A matéria abaixo, assinada pela jornalista Rosayne Macedo, que foi publicada pelo jornal O DIA está repleta de tantas informações duvidosas que mais parece propaganda paga Prumo Logística. Ainda bem que a jornalista Rosayne Macedo informou, ainda que no rodapé da matéria, que esteve no Porto do Açu a convite da própria Prumo Logística. Daí podemos até entender tamanha distância entre a realidade do empreendimento e a propaganda que ela está ajudando a disseminar travestida sob a forma de uma matéria jornalística.
Tivesse a jornalista Rosayne Macedo se dado ao trabalho de entrevistar pessoas que não estão ligadas à Prumo Logística na visita que realizou a São João da Barra, ela talvez tivesse colhido informações semelhantes às que eu postei neste blog no dia 10 de Agosto de 2015 (Aqui!), onde mostrei a situação real em que se encontravam mudas que teriam sido plantadas na RPPN da Fazenda Caruara.
Um aspecto que me parece interessante na divulgação de mais essa peça publicitária travestida de matéria jornalística é que esta estratégia me parece resultar de uma clara ansiedade que parece estar tomando da diretoria da Prumo Logística em face de uma série de notícias ruins que colocam em xeque a sua credibilidade para consolidar um empreendimento que vem tendo tropeços desde que foi iniciado pelo ex-bilionário Eike Batista.
O problema é que este tipo de estratégia, quando confrontada pelos dados frios da realidade, acaba tendo um efeito contrário ao pretendido. E como já disse recentemente neste blog, em termos de incompetência de gerar lucro, o mercado costuma punir bem mais rápido dos que os tribunais. A ver!
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Maior reserva de restinga do país, que supera áreas de algumas cidades do estado, fica dentro do Porto do Açu, onde várias espécies de flora e fauna são preservadas
Rio – Manoel Gonçalves de Almeida, 72 anos, 11 filhos, mais de 20 netos, sabe tudo da terra desde que se entende por gente. Era mateiro na Usina de Baixa Grande, antiga dona de um mundaréu de terras improdutivas na baixada litorânea de São João da Barra, no Norte Fluminense. Mas o que este senhor de pouco estudo tem a ver com o sonho ousado do ex-megabilionário brasileiro Eike Batista de erguer ali naquele ‘fim de mundo’ o maior complexo portuário do país? Seu Manoel é o “guardião” do viveiro de mudas de espécies de restinga que o Porto do Açu teve que construir como uma das contrapartidas ambientais na região.
Manoel, no viveiro de mudas: antes destruía, agora ajuda a recuperar. Foto: Rosayne Macedo
Com capacidade para produção de 500 mil mudas, já é considerado o maior viveiro do gênero na América Latina. Atualmente, produz e maneja 70 espécies de restinga e até agora, mais de 600 mil mudas já foram plantadas em 530 hectares da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda Caruara, que ocupa 40 quilômetros quadrados no entorno do porto — mais do que o tamanho de cidades como Nilópolis, São João de Meriti e Mesquita, na Baixada Fluminense. Com mais de 4 mil hectares de área protegida, esta é a maior unidade de conservação privada de restinga particular do país — a segunda colocada é sete vezes menor. Equivale a cerca de 60% da soma de todas as 69 RPPN’s registradas no estado pelo Inea.
Ali são desenvolvidas ações de resgate e monitoramento da fauna silvestre e de recomposição. São parte do Programa de Conservação da Biodiversidade da Prumo Logística, empresa responsável pela administração do porto, que hoje conta apenas com 0,26% de ações de Eike Batista. Por este trabalho, a Prumo já recebeu três prêmios socioambientais: o selo verde Chico Mendes, o Prêmio Firjan Ação Ambiental e o Benchmarking Brasil. No local, pesquisadores da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) e Instituto Jardim Botânico realizam estudos sobre novas espécies de restinga.
O processo de replantio de mudas envolveu diretamente cerca 150 trabalhadores da região. Até hoje já foram produzidas mais de 800 mil mudas no viveiro, entre elas algumas ameaçadas de extinção, segundo a lista oficial do Ibama. Como a pimenta da praia, a almescla e a quixaba. “Aqui tem todo tipo de fruta”, conta ‘seu’ Manoel, nativo da região e que há nove anos trabalha no projeto. Enquanto limpa dezenas de araçás colhidos para preparar as sementes para o replantio, explica seu trabalho: “ Eu cato mudo no mato, planto, limpo semente, resgato bicho no mato. Já peguei tamanduá, cobra, porco-espinho para soltar depois que os biólogos olham eles (sic)”.
Na década de 1970, quando começou a trabalhar na antiga fazenda, ele também fazia de tudo. Mas era diferente. “Era tudo mato. Na época da usina, cortava e queimava tudo para fazer pasto para boi. Antes eu trabalhava aqui destruindo. Agora eu estou aqui para ajudar a (re)construir”, diz ele, com a simplicidade de quem nunca foi à escola, mas aprendeu a lição do respeito ao meio ambiente.
Ponte de R$ 50 milhões para lagarto do rabo verde
A RPPN Fazenda Caruara é uma baita contrapartida ambiental para um empreendimento gigantesco e polêmico como o Açu, inúmeras vezes contestado, inclusive, pelo Ministério Público Federal. Mas nem de longe é a mais “exótica” que o porto teve que fazer para garantir o licenciamento ambiental da obra, que já foi acusada de causar erosão e salinização da água e do solo e de promover desapropriações que provocaram protestos de famílias de agricultores.
Há nove anos, quando o projeto ainda era tocado por Eike, engenheiros tiveram que mudar o traçado inicial de uma ponte para que o largarto do rabo verde, uma espécie rara e típica da região, fosse preservado. “Com o novo projeto, foi necessário gastar mais R$ 50 milhões”, lembra Johnson Tatton, gerente de implantação do porto.
As luzes das embarcações que confundiam as tartarugas marinhas que desovavam na região também foram motivo de preocupação para o empreendimento, que transformou os antigos “caçadores de tartarugas” locais em parceiros no projeto de proteção à espécie. Diariamente, 11 moradores percorrem 62 km de praia. Animais debilitados são levados para um centro de recuperação com veterinários, biólogos e técnicos.
Uma ilha de progresso no meio do nada, o Porto do Açu ocupa 90 km2 — mais que cidades como Armação dos Búzios, Queimados ou Japeri —e iniciou sua operação em 2014, já tendo recebido mais de 40 navios de 4 milhões de toneladas de minério de ferro. Emprega atualmente cerca de 10 mil pessoas, sendo 3,5 mil já na operação das unidades. Quando estiver em plena carga, a previsão é empregar cerca de 40 mil empregos. O porto se transformou em um megacondomínio industrial e já atraiu 14 grandes empresas.
A jornalista viajou ao Porto do Açu a convite da Prumo Logística
