e câncer  — Foto: Arte/TG

Em casos de intoxicação crônica os efeitos podem incluir malformações congênitas e câncer — Foto: Arte/TG

A dimensão atual do uso de agrotóxicos no Brasil tem gerado um indiscutível impacto sobre a saúde da população humana, sobretudo de trabalhadores rurais. Entretanto, o problema não atinge somente áreas rurais e pequenas cidades, tendo relevância também em grandes centros urbanos, especialmente por conta da potência e do uso indiscriminado de agrotóxicos pelo país.

Além disso, o aumento na incidência de câncer entre trabalhadores rurais e pessoas envolvidas nas campanhas sanitárias, no final da década de 80, levou ao estudo mais detalhado sobre a interação dos agrotóxicos com o organismo no surgimento desses tumores, entre outras disfunções de base celular.

Uma série de pesquisas atuais correlaciona a maior incidência de câncer em determinadas regiões do país com a exposição prolongada à agrotóxicos. Entre 1980 e 2011, houve aumento das taxas de mortalidade por câncer de próstata em todas as regiões brasileiras, sendo que a região Centro-Oeste apresentou tendência crescente, assim como a expansão da atividade agropecuária.

Dados sugerem períodos de maiores níveis de contaminação ambiental — Foto: Arte/TG

Dados sugerem períodos de maiores níveis de contaminação ambiental — Foto: Arte/TG

A larga utilização de agrotóxicos no processo de produção agropecuária tem implicações importantes para o ambiente. A contaminação ambiental e acúmulo destas substâncias na água, ar, solo e sedimentos pode causar consequências significativas para as comunidades de seres vivos que compõem o ecossistema.

Poucos estudos avaliaram as consequências da contaminação ambiental por agrotóxicos em espécies da fauna. Todavia, efeitos adversos já são comprovados em populações de anfíbios e peixes de várias espécies.

Uma preocupação inerente à contaminação de recursos naturais é a dispersão de contaminantes para fora das áreas consideradas fonte, atingindo não somente comunidades do entorno das áreas de uso e aplicação de agrotóxicos, como também comunidades afastadas.

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2018/10/29/antas-contaminadas-alertam-uso-de-agrotoxicos-proibidos-no-brasil.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=share-bar-desktop&utm_campaign=share-bar&fbclid=IwAR3Lfr_PNEY4heK9HpF6Gg9YGoqmRFFnKqwYXVHeefzl0wWYP7by0-Ml-Fc