EUA detêm imigrantes da Venezuela na base militar de Guantánamo

Os presos seriam integrantes da organização criminosa “Tren de Aragua”, mas nenhuma evidência apresentada. As famílias são privadas de informação e contacto

Entrada para o Camp Delta, Baía de Guantánamo, Fonte:Kathleen T. Rhem, 
Por Philipp Zimmermann para o Amerika21

Washington, D.C. O governo do presidente dos EUA, Donald Trump, aparentemente deteve pelo menos 100 migrantes venezuelanos no campo de detenção da Baía de Guantánamo. Os homens foram transferidos de uma prisão no estado do Texas para a notória base militar dos EUA em Cuba, relata o New York Times . Em uma reportagem recente, o portal Infobae fala até de 175 venezuelanos que foram levados para Guantánamo.

As pessoas em questão foram classificadas pelas autoridades como “imigrantes ilegais de alto risco”. A secretária de Segurança Interna de Trump, Kristi Noem, descreveu os prisioneiros levados para Guantánamo como “os piores dos piores”.

Sobre os próximos passos, Noem disse à imprensa que os presos receberão o “devido processo”.

No entanto, sua declaração de que “as instalações na Baía de Guantánamo serão uma vantagem para nós e nos permitirão continuar fazendo o que sempre fizemos lá” causou irritação. O campo de prisioneiros dos EUA na baía ocupada de Guantánamo, em Cuba, ganhou notoriedade no início dos anos 2000, quando centenas de prisioneiros muçulmanos foram mantidos e torturados ali durante anos em condições desumanas .

De acordo com relatos recentes, muitos dos prisioneiros atualmente detidos em Guantánamo estão sendo vigiados por militares em vez de autoridades de segurança civis. Isso apesar das garantias do governo Trump de que os detidos permaneceriam sob a jurisdição das autoridades civis de imigração. Alguns venezuelanos também estão alojados na mesma ala da prisão onde, até recentemente, eram mantidos prisioneiros suspeitos de pertencerem à Al-Qaeda.

Em alguns casos, as famílias dos detidos moveram ações judiciais contra sua transferência para Guantánamo . Juntamente com organizações de direitos humanos, eles denunciaram o fato de que os familiares não receberam nenhuma informação sobre as condições da prisão e não foram autorizados a ter contato com os prisioneiros. Como resultado, um tribunal no estado do Novo México bloqueou a transferência de mais três prisioneiros. Eles foram então levados para a Venezuela em voos diretos.

Também surgiu uma polêmica devido às acusações das autoridades norte-americanas de que os venezuelanos detidos supostamente pertencem à organização criminosa “Tren de Aragua”. Esta organização foi fundada há cerca de 15 anos em uma prisão no estado venezuelano de Aragua e expandiu suas atividades internacionalmente nos últimos anos. O grupo está envolvido em tráfico de drogas, extorsão e sequestro.

Enquanto isso, Jessica Myers Vosburgh, representante da organização de direitos humanos dos EUA Center for Constitutional Rights, alertou contra a atribuição precipitada de culpa. Em alguns casos, a acusação de que os migrantes pertenciam ao “Trem de Aragua” era infundada. A classificação geral como membros de gangues pelas autoridades norte-americanas representaria um risco para esses indivíduos, pois eles teriam que temer retaliações da organização criminosa.

A transferência de prisioneiros venezuelanos para a base naval ocupada pelos EUA em Cuba parece ser apenas o começo.

O presidente dos EUA, Trump, ordenou recentemente ao Departamento de Segurança Interna que preparasse a base militar para acomodar 30.000 detidos estrangeiros.

No final de janeiro, o Secretário de Defesa Pete Hegseth reiterou a crescente militarização da política migratória dos EUA: “Quando identificamos criminosos ilegais em nosso país, os militares vão em frente para ajudar a trazê-los para seus países de origem ou, enquanto isso, para outros países”, disse Hegseth. “Se eles não podem ir a lugar nenhum agora, podem ir para a Baía de Guantánamo”, ele ameaçou.

O governo cubano criticou duramente a detenção de migrantes na base dos EUA . “Muitas das pessoas que os Estados Unidos estão expulsando ou pretendem expulsar são vítimas das políticas de pilhagem do governo e atendem a necessidades de mão de obra que sempre existiram na agricultura, construção, indústria, serviços e vários setores da economia dos EUA”, disse o Departamento de Estado em um comunicado publicado em seu site.

Outros são resultado de uma entrada mais fácil nos Estados Unidos, “de regulamentações seletivas motivadas politicamente que os acolhem como refugiados”. A emigração deles “é também uma consequência dos danos socioeconômicos causados ​​por medidas coercitivas unilaterais”.

A instalação militar é conhecida internacionalmente, entre outras coisas, por “hospedar um centro de tortura e detenção indefinida que fica fora da jurisdição dos Estados Unidos e onde pessoas que nunca foram acusadas ou condenadas por um crime são mantidas por até 20 anos”.


Fonte: Amerika21

Venezuela e a volta dos intelectuais consentidos

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Um dos aspectos que de tempos em tempos noto neste blog é a existência de um tipo de personagens que possuem treinamento acadêmico e são tolerados pela mídia corporativa nacional e local por expressarem o mesmo tipo de conservadorismo emperdenido que caracteriza também os donos dos veículos que lhes dão voz. São o que eu caracterizo de “intelectuais consentidos’.

Alguns dos personagens aceitos nacionalmente incluem o ex-esquerdista Demétrio Magnoli e o filósofo Luiz Felipe Pondé, mas também existem aqueles que circulam na mídia local, até porque seus currículos acadêmicos magérrimos só os habilita para o consumo digno das províncias.

O último episódio que está assanhando os intelectuais consentidos são os resultados das eleições presidenciais na Venezuela. Esses intelectuais consentidos estão não apenas reproduzindo a retórica vinda dos centros de poder ocidental, mas se omitindo em fazer qualquer análise sobre as condições em que esse processo se deu, visto que a Venezuela se encontra sob pressão das sanções econômicas ditadas pelos EUA e seguidas por um grande número de países europeus.

Particularmente não nutro simpatia por Nicolas Maduro, mas não há como ignorar qual é o tipo de oposição com que ele se debate. Se olharmos o passado imediato da situação venezuelana, veremos que o mesmo tipo de cantilena sendo para tentar emplacar  Edmundo González como presidente já foi usada para fazer o mesmo com o agora irrelevante Juan Guaidó.

O interessante é que quando os intelectuais consentidos falam sobre a Venezuela temos sempre chamados em prol de um tipo democracia que é hoje apenas uma miragem.  Esse clamor democrático não se vê, por exemplo, em relação ao presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy que adiou eleições e se manteve no poder sem que se veja a mesma rotulação de ditador que se aplica a Maduro.  A grande diferença aparente é que Zelenskyy, que baniu a maioria dos partidos que lhe faziam oposição, é chancelado pelos mesmos países que querem impor González  na Venezuela.

Por essas e outras é que temos que sempre desconfiar do fervor democrático seletivo dos intelectuais consentidos. É que esse fervor seletivo serve apenas para esconder uma adesão às ideias que percolam dos centros decisórios que manipulam a democracia sempre que necessário para impor interesses estratégicos das grandes empresas monopolistas.

Uma pergunta muito simples pode ajudar a compreender certas análises consentidas: qual é o programa de governo que Edmundo González propõe para a Venezuela? E sobre as famigeradas guarimbas, alguma coisa a dizer? Nesse caso, só se ouve o mais profundo silêncio.

Marina Silva lembra da Venezuela, mas esquece do seu próprio ministério

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Marina da Silva: com força para criticar eleições alheias e fraca demais para mudar o rumo do descalabro ambiental na Amazônia

A ministra do Meio Ambiente Marina Silva foi mais uma das vozes a se somar ao coro dos descontentes com o nível democrático das eleições da Venezuela. O curioso é que Marina Silva não tenha o mesmo nível de desenvoltura para cuidar das condições de trabalho dos agentes do IBAMA e do ICMBio que continuam atuando em condições péssimas, com salários defesados e planos de cargos ultrapassados.

A verdade é que Marina Silva se omite diariamente na luta pelas condições laborais daqueles que estão na linha de frente do combate contra o desmatamento e o garimpo ilegais na Amazônia, sem que esboce um mínimo de crítica ao tratamento que é dispensados aos servidores que estão na prática sob sua responsabilidade.

Sumida”, Marina Silva vira motivo de chacota na web

Aliás, não é preciso dizer que neste exato momento o Brasil passa por uma crise ambiental sem precedentes em função da ocorrência de milhares de focos de incêndio que castigam principalmente o Pantanal e a Amazônia, sem que se ouça qualquer manifestação que se aproxime ao nível de preocupação demonstrado com as eleições venezuelanas.

O fato inescapável é que a Marina Silva de hoje é uma sombra pálida daquela que entrou e saiu intacta durante o segundo governo Lula.  É que a Marina de ontem já teria saído do atual governo, mas a atual não só fica, como tem tempo para dar opinião sobre situações cuja clareza é igual a dos rios tomados pelos garimpos ilegais na Amazônia.

A pergunta que ninguém fez: afinal, o que fazia Jair Bolsonaro em São Sebastião?

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Jair Bolsonaro em sua peculiar visita ao interior de uma residência na comunidade de São Sebastião na periferia de Brasília

Desde que eclodiu a crise envolvendo a declaração questionável (para dizer o mínimo) do presidente Jair Bolsonaro sobre o encontro com duas adolescentes venezuelanas na comunidade periférica de São Sebastião, a mídia corporativa vem fazendo um tipo de cobertura que não vai a nenhum lugar. 

Como geógrafo, me pus a pensar sobre algumas questões nunca perguntadas (e por isso não respondidas) envolvendo essa peculiar visita de um presidente em exercício a uma comunidade que fica a 30 Km (ou cerca de 24 minutos de carro) do Palácio do Planalto (ver figura abaixo).

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A coisa começa esquisita por um fato básico: São Sebastião é uma comunidade cuja feição mais notória é a vizinhança com o Presídio da Papuda, além de ser fruto de um processo de expansão que fugiu do padrão idealizado por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa no momento da criação do Distrito Federal.

Segundo um colega que trabalha na Universidade de Brasília (UnB), São Sebastião é mais um daqueles locais em que as camadas mais pobres vão ocupar quando outras áreas se tornam valorizadas demais, e empurram para regiões distantes os que não podem pagar nelas. Isso explica a distância entre São Sebastião e o chamado Plano Piloto, como é mostrado na figura acima.

Pois bem, o que teria levado a que o presidente da república decidisse “dar um passeio” matinal em uma área periférica de Brasília? Afora as excentricidades que são atribuídas a Jair Bolsonaro, não me parece acidental que ele tenha encontrado acidentalmente justamente crianças venezuelanas em São Sebastião. Toda essa situação aparenta ter algum nível de intencionalidade, sem que fica claro qual.

O que não me parece factível é que Jair Bolsonaro tenha acordado em um sábado de manhã, e incontinente, tenha convocado parte de sua segurança palaciana para dar um rolé despretensioso em comunidade periférica que fica a pelo menos 30 km das comodidades oferecidas pela residência oficial da presidência da república, onde então acabaria encontrando as adolescentes venezuelanas.

A mídia está agora noticiando que a ex-ministra e senadora eleita Damares Alves e a esposa de Jair Bolsonaro, Michelle, tiveram um encontro com as duas adolescentes com o qual o presidente da república disse “ter pintado um clima”.  Neste caso, a intenção parece óbvia, qual seja, livrar a cara de Jair Bolsonaro que está perdendo votos por causa de uma declaração que até os mais aguerridos dos bolsonaristas sabe que foi muito estranha.

Mas será que, finalmente, algum jornalista vai se ocupar de fazer a pergunta que realmente importa, qual seja, o que foi Jair Bolsonaro fazer em São Sebastião em um sábado de manhã?

A enrascada de Jair Bolsonaro: pedófilo ou mentiroso?

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Há um velho ditado/conselho ´popular que diz que “o peixe morre pela boca” e que repetidamente é desconsiderado pelo atual ocupante da cadeira de presidente do Brasil, o senhor Jair Bolsonaro. Provavelmente movido pela certeza de que pode sempre falar o que bem entende, Bolsonaro soltou uma daquelas declarações de efeito em um podcast realizado na última 6a. feira na qual ele narrou uma estranha história envolvendo o encontro com meninas de 14 ou 15 anos, supostamente venezuelanas, em uma comunidade pobre de Brasília, reconhecendo ainda que teria “pintado um clima” forte o suficiente para levá-lo para o interior da residência das meninas (ver vídeo abaixo).

O que o presidente do Brasil não contava é que suas palavras (emitidas de livre e espontânea vontade) seriam tomadas ao pé da letra, levando a uma onda de condenações pelo evidente tom descabido que a narrativa dele ensejou. Na prática, Bolsonaro armou uma tsunami midiática contra ele mesmo, e que veio em uma péssima hora para quem corre atrás do prejuízo.

Em um reconhecimento óbvio de que propiciou armamento contra si mesmo, Jair Bolsonaro realizou uma “live” na madrugada deste domingo para atacar o Partido dos Trabalhadores (PT) por supostamente usar contra ele, algo que lembremos foi dito por ele mesmo de forma pública.  A coisa tomou um tom bizarro, na medida em que um dos que saiu para prestar solidariedade a Bolsonaro foi o ex-vereador da cidade do Rio de Janeiro que teve seu mandato cassado por filmar e distribuir cenas de sexo, pasmem, com uma menor de idade (ver imagem abaixo).

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A essas alturas do campeonato em que mais de 30 milhões de brasileiros passam fome é realmente difícil entender o que realmente Jair Bolsonaro pretendia com essa confissão bizarra. Acontece que a narrativa dele já se provou mentirosa em várias outras vezes, mas neste caso ganha ares grotescos. É que o site UOL publica uma reportagem neste domingo indicando que, na verdade, no local citado como possível prostíbulo de menores venezuelanas ocorria uma ação social promovida por uma estudante brasileira de estética que fora ali simplesmente para treinar suas habilidades com voluntárias. 

Disto resulta que o presidente Jair Bolsonaro se utilizou de uma situação para mais uma vez atacar o governo de Nicolas Maduro (as meninas segundo ele seriam todas venezuelanas, lembram?), mas acabou enveredando por um caminho muito estranho em que a ele pode ser sim atribuída a pecha de pedófilo ou de mentiroso (aliás, escolher um caminho que mistura as duas coisas não é impossível).

Como não tenho a expectativa de que Jair Bolsonaro vá reverter suas práticas, o mais provável é que venha emitir outras “pérolas” até o dia do segundo turno. A ver!

Esqueçam a Venezuela, o que se busca no Brasil é a saída “a la Bolívia”

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A presidente de facto da Bolívia, Jeanine Añez, levanta um exemplar da Bíblia em sua “posse” após o golpe de estado promovido contra Evo Morales

Vejo com alguma irritação as manifestações de analistas televisivos (incluindo aí alguns intelectuais chancelados) sobre a situação política brasileira, onde invariavelmente as comparações feitas remontam aos passos tomados por Hugo Chavez na Venezuela. A comparação entre a situação venezuelana peca por alguns fatos básicos que comecem pelo caráter nacionalista de Chavez e o viés latinoamericanista de suas políticas. Além disso, diferente do Brasil, Hugo Chavez, foi um crítico contumaz do neoliberalismo, e operou uma série de mudanças no sentido de ampliar a distribuição de renda na Venezuela, um dos países com maior concentração de riquezas do planeta.  Além disso, Chavez operou uma modernização das forças armadas venezuelanas, dotando-as de diversos equipamentos militares de ponta, incluindo o sistema de defesa aérea S-300 que é fabricado pela Rússia.

Nesse sentido, não há como comparar o presidente Jair Bolsonaro com Hugo Chavez, pois as receitas de um são diametralmente opostas ao do outro. Mas, mesmo assim, é rotineiro o uso da comparação da situação política criada por Jair Bolsonaro com o que ocorreu com a Venezuela sob o comando de um líder político que operou transformações, ainda que parciais e de forma precária, que visavam ampliar a cobertura social do Estado em relação aos segmentos mais pobres da população.

Além disso há um elemento de farsa, pois os analistas e intelectuais chancelados sempre omitem um fato básico: Chavez era um líder que falava e conectava com as amplas camadas mais pobres da população venezuelana. Com isso, ele venceu todas as eleições a que concorreu, sem que jamais tenha sido provado qualquer tipo de fraude.

O caso boliviano é mais próximo do que os analistas e intelectuais chancelados querem mostrar

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Se os analistas da mídia corporativa e os intelectuais chancelados que prefere ouvir fizessem uma análise mais séria, o país a ser comparado seria o Bolívia, especificamente o golpe de estado promovido contra o presidente Evo Morales. Foi na Bolívia que ocorreu uma conjunção de forças que, aparentemente, se procura repetir no Brasil, a começar pela participação de lideranças da extrema-direita, leigos ou ligados a grupos religiosos, membros da forças policiais, bem como líderes do latifúndio agro-exportador.  Foi essa combinação de forças que invadiu o presidencial com bíblia na mão, e rapidamente colocou no poder a dublê de apresentadora de TV e senadora Jeanine Añez, que se tornou a presidente “de facto” por um período relativamente curto de tempo.

É preciso que se diga que apesar das forças armadas bolivianas não terem tido participação direta no golpe palaciano que exilou Evo Morales, seus membros se envolveram na dura repressão realizada contra os segmentos da população que se insurgiu contra o golpe perpetrado contra Evo Morales. Aliás, foi a ineficácia da repressão e a forte resistência popular que garantiram as eleições presidenciais vencidas pelo atual presidente da Bolívia,  o professor universitário e economista Luis Arce, do mesmo partido de Morales.

Aliás, há que se ressaltar que no caso do golpe contra Morales, a rápida reação dos sindicatos, movimentos sociais e da juventude boliviana foi quem impôs a realização de eleições presidenciais. Caso contrário até hoje Añes estaria presidindo a Bolívia em vez de estar presa.

Um último aspecto que penso merecer atenção é o incômodo que já parece grassar em parte considerável das elites brasileiras em relação ao comportamento do presidente Bolsonaro.  É que esse incômodo não se dá pelos arroubos retóricos nem pela ameaça de se colocar em marcha um golpe de estado que a maioria sabe tem pouca chance de prosperar.  A questão que parece realmente criar ansiedade é que aqui haja o mesmo tipo de reação popular que ocorreu na Bolívia onde os pobres tomaram o leme da situação política e impuserem a sua vontade. É que se isso acontecer no Brasil, a queda de Jair Bolsonaro seria a menor das consequências políticas. É que razões para uma revolta ir além muito além da remoção de um presidente visivelmente incapaz não faltam.  Basta passar no supermercado ou no posto de gasolina para constatar isso.

Assim, esqueçam a Venezuela por algum tempo, e mirem-se na Bolívia, onde guardadas as devidas proporções, parecem haver as reais semelhanças. Mas mais do que nunca é importante lembrar o destino que foi reservado aos golpes em função da ampla resistência popular que ocorreu por lá. 

Ironia da pandemia: sufocada pela COVID-19, Manaus usará oxigênio trazido da Venezuela

Uma das formas mais corriqueiras que a extrema-direita utilizou nos últimos anos para criar pânico na população brasileira foi acenar com a possibilidade do nosso país ser transformado em uma nova Venezuela. Eis que agora, em meio ao agravamento da pandemia da COVID-19, que vem acossando de forma particularmente inclemente a cidade de Manaus, a empresa White Martins, principal fornecedora de oxigênio para o governo do Amazonas, informou que está atuando no sentido de importar o produto da Venezuela para suprir a alta demanda.

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É preciso dizer que a proximidade geográfica entre o estado do Amazonas e a Venezuela é um dos elementos que justificam essa importação, mas não deixa de ser irônico que agora é o antigo exemplo de balbúrdia social e econômica que irá impedir que mais brasileiros morram sufocados em UTIs superlotadas na cidade de Manaus.

Aliás, há que se enfatizar que a situação em Manaus só chegou a esse ponto porque os apoiadores do governo Bolsonaro sabotaram de forma continuada os esforços para conter o crescimento da pandemia. Um exemplo disso foi a mobilização realizada em Dezembro para forçar a revogação do Decreto nº 43.234/2020 que impunha medidas para o enfretamento à COVID-19 no estado do Amazonas. 

Por último, o mais irônico de tudo isso é que o governo venezuelano, em um gesto geopolítico de grande significância, acaba de informar que irá disponibilizar o oxigênio necessário para socorrer Manaus (ver imagem abaixo com tweet do chanceler venezuelano Jorge Arreaza informando a realização de uma conversa com o governo do Amazonas, Wilson Lima (PSC)).wp-1610674296781.jpg

Coronavírus: Brasil lidera em infecções e mortes, mas Venezuela lidera testagem

Drive Through COVID-19 Testing Facility Expands In South FloridaBrasil lidera em infecções e mortes, mas quem lidera na testagem é a Venezuela.

Para quem ainda não conhece, eu recomendo o site “Worldmeters.info” que possui uma página atualizada em tempo quase real para várias estatísticas relacionadas à pandemia causada pelo coronavírus.  Eu visitei este  na tarde de hoje para verificar as estatísticas relacionadas aos 12 países e uma unidade ultramarina que formam a América do Sul, e os resultados são muito reveladores acerca do desempenho do Brasil no controle desta pandemia.

É que segundo os números disponíveis no “Worldmeters”, o Brasil possui o maior número de infectados e mortos pelo coronavírus, mas só possui índices melhores de testagem do que Bolívia e Guiana (ver figura abaixo).

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Na questão da testagem, em termos de proporção por milhão de habitantes testados e no número de testes efetivamente realizados, a Venezuela é de longe a líder disparada com 203.208 testes realizados, com uma proporção de 7.143 testes por milhão de habitantes.  Enquanto isso o Brasil aplicou até agora míseros 62.985 testes, com uma taxa de 296 testes por milhão de habitantes. 

Mas a Argentina, um país que se encontra em dificuldades ainda maiores do que o Brasil, no mesmo período aplicou 22.805 testes, em uma taxa de 505 testes por milhão de habitantes.  O interessante é que possuindo uma população de 43.590.368 habitantes, a Argentina tem até agora 2.277 casos oficiais e um total de 102 óbitos por causa da COVID-19. Já o Brasil, com uma população de 211.291.881,00 habitantes, já alcançou 24.232 casos oficiais e 1.378 óbitos.  

A verdade é que toda as alegações de que o Brasil não seguiria as recomendações para aplicar testes para além dos infectados e suas famílias, como recomenda a Organização Mundial da Saúde (OMS), está nos colocando em uma posição vergonhosa até na América do Sul, onde a maioria dos países não possui a mesma força econômica ou a estrutura hospitalar.

Com base nessas estatísticas, fico com a impressão ainda mais forte de que é falacioso o suposto embate entre o presidente Jair Bolsonaro e o ainda ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM/MS). É que por caminhos aparentemente diferentes, ambos estão deixando a população brasileira (especialmente os segmentos mais pobres) em um voo cego contra um vírus altamente letal. Em outras palavras, Bolsonaro e Mandetta são duas faces de uma mesma moeda.

Finalmente, é fundamental que haja um movimento amplo para se pressionar o governo federal para que disponibilize urgentemente uma grande quantidade de testes para que os estados e municípios possam ter algum controle sobre os polos de dispersão do coronavírus em todo o território nacional.

Uma pergunta aos donos da Folha de São Paulo: por que, na Venezuela, a dita é dura e não branda?

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Se me perguntarem se apoio o governo Maduro, a minha resposta é um simples não. Outra coisa diferente seria desconhecer a intrincada conjuntura que o governo bolivariano está posto por causa da intolerância de governos de direita da América ue decidiram apoiar os EUA em uma mudança de regime para a qual faltou consultar o maior interessado que é a maioria pobre da população da Venezuela. Aliás, olhando para a situação de países como Brasil, Argentina, Colômbia, Peru e Equador, fica difícil saber em qual deles a situação objetiva dos pobres é melhor do que aquela experimentada pelos venezuelanos.

Entretanto, mais descarada do que a falsa preocupação democrática de governos que dentro de seus territórios não toleram nem um décimo do que o governo Maduro tolera de seus opositores é o tratamento parcial dado pela mídia corporativa brasileira ao que está acontecendo na Venezuela. Cito explicitamente o jornal Folha de São Paulo que, indo além do que diz até a mídia estadunidense, resolveu classificar Nicolás Maduro como sendo um ditador. 

Ainda que essa seja uma decisão editorial, vindo da Folha de São Paulo, essa classificação deveria ser acompanhada de uma explicação aos seus leitores do porquê dessa definição. É que a Folha de São Paulo é o mesmo veículo da mídia corporativa brasileira que relativizou o regime militar de 1964 e seu alcance autoritária sobre o Brasil quando o classificou como sendo uma “dita branda”.  

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Por isso é que me ocorreu a pergunta aos proprietários da Folha de São Paulo sobre a situação venezuelano: por que lá é dita (dura) e não dita (branda)?

Chegada de armas e tropas russas mostra que invadir a Venezuela não será um piquenique

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Ainda que mal disfarçada, a retórica que emana do Palácio do Planalto indica um embarque na invasão da Venezuela supostamente para dar fim ao que seria uma ditadura impiedosa.  A realidade dos fatos tem, entretanto, dificultado a passagem da retórica para as ações concretas, já que as forças armadas venezuelanas são talvez as melhores preparadas e armadas da América do Sul.

Pois bem, essa realidade acaba de ganhar tons ainda mais agudos com a chegada de dois aviões da força aérea da Federação Russa transportando tropas e equipamentos em Caracas no último sábado (23/03).

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Com isso, a Rússia está dando um recado claro aos EUA e seus aliados regionais no sentido de que parem de pensar que uma potencial invasão à Venezuela será um piquenique de fácil resolução.  

Enquanto há que se ver o que dirão agora deputados federais, a começar por Alexandre Frota (PSL/SP), que disseram que eram voluntários de primeira hora para participar da invasão de um país soberano que possui as maiores reservas conhecidas de petróleo do planeta. Será que com tropas e armamento russo em solo venezuelano, a disposição de ser voluntário continua a mesma? A ver!