Nota da Asduerj pela pluralidade e pelo diálogo contra a militarização do cotidiano da Uerj
Lamentamos, mais uma vez, as cenas de violência em nossa Universidade, que vem impossibilitando o diálogo e a construção de alternativas efetivas para a grave crise por que passa a Uerj. Não queremos mais conviver com enfrentamentos físicos e blindagens intolerantes antidemocráticas. É inadmissível a depredação do patrimônio público que pertence ao povo fluminense, também não é aceitável que nossa universidade não cumpra sua função histórica de acolher pessoas vítimas de violência urbana.
É preciso compreender que o diálogo vem sendo restringido em um evidente isolamento da Administração Central. A irregularidade na convocação dos Conselhos Superiores é marca dessa gestão e, portanto, muito anterior aos episódios recentes. Já assistimos, em 2011, à inauguração do bandejão no campus Maracanã, com agressão física aos estudantes que foram impedidos de participar do evento.
Em 2015, os episódios de violência na Uerj se iniciaram na repressão a um ato promovido pelos pais e mães do CAp, acompanhados de alunos, professores e funcionários. Já naquele momento, reivindicávamos a necessidade de um amplo diálogo, com a participação de diferentes atores de nossa comunidade universitária.
Na última quinta-feira (28.05) assistimos a cenas lamentáveis, que deixaram a comunidade universitária profundamente consternada e entristecida. Estudantes de diferentes cursos decidiram prestar solidariedade aos moradores da favela Metrô Mangueira, que estavam sendo violentamente removidos, e foram brutalmente agredidos pelo Batalhão de Choque da PM.
Nesse sentido, é preciso dizer que a nota do reitor não corresponde ao que vivenciamos na noite do dia 28. Os relatos que nos foram apresentados e os vídeos que estão circulando amplamente nas redes sociais mostram que estudantes de nossa Universidade foram impedidos de retornar ao pavilhão João Lyra Filho pelos seguranças da UERJ, quando buscavam abrigo frente ao ataque da Polícia Militar.
Todos sabemos que os estudantes da Uerj, oriundos de diferentes cursos, estabelecem relações próximas com os movimentos populares e comunitários. Um exemplo disso é a comoção que os moveu recentemente e as redes de solidariedade que produziram, quando perceberam a situação dramática dos trabalhadores terceirizados da Uerj.
Essa história e sua expressão em atos de solidariedade diversos estão retratados de forma distorcida na nota do reitor, sugerindo uma associação indesejável entre o caráter popular de nossos alunos e uma pretensa propensão à violência. Essa associação é corrente no senso comum e nos parece ser tarefa de uma Universidade como a Uerj desnaturalizar os vínculos causais atribuídos à interface entre pobreza e violência. Gostaríamos que a administração da Uerj se dispusesse a fazer ressoar nossa vocação popular e plural e não reiterasse refrões conservadores e discriminatórios.
A saída para a grave crise que vivenciamos só será construída por um amplo debate, que envolva diversos atores de nossa comunidade acadêmica. A pluralidade de vozes e a ampliação da participação nos espaços de decisão são, sem dúvida, uma tarefa de todos nós. Fortalecer o debate afastará o clima de medo que se vem pretendendo instituir. Nessa direção, a convocação imediata dos Conselhos Superiores é inegociável, como um primeiro passo para o restabelecimento do diálogo. O autoritarismo nos envergonha, mas não constrangerá nossa vocação plural, democrática e popular.
Saudações universitárias,
Diretoria da Associação de Docentes da Uerj
FONTE: https://www.facebook.com/asduerj/photos/a.405179722862791.86221.405177632863000/844103475637078/?type=1&theater

