No domingo, o voto em Lula é um voto em defesa da universidade pública, patrimônio dos trabalhadores brasileiros

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Neste próximo domingo estaremos diante de duas possibilidades de voto para o próximo presidente do Brasil. Posto abaixo a minha mensagem gravada em defesa não apenas da necessidade de se votar no ex-presidente Lula, mas também de que todos os que entendem a gravidade da situação que vivemos neste momento no Brasil trabalhem para garantir a maior quantidade possível de votos no candidato do Partido dos Trabalhadores.

Lembro que não se ganha eleição com resultados de pesquisas, mas com a ação incansável para convencer as pessoas a irem votar no domingo no único candidato que poderá nos ajudar a sair do caos social e econômico em que o Brasil se encontra neste momento.

Como eu disse no vídeo, como professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense, tenho a completa certeza de que se ainda estivessem vivos, Darcy Ribeiro, Leonel Brizola e Oscar Niemeyer também estariam trabalhando pela eleição de Lula. É que simplesmente o outro candidato e atual presidente do Brasil representa tudo o que eles lutaram contra em suas ilustres vidas. 

Finalmente, o voto em Lula é acima de tudo em defesa dos trabalhadores brasileiros e das universidades públicas.

 

As razões do atual ataque ideológico e financeiro às universidades públicas

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No último debate presidencial transmitido pela Rede Globo coube ao senhor Kelmon Luis da Silva Souza (a.k.a., “Padre Kelmon”) realizar um forte ataque ideológico às universidades públicas brasileiras. Dentre os muitos absurdos assacados por um cidadão cuja ligação a algum tipo de clero é, no mínimo, questionável sobressaiu-se a repetição da cantilena de que as universidades públicas, muitas deles reconhecidas internacionalmente como centros de divulgação de pesquisas inovadoras e de formação de recursos humanos qualificados, de que não passamos de núcleos esquerdistas que nada dão de volta para o país.

O problema aqui é que o “Padre Kelmon”  (que em sua vida terrena é o feliz proprietário de uma loja de artigos religiosos e bijuterias em um prédio comercial em Brasília) serviu-se do local onde estava para ser o porta-voz dos esgoto in natura que prolifera nas redes de comunicação da extrema-direita brasileira.  Quem tem um mínimo de conhecimento sobre o cotidiano das universidades sabe que nem somos um centro avançado do pensamento de esquerda (aliás, o inverso é que realmente ocorre), nem nossos estudantes vivem em orgias diárias, pois a maioria tem mesmo é que se virar para sobreviver ao rigor de uma vida universitária que muitas vezes não dá as devidas oportunidades para quem nela entra.

Como professor de uma universidade pública desde 1998, mas principalmente como filho de um trabalhador metalúrgico, sei que as universidades públicas são a principal oportunidade para que muitos jovens saiam de situações de grande dificuldade social para se tornarem os primeiros de famílias inteiras a terem o grau universitário. Foi assim comigo, e assim como muitos dos jovens com quem tive a oportunidade de interagir desde que cheguei na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf). Ao contrário do que se propala, a maioria deles se origina de famílias da classe trabalhadora que chegam até nós com imensas lacunas de formação, já que a degradação da rede pública de educação vem avançando de forma impiedosa. Entretanto, com as oportunidades oferecidas pela Uenf, tenho o orgulho de dizer que a imensa maioria dos meus alunos aproveitou a oportunidade para se elevar intelectualmente, tendo muitos deles alcançado níveis de formação que provavalmente ninguém em suas próprias famílias esperava.

Mas há que se olhar as reais razões dos ataques contra as universidades públicas para melhor desenhar formas de defendê-las do projeto de destruição que paira sobre elas neste momento.  Uma das primeiras razões é que a produção científica nacional sai majoritariamente das universidades públicas, já que a maioria das instituições privadas não só oferece ensino de baixíssima qualidade, mas como também nelas não se gera qualquer tipo de conhecimento científico.  Como vivemos em uma conjuntura onde conhecimento científico é equiparado como ameaça ao projeto político que é expresso por Jair Bolsonaro e seus filhos, temos essa campanha de difamação.

Por outro lado, há uma razão econômica para que se tenta desacreditar o potencial transformador que está depositado dentro das universidades públicas. É que desde que entrei na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1980 se sabe que há um projeto para privatiza-las para quem sejam transformadas em novas fábricas de diplomas que gerariam fortunas para seus proprietários.  Não é à toa que o governo Bolsonaro está seguindo a receita usual para quando se quer privatizar uma empresa pública: primeiro se desacredita, depois se privatiza.

Finalmente há a questão do acesso dos pobres às universidades públicas, pois mesmo com as oportunidades limitadas oferecidas pelas políticas afirmativas, hoje há uma maioria afluência de jovens pobres. Como a maioria desses jovens são afro-descendentes, aparece o incomodo que uma sociedade fraturada por diferenças raciais não tolera. Por isso, os ataques de natureza racista que volta e meia aparecem até dentro das próprias universidades.

Mas se sabemos as causas desse ataque visceral às universidades públicas, por que então tanto silêncio das comunidades universitárias que assistem caladas a todos essas alegações caluniosas? Salvo engano não houve qualquer manifestação pública contra o auto denominado “Padre Kelmon” por parte de reitorias ou sindicatos universitários e, tampouco, de associações representativas da ciência brasileira como a Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). 

Aliás, desde o golpe de 2016 contra a presidente Dilma que me pergunto o porquê de tamanha covardia por parte da comunidade acadêmica e científica brasileira contra essa campanha de difamação. Provavelmente é porque não devido valor ao risco que estamos sofrendo, ou porque se preferem a atitude escapista de que se o risco for ignorado, ele vai desaparecer por um passe de mágica.

Na minha opinião, é passada a hora de uma ampla campanha de defesa das universidades públicas que deveria começar justamente por quem está dentro dela. Não vai ser com a atual atitude de avestruz com a cabeça enterrada na areia que vamos responder ao ataque incessante que nos é promovido pela extrema-direita, muitas vezes com ajuda interna.  A hora de reagir é agora, pois se esperarmos mais tempo, o que acontecerá já está escrito nas estrelas e não é preciso ser astrônomo para saber do que se trata.

Na surdina, sob a batuta de Kim Kataguiri, Câmara de Deputados avança PEC que implantará cobrança de mensalidades em universidades públicas

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Kim Kataguiri (União Brasil/SP) deu parecer pela admissibilidade de PEC que deverá permitir cobrança de mensalidades em universidades públicas. O autor do projeto é o deputado federal General Peternelli, também do União Brasil/SP

Em uma confirmação daquela máxima que diz  que “não existe tão ruim, que não possa piorar”, a pauta da Comissão de Constituição e de Cidadania da Câmara de Deputados deverá apreciar nesta 3a. feira (24/05) a Proposta de Emenda Constitucional No. 206/2019 que propõe simplesmente autorizar a cobrança de mensalidades pelas universidades públicas brasileiras (ver imagem abaixo)

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O autor da PEC No. 206/2019 é o deputado federal General Peternelli (União Brasil/SP), que vem a ser um general de divisão do Exército brasileiro.  O relator desta PEC é nada mais, nada menos, que o deputado federal Kim Kataguiri que coincidentemente, se alguém ainda acredita em coincidências no Brasil, também é do União Brasil de São Paulo.  Aliás, para quem não lembra o União Brasil (deveria ser chamado de Desunião Brasil) resultou da fusão do PSL com o DEM, o que explica bem a posição junta e misturada desses dois nobres parlamentares.

Se aprovada essa PEC representará um duro ataque à juventude brasileira, especialmente os jovens pertencentes à classe trabalhadora, pois inviabilizará quase que imediatamente o acesso às universidades públicas que são as aquelas que são responsáveis por mais de 90% da produção científica brasileira.

Certamente aparecerão defensores desta proposta escabrosa que apontarão que nos EUA as universidades públicas já cobram mensalidades, o que tornaria natural que este modelo seja abraçado pelo Brasil.  Para esses apoiadores do modelo estadunidense seria bom lembrar que o montante das dívidas estudantis causadas por empréstimos destinados a pagar mensalidades em universidades chegou a astronômicos US$ 1,7 trilhão, montante que poderá chegar a US$ 3 trilhões em 2035. É importante dizer que as dívidas com o crédito educativo nos EUA  atualmente é maior do que as dívidas causadas pela compra de automóveis e de uso de cartões de crédito.

A questão é clara: ou os estudantes das universidades públicas agem rápido ou vão começar a pagar mensalidades ainda em 2022. É que no passo que o atual congresso está andando, não vai ficar pedra sob pedra, pois se sabe que há uma chance enorme que a atual maioria ultraconservadora do congresso tende a ser diminuída nas eleições de outubro.

Enade 2019 explicita o fosso que separa as universidades públicas das privadas

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Aula em anfiteatro da Universidade de Brasília (UnB) — Foto: Isa Lima/UnB

Para começo de conversa informo que não sou um grande entusiasta dos grandes exames de avaliação que se tornaram a forma de medir a qualidade do ensino no Brasil. É que sendo avaliador de cursos do Ministério de Educação e Cultura (MEC) sei que as diferenças existentes entre a qualidade de ensino em instituições de ensino superior públicas e privadas são imensamente maiores do que os instrumentos oficiais de avaliação permitem avaliar. Dito isso, tenho que observar que mesmo em um contexto em que o instrumento usado é limitado, no caso o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), as diferenças de qualidade são, digamos, exuberantes.

Quem desejar saber mais sobre essas diferenças e não quiser ter que mergulhar no site do próprio Enade, sugiro a leitura do artigo assinado pelo jornalista Paulo Saldaña intitulado “Faculdades particulares têm 1% de cursos com nota máxima no Enade 2019 e que foi publicado hoje pelo jornal “Folha de São Paulo” (ver imagem abaixo).

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A realidade é dura: apenas 1% das instituições particulares possuem cursos com a nota máxima (i.e., cinco), enquanto que a maioria dos cursos em instituições privadas com fins lucrativos obteve conceito 2, ou seja, “abaixo da média”, 40,9%.  Em suma, além de cobrarem caro, a maioria das instituições privadas oferece ensino de péssima qualidade.

Já nas instituições federais, 46% dos cursos ofertados conseguiram conceito 4 e 24,1%, conceito 5, que é o mais alto. Há ainda que se lembrar que as instituições federais contribuem para parte significativa da produção científica nacional. Se somarmos o que fazem as universidades estaduais em termos de qualidade e produção científica, o fosso que separa o segmento público de ensino superior torna-se ainda mais explícito.

Desse pequeno raio-X fica claro o crime que está sendo cometido pelo governo Bolsonaro contra a educação e ciência brasileira quando se conduz a orçamentos cada vez menores que terminarão por inviabilizar os nossos melhores centros de formação de mão de obra altamente qualificada.

Além disso, este resultado também explica porque quando alguns candidatos a prefeito falam em procurar o apoio para o desenvolvimento de políticas públicas apenas em universidades públicas há tanto alvoroço entre os gestores de instituições privadas de ensino e seus áulicos na mídia corporativa. É que ao reconhecer a superioridade das instituições públicas de ensino naquilo que elas têm que oferecer à sociedade, esses candidatos revelam o óbvio que é a cobrança abusiva por serviços de péssima qualidade por parte da maioria das instituições privadas de ensino.

Finalmente, há que se lembrar que o Brasil é um dos poucos países do mundo onde as instituições públicas de ensino superior abrigam menos de 30% do total de estudantes, graças a uma sobredominância das instituições privadas que representam em torno de 2/3 do total (ver gráfico abaixo com números da PNAD Contínua para a Educação de 2017).

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Para quê e a quem serve a ciência que se faz?

Pesquisa realizada na Universidade Estadual do Norte Fluminense é citada em relatório produzido pela ONU sobre a situação dos direitos humanos no Brasil

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Muitas vezes há quem questione o papel da ciência no entendimento e modificação da realidade. Por outro lado, tomados pela lógica do produtivismo acadêmico há quem dentro da comunidade científica se exima de fazer ciência que incomode quem os financia, especialmente se eles estão abraçados com as corporações privadas.

De minha parte, tenho sempre tentado ser um pesquisador que busca investigar elementos que possam ser efetivamente úteis para o entendimento e modificação da realidade.  Por esse motivo, não me considero um indivíduo de passagem fácil dentro até da universidade onde escolhi trabalhar, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf).

O fato é que procuro sempre seguir o vaticínio de que “a prática é o critério da verdade”, e ainda que isto não me torne exatamente uma pessoa popular, eu consigo sempre repousar a cabeça no travesseiro e dormir imediatamente.  Faço porque dispenso os elogios fáceis e as amizades traiçoeiras, pois acho que já tive a dose suficiente dessas coisas ao longo da vida. 

Mas por que estou oferecendo essa reflexão? É que, de tempos em tempos, vejo que o caminho que optei por seguir como pesquisador tem suas recompensas. É que hoje encontrei no relatório intitulado “Visit to Brazil – Report of the Special Rapporteur on the implications for human rights of the environmentally sound management and disposal of hazardous substances and wastes”  que acaba de ser submetido à 45th Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, uma referência a um artigo intitulado “Modes of pesticides utilization by Brazilian smallholders and their implications for human health and the environment” que publiquei com colegas da Uenf sobre o uso de agrotóxicos em um assentamento de reforma agrária em Campos dos Goytacazes na revista Crop Protection em 2012 (ver imagem abaixo).

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Esse artigo já vinha sendo um motivo de alegria, pois desde sua publicação já foi citado em dezenas de outros estudos científicos e em relatórios de agências multilaterais, começando pela FAO. Mas me arrisco a dizer que ao ser incluído neste relatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU, especificamente na seção que trata dos malefícios causados pelo uso intenso e abusivo de agrotóxicos no Brasil, este artigo alcançou um outro nível de contribuição ao conhecimento e aos esforços para modificação da realidade.

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Agricultor trabalha com agrotóxicos em um plantio de abacaxi sem qualquer tipo de proteção

E esse é o tipo de ciência que só universidades públicas podem produzir, pois, em que pesem todas as limitações impostas pelas restrições de financiamento e de perseguições políticas, é nelas que se produz mais de 90% da ciência brasileira. Por isso, os ataques recentes contra a sustentação econômico e à liberdade de cátedra que estão sendo realizados de fore e dentro das universidades brasileiras.

Finalmente, existem muitos pesquisadores que hoje se medem apenas pelo que dizem as famosas “métricas”, a começar pelo decantado Fator H. Eu diria que não obstante as métricas serem os indicadores da vez sobre a potencial contribuição da ciência que se produz, há muito mais coisa para além dos muros.  Entender isso, sem abrir mão da qualidade da ciência que se almeja produzir, será fundamental para a sobrevivência da ciência brasileira e das universidades públicas onde ela é produzida.

Por que a ciência e as universidades públicas incomodam tanto o governo Bolsonaro? Fatos e previsões

No dia 11 de dezembro de 2018, 19 dias antes da posse do presidente Jair Bolsonaro, dei uma palestra em Helsinki (Finlândia) a convite do meu colega Markus Kroger, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Helsinki sob o título “The Brazilian Amazon and the prospects o explosive deforestation after the 2018 presidential elections” (ou em português “A Amazônia brasileira e as perspectivas de desmatamento explosivo após as eleições presidenciais de 2018”  (ver imagem abaixo).

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Naquele dia coloquei para a plateia presente, as minhas projeções do que deveria acontecer na Amazônia brasileira em termos de avanço do desmatamento, degradação via extração ilegal de madeira e garimpos clandestinos, bem como sobre os inevitáveis riscos que estariam colocados sobre as populações tradicionais, principalmente os povos indígenas. Obviamente as projeções deixaram a plateia formada por professores, estudantes e intelectuais de fora da universidade um tanto chocados com o que eu apresentei.

Passados 18 meses daquela palestra na fria capital finlandesa, estamos diante de uma situação catastrófica na Amazônia em função de todo o desmanche que foi feito em tempo recorde pelo governo Bolsonaro, sob a batuta inconfundível do improbo ministro (ou seria anti-ministro?) do Meio Ambiente, o improbo Ricardo Salles. 

A situação criada pelo ataque sistemático aos mecanismos de governança ambiental e às estruturas de comando e controle que antes continham, ainda que precariamente, o ataque desenfreado de atores que agem ilegalmente para retirar das florestas amazônicos o máximo que puderem no menor tempo possível, nem que para isso tenham que causar o maior dano possível.

Mas é importante notar que nada disso acontece sem que possa medir e prever até onde chegaremos em termos de destruição ambiental e genocídio dos povos indígenas, pois o conhecimento científico sobre medir os processos que causam esses processos continua avançando, permitindo que previsões como as que eu fiz em Helsinki, sejam posteriormente confirmadas por dados científicos irrefutáveis.

E é justamente por isso que a ciência e, por extensão, as universidades públicas brasileiras incomodam tanto o governo Bolsonaro.  Esses ataques não são porque a ciência e as universidades brasileiras não geram conhecimento robusto. É justamente pelo contrário!

Voltando à palestra em Helsinki, me foi perguntado como é que seria possível impedir o cenário devastador que eu acabara de prever. Dividi minha resposta em 3 componentes: a) a ciência deveria continuar ocupada em gerar dados robustos sobre a destruição que viria, b) haveria que se organizar a resistência política interna à destruição que estava planejada pelos vencedores das eleições presidenciais de 2018, e 3) a solidariedade internacional ativa aos que resistiriam dentro do Brasil seria fundamental para que a resistência tivesse a mínima chance de ser vitoriosa. 

Pensando bem, aquele meu receituário simples parece mais necessário do que nunca. E os amplos sinais de que há uma solidariedade internacional em prol da preservação da Amazônia e dos seus povos originários,  demandam que continuemos trabalhando internamente nos outros dois itens.

Privatização das universidades federais entra em marcha acelerada

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O ministro (ou seria antiministro?) da Educação, Abraham Weintraub, chamou ontem os reitores de universidades e institutos federais à Brasília para abrir o pacote de maldades conhecido como “Future-se”, e que objetivamente implica na privatização da educação superior pública brasileira.

Ainda que na aparência o projeto desenhado entre quatro paredes se destine a ampliar o investimento privado nas universidades e institutos, isso só ocorre porque Weintraub sabe que a reação a uma proposta abertamente privatizante seria acachapante e ele saber disso decidiu começar a privatização pelas beiradas, forçando a terceirização de serviços e a alienação de bens.  Com isso, certamente Weintraub espera começar a sua marcha de privatização sem ter que enfrentar logo de cara a fúria da sociedade.

Um aspecto que Weintraub injetou no seu projeto de privatização escondida é a a captação de recursos da iniciativa privada para supostamente incrementar o orçamento das universidades e institutos federais. A primeira coisa é que nos países desenvolvidos, esse montante é mantido baixo de forma proposital para impedir o sufocamento da liberdade criativa nas universidades, visto que as corporações privadas não se interessam por pesquisas de longo prazo, concentrando-se naquilo que pode gerar lucros imediatos. A segunda é que o Brasil possui um histórico baixíssimo de investimento de empresas em pesquisa, pois a maioria da tecnologia que é usada no país vem dos países desenvolvidos, o que acaba tornando desinteressante para elas o investimento na pesquisa nacional.

Um terceiro e importante aspecto é que o Brasil se encontra em meio a uma brutal recessão e muitas indústrias estão fechando as portas, processo esse que também está atingindo o setor de serviços. Assim, mesmo que houvesse o interesse em estabelecer parcerias com as universidades, o momento econômico torna isso objetivamente inviável.  E como é um homem do mercado financeiro, Weintraub sabe que quem tem muito dinheiro em um contexto tão negativo vai preferir colocar suas moedas na especulação financeira e não em educação pública superior.

A verdade é que a proposta do governo Bolsonaro é uma sinalização de que o processo de recolonização do Brasil que até recentemente era um debate relativamente teórico está passando para o plano do real. É que sem universidades fortes e capazes de produzir conhecimento autóctone não há desenvolvimento nacional. E essa condição é especialmente importante em um momento em que conhecimento científico se transformou em uma das commodities mais valiosas da economia capitalista. Nâo é por outra razão que a União Europeia está com um ambicioso plano de investimento em ciência e a China optou por investir de forma ainda mais intensa em seu desenvolvimento científico, que já não é pequeno.  O plano chinês visa desatrelar a economia chinesa da exportação de manufaturas e produtos industrializados em nome da produção de tecnologia avançada.

Errarão de forma grave os reitores se aderirem ao “Future-se” (que já foi sabiamente rebatizado nas redes sociais como “Foda-se”) sem refletir com suas respectivas comunidades universitárias o real significado das propostas trazidas à baila, sem nenhuma discussão anterior, sobre o futuro não apenas de suas instituições, mas do Brasil como nação independente.  A hora não é de autoengano, mas de profunda mobilização contra o plano de desmanche das universidades e institutos federais que Abraham Weintraub e Jair Bolsonaro acabam de colocar em marcha.

Mídia mundial dá ampla cobertura aos protestos contra cortes na educação

Ao contrário do presidente Jair Bolsonaro que minimizou as manifestações que ocorreram em todo o Brasil nesta 4a. feira contra os cortes draconianos promovidos no orçamento de universidades e institutos federais, estendidos também à CAPES e ao CNPq, a mídia mundial deu ampla cobertura. Importantes veículos de imprensa de diversos países alertaram para o tamanho dos protestos, ressaltando ainda que são os maiores já promovidos contra o governo Bolsonaro.

Abaixo algumas das matérias publicadas por gigantes da mídia internacional, tais como o Washington Post, o The New York Times, o The Wall Street Journal, a Deutsche Welle, o Financial Times e a Reuters.

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Vamos ver o que dirão agora o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Educação, Abraham Weintraub. Mas uma coisa é certa: mesmo para especialistas em fake news, vai ficar complicado negar a envergadura e o alcance social das manifestações que ocorreram neste 15 de maio.

Uma coisa é certa: o recém nascido governo Bolsonaro já conseguiu um enorme desgaste político, causado principalmente pela inabilidade de seus principais ministros e pela volúpia com que estão tentando desmantelar o estado brasileiro. 

Ato em defesa da educação pública mobiliza o centro de Campos dos Goytacazes

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Estive hoje na manifestação realizada por estudantes das instituições públicas de ensino no centro da cidade de Campos dos Goytacazes como parte do dia nacional de luta em defesa da educação pública.  Em que pese a rápida tempestade que ocorreu justamente no momento em que o ato começa a ganhar mais ânimo com a chegada de centenas de manifestantes, eu diria que essas foi uma das maiores manifestações políticas que presenciei desde que cheguei por aqui há mais de 21 anos (ver vídeo abaixo).

A animação do ato e o fato que ali estavam presentes estudantes da UFF, do IFF e da UENF confirma a minha percepção de que o governo Bolsonaro e seu ministro da Educação que possui evidentes dificuldades com cálculos matemáticos elementares, o economista Abraham Weintraub, erraram a mão ao cortar um valor médio de 30% do orçamento das universidades e institutos, e ainda dar uma vigorosa tesourada nos gastos com o ensino básico.

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Estudante segura cartaz durante ato no centro de Campos dos Goytacazes que diz “Sem ciência não há futuro” #Em defesa da educação, pesquisa e extensão”

É que o ataque ao ensino público é tão aberto e evidente que quem estava até agora basicamente inerte no processo político teve que sair para as ruas e expressar seu claro descontentamento com o projeto de aniquilação do governo Bolsonaro teve que sair às ruas sob risco de ver extintas suas universidades e institutos. 

Se estivesse no Brasil e não em Dallas para onde teve que ir receber o seu prêmio de “Personalidade do Ano” da Câmara de Comércio Brasil-EUA” depois de ser rechaçado em Nova York, o presidente Jair Bolsonaro não teria dito que as centenas de milhares de estudantes que estão nas ruas protestando seriam “idiotas inúteis” e “massa de manobra”, que “não sabem nem a fórmula da água” É que ao dizer isso ele acaba de cutucar ainda mais a onça com a vara curta.  Alguém precisa dizer a ele que o ex-presidente Fernando Collor teve uma atitude semelhante quando os estudantes de sua época começaram seus protestos, e aí deu no que deu. E olha que Fernando Collor só tinha uma Fiat Elba para explicar!

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Sugestão dos manifestantes para o governo Bolsonaro: no lugar de armas para a população, mais educação.

Deputado desmente desmentido e expõe descontrole político do governo Bolsonaro

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O deputado federal Capitão Wagner (PROS-CE) e o presidente Jair Bolsonaro em um tempo em que não existiam ainda os desmentidos dos desmentidos.

A greve nacional da educação que deverá ocorrer ao longo do dia de hoje é um primeiro teste para a disposição de enfrentamento de segmentos críticos às políticas ultraneoliberais e de caráter regressivo que estão sendo aplicadas pelo governo Bolsonaro.  

Antes de que se saiba o alcance e a amplitude do movimento, uma coisa que já ficou evidente é que há um grave problema de coordenação política entre os que hoje comandam o executivo federal e sua própria base partidária dentro do congresso nacional.

Uma prova disso é o depoimento mostrado no vídeo abaixo com o depoimento do deputado federal Capitão Wagner (PROS-CE), um apoiador declarado do presidente Jair Bolsonaro, sobre a reunião convocada com líderes partidários para agilizar a votação de interesse do governo federal e onde teria sido comunicado um recuo, imediatamente negado, de que os cortes nas universidades e institutos federais  teria sido suspenso.

Como não há razão para duvidar das palavras de um membro da base do próprio governo, o que esse depoimento mostra é um descontrole político dentro dos altos escalões do governo federal, na medida em que fica evidente que o presidente Jair Bolsonaro pode não ser quem efetivamente tem o controle final das decisões que estão sendo aplicadas pelos seus próprios ministros.

Há quem veja nesse movimento de anunciar a suspensão dos cortes orçamentários no MEC para depois desmenti-los como uma tática de gerar confusão e diminuir o tamanho da mobilização que deverá ocorrer. Eu já acho que se trata de um descontrole dentro dos agentes tomadores de decisão.

E se o motivo do anúncio era desmobilizar, o desmentido do desmentido que aparece no vídeo deverá gerar ainda mais instabilidade político dentro do congresso nacional e aprofundar as dificuldades já notadas na aprovação de medidas de interesse do governo Bolsonaro. Em outras palavras, tentaram apagar o incêndio com gasolina e podem acabar aumentando o seu alcance.