Grupos de intelectuais lança carta de apoio à Grécia

GREECE

Carta de apoio para a Grécia

Um grupo de acadêmicos reconhecido internacionalmente, incluindo o ex-Arcebispo de Canterbury, Rowan Williams, escreveu uma carta para apoiar os gregos e apelar à União Europeia para retomar os princípios da democracia. Eis o que diz a carta:

“Nos últimos cinco anos, a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) impuseram uma política de austeridade sem precedentes na Grécia. E essa política falhou. A economia encolheu em 26%, o desemprego aumentou para 27%, o desemprego dos jovens chegou a  60%,   e proporção da dívida em relação ao PIB passou de 120% para 180%. A catástrofe econômica levou a uma crise humanitária, com mais de 3 milhões de pessoas vivendo na linha de pobreza ou abaixo dela.

Neste contexto, o povo grego elegeu o governo liderado pelo Syriza em 25 de janeiro, com um mandato claro para pôr fim à austeridade. Nas negociações que se seguiram, o governo do Syriza deixou claro que o futuro da Grécia é na zona do euro e na UE. Os credores, no entanto, insistiram na continuação de sua receita fracassada, se recusando a discutir uma diminuição da dívida – que o FMI  considera comoinviável – e, finalmente, em 26 de junho, emitiu um ultimato para a Grécia por meio de um pacote inegociável que consolidaria austeridade. Isto foi seguido por uma suspensão de liquidez aos bancos gregos e a  imposição do controle de capitais.

Nesta situação, o governo do Syriza pediu ao povo grego para decidir o futuro do país em um referendo a ser realizado no próximo domingo. Acreditamos que este ultimato para o povo grego e para democracia deve ser rejeitado. O referendo grego dá à União Europeia uma oportunidade de reafirmar o seu compromisso com os valores do Iluminismo – igualdade, justiça, solidariedade – e aos princípios da democracia sobre o qual assenta a sua legitimidade. O lugar onde nasceu a democracia dá à Europa a oportunidade de compromisso com seus ideais no século 21.

Etienne Balibar
Costas Douzinas
Barbara Spinelli
Rowan Williams, ex-arcebispo de Canterbury
Immanuel Wallerstein
Slavoj Zizek
Michael Mansfield
Judith Butler
Chantal Mouffe
Homi Bhabha
Wendy Brown
Eric Fassin
Tariq Ali

FONTE: http://www.theguardian.com/business/live/2015/jun/29/greek-crisis-stock-markets-slide-capital-controls-banks-closed-live

Embargo contra Rússia? Europa se afoga em seus próprios alimentos

Embargo contra Rússia? Europa se afoga em seus próprios alimentos

Em resposta à sanções impostas a seu país, Vladimir Putin proibiu a importação de alimentos europeus por um ano, mostrando que a decisão de seguir cegamente os EUA foi um tiro no pé

Por Cauê Seignemartin Ameni*, em Parallaxis, com informações do The Guardian

Em poucas semanas a resposta russa contra as sanções imposta pela UE e EUA vem surtindo efeitos dramáticos na exportação de alimentos e podem aprofundar a recessão do velho continente. A proibição do Kremlin a importação de 28 países da UE, mais EUA, Canadá, Noruega e Australia por um ano, fez com que quantidades de peras francesas, salsichas alemãs, pimentas polonesas e peixe escocês periguem apodrecer nos armazéns. Ano passado, as exportações da UE à Russia, alcançaram 11 bilhões de euros – cerca de 10% do total das exportações do bloco europeu, segundo o Eurostat. Segundo o primeiro ministro húngaro, Viktor Orbán, as sanções contra a Rússia foram um tiro contra o pé. Vejamos alguns países:
 
  • Alemanha: os produtos agrícolas alemães exportados para a a Rússia em 2013 chegaram a 1,6 bilhão de euros — mais alto que qualquer outro país da UE -, cerca 3,3% do total de exportações. O item mais vendido era carne de porco: das 750 mil toneladas de porco comprada pelos russos, no valor de mais de 1 bilhão de euros, cerca de 1/4 era alemão. 
  • França: O país que chegou a exportar 1 bilhão de euros em alimento para a Rússia ano passado, é atingido com o embargo. Cerca de 27 mil exportadores de frutas e legumes estão sendo prejudicados. No total, 50 mil toneladas/ano, saem de um país para o outro. Mais 50 mil toneladas são exportadas para a Rússia via Benelux e Báltico, girando um comércio de 48 milhões de euros/ano. Dessas 100 mil toneladas, 54% são maçãs, 20% batatas, 8% tomates e pepinos, 6% peras e 6% couves-flor.
  • Espanha: O país está contando as feridas: frutas, carne e verduras foram incluídas nas sanções da Rússia contra a Europa, mas vinho e azeite de oliva não estão na lista. Cerca de 30 mil toneladas de tomates, pêssegos e laranjas mandarim exportadas anualmente para a Rússia não encontrarão mercado num continente já afogado em excesso de produtos não comercializados.
  • Polônia: A mais surpreendente resposta às sanções russas foi campanha de publicidade distribuída pelas redes sociais, conclamando os poloneses a “comer mais maçãs, para derrotar Putin”. Mas o principal problema não são as maçãs, mas os legumes perecíveis. “As maçãs podem ser armazenadas por até nove meses, mas vegetais como a páprica têm de ser comercializados imediatamente depois de colhidos; e 40% do que produzimos sempre foi destinado ao mercado russo” – queixou-se Roman Sobczak, presidente do grupo produtor Polish Paprika. O preço de vários vegetais já caiu a menos da metade.
  • Reino Unido: O peixe cavala, um dos itens mais valiosos dos estoques de pescado da Escócia, perderá 20% do seu estoque comprado pelos russo – equivalente a 16 milhões de libras.
 
As restrições comerciais criarão uma lacuna de 9,5 bilhões de dólares no mercado de alimentos. Para preenche-lo, a Rússia já está em negociações com países da América Latina, Nova Zelândia, Cazaquistão e Belarus. 
 
Diante disso, pode-se concluir com as palavras de Luc Barbier, membro da Federação dos Produtores Franceses de Frutas: “Os russos continuarão a comer maçãs, tomates e pêssegos, a diferença é que não comerão produto europeu. Comerão pêssegos, maçãs e tomates importados da Ásia, do Brasil, da África do Sul… Quer dizer: quando eles [os russos] reabrirem o mercado para nós, precisaremos de vários anos para reconquistar parte do mercado. É terrível”.
 
*Cauê Seignemartin Ameni é cientista político
FONTE: http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/08/sancoes_russia/