
O presidente Jair Bolsonaro e seu “quasi” ministro da Educação, Abraham Weintraub, usaram o Japão como exemplo para banir cursos de Filosofia e Sociologia nas universidades federais. O problema é que os japoneses já mudaram de ideia após suas universidades afundarem em rankings internacionais.
Na semana passada o presidente Jair Bolsonaro e seu “quasi” ministro, Abraham Weintraub, causaram sensação quando anunciaram um desinvestimento ainda maior em cursos da área de Ciências Humanas, especialmente Filosofia e Sociologia. Para dar uma aparência de racionalidade a essa proposta estapafúrdia, Bolsonaro e Weintraub anunciaram que estavam seguindo o caminho adotado pelo Japão onde também ocorreu a partir de 1995 um forte corte de verbas nessa área do conhecimento científico.
Afinal, se o Japão fez, isto deve estar acerto, porque afinal o Japão é o Japão, era a linha aparente de raciocínio. O problema é que a política aconselhada pelo governo japonês não apenas não foi seguida inteiramente pelas universidades japonesas, como o atual governo comandado por Shinzo Abe decidiu reverter a postura de 1995 e decidiu voltar a promover ciências humanas e sociais em sua nova política de ciência e tecnologia, que será implementada a partir de 2020.
As razões para essa reversão muitas, mas a principal deve ser o simples fato de que as universidades japoneses estão caindo consistentemente nos rankings globais criados para avaliar a qualidade das universidades existentes no mundo, e muitos acreditam que essa decadência tem a ver com a perda da capacidade de pensar criticamente dos estudantes japoneses. E até que se reinvente totalmente a roda do conhecimento, a capacidade de gerar pensamento crítico (e, portanto, gerador de inovações) é uma das principais contribuições das ciências ditas humanas.
Além disso, ainda que para algumas mentes despreparadas para entender a complexidade do processo de geração de conhecimento científico que seja transformável em novas tecnologias, é dentro das chamadas ciências humanas, e principalmente da Filosofia, que se apresentam e são destrinchados problemas que posteriormente abrirão o caminho para inovação tecnológica após serem resolvidos. Não é à toa que dois grandes personagens do pensamento científico do Século XXI, Karl Popper e Thomas Kuhn, eram físicos e também filósofos. Aliás, Thomas Kuhn era também historiador, enquanto Karl Popper é também um dos mentores do chamado Neoliberalismo que tanta sensação causa entre os principais ministros do governo Bolsonaro.
Mas voltando ao Japão, se o governo Bolsonaro quiser realmente copiar o que está sendo engendrado pelos líderes japoneses para recuperar o bom nome de suas universidades, o caminho a seguir será a realização de fortes investimentos e não cortes orçamentários na área de Ciências Humanas. O bom é que se quiserem copiar em vez de terem um modelo próprio de desenvolvimento para os estudos de Filosofia e Sociologia, Bolsonaro e Weintraub, eles poderão acessar o documento a Política Básica japonesa de Promoção da Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) onde está dito que “mais do que nunca é importante reunir especialistas em disciplinas variadas para alcançar os objetivos de inovação“.
Quanto aos tantos que se jactaram do suposto suporte japônes para defender a proposta esdrúxula de banir Filosofia e Sociologia das universidades públicas brasileiras, sugiro que repensem seus caminhos. Afinal, se o Japão reconhece que errou, por que deveríamos seguir um caminho certo para uma derrota pior do que os “7 a 1” sofridos diante da Alemanha? Até para que para ser de direita com capacidade de sustentar um argumento de pé, há que se querer estudar as ciências humanas onde estão dispostos a raíz de muitos dos argumentos que estão em disputa no Brasil e no mundo. Afinal, não basta se dizer de direita, de esquerda, de centro ou muito pelo contrário. Há que se, primeiro, saber do que está se falando e porque.