Estudo mostra que o Rio Doce segue despejando metais pesados no oceano por causa do desastre de Mariana (MG)

metales-Rio-Doce-996x567Um dos trechos do Rio Doce afetados pelos rejeitos da barragem. Crédito da imagem: Felipe Werneck, Ibama, sob licença Creative Commons (CC BY-SA 2.0)

[RIO DE JANEIRO] As regiões costeiras ao norte e as áreas ao sul da desembocadura do Rio Doce no estado de Minas Gerais, ao sul do Brasil, devem seguir sendo monitoradas permanentemente para avaliar suas condições ambientais e biológicas por causa do desastre ambiental ocorrido no dia 5 de novembro de 2015 pelo colapso da represa de rejeitos do Fundão.

A ruptura liberou 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, que deslocou centenas de famílias e afetou 41 cidades e rios, incluindo o rio Doce. A represa pertence à mineradora Samarco, controlada pelas mineradoras Vale e BHP Billiton.

Agora um novo estudo que será publicado na edição de março do  Marine Science Bulletin que mapeou as rotas dos metais quatro anos depois (novembro de 2019) de ter ocorrido o delito ambiental,  mostra que o rio continua sendo uma fonte de dispersão de metais  para o Oceano Atlântico.

Os resultados corroboram com o outro de 2019 que havia sinalizado a tendência de dispersão para o norte.

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Este texto escrito originalmente em espanhol foi publicado pela SciDev.Nert [Aqui!].

Pericia judicial mostra que peixes do rio Doce estão contaminados e impróprios para consumo

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Por Jornal Folha 1

Um dos esperados laudos feitos a pedido da 12ª Vara da Justiça Federal, relacionados ao Caso Samarco, acabou de sair e trouxe uma notícia muito preocupante: os peixes do rio Doce estão gravemente contaminados por produtos químicos como arsênio e mercúrio, capazes de comprometer a saúde de quem consume o produto.

O laudo feito a pedido da Justiça, que examinou peixes de 42 municípios mineiros e capixabas afetados pelo rompimento da barragem de Mariana, em 2015, mostrou o que muitos já esperavam: consumir peixe do rio Doce e região estuarina é uma temeridade. No Espírito Santo, foi examinado o pescado de municípios de Baixo Guandu, Aracruz, Colatina, Linhares e São Mateus e o resultado é extremamente preocupante.

Nas últimas semanas pescadores da região exibiram em redes sociais, fotos e filmagens de peixes com deformações, sugerindo doenças graves em função da contaminação da água do rio Doce, o que parece agora bem verdadeiro depois do laudo especializado feito a pedido da Justiça Federal.

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Peixe do tipo Caçari pescado na região próxima a Linhares, recentemente

Gravidade

A situação parece mesmo muito grave, de acordo com o laudo: segundo o documento, os peixes do rio Doce e região estuarina estão contaminados principalmente com mercúrio, metilmercúrio, arsênio inorgânico e as benifenilas policloradas, ou seja, um conjunto tóxico capaz de trazer consequências graves aos seres humanos que consomem o peixe. O laudo já provoca uma intensa repercussão na bacia do rio Doce e pode provocar, nas próximas horas, uma decisão judicial proibindo a pesca e a comercialização de peixes oriundos do próprio rio a da região estuarina – ou seja, o mar próximo da foz.

A Fundação Renova vinha divulgando outro resultado sobre a contaminação de peixes, garantindo que possui documentos que comprovam a segurança no consumo, porém agora está estabelecida uma forte controvérsia, decorrente do novo laudo apresentado à 12ª Vara da Justiça Federal.

Casualidade

Outra particularidade importante do laudo é que ele apontou ” nexo de casualidade”, ou seja , que os metais encontrados nos peixes tem relação com os rejeitos que foram despejados no rio Doce com o desastre ambiental “. Ou seja, a lama tóxica despejada pela barragem da Samarco, com responsabilidade direta também da Vale e da BHP, é que contaminou os peixes que permanecem quase 7 anos depois, impróprios para consumo.

Laudo a pedido da Justiça

Eis o laudo, com 316 páginas e feito por especialistas, que mostram o grave risco de consumir peixe do rio Doce e região estuarina: clique aqui para ler na íntegra.


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Este texto foi originalmente publicado pelo jornal “Folha 1” [Aqui!].

Rio Doce: Grupo de amigos cria jogo “Rio de Lama” para manter viva memória do desastre de Mariana

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O rompimento da barragem de contenção de rejeitos do Fundão, em Mariana/MG, está prestes a completar 6 anos no próximo mês de novembro. A lama vazada se perpetuou como o maior desastre ambiental de todos os tempos no Brasil. Tamanha tragédia que varreu vilarejos, matou pessoas, e atravessou Minas Gerais e o Espírito Santo, se transformou numa grande mancha de lama que impactou a biodiversidade de uma das mais importantes bacias hidrográficas do país que incorpora 184 municípios. O Rio Doce teve dos seus 853 km, 600 km atingidos pelos rejeitos, chegando até o seu desaguamento no oceano Atlântico.

Em 2016, alguns meses após o desastre em Mariana, o designer gráfico, programador e mestre em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Felipe Mattar se juntou com alguns amigos/sócios, dentre eles, Huemerson Leal e Rapahael Gaspar, para criar um jogo, mas que até então não tinha sido desenvolvido. Foi com o lançamento da Lei Aldir Blanc, que o grupo viu a oportunidade de resgatar as ideias antes pensadas e propor sua realização. Assim, nasceu o jogo Rio de Lama: O Resgate do Rio Doce, que tem a proposta de dar visibilidade e manter viva a memória do ocorrido, a fim de não cair no esquecimento e possa contribuir de alguma forma para que não ocorra novamente. “O projeto se propõe de uma forma indireta e ficcional, utilizando dos acontecimentos reais como inspiração para o contexto geral do universo do game”, explica Felipe Mattar.

Já disponível em digital 2D no mobile para o Android, e na versão de computador para o Windows, Linux e Mac, o Rio de Lama é um jogo que leva uma mensagem que não só retrata a realidade do Rio Doce, conforme explica Mattar. “A ideia é da mensagem que quero transmitir com o jogo é de todos os rios do planeta que sofrem pela má-conduta de pessoas e empresas que se utilizam do meio ambiente de maneira irresponsável necessitam de nosso cuidado e de nosso respeito”, enfatiza.

Vamos ao jogo?

Felipe conta que em “Rio de Lama: O Resgate do Rio Doce”, também disponível em inglês: “Mud River: The Sweey River Rescue”, o jogador controla uma nave espacial com objetivo de destruir os inimigos em fases que precisam ser desbloqueadas. Basicamente, a missão contará com duas armas principais com munição infinita e mais três armas secundárias que podem ser usadas com a quantidade de esferas de energia que o jogador conseguir coletar.

“A história do jogo consiste que há milhares de anos, ‘Pacal, o grande’ abandonou o Planeta Terra com a sua espaçonave para fugir de um dilúvio. No entanto, ele volta para cá em busca de artefatos preciosos que ficaram escondidos na América. Acontece que antigos templos sagrados se transformaram em hostis indústrias poluidoras comandadas pelo ambicioso e de poder absoluto, Dr. Welin”, conta.

Felipe Mattar explica que o seu personagem Pacal se enfurece com a profanação dos locais sagrados e com a destruição do meio-ambiente e aciona reforço com uma inteligência artificial conhecida como Zacharias. “No jogo, o Rio Doce era um paraíso para a humanidade e para os animais, mas como se tornou um território destruído por atividades inescrupulosas do Dr. Wellin, o objetivo do Pacal é impedir a destruição completa do rio tomado pela lama. Tem muita emoção e desafios para poder concluir estes desafios”, revela o desenvolvedor que ainda adianta: “É preciso passar por trilhos de fogo, afim de conquistar a relíquia sagrada e salvar o Rio Doce”, conclui.

Todo o trabalho para a concepção e o lançamento do game, além de Felipe Mattar, teve ainda o suporte de um time de profissionais, dentre eles, Ana Clara Gouvêa Calmon (Designer Gráfico), Huemerson Leal Cota (Ilustrador e efeitos especiais), Fernando Boechat (trilha sonora) e Raphael Gaspar (autor do enredo, redator e produtor executivo).

O “Rio de Lama: O Resgate do Rio Doce” é uma produção da distribuidora Rocpain Games, que tem o apoio do Instituto Últimos Refúgios para a conservação ambiental, Governo do Estado do Espírito Santo, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, e desenvolvido com os fundos da Lei Aldir Blanc de apoio à cultura.

Estudo aponta excesso de manganês em peixes no estuário do rio Doce

docePesquisadores registram aumento de 880% no conteúdo desse elemento químico dissolvido em água em comparação a valores observados em 2015, dias após a chegada dos rejeitos provenientes da barragem de Fundão, em Mariana (foz do rio Doce semanas após o rompimento da barragem; foto: Arnau Aregio/Wikimedia Commons)

Agência FAPESP* – Integrantes do Grupo de Estudo e Pesquisa em Geoquímica de Solos do Departamento de Ciência do Solo (GEPGEoq) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) e do projeto Rede SoBEs Rio Doce – Rede de Solos e Bentos na Foz do Rio Doce vêm estudando os impactos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), no estuário do rio Doce.

O mais recente estudo realizado pelo grupo, em parceria com pesquisadores da University of California em Riverside (Estados Unidos), mostra que dois anos após a chegada dos rejeitos há uma liberação constante de manganês dos solos do estuário para a água.

“Os dados apontam para um aumento de 880% no conteúdo de manganês dissolvido em água em 2017 em comparação aos valores observados em 2015, dias após a chegada dos rejeitos”, afirma Hermano Queiroz, pesquisador da Esalq-USP que realizou sua tese de doutorado com bolsa da FAPESP, sob orientação do professor Tiago Osório Ferreira, do Departamento de Ciência do Solo. Segundo os pesquisadores, os valores encontrados em 2017 foram cinco vezes maiores do que o limite definido pelas diretrizes brasileiras de qualidade da água (Conselho Nacional do Meio Ambiente, 2005).

Consequentemente, altas concentrações de manganês tem sido observadas em duas espécies de peixes, o bagre amarelo (Cathoropus spixii) e o peixe-gato marinho (Genidens genidens), ambas comumente consumidas pela população local. Segundo os pesquisadores, tal fato representa um risco crônico para a saúde das comunidades ali presentes.

Os resultados evidenciaram concentrações de manganês duas vezes maiores nos peixes do rio Doce em comparação às de peixes de outros locais conhecidamente contaminados por manganês.

Esse elemento químico é abundante na natureza e por isso muitas vezes não é percebido como tóxico, mesmo quando encontrado em elevadas concentrações no solo e na água. De acordo com os pesquisadores, não existem valores limites de manganês para solos, apesar de as pesquisas apontarem efeitos tóxicos em plantas, animais e seres humanos. Concentrações elevadas estão associadas a doenças como o Alzheimer, além de outros distúrbios neurodegenerativos e do sistema nervoso central.

O estudo foi publicado na revista Environment International. Além da FAPESP, a pesquisa também contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santos, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além da colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal Fluminense e da Universidade de Santiago de Compostela da Espanha.

O artigo Manganese: The overlooked contaminant in the world largest mine tailings dam collapse pode ser acessado em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S016041202032239X.

* Com informações da Divisão de Comunicação da Esalq-USP.

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Este texto foi inicialmente publicado pela Agência Fapesp [Aqui!].

Após 5 anos, Samarco volta a operar em Mariana, sem que a justiça tenha sido feita aos afetados pelo Tsulama de Bento Rodrigues

bento-2Depois de cinco anos do Tsulama em Mariana, a Samarco (Vale + BHP Billiton) volta a operar em Mariana. Enquanto isso, os moradores afetados pelo incidente socioambiental de 2015 continuam sua sina de desabrigados e o Rio Doce sofre com a contaminação crônica de suas águas

Em meio ao caos sanitário causado pela COVID-19,   tivemos o retorno das atividades de mineração da Samarco (Vale+BHP Billiton) no Distrito de Bento Rodrigues. Esse retorno ocorre sem que haja qualquer perspectiva de que os habitantes da área destruída pelo Tsulama de Novembro de 2015. Essa combinação de fatos mostra quais são as prioridades que guiam as ações do Estado no Brasil, pois está evidente que a Samarco está saindo praticamente ilesa dos graves danos sociais e ambientais que sua opção pelo lucro causou em Mariana.

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Outro detalhe preocupante é que as práticas que resultaram nos Tsulamas de Mariana em 2015 e de Brumadinho em 2019 não só permanecem no lugar, como continuam a ameaçar a geração de novos incidentes ambientais de grande impacto em diferentes partes do território de Minas Gerais. 

A situação de dezenas de barragens de rejeitos que hoje apresentam evidências de que não se encontram estáveis poderá piorar ainda mais em 2021, dependendo do que ocorrer em termos de precipitação atmosférica.  Por isso, há que se acompanhar com cuidado as chuvas que ocorrerem ao longo de janeiro de 2021, visto que dependendo da intensidade delas, barragens que já se encontram em estado crítico poderão alcançar o ponto de rompimento.

Mas para as donas da Samarco, Vale e BHP Billiton, o que importa mesmo é continuar “cavocando” o minério de ferro ainda existente em Bento Rodrigues para aumentar ainda mais os seus lucros bilionários. E tudo isso com a benção de quem governa o Brasil e Minas Gerais. 

Mariana, cinco anos e muitas tragédia

Descaso e negligência causadoras do rompimento da Barragem de Fundão, que matou 19 pessoas, seguem atormentando população; metais pesados envenenam Rio Doce e Justiça morosa deixa 100 mil pessoas à espera de indenização

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Vista do alto da região de Bento Rodrigues, distrito de Mariana: tragédia impune, cinco anos depois. Foto de Christophe Simon/AFP

Por Cristina Serra para o Projeto Colabora

O desastre da Barragem de Fundão, da mineradora Samarco, em Mariana (MG), começou em 5 de novembro de 2015 – quando matou 19 pessoas – e ainda não acabou. São 1.825 dias de uma tragédia que invadiu o cotidiano dos moradores da bacia do rio Doce, área quase do tamanho de Portugal. Eles convivem até hoje com o mesmo descaso e negligência que estão na origem do rompimento, simbolizados agora nos metais pesados que envenenam o rio, na falta de indenizações justas e no vazio dos povoados em ruínas.

Cinco anos depois do colapso da barragem, não há explicação plausível para as três comunidades mais devastadas não terem sido reconstruídas. Nem mesmo a pandemia serve de justificativa, considerando que a previsão inicial de conclusão das obras era muito anterior à chegada do coronavírus. Foram três os lugares mais atingidos: os distritos rurais de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, ambos em Mariana, e Gesteira, no município vizinho de Barra Longa. Os moradores permanecem em casas alugadas pela Fundação Renova, entidade criada pelas mineradoras e governos estaduais e federal para reparar os danos do desastre.

Trata-se de uma população acostumada com o meio rural e nem todos se adaptaram às características da cidade. Nos seus terrenos, criavam animais, plantavam, tinham árvores frutíferas, pescavam nos rios próximos. Tudo isso teve que ser substituído pelas compras no supermercado, mudança que nada tem de trivial, com muitos impactos na saúde física e mental das vítimas. E aí chegamos a mais um ponto dessa trama de violências cotidianas.

Até hoje, não existe estudo abrangente sobre os efeitos do desastre na saúde dos moradores. As consequências são diferentes ao longo da bacia. Há os que tiveram contato direto com a lama e/ou respiraram o pó do rejeito quando ele secou. Outros continuam usando a água do rio para consumo próprio e dos animais. E a pesca segue, apesar do perigo e da proibição judicial.

A falta de solução para a maioria das indenizações também é fator de muito estresse emocional. Eu mesma percorri duas vezes os 660 quilômetros, do local da barragem até a foz do rio Doce, em Regência, no Espírito Santo, e ouvi muitos relatos sobre depressão, problemas respiratórios, renais e dermatológicos.

marianaMural na Escola Municipal Caetano Barbosa, em Paracatu de Baixo: devastação. Foto de Cristina Serra

Difícil de entender é que, passados cinco anos, os governos de Minas Gerais e Espírito Santo, as prefeituras e a Fundação Renova não tenham se articulado para avaliar esses impactos. Não custa lembrar: Vale e BHP, acionistas da Samarco e financiadoras da Fundação Renova, estão entre as maiores mineradoras do mundo. Talvez a ausência de estudos sobre a saúde das comunidades (se eles existem, não foram divulgados), esteja relacionada às indenizações – ou, melhor dizendo, à falta delas. Como calcular uma justa compensação, se os impactos não foram devidamente dimensionados?

Catástrofe Judicial

Segundo a força-tarefa Rio Doce, do Ministério Público Federal, cerca de 100 mil pessoas ainda não tiveram resposta da Fundação Renova aos pedidos de indenização. Por outro lado, muitos dos atingidos, cansados de esperar tanto tempo, estão aceitando acordos que violam seus direitos, conforme revelado pela força-tarefa, em entrevista semana passada. Segundo o MPF, o juiz da 12ª Vara Federal e Agrária de Belo Horizonte, Mário de Paula Franco Júnior, encarregado dos processos cíveis, está homologando acordos de indenização com cláusulas prejudiciais aos atingidos.

O MPF afirma que nesses acordos as pessoas só recebem os pagamentos se assinarem para a Fundação Renova a quitação definitiva e a desistência de qualquer ação futura no Brasil e no exterior. A cláusula chama atenção porque a justiça britânica está para decidir se aceitará ação bilionária contra a BHP, que tem sede no Reino Unido. Um escritório britânico, com sócios brasileiros, representa 200 mil atingidos, alegando a morosidade do judiciário brasileiro em indenizar as vítimas.

O MPF entrou com mandado de segurança no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília, pedindo a anulação de atos do juiz nesses acordos. Procurei o juiz Mário de Paula Franco Júnior, mas ele disse que não vai se manifestar.

O MPF argumenta também que as indenizações foram fixadas em tempo recorde, sem prévia análise de danos e em valores irrisórios. O dano moral, por exemplo, foi calculado em R$ 10 mil. Os procuradores também levantam suspeitas de “lide simulada” entre o escritório de advocacia que lidera os pedidos de indenização (constituído em junho deste ano) e as mineradoras, que de forma inusual, não contestaram as sentenças.

A outra ponta dessa tragédia judicial ocorre na Justiça Federal em Ponte Nova (MG), encarregada do processo criminal. Das 22 pessoas denunciadas pelo Ministério Público, 15 já conseguiram se livrar. Os que ainda estão no processo e mais quatro empresas (as três mineradoras e a consultoria que emitiu o laudo de estabilidade da barragem) estão isentas da acusação de homicídio doloso. Eles respondem, entre outros crimes, por inundação e desmoronamento seguido de morte e delitos ambientais. O processo anda a passo de tartaruga. As testemunhas de acusação foram ouvidas há dois anos. Já a defesa dos réus arrolou 140 testemunhas e nenhuma prestou depoimento até agora.

Mariana-GustavoBasso-NurPhotoCenário de destruição em Bento Rodrigues, quatro dias após o rompimento da barragem, a 70 km de Mariana. Foto de Gustavo Basso/NurPhoto

Rio Doce Contaminado

O reservatório de Fundão tinha capacidade para armazenar cerca de 50 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, lama suficiente para encher mais de vinte mil piscinas olímpicas. Quando a barragem rompeu, na tarde de 5 de novembro de 2015, a lama vazou do reservatório como uma hemorragia incontrolável, que engoliu córregos, riachos e ribeirões até alcançar o Rio Doce e chegar à sua foz, no Oceano Atlântico. No percurso de 660 km, a lama provocou fenômeno chamado pelos especialistas de “ressuspensão” de metais pesados, depositados há séculos no leito dos rios, desde o começo do ciclo da mineração, em Minas Gerais.

É isso que explica a presença de metais pesados em trechos do Rio Doce, segundo estudos recentes, apesar das substâncias não fazerem parte da composição da lama de rejeitos. Pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo, reunidos na Rede Rio Doce Mar, apresentaram relatório para a Fundação Renova, ao qual tive acesso, mostrando a gravidade da contaminação. Os dados, coletados em 2019, são os mais recentes sobre a situação da água no trecho capixaba e no litoral do Espírito Santo e sobre a contaminação de peixes e outros animais. As coletas de amostras foram interrompidas em 2020 por causa da pandemia.

Segundo o estudo, foram encontradas altas concentrações de metais como cádmio, manganês, arsênio, ferro, zinco, cromo e cobre nas lagoas de Monsarás, Nova e Areal. O Rio Doce, em Linhares, apresentou aumento de cromo e manganês em comparação com dados anteriores ao desastre. Nos peixes, os pesquisadores encontraram sinais de exposição a metais pesados, como danos morfológicos, entre eles lesões no fígado dos animais, inflamações e congestão de vasos sanguíneos.

No ambiente costeiro-marinho, o levantamento chegou a conclusões igualmente preocupantes sobre duas unidades de conservação, o Refúgio de Vida Silvestre Santa Cruz e a Área de Proteção Ambiental Costa das Algas. Diz um trecho: “O relatório aponta que a APA Costa das Algas e o RVS de Santa Cruz foram as principais UCs afetadas pelos rejeitos de minério que chegaram à região costeira. Os sinais do impacto puderam ser observados nas concentrações de metais (ferro, cobre, mercúrio, níquel, zinco, alumínio, manganês) e arsênio (As) na coluna d’água, nas frações dissolvida e total, e no sedimento. Foram verificados níveis de concentração de metais em não conformidade com os limites estabelecidos pela CONAMA”. O estudo também detectou arsênio no músculo de camarões e peixes e cádmio em peixes, em concentrações acima do permitido pela Anvisa.

Quando publiquei o livro “Tragédia em Mariana”, em 2018, tinha a esperança de que ele servisse de alerta para não acontecer outro caso semelhante. Estava enganada. Em 2019, aconteceu a inimaginável tragédia de Brumadinho, com seus 270 mortos. O descaso humano, social e ambiental está na origem dessas duas catástrofes, com todo seu histórico de omissões, irregularidades e gestão de risco, que privilegia os lucros em detrimento da segurança dos trabalhadores e das comunidades em volta dos complexos industriais.

Eram tragédias anunciadas. O pior, depois de cinco anos, é ver que pouca coisa mudou. A legislação de segurança de barragens melhorou, mas ainda tem muitas lacunas. A fiscalização do poder público está longe do ideal e o modelo extrativista da atividade mineral continua exatamente o mesmo, mantendo municípios e comunidades praticamente reféns de grandes empresas, com enorme poder político e econômico.

A Samarco está prestes a voltar a operar enquanto as vítimas vivem os efeitos da devastação de lama todos os dias. O desastre de Mariana é considerado o maior do mundo no setor de barragens por três motivos: a extensão percorrida pelo rejeito, a quantidade vazada e os prejuízos provocados. Ao que tudo indica, também tem tudo para bater um triste recorde: o de impunidade. Uma desonra às 19 pessoas assassinadas naquela tarde. Em sua homenagem, aqui estão seus nomes, para que nunca sejam esquecidos:

Aílton Martins dos Santos, 55 anos

Antônio Prisco de Souza, 74 anos

Claudemir Elias dos Santos, 41 anos

Cláudio Fiúza da Silva, 41 anos

Daniel Altamiro de Carvalho, 53 anos

Edinaldo Oliveira de Assis, 40 anos

Edmirson José Pessoa, 48 anos

Emanuelle Vitória Fernandes Izabel, 5 anos

Marcos Aurélio Pereira Moura, 34 anos

Marcos Roberto Xavier, 32 anos

Maria das Graças Celestino, 64 anos

Maria Eliza Lucas, 60 anos

Mateus Márcio Fernandes, 29 anos

Pedro Paulino Lopes, 56 anos

Samuel Vieira Albino, 34 anos

Sileno Narkievicius de Lima, 46 anos

Thiago Damasceno Santos, 7 anos

Vando Maurílio dos Santos, 37 anos

Waldemir Aparecido Leandro, 48 anos.

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Este artigo foi inicialmente publicado pelo Projeto Colabora [Aqui!].

Em caso de rompimento em Barão de Cocais, Rio Doce seria afetado pelo segundo desastre com barragens

Manancial que foi inundado por onda de rejeitos da Barragem de Fundão, de Mariana, em novembro de 2015, está na rota da lama caso ocorra o rompimento do reservatório Sul Superior, da Mina de Gongo Soco

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Rio Doce foi praticamente sufocado há mais de três anos e poderia receber nova onda de rejeitos se barragem se romper em Barão de Cocais. Na foto, manancial em Governador Valadares(foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS – 17/10/2018)

Por Guilherme Parnaiba para o “Estado de Minas”

O Rio Doce está mais uma vez na rota das barragens em Minas Gerais. Mais de três anos após a tragédia de Mariana, que devastou a bacia hidrográfica banhada pelo manancial federal desde a nascente até a foz no Oceano Atlântico, o curso d’água está mais uma vez no caminho caso ocorra um novo desastre do tipo em Minas.

Segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o manancial seria impactado caso ocorra o rompimento da Barragem Sul Superior, da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, na Região Central de Minas.

A Semad informou que uma possível onda de lama passaria por quatro córregos antes de alcançar o Rio Santa Bárbara, para, em seguida, chegar ao Rio Piracicaba e, por fim, ao Rio Doce, em um ponto distante 195,2 quilômetros da barragem. O informe da Semad foi feito depois que a pasta recebeu comunicado da Vale de uma provável ruptura do talude norte da cava de Gongo Soco. Essa ruptura poderia gerar um gatilho para desestabilizar a Barragem Sul Superior, e, consequentemente, espalhar rejeitos pela região.

A qualidade da água desses mananciais poderá ser afetada, “tornando-a imprópria para consumo humano. Pode ocorrer ainda redução do oxigênio dissolvido, com consequente mortandade de peixes e outras espécies aquáticas. Os cursos d’água podem ter redução da vazão decorrente do assoreamento da calha principal e deposição do rejeito”, segundo a Semad.

A pasta que cuida do meio ambiente do estado também identificou outros impactos em decorrência de um possível rompimento em Barão. A lama suprimiria 383 hectares de remanescentes de floresta da mata atlântica, alteraria a composição do solo original, afetando a fertilidade, e causaria impactos energéticos, pois chegaria ao  reservatório da Usina Hidrelétrica de Peti, localizada a 14 km de distância da barragem, entre os municípios de Santa Barbara e São Gonçalo do Rio Abaixo.

Os impactos para a biodiversidade ainda são avaliados, mas, de antemão,  espécies da fauna e da flora nas áreas e corpos hídricos podem ser atingidas pela passagem ou deposição de rejeito. 

Medidas solicitadas pela SEMAD

No último dia 15, em virtude do comunicado sobre riscos de rompimento do talude dentro de Gongo Soco e um possível gatilho para a Barragem Sul Superior, a Semad determinou que a Vale monitore os recursos ambientais da região. A pasta também determinou mitigação de impactos e perparação de equipes para ação imediata.

Entre exemplos de determinações se destacam “identificação de todas as estruturas, equipamentos e insumos existentes na direção do fluxo dos rejeitos no caso de um eventual rompimento; monitoramento das águas superficiais e subterrâneas na área impactada; apresentação de projeto de mitigação do carreamento dos rejeitos para o Córrego Barão de Cocais; além de instalação de hospital veterinário de campanha e Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), com equipes de resgate de fauna mobilizadas”, informou a Semad.

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Este artigo foi originalmente publicado pelo jornal “Estado de Minas” [Aqui!]

Minas Gerais vive sob o espectro de novas catástrofes por causa da Vale e suas barragens instáveis

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O rompimento da barragem da Mina do Córrego do Feijão pode ter sido apenas o primeiro de uma longa sequência de graves desastres associados às operações da Vale em Minas Gerais.

Há algo intrinsecamente errado com a situação com que a mineradora Vale constrói e gerencia suas barragens de rejeitos de minério. É que desde o rompimento da barragem na mina do Córrego do Feijão em 25 de janeiro estamos sendo cotidianamente inundados com informações sobre barragens que ameaçam romper em diferentes partes do chamado “Quadrilátero Ferrífero”.

Mas como diz umas das leis de Murphy, nada está ruim que não possa piorar. É que hoje o jornal “O TEMPO” informou que a justiça de Minas Gerais determinou que a Vale comprove a estabilidade de seis de suas barragens que abrigam rejeitos de suas operações no município de Itabira (ver imagem abaixo).

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Dentre as barragens arroladas pela justiça para que a Vale comprove que estão instáveis estão as de Conceição, Itabiruçu e Rio de Peixe, no complexo Conceição, e Cambucal I e II e Três Fontes, que pertencem ao complexo Mina do Meio.

Uma dessas barragens, a de Itabiruçu, já foi inclusive objeto de uma análise visual de imagens de satélite pelo arquiteto e urbanista Frederico Lopes Freire (colaborador ativo deste blog), e que ficou particularmente preocupado com as condições de estabilidade da mesma. Aliás, o caso da Itabiruçu é particularmente preocupante porque a mesma deteria segundo dados oficiais algo em torno de 230 milhões de metros cúbicos de rejeito e seu eventual rompimento liberaria uma carga que seria seis vezes maior do que a liberada em Mariana, e também alcançaria a bacia do Rio Doce!

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Diante desse cenário é que fica ainda mais patente não apenas a necessidade de um urgente inventório pormenorizado das condições estruturais de todas as barragens de rejeito operadas pela Vale, mas também do fortalecimento das agências governamentais que deveriam fiscalizar e não estão por falta de pessoal. Além disso, pensar, ainda que remotamente, na possibilidade de ampliar o processo em curso de autofiscalização das barragens de rejeitos de mineração é claramente uma irresponsabilidade.

Mortandades de peixes continuam no Rio Doce

Lançamentos periódicos de rejeito de minério matam peixes, que continuam sendo consumidos pela população

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Por Fernanda Couzemenco para o Século Diário

“É contínuo. O rejeito fica no fundo, quando começa a prejudicar as turbinas das hidrelétricas, eles abrem as comportas e os peixes morrem”, declara o presidente da Associação de Pescadores de Conselheiro Pena e região (Aspec), Lélis Barreiros, ao final da reunião do Comitê Interfederativo (CIF) realizada nestas quarta e quinta feiras (27 e 28) em Vitória.

O CIF foi criado em 2016 para fiscalizar a execução dos programas de compensação e reparação dos danos ambientais e socioeconômicos advindos do rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco/Vale-BHP, ocorrido em cinco de novembro de 2015, o maior crime ambiental da história da mineração mundial e o maior do Brasil.  Realiza reuniões itinerantes mensais, assim como as Câmaras Técnicas a ele associadas.

Conhecedor da realidade dos pescadores atingidos no Espírito Santo e Minas Gerais, Lélis questionou, mais uma vez à Fundação Renova e outras entidades presentes à reunião, sobre os estudos que mostrem o grau de contaminação do pescado no Rio Doce, para que a população seja devidamente informada sobre os riscos que corre ao consumidor o pescado.

“A Fundação dificulta muito as coisas. Dizem que vão fazer os estudos, mas não apresentam nada”, irrita-se. “E mente, também. Já tive de chamar um funcionário da Renova de mentiroso durante uma videoconferência, porque ele dizia que os cadastros de todos os pescadores estava tudo certo”, conta.

Atualmente, a pesca está totalmente liberada na parte capixaba do Rio Doce e, no litoral, proibida apenas entre Barra do Riacho/Aracruz e Degredo/Linhares, na profundidade de até vinte metros. Em Minas, a proibição de pesca é apenas para as espécies nativas. As exóticas estão liberadas.

E entre as espécies mais pescadas pelos pescadores mineiros, na região da divisa com o Espírito Santo, está a corimba. “Ela é recente na região e tem um gosto forte, tipo salmão, por isso o preço é baixo. Mas é um peixe grande, chega a 12 kg, é muito pescado”, conta Lélis.

corimbaNa foto ao lado, um exemplo de uma corimba encontrada morta na região entre Baixo Guandu/Es e Aymorés/MG, e devorada por piranhas, pouco após a abertura da represa Baguari, a cerca de 30 km de Governador Valadares. “Quando o rio sobe 80 cm, eles abrem a represa e a água volta a baixar”, descreve.

Essas aberturas de comportas também acontecem na Represa Risoleta Neves, próximo a Mariana, que tem, segundos dados informados nas reuniões de Câmaras Técnicas do CIF, 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos depositados. Da última vez, conta Lélis, a água jogou poeira pro ar. “Nunca vi isso, água jogar poeira”, diz.

A Aspec está acionando o Ministério Público para que intervenha no caso e explique porque os peixes exóticos estão liberados para pesca. “Em novembro 2015, sugeri a proibição total da pesca. Eles aceitaram. Mas em maio de 2017, liberaram os exóticos. Se não sabe qual o grau de contaminação, então tem que proibir tudo. Prevenir é melhor do que contaminar a população toda”, afirma o pescador.

As críticas à liberação da pesca no Rio Doce é feita também por pescadores capixabas, sem qualquer atendimento por parte dos governos estaduais ou do Ministério Público.


Este artigo foi originalmente publicado pelo site “Século Diário” [Aqui!]

Rio Doce, tem mais uma morte anunciada

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Desde o dia o8 de fevereiro, quando se anunciou que a barragem (ou barragens) do complexo de Gongo Seco está em condição de rompimento, uma sirene (não as da Vale) deveria ter soado nos governos estaduais e municipais de Minas Gerais e Espírito Santo. Mas tanto os governadores Romeu Zema (MG) e Renato Casagrande (ES) preferiram gastar tempo precioso com as articulações pró-contrarreforma da previdência proposta pelo ministro Paulo Guedes, e nenhuma medida de urgência aparentemente foi tomada para impedir mais um assassinato do Rio Doce.

É que em meio às declarações da mineradora Vale sobre não haver razões para pânico já que os moradores dos arredores imediatos foram removidos de suas residências, essa aparentemente calma serve apenas para acalmar os ânimos dos detentores de suas ações.

2-barragem-sul-superior

A verdade é que não motivo algum para calma caso a barragem (ou barragens) de rejeito da mina Gongo Soco, pois ali estão estocados algo em torno de 10 milhões de metros cúbicos do mesmo tipo de rejeito que escapou em Mariana e Brumadinho, e equivalente ao que escapou da mina do Córrego do Feijão. E mais, como no caso de Mariana, não se trata de atingir uns poucos moradores dos arredores, mas cidades inteiras que estarão no rastro da lama que deverá escapar de Gongo Soco, sendo que a primeira cidade a ser atingida será Barão de Cocais (ver primeira imagem abaixo).

Congo Soco - caminho da lama

Mas Barão de Cocais será a primeira de uma série de cidades vizinhas que receberão o grosso do impacto de uma eventual onda de lama (Tsulama, como eu já batizei) já que logo abaixo estão as cidades de Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo (ver imagem abaixo).

Congo Soco - caminho da lama 2

Mas o detalhe que deveria estar incomodando tanto os governadores Romeu Zema e Renato Casagrande como dezenas de prefeitos de cidades que estão localizadas à jusante da barragem que ameaça romper em Gongo Soco é o fato de que um eventual Tsulama em Gongo Soco irá desembocar novamente no Rio Doce que ainda nem começou a se recuperar dos impactos causados pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana (ver imagem abaixo).

Congo Soco - caminho da lama 3

E mais ainda, como Gongo Soco é apenas umas das muitas minas em condição de estabilidade duvidosa cujo rompimento enviaria novas ondas de lama para o Rio Doce, a verdade é que não há motivo para que se minimize o que está acontecendo neste momento em Barão de Cocais. A verdade é que estamos assistindo a mais uma morte anunciada do Rio Doce, enquanto as autoridades constituídas permitem mais uma vez que a Vale dite a narrativa dos acontecimentos e estabeleça um controle do território que dificultará qualquer acompanhamento independente dos impactos de mais essa tragédia anunciada.

O interessante é que há vários meses o arquiteto Frederico Lopes Freire, que traçou nas imagens acima o trajeto dos rejeitos que podem escapar de Gongo Soco, vem tentando alertar autoridades e representantes de empresas sobre os graves riscos que pairam sobre o Rio Doce em cujas margens ele vive. Até agora, os alertas de Lopes Freire caíram em ouvidos mocos e insensíveis.  Vamos ver como ficarão aqueles que se fingiram de surdos quando ele tentou avisar se o pior acontecer.