Antes que o porto venha, o trailer

porto central

Há um tempo atrás recebi a visita de uma equipe da organização não-governamental Redi-Itabapoana na sala que ocupo no Centro de Ciências do Homem da Uenf. A equipe veio tomar meu depoimento no que me disseram seria um documentário sobre a chegada do Porto Central no município de Presidente Kennedy (ES).  Respondi às questões formuladas com base na experiência que acumulo desde 2007 quando tive os primeiros contatos com um projeto similar ao Porto Central, o famigerado Porto do Açu.

Eis que ontem recebi o link de acesso ao trailer oficial do documentário feito pela Redi-Itabapoana que se intitula “Antes que o porto venha”, e os 4:18 minutos em que a amostra grátis dura já nos dá uma boa idéia do que estamos diante de uma denúncia pungente do que deverá acontecer nas áreas de influência do Porto Central (ver vídeo abaixo).

Como o lançamento do documentário está anunciado para o início de março, vamos agora esperar pelo conjunto da obra.  Por ora, as falas que aparecem no trailer já mostram que as comunidades que serão atingidas estão conscientes dos riscos que estão sendo engendrados pela construção de mais uma estrutura portuária sobre territórios tradicionalmente ocupados por agricultores, pescadores e quilombolas.

Sinal de Fumaça: após 2 anos das eleições, nova ferramenta sistematiza ações e omissões federais relacionadas à crise socioambiental no Brasil

Monitor interativo bilíngue produzido por jornalistas elenca principais acontecimentos em forma de linha do tempo, refletindo a atuação coordenada do governo Bolsonaro a partir de outubro de 2018

logo

Há dois anos, Jair Bolsonaro foi eleito presidente da República com uma campanha de ameaça a ativistas, proposta de fusão do Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente e recusa em demarcar terras indígenas, entre outras promessas desastrosas do ponto de vista socioambiental.

Entendendo que tais ameaças não eram falas isoladas do presidente mas parte de uma estratégia de consolidação de seu projeto político, um time de comunicadores independentes se uniu para acompanhar como as ações e omissões do governo federal na área socioambiental estão relacionadas entre si. A partir da pesquisa de cerca de 800 conteúdos e textos sobre o tema, foi criado o Sinal de Fumaça – Monitor Socioambiental, uma linha do tempo interativa com foco na atuação do poder público e respostas da sociedade civil nesta área.

Bilíngue e de utilidade pública, o Sinal de Fumaça – Monitor Socioambiental registra fatos e movimentos relacionados às políticas socioambientais brasileiras e já nasce com mais de 220 textos que narram os principais eventos desde outubro de 2018. A curadoria de conteúdo é feita a partir de notícias publicadas em portais confiáveis da imprensa nacional e internacional, canais oficiais do governo na internet, sites de ONGs e movimentos sociais, além de publicações do Diário Oficial; o monitoramento é contínuo e a atualização da linha do tempo é semanal.

Com objetivo de oferecer ao público uma visão geral sistemática que dê transparência à crise socioambiental no Brasil, a plataforma possibilita ao usuário personalizar a linha do tempo com a seleção de editorias, temas e personagens para aprofundar a compreensão sobre fatos e consequências em assuntos específicos.

“As conquistas e direitos socioambientais garantidos pela Constituição de 1988 estão ameaçados e sendo desmantelados em tempo recorde pelo governo Bolsonaro”, explica Rebeca Lerer, jornalista, ativista de direitos humanos e coordenadora do Sinal de Fumaça. “A crise ecológica brasileira obviamente é bem anterior a 2018, mas nosso monitoramento mostra que o atual governo tem agido de forma sistemática e sem precedentes para acelerar o desmonte da estrutura de proteção e desenvolvimento socioambiental no país. As tais reformas infralegais começaram no primeiro dia da gestão Bolsonaro, bem antes do ministro Ricardo Salles verbalizar sua “boiada” na reunião ministerial de abril de 2020″, completa Rebeca

Sem a pretensão de cobrir todo o noticiário socioambiental, a ferramenta visa servir conteúdo selecionado a pesquisadores, jornalistas, ambientalistas, ativistas, estudantes, economistas, investidores, assessores parlamentares, organizações não-governamentais, coletivos e movimentos sociais na consulta dos temas de seu interesse. Apresentando os resultados deste monitoramento de maneira categorizada desde outubro de 2018, o Sinal de Fumaça ainda atua como eficiente espaço de preservação de memória dos fatos e combate a fake news.

Sinal de fumaça – monitor socioambiental é uma realização da Agência Lema, sob a coordenação geral da jornalista e ativista de direitos humanos Rebeca Lerer, a redatora Julia Alves e o editor bilíngue Pedro Nogueira.

LANÇAMENTO

Para marcar o lançamento do monitor socioambiental, Sinal de Fumaça e Fluxo convidam para uma série de 4 lives temáticas, reunindo especialistas para discutir a linha do tempo de cada editoria da ferramenta. A programação segue abaixo.

Canais de informações do Sinal de Fumaça:

Site: http://www.sinaldefumaca.com/ smokesignalmonitor.com

Twitter:@FumacaSinal

Informações para imprensa

Agência Lema

Leandro Matulja/ Letícia Zioni
agencialema.com.br

Carolina Bressane (11) 99234 4570
carolina@agencialema.com.br

Programação de lives de lançamento do Sinal de Fumaça – monitor socioambiental em parceria com o Estúdio Fluxo

Editorias: Políticas Públicas e Racismo Ambiental
Data: 05/11
Horário: 19h às 21h

Editorias: Economia e Clima
Data: 12/11
Horário: 19h às 21h

Editorias: Ciência e Saúde
Data: 19/11
Horário: 19h às 21h

Editorias: Teorias da Conspiração e Resistência
Data: 26/11
Horário: 19h às 21h

Economia “em nome do” clima? Um convite à leitura da nova cartilha publicada pelo Jubileu Sul

economia_verde

Adaptado da capa da cartilha “Economia Verde: O que é feito em nome do meio ambiente e do clima?” da Rede Jubileu Sul.. Creator: Rede Jubileu Sul Brasil. All rights reserved.

Por Tatiana Oliveira

Em março de 2016, a Rede Jubileu Sul lançou uma nova cartilha, que abrange temas relativos à atual agenda do campo de lutas por justiça socioambiental, chamada “Economia Verde: O que é feito em nome do meio ambiente e do clima?. A publicação é parte do trabalho realizado no âmbito da Plataforma Jubileu Sul sobre Mudanças Climáticas, Dívida Ecológica e Soberania Financeira, cujo desenvolvimento data de 2009, em sequência à 15ª Conferência das Partes na Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague, Dinamarca. O texto se mostra uma valiosa contribuição pelo esforço de simplificar a abordagem de um assunto complexo.

Chamou a minha atenção o fato de que, já nas primeiras páginas, a leitura tropeça numa série de palavras que remetem à dificuldade de se alcançar o debate socioambiental e climático, isto é, de o en-carnar, tornando-o mais tangível, a fim de facilitar a sua compreensão e, assim, contribuir para “democratizar a democracia” pela participação social. São, portanto, dois problemas notáveis aqui: primeiro, a dificuldade da ampliação do debate em virtude da sua especificidade e, segundo, consequência do anterior, o problema da compreensão e comunicabilidade.

De certo modo, justamente por tratar-se de um debate difícil, a disputa conceitual e discursiva é aqui não apenas fundamental, mas acirrada. Isto tanto dificulta a compreensão como abre oportunidades, pela frouxidão da linguagem e pelas fissuras do entendimento, para a subversão da perspectiva hegemônica e sua ressignificação. O problema da compreensão é, por isto, um aspecto central para esta discussão, não apenas no que diz respeito a sua comunicação/divulgação, mas porque ela implica um exercício de diálogo e interpretação, ou tradução, que confronta modos de vida e cosmovisões muito distintas, talvez até irreconciliáveis.

No texto da cartilha vão aparecendo expressões como “desmitificar” e “desmascarar” que aludem à opacidade das estratégias que “se escondem” e estão “por trás” da nova face, verde, do capitalismo. A opacidade no discurso sobre o “projeto” é uma característica do capitalismo moderno. Durante todo o seu processo de desenvolvimento histórico, ele produziu uma série de mecanismos socioeconômicos e culturais que desviam, insistentemente, a nossa atenção tanto das formas de opressão específicas do capital quanto da maneira pela qual a sobreposição do poder político ao econômico produz desigualdade e exclusão reiterada e cotidianamente.

O argumento sobre a separação das esferas “política” e “econômica” é uma tática clássica do pensamento liberal para nos convencer sobre a autonomia, isto é, sobre a existência de uma lógica interna particular e isenta em cada um desses casos. Isso quer dizer que há uma tendência para compreender o fracasso individual no mercado como uma má inserção nesse espaço de regulação social, que nada tem a ver com as estruturas. Igualmente, o sucesso corresponde ao mérito individual, e apenas individual. Do ponto de vista macroeconômico acontece o mesmo. As crises econômicas e financeiras, como a que testemunhamos em 2008, derivam da má aplicação do capitalismo (nunca da dinâmica capitalista em si). A solução, portanto, para situações de crise do capitalismo é sempre mais capitalismo (nunca menos).

Obviamente, isto é um equívoco. Daí a necessidade de se reforçar o entendimento sobre a complementaridade essencial das lutas por democracia e justiça social e econômica. O capitalismo não produz apenas o monopólio econômico em termos de mercado. Para garantir os seus interesses, esta força econômica usurpa e concentra o poder político em benefício de poucos. Mesmo com base em uma definição liberal da democracia, para a qual a soberania é distribuída, quem detém o poder político é o povo, não as corporações. Contudo, se o capital destrói a democracia como um câncer, a democracia nos municia, com o antídoto da radicalidade, para atacar o capital.

A cartilha do Jubileu Sul, no texto de Fabrina Furtado, ataca todas estas frentes da discussão, relacionando-as à problemática da economia verde. Constrói e desconstrói os conceitos e as disputas políticas que os cercam, aponta o envolvimento e demarca os interesses da iniciativa privada, mostra a corrupção do cuidado com a coisa pública por ação do império do capital – uma dinâmica que é, de resto, bem servida da conivência insuportável do estado –, além de apresentar o testemunho de quem sofre as consequências agudas de todo esse processo na ponta: as comunidades indígenas, tradicionais e periféricas.

Diante desse exercício de dialética negativa, cujo objetivo é produzir revelações ao perturbar a (in)coerência plácida da opacidade do capital, o Jubileu Sul produziu um belo trabalho, que auxilia o questionamento e a construção de uma nova rota para um outro projeto de desenvolvimento com justiça socioambiental. Se fosse possível, por fim, fazer sugestões à publicação, eu diria que seria importante enfatizar mais a visão das comunidades, suas falas, demandas, problemas e concepções de desenvolvimento.

Leitura recomendadíssima!

Para ler a cartilha, clique aqui.

FONTE: http://br.boell.org/pt-br/2016/08/15/economia-em-nome-do-clima-um-convite-leitura-da-nova-cartilha-publicada-pelo-jubileu-sul

Um exame remoto dos supostos investimentos milionários em conservação ambiental da Prumo no Porto do Açu

Os últimos acontecimentos em Bento Rodrigues onde duas lagoas de rejeitos causaram o maior desastre ambiental na história recente do Brasil serviram para pelo menos uma coisa positiva. É que todos os desencontros já detectados entre o discurso de sustentabilidade e a realidade dos fatos serviram para colocar em xeque o discurso corporativo. Não há  nenhuma campanha publicitária que possa esconder a lama tóxica que está neste momento chegando no Espírito Santo tal é o volume que brotou em Bento Rodrigues, graças principalmente à negligência da Mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton). 

Mas bem perto de nós aqui no Norte Fluminense há também um descompasso retórico no tocante aos impactos de megaempreendimentos sobre a população e o ambiente, e que aparece. inclusive, em relatórios corporativos a acionistas e possíveis investidores. Estou neste caso falando da Prumo Logística Global e seus divulgados investimentos de R$ 30 milhões em conservação da biodiversidade (como mostra a figura abaixo).

prumo1

Para mim há já faz algum tempo uma postura dicotômica no discurso da Prumo Logística. De um lado, se soma tudo o que foi investido em determinadas atividades desde o lançamento do Porto do Açu pelo Grupo EBX e, de outro, se ignoram todos os danos socioambientais que tenham sido eventualmente causados. Entretanto, para azar da diretoria da Prumo existem ferramentas disponíveis para uso público que nos ajuda a enxergar rapidamente o descompasso entre discurso e prática.

No caso da conservação da biodiversidade já vi evidências em terra, e mostrei aqui neste blog, que o discurso dificilmente bate com a prática. Mas para deixar mais claro a distância abissal que separa investimentos declarados das mudanças necessárias na paisagem, mostro abaixo duas imagens retiradas do Earth Google onde se pode comparar a situação da área do Porto do Açu em 2003 com a de 2015.

Prumo 09092003

09/09/2013Prumo 16092015

16/09/2015

Quem clicar nas duas imagens poderá verificar até com alguma facilidade que não há qualquer sinal aparente de conservação emergindo. Já as profundas transformações físicas causadas pela construção de aterros hidráulicos gigantescos e pela abertura do Canal de Navegação nem precisaria ser marcadas com os círculos vermelhos que inseri na imagem de 2015.

Esse desencontro entre discurso e o que as imagens explicitam pode ainda ser encontrado em outras da rubricas elencadas pela Prumo Logística, e basta o leitor olhar para os números declarados para, por exemplo, “realocação de comunidades rurais” que teriam atingido astronômicos R$ 62 milhões e uns quebrados para saber que as coisas simplesmente não batem. É que se isso fosse verdade, as 50 e poucas casas construídas na Fazenda Palacete sob a alcunha de “Vila da Terra” estariam entre as luxuosas do planeta. E para quem já visitou o local sabe que isto absolutamente não é verdade. 

Mas qual é então o moral da história? Para mim é simples: não se pode simplesmente acreditar em discursos que não resistem a um exame mínimo, nem que seja apenas por meio do sensoriamento remoto. É que ao ter essa postura ingênua (para dizer o mínimo) corremos o risco de acordar com novas tragédias socioambientais enfeitando a tela da TV. Simples assim!

OAB/RJ promove debate sobre a crise socioambiental na Baía da Guanabara e em seu entorno

A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Rio de Janeiro, promove no próximo dia 09 de Abril um debate sobre a grave crise socioambiental que afeta neste momento a Baía da Guanabara e os ecossistemas localizados no seu entorno. 

O evento ocorrerá a partir 18:00 horas no Salão Nobre da OAB/RJ que está situada na Avenida Marechal Câmara, 150- 9o. andar, Castelo, no centro da cidade do Rio de Janeiro. 

baia da guanabara