A Rosa de Hiroshima uenfiana…. daí florescerá algo?

rosa

Por Douglas Barreto da Mata

Sempre fui um crítico ácido das publicações da Drª Luciane Soares da Silva.

Digamos que ela é portadora de uma ingenuidade antropológica antiga e típica da esquerda, refratária ao marxismo, e seduzida a um tipo de “behaviorismo de ciência social”, que não raro desemboca em identitarismos, culturalismos e outras bobagens comportamentais.

São passagens  como esta abaixo que me fizeram tão cético ao que ela escreve, bem como as suas tentativas de analisar contextos complexos, como segurança pública, com jargões antropológicos e morais….

Eis o resumo do texto da Doutora Luciane, que em seu preâmbulo, apresenta suas “armas”:

“Importante esclarecer que não estudo economia, sistemas bancários, transações globais, golpes dados por grandes bancos ou inflação. O que me interessa é o aspecto antropológico da circulação de pessoas, mercadorias e crenças sociais sobre valor. Estudo mudança social e trânsitos. Em alguns momentos podem ser possessões e transes dependendo da ótica adotada.”

Porém, como ela mesmo disse lá no fim do texto dela, às vezes, da terra arrasada brota alguma coisa…

Se em terra arrasada pode nascer algo, teremos de observar. Por aqui o terreno recente foi arado para plantar um estranho tipo de negacionismo. (…)”

 É o caso…

Pois o seu texto (Aqui!) atinge com precisão a tarefa de descrever o processo eleitoral recente da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), mergulhada no maior lodaçal institucional desde sua criação, e infelizmente, resultante de um processo de acúmulos de iniquidades, como cabe a todo caminhar histórico…

Uma fresta de luz da Idade das Trevas da Uenf? Tomara…

Apesar do desconhecimento e/ou da rejeição (que no fim, dão no mesmo) da Professora Doutora sobre economia, e que tais, é bom avisar:

É Marx, Doutora, é Marx…

A suposta desintegração do mundo, literal e metaforicamente, naquilo que chamam de distopia ou liquidez, ou pós realidade, nada mais é que o momento que todos da esquerda esperamos, quer dizer, pelo menos os verdadeiramente de esquerda:

– O fim do capitalismo!

O problema, Doutora, é que o fim não veio pela esquerda, mas pela  reciclagem do capitalismo em um modelo ainda mais excludente, ainda mais cruel, e pasme, que não tem mais na mais valia (a verdade do Capital) sua mola mestra…

Não há mais acumulação pela expropriação do trabalho, que se vende ao capitalista, mas apenas reprodução simulada (pós verdade?) de capitais (anti-valores), que para acontecer não precisa, de forma central, de uma sociedade estruturada institucionalmente para garantir o ambiente produtivo e a propriedade privada, com separação de poderes constitucionais, modelos representativos, estruturas de mídia corporativas e sujeitas à regulação…

Se eu fosse chegado a neologismos (e eu sou) diria que estamos a caminho do anarco-liberal-comunismo, passando agora pela ditadura digital do rentismo…

Se as universidades, via de regra, no arranjo e ideário capitalista, tão caro a certos círculos acadêmicos que hegemonizaram tais entidades, eram estuários científicos para associação com o capital e reprodução de novas tecnologias e avanços de produtividade, o que fazer quando a Era Industrial (Capitalismo) acaba, e pior, em uma zona de periferia ainda sub industrializada?

É isso, Doutora, que atropelou sua universidade, e vai atropelar tantas outras, diante da completa incapacidade de ler e enxergar os sinais, que já estavam aí há muito…

Enquanto os anarco-liberal-comunistas estudaram Marx até a medula, nos importamos com as perfumarias antropológicas…

Este texto da Doutora, como disse, é um tratado, um libelo que descortina e que clareia pontos obscuros, até certo ponto, ou até onde a antropologia e os “transes e possessões” permitem…

Assim, em uma alegoria “literária”, temos o ex reitor, um dos que criou enormes dificuldades (sabe-se lá porquê) para reforma do Arquivo Público Municipal, e agora é o fiscal da obra…

Como uma inversão ou uma adaptação d’O Processo, de Franz Kafka, outro clássico que tenho sérias reservas políticas (e não estéticas, por favor), que junto com George Orwell, é um dos precursores da crítica anti marxiana via “costumes” e “liberdades individuais”, os donos d’Processo da Uenf ou os Grandes Irmãos da Uenf não querem convencer ninguém da veracidade das suas versões da realidade, para eles, a realidade sequer importa, muito menos uma versão dela…

As eleições foram o apogeu do “pós existencialismo pragmático uenfiano”, para agradar a Academia que adora esse prefixo “pós”…

Mergulhemos em outra obra-prima conservadora, o conto Cabeça de Papelão, João do Rio, para ilustrarmos como andam as coisas na Uenf…

E olhem que por lá já tivemos quem “falasse javanês”…

A realidade atual, Doutora, é real sim, apesar da Uenf e, porque não dizer, também por ela, não há uma pós verdade ou uma ilusão…há, sim, distopia, mas é a distopia de sempre, que agora é distopia pós capitalista, ou, como dissemos, ditadura digital do rentismo…

Não é economia, não é transe, não são possessões, é a História, e seu inexorável materialismo dialético…

Vivemos agora no estado da arte da fetichização (da riqueza), que se antes era um meio para que o capital ideologicamente convencesse que todo mundo poderia ser bem sucedido, ao mesmo tempo que convertia todas as sócio reproduções em coisas (bens), em hoje nos convence a todos que vale a pena não sermos nada além de um clique, um “láique”, uma lacração, todas monetizáveis…

Será que dessa hecatombe florescerá a Rosa de Hiroshima?

Tenho cá minhas dúvidas….