Jacques Wagner precificou a democracia brasileira: R$ 20 bilhões

Jaques Wagner é anunciado por Lula como novo líder do Governo no Senado  Federal | PT - Capão Do Leão

Os bons companheiros em ação no PL da Dosimetria: Jacques Wagner costura acordo, Luís Inácio finge que veta

Que certas coisas só avançam no Brasil graças, digamos, à boa vontade da bancada parlamentar do PT na Câmara Federal e no Senado já é sabido faz algum tempo. Mas agora ao senador Jacques Wagner (PT/BA), a coisa atingiu uma nova prateleira com o o PL 2.162/2023, o famigerado PL da   Dosimetria. É que graças a um gesto de Wagner, o Senado Federal acaba de aprovar e enviar para sanção do presidente Luís Inácio. Com isso, todos os que tramaram contra a democracia brasileira, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, terão uma generosa redução de suas penas, ficando livres para tentar mais uma vez a derrubada do estado de direito no Brasil.

A explicação de Jacques Wagner é que a peça iria passar mesmo, e não haveria porque empurrar a aprovação para 2026.  Mas segundo um outro membro notório do Senado, Renan Calheiras (MDB/AL), a coisa cheira mais a mais uma negociata para aumentar a arrecadação federal a partir de um acordo para  destravar a análise de outro texto considerado prioritário para a equipe econômica,  um que trata do corte de incentivos fiscais e do aumento da tributação de bets, fintechs e juros sobre capital próprio. O valor desse corte seria da ordem de R$ 20 bilhões.

Em outras palavras, houve um acordo para precificar a democracia brasileira no irrisório montante de R$ 20 bilhões, tudo sob os auspícios do líder do PT no Senado Federal!

Como sempre ocorre nesses casos escabrosos, já estão sendo anunciados vetos do presidente Luís Inácio para “defender a democracia”. Vetos esses que serão facilmente derrubados, como já ficou evidente nos casos do PL do Veneno e do PL da Devastação.

Assim, acredita nesses vetos quem quiser, mas o estrago já está feito, e em breve, dependendo de quem for eleito em 2026, poderemos ter a reedição daquelas cenas horrorosas em Brasília ou em alguma outra capital brasileira nas quais a extrema-direita fique descontente com os resultados.

E tudo isso graças a Jacques Wagner, que fique bem claro.

PL da Devastação: a boiada passou e Lula foi o vaqueiro que tangeu a manada

Primeiro passo para enfrentar PL da Devastação é entender que do presidente Lula não se pode esperar uma postura condizente com a adoção de um novo modelo de desenvolvimento econômico para o Brasil

Foto: Reprodução 

Por Marcos Pedlowski para “A Nova Democracia”

O presidente Lula, contrariando uma série de pareceres técnicos que sugeriam o veto total do PL 2159/2001 conhecido popularmente como PL da Devastação, sancionou a legislação que irá fragilizar sobremaneira o processo de emissão de licenças ambientais no Brasil.  Apesar de ter vetado 63 dos 400 dispositivos que compõe a lei aprovação pelo congresso nacional, é seguro dizer que Lula foi responsável pela passada de uma grande boiada anti-ambiental.

Primeiro há que se analisar a abrangência dos vetos, visto que em apenas 27 deles houve o veto pleno, e nos 36 restantes a forma adotada foi sugerir uma nova redação que assegurará que os dispositivos cumpram dispositivos legais, coisa que foi ignorada pelos doutos legisladores que integram as duas casas, Senado Federal e Câmara de Deputados.

Segundo, há que se ver que o governo Lula optou por manter uma nova forma de licença que lhe interessa sobremaneira, a chamada Licença Ambiental Especial (LAE). Ainda que a versão a ser adotada segundo o governo federal não seja tão liberal como a proposta pelo congresso, o fato é que com posse desse instrumento, agora será possível adotar procedimentos mais simplificados e expeditos para a realização de obras de grande porte e que afetarão ecossistemas inteiras, bem como populações tradicionais e povos indígenas. A criação dessa licença sempre foi uma ambição do presidente Lula, pois ele tem claro interesse na realização de obras como a pavimentação da BR-319 e a construção da chamada Ferrogrão. Mas com esse tipo de licença também será possível acelerar o processo de exploração de petróleo e gás na Amazônia. 

Mas para além dos interesses do governo de plantão, o que impulsionou a alteração da legislação do licenciamento foram as pressões oriundas do latifúndio agro-exportador e das empresas de mineração que enxergam na liberalização do licenciamento ambiental uma oportunidade para ampliar de forma menos onerosa o alcance de suas operações em todo o território brasileiro, sem que para isso seja necessário assumir maiores responsabilidades sobre os danos que serão causados por suas atividades.

Aqui é preciso abrir espaço para uma reflexão sobre o alcance da fragilização do licenciamento ambiental em relação à exploração das chamadas terras raras. Como se sabe, a mineração brasileira já é controlada em grande parte por empresas multinacionais.  No caso das terras raras, a disputa deverá ser entre empresas estadunidenses e chinesas, já que os EUA e a China são quem controlam a produção de produtos de alta tecnologia nas quais elas são usadas. O problema é que grande parte dos depósitos de terras raras se encontram dentro de unidades de conservação, áreas quilombolas e terras indígenas.  Com a nova forma de licenciamento, a proteção dessas áreas será inevitavelmente diminuída, expondo ainda os habitantes  dessas áreas às pressões de empresas, grileiros e jagunços.  Nesse caso, o que parece ser apenas uma mudança na legislação ambiental se revela na prática uma autorização para matar quem estiver no caminho dos interesses empresariais.

Uma pergunta que pode se colocar é a seguinte: por que o presidente Lula optou por sancionar uma legislação tão claramente inepta?  Em minha opinião é porque ele acredita no modelo extrativista (tanto agrícola como minerário) como alavanca de desenvolvimento econômico, provavelmente como sendo a única opção real para o Brasil. Essa crença pode ser detectada em inúmeras declarações feitas ao longo do tempo, nas políticas de investimento feitas em todos os governos controlados pelo PT,  e também no arco de alianças que sustentam o atual governo Lula que é hegemonizado por forças diretamente ligados ao campo agro-minerador. Assim, aprovar o PL da Devastação está de acordo com as crenças e com as políticas de alianças do presidente Lula.

Por outro lado, alguém poderia dizer que a sanção não foi plena e que certos dispositivos foram vetados, a começar pela permissão ampla, geral e irrestrita para a emissão de licenças automáticas, o famoso autolicenciamento. Pois bem, nem isso está garantido,  pois todos os vetos poderão ser facilmente derrubados pelo congresso, repetindo o que já aconteceu na flexibilização da legislação controlando a produção e consumo de agrotóxicos no Brasil. Também no caso do PL do Veneno, o presidente Lula optou por vetos pontuais que posteriormente foram derrubados, e como resultado temos a permissão para a importação, produção e consumo de substâncias conhecidamente cancerígenas.  A questão é que se Lula tivesse feito naquela ocasião o uso do veto total, ele teria obrigado o Ccongresso a trabalhar mais.  Mas naquele caso, como agora, o uso da tática de vetar pontualmente foi usada. E a minha expectativa é que se não houver uma mobilização popular intensa, os vetos do PL da Devastação também caírão e com grande facilidade.

Que a aprovação do PL da Devastação trará efeitos amplamente desastrosos para o Brasil, eu não tenho nenhuma dúvida.  A questão que se põe então é do que se pode fazer para fazer frente às suas consequências.  Eu diria que o primeiro passo deverá ser o reconhecimento de que do presidente Lula não se pode esperar uma postura condizente com a adoção de um novo modelo de desenvolvimento econômico para o Brasil.  Sem isso, continuaremos presos à falsa esperança de que ele adote a postura que o momento histórico exige dele que seria o de romper com a condição de economia dependente e aferrada à condição de exportadora de produtos primários. Além disso, há que se reconhecer a condição ambientalmente crítica em que nos encontramos, pois sem isso não há como dar a devida prioridade à luta pela proteção das nossas florestas e rios.  Em outras palavras, se não reconhecermos que a luta política deve priorizar a defesa da nossa riqueza ecológica, o destino que se avizinha será trágico em função do colapso climático que se avizinha. Por isso tudo é que ser contra e lutar contra os efeitos que advirão da adoção do PL da Devastação não é uma mera frivolidade ambientalista, mas um elemento estratégico e essencial para a luta política de todos os que não querem ver o avanço da destruição das condições básicas para a existência da vida na Terra. 

Posso estar parecendo dramático e estou, pois a situação já passou da condição dramática faz algum tempo. 


Fonte: A Nova Democracia

Superexploração no Brasil: o PL da Devastação e o veto simbólico de Lula

Presidente veta trechos da “lei da devastação”. Congresso ainda pode derrubar os vetos e manter a lei em sua integralidade devastadora 

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Protesto pela proteção do clima e pelos direitos das mulheres e dos povos indígenas em Brasília (7 de agosto de 2025)

Por Norbert Suchanek para o “JungeWelt”

Na sexta-feira passada, o presidente brasileiro tomou uma decisão de última hora sobre uma reforma apelidada de “Lei da Devastação” por ativistas das florestas tropicais e do clima. Contrariando as demandas de organizações não governamentais, povos indígenas e cientistas, Luiz Inácio Lula da Silva não rejeitou totalmente a lei aprovada pelo Parlamento e pelo Senado. Ele apenas vetou 63 dos 398 artigos da “Lei da Devastação”, que visa facilitar a concessão de licenças ambientais.

Ao mesmo tempo, ele deu sinal verde para isenções imediatas para fins de avaliações aceleradas de impacto ambiental, ou seja, para a aprovação de projetos de infraestrutura, desenvolvimento e mineração classificados como estratégicos pelo conselho de governo. Isso permitiria que projetos prejudiciais ao clima fossem declarados e implementados mais rapidamente no futuro, seja a exploração de depósitos de petróleo no estuário da Amazônia, a mineração de minérios e minerais estratégicos como nióbio ou urânio, a pavimentação da rodovia federal BR-319 na Amazônia Central ou a construção da ferrovia “Ferrogrão”, que também é contestada por conservacionistas da floresta tropical.

Apesar disso, algumas organizações ambientalistas elogiaram o presidente. “Os vetos de Lula a trechos da Lei da Devastação são fundamentais para corrigir aspectos graves do projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional – e demonstram seu compromisso com a proteção socioambiental”, comentou o Greenpeace Brasil. “Os vetos são a prova do compromisso do governo federal com a sociedade como um todo e com o combate às mudanças climáticas”, disse Alice Dandara de Assis Correia, do Instituto Socioambiental (ISA), avaliando a decisão de Lula. A organização ambientalista SOS Mata Atlântica descreveu seu veto a dispositivos que revogariam a proteção especial da Mata Atlântica como um “marco importante” para a legislação ambiental brasileira e a preservação da Mata Atlântica.

Outros críticos do projeto de lei não veem motivos para comemorar. “O presidente Lula sancionou a chamada Lei da Devastação praticamente sem alterações”, afirma o geógrafo Marcos Pędłowski, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), no estado do Rio de Janeiro. Dos 63 artigos vetados pelo presidente, ele rejeitou apenas 26 integralmente, enquanto 37 foram rejeitados apenas parcialmente. No entanto, com a assinatura do presidente, o enfraquecimento do processo de licenciamento ambiental no Brasil tornou-se realidade. Pedlowski está convencido de que a nova legislação causará sérios danos ambientais e terá consequências negativas para a população local. O ecólogo Rodolfo Salm, da Universidade Federal do Pará, em Altamira, tem opinião semelhante. Quem comemora os 63 vetos do presidente Lula não entendeu nada, escreve ele na plataforma online X.

Na verdade, os vetos do presidente brasileiro têm pouco mais do que valor simbólico. O projeto agora retorna ao Congresso, dominado pelo lobby do agronegócio e da mineração, que pode derrubar os vetos do líder do Partido dos Trabalhadores e promulgar a “lei da devastação” sem alterações. Deputados do estado do Amazonas já se mobilizam no Congresso Nacional contra os vetos de Lula e exigem a rápida pavimentação da BR-319 sem aprovação ambiental prévia.

Além disso, não se pode deixar de mencionar que mesmo a legislação ambiental existente para a Amazônia não conseguiu impedir projetos de infraestrutura catastróficos. Desde a década de 1990, monoculturas ecológica e socialmente prejudiciais se espalharam por todo o Brasil. A superexploração legal e ilegal nas montanhas brasileiras está aumentando constantemente. Mesmo durante o último mandato de Lula e sua sucessora Dilma Rousseff, as megahidrelétricas de Belo Monte, no rio Xingu, e Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, foram planejadas ou construídas, cujas consequências desastrosas para o meio ambiente natural circundante eram previsíveis.


Fonte: JungeWelt

Enquanto Brasil vive tragédia climática, bancada ruralista derruba vetos à nova lei de agrotóxicos

8 dos 17 vetos ao Pacote do Veneno foram derrubados na quinta-feira (9); ONGs vão acionar STF para barrar a nova lei

agrotóxicos

Ativistas do Greenpeace protestam, em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, contra o Pacote do Veneno, que autorizando mais substâncias tóxicas, inclusive cancerígenas

Por Andressa Santa Cruz para o Greenpeace

O cenário é sem surpresa, mas segue revoltante. Enquanto o Brasil enfrenta uma das piores tragédias climáticas de sua história, a bancada ruralista conseguiu derrubar 8 dos 17 vetos ao Pacote do Veneno (Lei nº 14.785/2023), na última quinta-feira (9), enfraquecendo ainda mais a legislação brasileira de agrotóxicos. Para barrar essa medida, organizações e movimentos sociais vão recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). 

Essa nova lei do Pacote do Veneno (com os vetos presidenciais ou não) é um dos maiores retrocessos ambientais que já vimos no paísmas ver ontem esse número altíssimo de parlamentares se posicionarem contra Ibama e Anvisa – e não reconhecerem sua importância – foi de indignar!”, enfatiza Vanessa Pedroza, porta-voz do Greenpeace Brasil. “Agora, esses órgãos perdem totalmente o protagonismo técnico de análise ecotoxicológica e ambiental, enquanto o MAPA faz a festa junto com a bancada ruralista.” 

Mais de 400 parlamentares votaram pela derrubada dos vetos contra 103 que votaram pela sua manutenção (4 senadores e 99 deputados) – veja a lista completa de votos aqui. Ainda falta a análise de 9 vetos, que foi agendada para 28/05. 

Prejuízos da lei do Pacote do Veneno

O Pacote do Veneno foi aprovado no fim do ano passado, tornando-se lei, e foi sancionado com 17 dispositivos vetados pelo presidente Lula – oito foram derrubados ontem, em resumo: 

  • Enfraquece a competência da Anvisa e do Ibama, deixando o Ministério da Agricultura (MAPA) na função exclusiva de coordenar o processo de reanálise de riscos de agrotóxicos;
  • Autoriza registro provisório de produtos à base de ingrediente ativo em reanálise, ofendendo-se o princípio de precaução. O veto evitaria a exposição humanitária e ambiental aos agrotóxicos.

Esses vetos, todavia, não resolviam pontos graves, como a possibilidade do registro de substâncias comprovadamente cancerígenas e que ameaçam a biodiversidade. 

Pacote do Veneno no STF
A tragédia em curso no Rio Grande do Sul, que já atingiu mais de 1 milhão de pessoas, com mais de 100 mortos e desaparecidos, é mais um sinal grave e urgente de que precisamos nos ajustar à nova realidade climática. 

O Brasil já é o país que mais usa agrotóxicos no mundo e a nova lei do Pacote do Veneno agrava essa realidade, autorizando mais substâncias que poluem e contaminam o meio ambiente, causando doenças e danos irreparáveis. Ela viola preceitos básicos da Constituição Federal, como direito à vida, à saúde e ao meio ambiente equilibrado. 

Agora, organizações e movimentos, como o Greenpeace Brasil e a Campanha Permanente contra Agrotóxicos, vão questionar o Pacote do Veneno no STF, para que sua inconstitucionalidade seja reconhecida e a lei seja derrubada.

Agroecologia é solução
“Diante da fome e da crise climática, já existe uma solução ancestral: a agroecologia”, explica Vanessa Pedroza. “Diversos estudos científicos já comprovam os riscos e impactos irreversíveis dos agrotóxicos  e sabemos que o uso desses venenos não é necessário. Pelo contrário! Precisamos transitar para um sistema alimentar e agrícola justo e ecológico.”

Por isso, precisamos seguir vigilantes para que os interesses do agronegócio não sobreponham o bem-estar de todos nós, ou então estaremos fadados a enfrentar tragédias climáticas cada vez piores. 


Fonte: Greenpeace