Uenf: o nome é Aula Magna, mas pode chamar de púlpito eleitoral

43007

Em muitas instituições de ensino superior é costume realizar um evento conhecido como “Aula Magna” no início de cada semestre letivo. Nesse evento, uma pessoa de destaque, de preferência para além dos muros da instituição, é convidada para discorrer sobre um tema acadêmico ou não a partir de uma visão mais ampla e ancorada em amplo reconhecimento acadêmico da pessoa que profere a Aula Magna. A “Aula Magna” é assim uma oportunidade para que uma dada comunidade universitária receba ares diferentes daquilo que está normalmente acostumada a receber. para dar início aos trabalhos letivos.

Curiosamente. em 2023, a reitoria da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) decidiu colocar um dos seus membros, no caso a vice-reitora Rosana Rodrigues, para proferir a “Aula Magna”. Um primeiro fato a se reconhecer é que com isso, a atual reitoria apenas reforça o tom paroquial que caracteriza a gestão do professor Raúl Ernesto Palacio que tem se notabilizado por não conseguir atrair para a Uenf o mesmo tipo de presença de grandes líderes de pesquisa e de lideranças de agências de fomento que marcou a vida interna da instituição por boa parte de sua jovem existência.

wp-1679480334880

Mas paroquializar a “Aula Magna” é o menor dos problemas da atual administração.  É que assumidamente a vice-reitora da Uenf é a candidata da atual administração para continuar a “visão” (paroquializada, friso eu)  que marca a gestão da Uenf desde a posse do ex-reitor e hoje chefe de gabinete, Luís Passoni. Com isso, temos a transformação de um espaço acadêmico (o da Aula Magna) em um púlpito político.

O problema é que se a Uenf fosse um reinado ou uma ditadura autocrática, a passagem do bastão de mandatário para mandatário dispensaria algumas formalidades, como a realização de uma eleição. Como a Uenf é uma universidade pública, existe o requisito de que sejam realizadas eleições a cada quatro anos para que a comunidade universitária uenfiana possa decidir livremente quem será o próximo reitor.  Assim, ao utilizar a Aula Magna para claramente incensar uma candidata, o que a reitoria da Uenf está fazendo é dificultar enormemente os trabalhos da Comissão Eleitoral que irá trabalhar para que o pleito que ocorrerá no segundo semestre seja efetivamente democrático e que possa transcorrer sem mais interferências de quem hoje controla a máquina administrativa da instituição criada por Darcy Ribeiro.

Se me perguntassem sobre qual pode ser o efeito eleitoral dessa apropriação da Aula Magna para fins eleitorais, eu diria que pode ser um tremendo tiro no pé. É que já há muita gente que nota com alguma contrariedade alguns passos peculiares (na falta de melhor definição) adotados pela reitoria da Uenf nos últimos anos, sendo o imbróglio embaraçoso envolvendo a reforma do Solar do Colégio (que é o prédio que abriga o Arquivo Público Municipal) apenas o mais notório.

Por outro lado, aos eventuais candidatos de oposição à atual reitoria deveria ficar óbvio que não se poderá assistir passivamente a este tipo de episódio, sob o risco de que a participação nas eleições seja apenas uma chancela da transformação da “prefeiturização” das práticas políticas dentro da Uenf.  E como vivemos em uma região marcada por seguidos escândalos envolvendo o uso da máquina pública em benefício de determinados candidatos, a primeira coisa a se fazer é impedir que isso aconteça. É que as consequências para a Uenf seria o aprofundamento do isolamento acadêmico e político que a instituição já vive. Pior ainda é que a “Universidade do Terceiro Milênio” de Darcy Ribeiro seria mortalmente ferida, comprometendo profundamente a sua habilidade de transformar a realidade social em que está imersa.

E, finalmente, não posso deixar de mencionar que esse ato da reitoria da Uenf, me faz uma estrofe da canção ” O tempo não para” de Cazuza, aquela que diz “Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades. Mas o tempo não para
Não para, não para”.   Pessoalmente desejo que o tempo não pare para a Uenf…..

Sob comando de Wladimir Garotinho, Prefeitura de Campos quer instalar lixódromo em área experimental do Colégio Agrícola Antonio Sarlo

wp-1678801149231

Como se a situação das áreas experimentais existentes no espaço do Colégio Agrícola Antonio Sarlo (CAAS) (hoje anexado à Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf)) já não fosse desafiadora o suficiente para professores, servidores e estudantes que ali realizam suas atividades diárias; agora a Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes resolveu acrescentar uma nova camada de dificuldade ao pretender instalar um lixódromo em uma área adjacente a pontos de realização de pesquisas e aulas.

O Blog do Pedlowski teve acesso ao MODELO DE CONTRATO DE COMODATO – PEV ALDEIA” que foi apresentado pela Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes, via a Secretaria Municipal de Serviços Públicos, para ocupar e usar gratuitamente uma área de 1,6 hectares pelo prazo de dois anos para usar como depósito de entulhos.

Se não bastasse a proposta de criar mais um desses espaços horrorosos onde todo tipo de entulho é jogado ao relento, o fato de se querer usar um espaço destinado à realização de ensino, pesquisa e extensão beira os raios da irresponsabilidade e do desvio de finalidade.

Com certeza transformar uma área de 1.600 metros quadrados em depósito de lixo (que é do que se trata esse comodato) estava nos planos de quem transferiu o CAAS para ser cuidado pela Uenf em 2018. Aliás, de lá para cá, pouco ou nada se fez para cumprir as promessas feitas para justificar a referida transferência. Mas daí se concordar em transformar parte do terreno em um lixão, já é demais. Com a palavra o reitor da Uenf!

O gerente do porto, o reitor e os atingidos eternamente esquecidos e com seus direitos pisoteados

açu 3

A assessoria de comunicação da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) noticiou ontem, com pompa e circunstância, um encontro entre o reitor Raul Palácio e Gustavo Cruz, gerente do Porto do Açu, para aludidamente firmar um acordo de pesquisa envolvendo o  reuso da lama de dragagem que é continuamente retirada das estruturas do megaempreendimento/enclave construído no município de São João da Barra.

Para o Porto do Açu as imagens de um encontro dentro da Uenf para firmar um acordo em que não se sabe quanto (ou mesmo se algum) dinheiro será colocado pela empresa para financiar as pesquisas é uma oportunidade única de propaganda. Com certeza as imagens do encontro estarão brevemente no Instagram e no Facebook da empresa, pois estar na Uenf confere um nível de legitimidade que nem com muito dinheiro gasto com propaganda será possível de alcançar.

Já no caso dos pesquisadores da Uenf envolvidos nessa “parceria” ,  o mais provável é que tenham garantido o acesso que é negado frequentemente a quem mostra as múltiplas mazelas sociais e ambientais causadas por um empreendimento cada vez mais voltado para o seu interior.  Se só isso justificaria a chancela de legitimidade dada ao Porto do Açu? Obviamente que não, pois é muito pouco.  No caso do reitor da Uenf, sempre cioso de abraçar a oportunidade de aparecer em fotografias que escondam sua inoperância, o ganho já está aí.

O problema é que essa acolhida do Porto do Açu  irá dificultar outras pesquisas e projetos já em andamento, mas que dependem da acolhida dos moradores do V Distrito, pois a partir dessa visita, a Uenf será vista (e com razão) como uma instituição que está ao lado do porto e contra aqueles que foram e continuam sendo atingidos pela instalação do empreendimento.

Obviamente que quando menciono atingidos, estou fando dos milhares de habitantes do V Distrito de São João da Barra que tiveram suas vidas devastadas pela tomada de terras que ocupavam há várias gerações, e que continuam até hoje sem receber o dinheiro devido pelo estado do Rio de Janeiro.  Ao se aliar publicamente ao Porto do Açu, o que reitor da Uenf fez foi jogar água no moinho que esmaga os direitos sociais e econômicos dos que tiveram suas terras tomadas pelo governo estadual, e que hoje servem para que a Prumo Logística Global cobre aluguéis tão salgados quando o material de dragagem que foi objeto da “happy hour” entre o reitor e o gerente do Porto do Açu.

E enquanto isso, os ossos de Darcy Ribeiro devem estar se revirando no túmulo, em um sentimento que mistura vergonha e raiva.

Abandono e destruição do Museu Olavo Cardoso coloque em xeque discurso pró-conservação do governo Wladimir Garotinho

wp-1674822491834

Desde meados de 2022 temos sido premiados pela mídia corporativa campista com cenas de um imbróglio interminável envolvendo o governo Wladimir Garotinho e a reitoria da Universidade Estadual do Norte Fluminense em torno do uso de uma verba de R$ 20 milhões que foi cedida pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para a realização da reforma do Solar do Colégio, edíficio histórico que abriga o Arquivo Público Municipal.

As últimas chuvas que ocorreram no município de Campos dos Goytacazes obviamente tiveram um efeito altamente negativo sobre muitas edifícios históricos, incluindo o já citado Solar do Colégio. Isso motivou uma nova rodada de recriminações contra a Uenf, vista como sendo a culpada pelo processo de reforma ainda não ter sido iniciado. Em função disso, até a normalmente comedida Auxiliadora Freitas, atualmente presidente da Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima (FCJOL), veio a público para lamentar o atraso das obras, afirmando que “Angustiante termos o projeto, o recurso e nossa história se perdendo. A cada chuva, parte de nossa história se perde. Estamos com o coração muito triste. Pedimos neste momento, já que é uma obra que precisa começar em caráter de urgência, urgentíssima, que a Uenf, seus gestores, equipe técnica, docentes e pesquisadores entrem nesta caminhada burocrática para a obra sair do papel e acontecer.

Tudo estaria certo se outro próprio municipal, o prédio que abriga o Museu Olavo Cardoso não estivesse hoje vivendo uma situação tão ou mais catástrófica que aquela aflige o Solar do Colégio, sem que a própria presidente da FCJOL, a quem cabe cuidar deste importância objeto arquitetônico da cidade de Campos dos Goytacazes tenha feita qualquer manifestação pública no sentido de indicar que o socorro está a caminho (ver imagens abaixo tiradas na manhã desta 6a. feira).

Este slideshow necessita de JavaScript.

O curioso é que em julho de 2022, a mídia campista noticiou que enquanto um processo de restauração do prédio que abriga o Museu Olavo Cardoso não fosse feito,  a Prefeitura de Campos estaria realizando “uma pequena reforma para que o equipamento cultural abrigue setores da Fundação Cultural Jornalista Osvaldo Lima (FCJOL), que estaria orçada em módicos R$ 32.665,20. A questão evidente é que essa pequena obra não só não foi realizada, como não houve qualquer início das ações para proteger e conservar um próprio municipal de importância histórica.

É interessante notar que  o Museu Olavo Cardoso foi criado para cumprir a última vontade de seu patrono, o usineiro  campista Olavo Cardoso, que registrou em testamento que sua residência deveria ser destinada à conservação e divulgação da memória de Campos após a morte de seu último herdeiro. 

E antes que me esqueça, penso que não custa perguntar por onde andam os membros do Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico Municipal – Campos dos Goytacazes (COPPAM) nessa situação lamentável em que se encontram vários edifícios históricos pertencentes à Prefeitura Municipal? Aparentemente, tomou Doril e sumiu!

Devolve a verba, reitor!

Em face dessa postura para lá de dual da Prefeitura de Campos que age para jogar sobre as costas da Uenf uma culpa que é sua, renovo aqui o meu convite ao reitor Raúl Palácio para que devolva imediatamente a verba de R$ 20 milhões para a Alerj.  O problema é que ao ficar com a pecha de incompetente, ele acaba coletivizando uma decisão pessoal sua de transformar a Uenf em barriga de aluguel de uma gestão municipal que objetivamente possui preocupação com o patrimônio histórico apenas de fachada.

Celebrando os 100 anos de Darcy a partir da sua última e genial criação, a Uenf

Os muitos afazeres dentro da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) me distraíram sobre a necessidade de escrever sobre uma data importante para a instituição onde cheguei em janeiro de 1998, qual seja, o Centenário do nascimento do seu criador, o professor Darcy Ribeiro.

darcy

Para se celebrar devidamente esse aniversário não há outra maneira que não seja a de incorporar as inquietações que moveram Darcy Ribeiro ao longo da sua existência como pessoa, intelectual e ativista político. Não é sequer preciso que se concorde com tudo o que ele fez ou pensava. O essencial é compreender que a despeito de eventuais falhas ou limitações que todo ser humano carrega, Darcy Ribeiro era um apaixonado pelo povo brasileiro, especialmente aquela porção despossuído e relegada a um destino inglório para que uma minoria privilegiada se refastele em um fausto perdulário.

Como professor da última instituição que Darcy Ribeiro ajudou a desenhar, sou testemunha de que ele era um homem que procurava pensar as soluções para as incontáveis mazelas da sociedade brasileira de forma a incluir os que foram sempre excluídos.  A inquietação que marcou a vida do mineiro nascido em Montes Claros, mas que depois ganhou o mundo é evidente em cada uma das suas falas, não apenas pelo jeito que se manifestava, mas principalmente pelo conteúdo do que ele manifestava.

Em Darcy Ribeiro não era possível se pensar a acomodação a uma realidade dada, pois ele sempre procurava desafiar a tudo e a todos, de forma a colocar aqueles que o ouviam para participar da construção de suas utopias.  Ainda estou na Uenf, apesar de todas as limitações que vivenciei em quase 25 anos de magistério, por estar convencido que sua última criação merece que eu continue em seu interior ajudando a formar jovens que sem a instituição criada por Darcy e implantada por Leonel Brizola em cima de antigos canaviais não teriam como escapar das armadilhas postas a quem nasce pobre no Brasil.

Sou uma testemunha de como o pensamento crítico de Darcy Ribeiro é cada vez mais necessário para que possamos tirar o Brasil, e principalmente os pobres brasileiros, da condição nefasta em que estamos postos neste momento.

Viva Darcy Ribeiro, um legítimo herói do povo brasileiro.

Reitoria emite nota para desmentir “fake news” Bolsonarista sobre proibição de acesso ao campus da Uenf

bolsofakes

Em função da circulação de um vídeo “fake news” que circula nas redes sociais em Campos dos Goytacazes sobre a proibição seletiva de um apoiador do presidente Jair Bolsonaro ao interior do campus Leonel Brizola, a reitoria da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) emitiu um nota para informar a verdade dos fatos(ver imagem abaixo).

nota reitoria

Aliás, posso informar que conversei com os servidores terceirizados da segurança patrimonial da Uenf que informaram ao indivíduo que produziu um vídeo mentiroso sobre a razão da sua não entrada no campus universitário, qual seja, a proibição legal. Fiquei sabendo que o indivíduo, que se apresentou como sendo jornalista, afirmou que uma nova lei teria feito caducar a Lei 9.504, motivo pelo qual ele insistia em entrar no interior da Uenf com um veículo portando propaganda eleitoral.

Em outras palavras, a pessoa que produziu esse vídeo o fez de completa má fé, na medida em que foi devidamente informado da razão pela qual não poderia adentrar o espaço interno da Uenf, e mesmo assim optou por produzir um vídeo repleto de mentiras.

Mas, convenhamos, dá para esperar algo de diferente de um eleitor bolsonarista?

Uenf inaugura exposição e realiza roda de conversa sobre democratização do acesso à ciência

wp-1664895618945

No dia 06/10/22  a  Roda de Conversa “Experiências de Mobilização Social: Quebrando os Muros da Universidade”  será realizada realizaremos na “sala de vidro” do Centro de Ciências do Homem da Univerrsidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) para discutir e promover metodologias sociais de engajamento para apontar novas formas para a comunicação social da ciência das ações realizada pela universidade.

Irão participar desta roda de conversa o Mestre de Capoeira Peixinho e a equipe CasaDuna – Atafona, composta por Fernando Codeço e Julia Naidin, para trocarem suas experiências com os presentes.

.Após o evento será realizada a abertura da Exposição Museu Ambulante na Sala de Vidro do CCH-UENF.

A presença neste evento é gratuita.

Uenf chega aos 29 anos com muitas possibilidades e desafios

uenf 29

Por Carlos Eduardo de Rezende*

A Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) iniciou suas atividades no Campus Leonel Brizola em agosto de 1993. No entanto, para cumprir os dispositivos constitucionais previstos na Carta Magna do Estado do Rio de Janeiro, iniciamos nossas atividades 1992 nas instalações da Fundação Norte Fluminense de Desenvolvimento Regional. Esta parceria, sempre que possível, precisa ser destacada e respeitada por quem estiver à frente da Uenf.

Estando na Uenf desde a sua fundação, presenciei inúmeras situações e dificuldades institucionais enfrentadas ao longo dos seus 29 anos de existência. Assim, vou iniciar uma série de reflexões sobre os caminhos que estão sendo traçados por nossa instituição e solicitei formalmente um espaço no Blog do Prof. Marcos Pedlowski para divulgação das reflexões que agora apresento para a sociedade intra- e extramuros da nossa instituição.

O posicionamento transparente das atividades realizadas por nossas instituições públicas deve ser contínuo para toda sociedade. Afinal, estes recursos são provenientes do estado, da união, de algumas empresas privadas ou de economia mista (ex.: Petrobras), e de municípios. Muito se fala das Parcerias Público Privado, mas no meu entendimento, devemos sim, realizar mais parcerias Público-Público como forma de reforçar os serviços que poderemos prestar a toda sociedade brasileira. 

O crescimento da UENF em outros municípios é um compromisso contido no ato de criação da instituição, mas, no meu entendimento, não basta apenas a partir de iniciativas semi presenciais como é o caso do Ensino à Distância. Esta é uma atividade de ensino muito importante, mas a presença física é o grande diferencial para transformação regional. No entanto, para que isso ocorra temos que ampliar o quadro permanente de servidores, docentes e técnicos, da Uenf. Outro ponto é que caberá sempre aos municípios a disponibilização de uma área para instalação da infraestrutura física e se possível colaborar com outras parcerias visando a viabilização e consolidação de novos cursos. Concluindo, estamos em pleno processo eleitoral; pensem nos verdadeiros defensores da Saúde, Educação, e, Ciência e Tecnologia.

*Carlos Eduardo de Rezende é professor titular do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) do Centro de Biociências e Biotecnologia (CBB) da Uenf.

UOL revela que enquanto asfixia a Uenf, Cláudio Castro usa fundação para bancar gastos milionários com “folha secreta” de 18 mil cargos

claudio castro

O governador acidental do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, asfixia as universidades estaduais, para manter uma folha secreta com 18 mil cargos

Em uma reportagem assinada pelo jornalista Igor Mello, o portal UOL revela que o governador acidental do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, vem realizando um dispêndio expressivo em “cargos secretos” por meio da  Fundação Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro) cujo orçamento em relação ao ano passado aumentou quase R$ 300 milhões. Segundo os dados levantados por Igor Mello, os pagamentos já efetivados só no primeiro semestre são 89% maiores do que os realizados em todo o ano de 2021. 

Mello também analisou os dados de empenho (reserva de valores para pagamentos de despesas já contratadas) e execução de despesas (pagamentos já efetivados) da Ceperj divulgados pela Secretaria Estadual de Fazenda. Como resultado dessa análise ficou demonstrado que Cláudio Castro já empenhou R$ 414,9 milhões na Ceperj —sendo que este valor supera em muito os R$ 127,4 milhões reservados em todo o ano de 2021.  Além disso,  após assumir o cargo vacado pelo impeachment de Wilson Witzel, Cláudio Castro aumentou em 25 vezes o orçamento da Ceperj em relação ao patamar de 2019.

Para efeito de comparação com os anos anteriores, a reportagem assinada por Igro Mello considerou valores reservados para o pagamento de despesas porque o orçamento relativo aos primeiros seis meses deste ano ainda não foi integralmente pago, o que é realizado ao longo do ano conforme os serviços são prestados (ver figura abaixo).

gastos CEPERJ

Um gráfico elaborado a partir de dados obtidos na Secretaria Estadual de Fazenda do Rio de Janeiro (Sefaz) mostra que os valores empenhados nos anos anteriores foram quase integralmente pagos. O orçamento do órgão pode ainda aumentar ao longo do ano. A reportagem do UOL mostrou, por exemplo, que Cláudio Castro remanejou R$ 58 milhões da Educação para a Ceperj no dia 30 de junho — sendo que estes recursos não estavam incluídos no orçamento de R$ 414,9 milhões (valor atualizado no final do mês passado pela Secretaria de Fazenda).

Desta forma, os gastos previstos com a Ceperj superam neste ano o de órgãos importantes  do governo do estado.  A Empresa de Obras Públicas teve empenhos de R$ 386,8 milhões; na Companhia Estadual de Habitação foram empenhados R$ 339,7 milhões, e no Inea (Instituto Estadual do Ambiente), órgão responsável pela fiscalização e licenciamento ambiental no estado, R$ 246,6 milhões.

 Para se ver como toca a banda de Castro, os gastos também são bastante superiores aos da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), que tem aproximadamente 7.600 alunos de graduação e pós-graduação. No primeiro semestre, a universidade empenhou R$ 249 milhões. E o pior é que ainda tem gente dentro da Uenf que tenta apontar o governador acidental como alguém que se importa com as universidades estaduais. Como se vê agora, a preferência mesmo é por manter um exército de servidores extra-quadro que ninguém conhece, ninguém viu.