A ministra do Meio Ambiente, Maria Silva, respondeu com altivez à tentativa de linchamento político que sofreu no Senado Federal
As cenas virulentas cometidas hoje em audiência pública no Senado Federal contra a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não são apenas atos misóginos (o são, é verdade), mas a coisa vai muito além. O que foi feito hoje foi uma ação para conter a reação popular que está ocorrendo contra a versão piorada do PL do Licenciamento Ambiental (mais corretamente conhecido como o PL da Devastação) que foi aprovada no Senado Federal após acordo com o próprio governo Lula.
Ao longo do Lula III, Marina Silva vem sendo o alvo de várias ações combinadas entre o governo Lula e a oposição (de direita e de extrema-direita) no sentido de enfraquecer a legislação ambiental brasileira. Temos casos emblemáticos como o do PL do Veneno que destroçou a legislação dos agrotóxicos, a Lei 14.876/2024 que isentou os plantios de eucalipto (independente de tamanho) do processo de licenciamento ambiental, o debate em torno das licenças ambientais para a Petrobras explorar petróleo na foz do Rio Amazonas, e agora o PL de Devastação. Em todos esses casos, Marina Silva foi deixada no sereno por Lula e seus ministros prediletos, Carlos Fávaro (Agricultura) e Alexandre Silveira (Minas e Energia).
Ao mesmo tempo, o orçamento do Ministério do Meio Ambiente vem sendo asfixiado pelo chamado “Novo Teto de Gastos”, o que cria dificuldades operacionais sérias para as ações do Ibama e do ICMBio, já que sem dinheiro é difícil levar a cabo as delicadas operações de fiscalização e repressão às atividades ilegais na Amazônia, principalmente.
O curioso é que hoje o ataque a Marina Silva contou com o apoio também de senadores da chamada “base” do governo Lula no Senado Federal, e o silêncio cúmplice dos senadores do próprio PT. Coube a uma senadora do PSD do Maranhão, Eliziane Gama, fazer a defesa mais enfática de Marina Silva.
Mas no frigir dos ovos, o que está em jogo? Na prática, isso parece indicar que já foi tomada uma deciaão de se livrar de Marina Silva, obrigando-a a renunciar ao seu cargo. Contraditoriamente, se isso ocorrer, quem perderá o seu principal selo de legitimidade internacional será o governo Lula, já que o resto do ministério é composto por um ilustre bando de desconhecidos que nada interferem na dinâmica da política brasileira.
E, pasmem, estando o Brasil às vesperas da realização da COP-30, este ataque virulento à Marina Silva representa um tremendo tiro no pé. É que se ela sair, quem vai segurar a onda durante a COP30? Ao presidente Lula não caberá esse papel, pois ele teria que aparecer no final da conferência para ser carregado em triunfo pelos acordos que de lá vierem a sair. Acontece que sem Marina Silva, a chance de que se tenha algo para apresentar como vitória será muito próximo de zero.
Curiosamente, a única que tem algo a ganhar se decidir sair do governo será a própria Marina Silva. Talvez por isso mesmo ela tenha se sentido confortável o suficiente para pegar suas coisas e se mandar do circo de horrores que foi montado para constrangê-la. Como sempre, o tiro parece ter saído pela culatra.






