Havan chega em uma planície marcada pela fome, e tem quem celebre

Wladimir recebe diretor da Havan e anuncia que obras do mega empreendimento  iniciam em breve - Campos 24 Horas | Seu Jornal Online.

O prefeito Wladimir Garotinho dando boas vindas a Nilton Hang que promete para “breve” a instalação de uma estátua da liberdade na planície goitacá

Tive o desprazer de assistir um vídeo em que o prefeito de Campos dos Goytacazes “faz sala” para Nilton Hang, diretor de expansão da famigerada Havan. O prefeito apresenta a chegada da Havan como uma confirmação de que em se trabalhando, a coisa vai.

Mas o que é e o que vende a Havan? A Havan é uma rede de lojas de departamento brasileiras que vende uma vasta gama de produtos nacionais e importados no varejo e atacado, incluindo vestuário, eletrodomésticos, eletrônicos, utilidades domésticas, móveis, brinquedos e alimentos, muitas delas produzidas pelo setor de produtos menos qualificados das corporações chinesas. Além disso, a Havan se notabilizou por suas grandes lojas terem fachadas inspiradas na feiosa arquitetura americana e por colocar réplicas horrorosas da Estátua da Liberdade no interior dos seus estacionamentos.

Em outras palavras, a Havan é uma dessas combinações estereotipadas que, por um lado, vende os valores morais de um potência decadente (os EUA), enquanto entrega produtos de segunda linha produzidos pela potência emergente (a China).

Eu diria que até aí ainda vá lá, pois quem quiser comprar produtos ruins por preços caros que compre. O problema é que essa chegada e a promessa minguada de empregos como se fossem grande coisa se dá em uma cidade em que uma parcela significativa, cerca de 150 mil cidadãos segundo dados da própria prefeitura, vive abaixo da linha da pobreza, e precisa encarar a fome diariamente, não como exceção, mas como regra.

Em outras palavras, a chegada da Havan não resolverá problemas cruciais, e ainda pode piorar outros, pois toda vez que uma grande loja de departamentos chega em algum lugar, centenas de pequenos estabelecimentos são fechados por não terem como concorrer.

E Oscar vai para… Wladimir Garotinho

Por Douglas Barreto da Mata

A “atuação” recente do prefeito de Campos dos Goytacazes o coloca como futuro candidato ao prêmio da academia.  Podemos escolher, melhor roteiro, melhor direção e sim, melhor ator.  Poderíamos dizer que o roteiro escrito está (ou não) próximo a uma reviravolta, ou “plot twist”, como denominam os mais modernos. 

Um dos grandes problemas da crítica de cinema e da crônica política, mais ou menos especializadas, é tentar adivinhar ou descrever o que o roteirista ou o diretor pretendiam com sua obra.  Quase sempre as tentativas são em vão, e às vezes, os diretores e escritores zombam dessa pretensão dos críticos, assim como os líderes políticos ludibriam os cronistas. É o que faz Wladimir Garotinho.

O roteiro ele escreveu e ele mesmo dirige sua atuação.  Há muito ele sabia que o mero anúncio de seu desejo de concorrer a outro cargo em 2026 desencadearia “uma corrida do ouro” ou sendo mais dramático, uma excitação dos tubarões com os quais nada desde 2021. Os predadores sentem de longe o cheiro de sangue na água, isto é, um governo cujo líder diz que sairá, com data definida, tende ao enfraquecimento.

É a síndrome do cafezinho frio, quando a bebida servida no gabinete do chefe do executivo chega fria. O que ninguém conseguiu entender que toda essa narrativa pode ser uma distração ou pior, uma isca para testar lealdades. É um enredo conhecido, mas que sempre atrai os incautos e os ambiciosos em excesso. Não à toa, talvez observando o prefeito campista, o governador Cláudio Castro fez um movimento semelhante, e disse que vai não vai e pode acabar “fondo”.

Seja lá como for, aqui na planície goytacá, Wladimir Garotinho vai conduzindo seu “filme” como lhe convém, confundindo aliados, irritando adversários.  O prefeito diz com gestos exagerados, como um Almodóvar, e se comunica por metáforas, como um cinema novo de Glauber Rocha, e muita gente não entende que é ele quem define o final, feliz para uns, infeliz para outros.

Wladimir já deu título a saga: Eu ainda estou aqui.

E se Wladimir Garotinho, em vez de ir resolver ficar?

Por Douglas Barreto da Mata 

Desde que o nome do Prefeito Wladimir Garotinho começou a circular como hipótese para várias possibilidades nas eleições de 2026, que vão desde a vice-governadoria, parlamentar federal, e até a governadoria, não sendo indesejável para ele, eu penso, uma vaga ao Senado da República, o fato é que um caminho foi pouco lembrado, e até desprezado mesmo, pela maioria dos analistas sérios, e palpiteiros como eu.  Seria a permanência de Wladimir Garotinho como prefeito, até o fim do mandato.  De certo que isso mudaria todas as expectativas, e adiaria um pouco a assunção do vice Frederico Paes.

O fato é que, talvez, mais dois anos permitiriam a Wladimir organizar a passagem do bastão, ao mesmo tempo que ele poderia entregar o governo a um vice que se elegeu prefeito, e não apenas herdou o cargo por renúncia.

Uma nova base parlamentar seria eleita, já com essa configuração do novo prefeito, que exerceria com mais ênfase suas demandas na montagem dessa nominata, e faria seus próprios acordos, afastando o desgaste de ter que gerenciar acordos e as bases do Prefeito Wladimir Garotinho. Não que haja dissenso entre eles, o prefeito e o vice, ou entre o vice e a base atual, nada disso, apesar das insistentes fofocas, vai tudo bem no governo, é o que parece. Mas é diferente, quando você recebe o acervo político e quando você o monta.

Por outro lado, Wladimir Garotinho, exercendo o mandato até o fim, pode eleger sua esposa para a Câmara Federal em 2026, e rearrumar sua carreira para 2028, em um universo onde seu arqui rival estaria no TCE/RJ. O governador eleito, em dois anos, já diria a que veio, e a depender de quem Wladimir apoiar, ele poderia passar o período de 2026 até 2028 como secretário de Estado.

Tudo isso atenderia a um cálculo mais sofisticado, que consiste em garantir a aprovação de suas contas ainda nesta legislatura, e ao mesmo tempo, estando na estrutura do Estado, poderia manter o olho no TCE/RJ, para evitar surpresas desagradáveis.

Quem sabe?  A chance é pequena? Eu acho que sim, mas vai que ele resolve dizer, ali na curva da Lapa:  “Se é para o bem da cabruncada, e felicidade geral dos lamparão, diga à planície goytacá que eu fico.

Algo coerente aconteceu em Campos dos Goytacazes: em uma terra de exclusão, excluiu-se o “Grito dos Excluídos”

Manifestação do “Grito dos Excluídos” em Campos dos Goytacazes/2025:  reprimida como sempre é

O chamado “Grito dos Excluídos” é uma iniciativa que nasceu há exatos 30 anos como resultado de ações organizadas em prol dos pobres pela  Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ao longo dessas três décadas, organizações sociais do campo e da cidade se utilizam das celebrações do Dia da Independência para lembrar que somos uma sociedade extremamente desigual e demandar que mudam sejam feitas para gerar uma sociedade mais justa para a maioria dos brasileiros pobres.

Obviamente o “Grito dos Excluídos”  nunca foi bem visto pelos governantes que organizam os atos oficiais do 7 de Setembro que preferem cerimônias militarizadas nas quais os pobres são, quando muito, expectadores passivos de desfiles que reforçam aquilo que o “Grito” demanda que seja mudado.

Aqui em Campos dos Goytacazes, a recepção nunca foi boa.  Na última vez que participei, o “Grito” foi barrado nos portões do CEPOP e só pode entrar quando o desfile oficial já tinha sido encerrado e as arquibancadas esvaziadas rapidamente. E o resultado foi que não tinha mais ninguém para ver as faixas e ouvir os gritos do “Grito”.  Eis que ontem, além de se impedir a entrada do Grito, usou-se da violência que é ensaiada todos os anos no momento em que os ativistas e populares participando da manifestação tentam exercer o direito democrático de serem ouvidos. 

 Soube hoje que até sobrou denúncia de um ato de racismo para um dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT) que foi preso e enviado para ser encarcerado na Casa de Custódia Dalton Crespo de Castro. Esse caso me parece um exemplo de como se pode punir o mensageiro, deixando a razão da mensagem intacta: foi denunciar a desigualdade e as injustiças sociais e demandar equidade, e acabou preso por racismo.  

Mas, convenhamos, em uma cidade que exala exclusão e injustiça social por todos os seus becos e avenidas, excluir o Grito dos Excluídos faz todo sentido. Impossível mesmo seria, pelo menos no governo Wladimir Garotinho, permitir que o Grito dos Excluídos abrisse as festividades da independência para que possamos começarmos a construir uma sociedade melhor para a maioria pobre que compõe a população brasileira.  Afinal, Wladimir, mesmo com o seu jeito “clean”, não esconde o lado que ocupa no espectro ideológico brasileiro.

Ah, sim, espero estar vivo e saudável o suficiente para participar do Grito dos Excluídos de 2026. É que as condições objetivas para a manutenção da realização do Grito certamente serão mantidas intactas por quem grita “Semiárido”, e reprime quem ousar gritar contras injustiças que castigam os pobres desta pobre cidade rica.

Pesquisas eleitorais e seus resultados (nada) misteriosos: nem tudo que reluz é ouro

Por Douglas Barreto da Mata

O mau do esperto é imaginar que todos à sua volta são tolos.  Pois é.  Em alguns casos, a tentativa de passar a perna em todos acaba por trazer momentos vergonhosos para os “espertos”. As pesquisas eleitorais servem para muita coisa: análises sérias, mas também para propaganda, manipulação de resultados e até auto engano. 

Eu não saberia dizer quais das circunstâncias levou o pré-candidato Rodrigo Bacellar a se expor dessa maneira.  Eu creio que ele não fez isso sozinho, ou só pegou carona na estratégia alheia, ou é um “inocente útil”. Eis a receita dos “alquimistas políticos”, que desejam transformar pedra em metal valioso.

Primeiro, a “inacreditável sabedoria” de suprimir o nome de Wladimir Garotinho, nesta pesquisa Quaest.  O prefeito campista é um dos principais rivais do deputado estadual, e apareceu em segundo, seguido de Washington Reis, e depois, em quarto, o próprio presidente da Alerj, na pesquisa Prefab.

Quem observar os números das duas pesquisas vai poder concluir que Rodrigo só chega a 9%, na pesquisa Quaest, por causa da ausência de Wladimir.  Todos os demais permanecem com números parecidos.  Ou seja, Wladimir vai bem com Rodrigo, mas Rodrigo não resiste à presença de Wladimir no questionário.

Ah, sim, mas o contratante da pesquisa tem o direito de explorar os cenários que deseja.  O contratante, sabemos, é o grupo Globo, ou alguém que contratou a sondagem para ser divulgada pela empresa de comunicação, como principal plataforma de repercussão.

Rodrigo Bacellar embarcou na jogada? Claro, ninguém rejeita um “vento a favor”, porém, correndo o risco do ridículo de acreditar em uma nota de três reais.  O truque fica pior, acreditem. Quem olhar o cartão com os números, nomes e partidos verá que o partido atribuído ao Rodrigo é o PL.  PL, como assim?  Rodrigo Bacellar é do União Brasil/PP.

Por que esse “erro”?  Ora, para induzir o eleitor a acreditar que Rodrigo é o candidato dos Bolsonaro, justamente aqueles que disseram que ele não é candidato dos Bolsonaros, de acordo com Flávio Bolsonaro, que fala pelo pai nesse assunto.

Bem, um leitor ou leitora mais atenta poderá perguntar:  Uai, a pesquisa contratada e amplamente divulgada pela Globo favorecendo a Rodrigo Bacellar, será que a Globo escolheu ele como candidato?  Se ele acredita nisso, ou nos números apresentados, é desespero puro.

Qual é, então, a mão que balança o berço? O que fez essa distorção de colocar o PL como partido de Rodrigo e a supressão do seu principal rival?  Bem, eu não tenho elementos para provar que foi Eduardo Paes, mas ele é o principal beneficiado.  Como? Ora, todas as pedras portuguesas do calçadão de Copacabana sabem que Eduardo Paes quer disputar com Rodrigo Bacellar, e tem pavor de imaginar uma disputa com uma aliança Wladimir com Washington, ainda mais com apoio de Bolsonaro.

Não por outra razão, Eduardo fez gestões para ter um dos dois em sua chapa, e nunca o fez em direção ao Presidente da Alerj, ao menos não publicamente, como fez com os WW. Ao mesmo tempo, inflar Rodrigo é bagunçar o jogo no campo de Wladimir e Washington, ainda mais com o desempenho do campista na pesquisa Prefab, sendo somente a segunda vez que ele aparece em sondagens, e não tendo se declarado candidato. Com a “subida” de Rodrigo, Paes imagina empurrar os WW para seu campo.

Wladimir Garotinho: A renovação de uma tradição, ou Wlad 4.0 Reloaded

Por Douglas Barreto da Mata

Há algum tempo atrás, no meio da campanha eleitoral em 2024, quando se questionava a força eleitoral do atual Prefeito Wladimir Garotinho, em meio aos desgastes naturais de uma eleição contra as forças políticas personificadas no Presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, eu me lembro de ter escrito algo do tipo:  “Wladimir conseguiu renovar o legado de seu sobrenome, e se tornou mais que um herdeiro político do casal de governadores, aliás, os únicos eleitos pelo interior na história do RJ, após a fusão.”

O Prefeito de Campos dos Goytacazes conseguiu imprimir uma marca própria, um estilo pessoal e único que, gostem ou não, permitiu uma vitória acachapante em 2024. Claro que o prefeito de uma cidade polo regional é, por natureza, um ator importante no cenário estadual.

Esse reconhecimento se deu de várias formas. Os aliados animaram-se com a hipótese da região ter novamente o peso político aumentado. Os adversários passaram às tentativas de bloquear a expansão da influência política do prefeito campista, a todo custo, seja impedindo que seu nome fosse colocado nas pesquisas de intenções de votos, seja com a retenção de recursos necessários à gestão local, e devidos pelo Estado.

Teve até, recentemente, o veto do Presidente da República a um projeto de lei do então deputado federal Wladimir, o que não seria estranho, caso não tivesse sido o próprio líder do governo Lula no Senado, Jacques Wagner, que tivesse articulado a aprovação unânime.

O que os movimentos políticos dos adversários e o desejo dos aliados pareciam antecipar é o que disse a pesquisa mais recente de intenções de voto, divulgada hoje. Eu tive acesso a todos os dados. Tem uma variável bem importante, que geralmente é desprezada nas análises mais afobadas. A rejeição.

O mais rejeitado é o ex-governador Witzel, com 21, 1%, seguido de Eduardo Paes, com 18, 6%, e em terceiro, bem abaixo, Wladimir Garotinho com 8,5%.  Aqui chamamos sua atenção para a enorme rejeição de Eduardo Paes, quase equiparada a de Witzel, o que não é pouca, mas também se explica pela exposição permanente do prefeito carioca, e talvez uma repulsa do eleitorado fluminense pela sua proximidade com o PT e Lula.

Já Wladimir Garotinho apresenta uma rejeição baixa, e não se trata de ser desconhecido, já que o seu sobrenome tem um enorme recall no Estado, e dizem os detratores, é uma memória negativa, em grande parte pela história de seu pai, Anthony Garotinho.  Apesar de carregar o garotinho no sobrenome, Wladimir é pouco rejeitado.

Essa baixa rejeição, associada a um segundo lugar mas intenções de votos, mesmo não tendo seu nome colocado na arena dos pretendentes, senão como coadjuvante dessa ou daquela chapa, como vice, e sendo a segunda pesquisa que seu nome é posto para o eleitor, revelam uma condição promissora para Wladimir Garotinho, além de outras circunstâncias, como:  Personifica o diálogo, o centro, a conversa com vários Campos ideológicos, mas não abre mão de sua identificação política e religiosa, sem recorrer a extremismos. Quando instado a defender suas posições, faz com firmeza, como na questão do veto presidencial, sem perder de vista o diálogo que favorece a todos, cedendo para ganhar, ou, não perder. 

O perfil parece encaixar como uma luva no vácuo de projetos de poder de centro no RJ, e se unificar essa plataforma com a Baixada, como fez seu pai, quando se elegeu governador, estaremos na presença de um forte concorrente. 


Este texto reflete a opinião pessoal do autor e não reflete nenhum tipo de alinhamento editorial deste blog.

Eleições RJ 2026: a guerra de movimento versus a de posições

Castro não vê perspectiva de apaziguar ânimos entre Wladimir e Bacellar  Folha1 - Política

Palanque cheio em meio a uma guerra de movimento e de posições

Por Douglas Barreto da Mata

Podemos relacionar uma série de defeitos do deputado estadual Rodrigo Bacellar, pois humano como nós, ele os tem, assim como reúne em si também qualidades. Porém, um defeito ele não tem: ele não é burro.  Comparado ao seu principal adversário regional, o prefeito Wladimir Garotinho, Rodrigo Bacellar teve uma trajetória diferente, por óbvio, e talvez um pouco mais acidentada. Não é herdeiro de um legado político como aquele do tamanho da família Garotinho, que tem no acervo várias eleições bem sucedidas, para mandatos de prefeito, deputado estadual e federal e, governador. No quesito vitórias eleitorais, não há comparação possível.

O casal Anthony e Rosinha foi o único, como de governadores eleitos a partir do interior em toda a história do Estado do Rio de Janeiro, já fundido com o da Guanabara, antigo distrito federal.  Não é pouca coisa, quando se olha a distribuição do peso do eleitorado fluminense, com 70%, ou mais, concentrado na capital, baixada e zona metropolitana (que agora se estende até Itaboraí). Então, a tarefa de Rodrigo Bacellar para se estabelecer como um vetor de poder estadual não foi fácil.

Ao mesmo tempo, ensinam os antigos que manter-se no topo é mais difícil que chegar lá. Pode ser. O fato é que a trajetória de Rodrigo Bacellar no topo da “cadeia alimentar” no Rio de Janeiro está por um fio, aliás, parece que sempre esteve. Só ele pode escolher entre cair com paraquedas ou rede de segurança, ou sem nada mesmo.

Olhando Rodrigo Bacellar e Wladimir Garotinho temos dois personagens bem distintos, e que se encontram em posições bem diferentes também. Ninguém poderá dizer quem vai ser bem sucedido em suas intenções, ou pior, os dois podem sucumbir, mas o fato é que Rodrigo Bacellar parece em situação mais desconfortável.  Não foi (só) um erro de cálculo de Rodrigo, como seus detratores irão dizer, ou excesso de impetuosidade, como dirão também.

Estes ingredientes podem fazer parte dessa história, mas não são determinantes. Havia sinais (como as caneladas do pastor Silas Malafaia, nunca desmentidas ou censuradas pelos Bolsonaros), porém para o jogador não há outro caminho senão assumir certos riscos, ou, “quem não arrisca, não petisca”. Há alguns meses, ninguém, eu incluído, diria que Washington Reis teria mais de 1% de chances de reverter sua inelegibilidade. Hoje, essa circunstância quase se inverteu, e o recado (público) já foi dado em despacho desde Gilmar Mendes para o presidente do STF, Barroso: é possível um acordo de não persecução penal depois de sentença condenatória não definitiva (não transitada). O artigo 28-A do CPP não diz quando não pode, e aí a porca torce o rabo.

É possível interpretar a omissão da lei (interpretação extensiva) em benefício do réu, assim como fazer analogias (usar casos parecidos para suprir omissões legais).  Até os dias atuais, é verdade, ninguém tinha pensado nisso, ou proposto isso (muita gente boa poderia ter se livrado, ou poderá se livrar da cadeia e de inelegibilidades, é certo). Como vemos, “bons advogados” são matéria valiosa nesse habitat hostil.

Bem, voltando a Rodrigo Bacellar, Wladimir Garotinho e etc., temos um mundo de alternativas, mas todas partem de pontos comuns:  Washington Reis vai definir parte do jogo, a depender da decisão de sua elegibilidade.  Mesmo inelegível ele já era peça crucial no desfecho.

Há uma parte que será definida pela montagem da chapa presidencial e as repercussões dessa arrumação nos palanques estaduais.  Outra variável é: a importância do prefeito Wladimir Garotinho perde força com a saída de Rodrigo Bacellar de cena, por mais estranho e paradoxal que pareça.  Sem Rodrigo no páreo, a necessidade da chapa de Eduardo Paes de um contraponto no quintal dele (Rodrigo) diminui muito.

Por outro lado, suas chances de ocupar um espaço nesta mesa estadual crescem, não pelo antagonismo, mas pela solidariedade política entre os dois clãs, os Reis e os Garotinho.  Alguns mais reticentes dizem que essas chances diminuem, justamente porque o peso político do sobrenome, e suas próprias qualidades (de Wladimir) deixariam desconfortáveis tanto Paes como Reis em ter um vice como ele.

Um cálculo pragmático e correto, afinal, a gente sabe que o time só tem um camisa dez. Desse modo, a presença de Wladimir Garotinho na chapa como vice de Washington Reis ou Eduardo Paes será consagrada como uma exigência de uma conjuntura, não apenas de promessas e afagos. Há os que defendem que Washington Reis será o candidato a governador de um grande bloco de centro e direita, com Paes senador, sobrando outra vaga a ser definida, de acordo com os movimentos da corrida ao Planalto.

Não creio nesse caminho, embora o reconheça possível.  Tudo indica que a chapa bolsonarista ao Planalto tenha na cabeça de chapa o governador de SP, Tarcísio. Até aí tudo bem, não haveria grandes problemas em acomodar Eduardo Paes e Washington Reis, e isolar o palanque petista. O nó górdio é o Senado Federal.

A questão é ajustar a estratégia bolsonarista àquela casa, já que a premissa para concorrer com as bênçãos do ex-presidente e de seu filho senador seria a fidelidade expressa e irredutível à missão de combater o Supremo Tribunal Federal (STF), o que é prerrogativa dos senadores.  Nesse ponto, nem Cláudio Castro, nem Washington Reis, nem Eduardo Paes, nem Rodrigo Bacellar, enfim, muito pouca gente além do atual senador Carlos Portinho aceitaria fazer esse compromisso, ainda mais quando boa parte dos nomes citados têm interesse em causas em julgamento, que definem suas próprias sobrevivências políticas.

Querem um aperitivo do pavor que reina no STF   com essa estratégia? Bastou o presidente do Senado mandar o recado sobre a questão do julgamento da inconstitucionalidade do decreto legislativo que derrubou o IOF, sugerindo o desengavetamento dos pedidos de impeachment de Alexandre de Moraes, que o mesmo decidiu fazer o impensável: ao invés de dizer que é ou não constitucional, decidiu “conciliar” antes governo e Congresso.  Não existe “conciliação” em matéria constitucional, ou é ou não é.  No entanto, o STF, além de todo o protagonismo já arrecadado na história recente desse país, para nossa infelicidade, agora se auto proclamou (não sem a omissão de outros poderes) em uma instância de moderação, um quarto poder.

No caso das terras indígenas e o marco temporal, o STF deve ter sofrido a mesma chantagem do impeachment, e assim devem ser entendidas todas as “conciliações”. Então, os Bolsonaro parecem loucos, mas não são, quem controlar o Senado, controla esse quarto poder, e claro, os demais.

Sendo assim, para termos uma chapa do tipo todo mundo junto, as duas vagas para o senado têm que ter adeptos radicais dessa tese do bolsonarismo anti STF. Essa hipótese só tem chance com Washington Reis correndo contra Paes, com uma chapa que contemple, ao mesmo, parte esfacelada do que restar do governo Castro (e o próprio), do PP, de Luizinho, e outros que não me vem à mente agora, além do próprio Wladimir Garotinho.  É gente demais, para vaga de menos.

Rodrigo Bacellar sabe que seu espaço encurtou, não só pelos seus arroubos ou atos precoces de hostilidade com esse ou aquele adversário.  Foram as circunstâncias que alteraram o jogo, circunstâncias estas que ele não poderia incluir muito, ou nada. Quem olhar mais de perto verá que esses gestos mais extremos de Rodrigo, principalmente os mais recentes, podem ter sido calculados, como forma de apontar uma saída honrosa, já que o deputado já sabia que sua trajetória nessa corrida seria curta, ou percebeu isso com o balançar da carruagem.

A única chance que resta para que ele seja candidato a governador é como uma candidatura tipo Ramagem (na última campanha de 2024, para prefeito do Rio).  Ou seja, funcionar para ancorar as candidaturas ao senado.  Não acho que ele aceitaria esse papel coadjuvante.  O certo é que nenhuma etapa dessa caminhada de Rodrigo Bacellar se deu sem muito atrito e ruído.

Como mencionei em outro texto, sua pré candidatura parece uma luta de doze assaltos com Evander Holyfield, no auge da forma, enquanto lhe espera outra luta, logo depois, com George Foreman, aos 25 anos.  O que Bacellar parece fazer é dar aquela famosa mordida na orelha de Mike Tyson.  Como anteviu a derrota, decidiu acabar a luta, perder por desclassificação, e não por knock out, e tendo arrancado um pedaço do outro.

A vaga a governador poderia ser oferecida a Wladimir Garotinho, em uma chapa que significaria um suposto racha na direita, com Washington Reis e Wladimir em palanques separados. Isso poderia diminuir as chances de o pleito ser definido em primeiro turno.  A questão é Wladimir Garotinho aceitar embarcar nessa, tendo como certos o cumprimento de seu mandato de prefeito ou o de deputado federal eleito.

É preciso dizer novamente, 2026 será dos sobreviventes, e nenhuma força política é tamanha que pode desprezar as demais. Vai prevalecer quem souber poupar munição e estiver melhor localizado no campo de batalha. Por derradeiro, a IA nos informa:

“A diferença principal entre guerra de movimento e guerra de posições reside na mobilidade e no foco estratégico. A guerra de movimento envolve movimentos rápidos e ofensivos de tropas, buscando a conquista de território e a derrota decisiva do inimigo. Já a guerra de posições é caracterizada por uma estabilização das linhas de frente, com exércitos entrincheirados e pouca movimentação, onde a principal estratégia é a defesa e a manutenção de posições conquistadas.”

Café com poesia para animar uma manhã fria

Por Douglas Barreto da Mata

“João amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que não amava ninguém.

João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que não tinha entrado na história.”

2026 não será o ano dos concorrentes ou oponentes que medindo forças trarão um resultado nas urnas.  Apesar de ser esta a aparência, a disputa não consagrará um vitorioso, mas antes de tudo, um sobrevivente.  Não há em 2026 uma comparação de projetos antagônicos de poder político, ou visões distintas de mundo, esquerda ou direita. Ao contrário, 2026 é um ambiente conflagrado entre forças de mesma polaridade. 

Sendo assim, forças do mesmo polo em movimento acabam por colidir, e dessa colisão vem a fricção, o calor e as explosões.  Paradoxalmente, dada essa natureza política similar, essas forças, se estiverem isoladas, não conseguem chegar a lugar algum.

Rodrigo sem Wladimir, sem Reis não vence Paes. Paes sem Wladimir e/ou Reis não vence Rodrigo.  Reis sem Paes, sem Wladimir, não derrota Rodrigo.

Esses personagens estão irremediavelmente atados no campo da direita, disputando espaços sobrepostos (capital e Baixada) ou complementares (capital/Baixada e interior).  Ainda que haja uma indicação de que os palanques presidenciais sejam diferentes para Paes (com Lula?) e o restante com Jair Bolsonaro (?), o fato é que todos estão em busca do eleitorado conservador fluminense, já que o chamado eleitorado progressista talvez faça pouca diferença nesse jogo.

E  Cláudio Castro? Bem, Castro pode ser o J. Pinto Fernandes dos versos de Drumond ou Joaquim, quer dizer, pode perder tudo ou ganhar tudo. 

A julgar pelas caneladas passadas e as recentes entre os dois chefes de poderes estaduais, Castro também pode recitar outros versinhos de Drumond:

“No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.”

Em Campos, o estranho caso de uma prefeitura em guerra contra árvores

No último domingo saudei a recriação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente pelo prefeito Wladimir Garotinho. Achei, talvez em uma tola ilusão, que finalmente chegaríamos a um modelo de governabilidade minimamente ajustado às necessidades crescentes de adaptação ao processo de mudanças climáticas que assola o planeta neste momento.

Eis que hoje me chegaram imagens de podas drásticas realizadas em árvores existentes na sede da PMCG e, pasmemos todos, nos próprios da recriada Secretaria Municipal de Meio Ambiente ( ver imagens abaixo).

Àrvores completamente mutiladas no entorno da sede da Secretaria Municipal do Meio Ambiente

Árvores mutiladas por podas drásticas na sede da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes

A explicação dada a quem ousou perguntar o porquê de podas tão drásticas que claramente comprometem a saúde das árvores mutiladas. A resposta seria o combate à famigerada “Erva de Passarinho” (que são plantas arbustivas hemiparasitas das famílias Loranthaceae Santalaceae, pertencentes à Ordem das Santalales). Essas plantas são Nativa em todos os continentes do mundo, e parasitam diversas espécies de árvores de grande porte.

Pois bem, vejam abaixo uma das árvores que sofreram poda drástica na sede da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, e me digam se para fazer tamanha mutilação, já que as ervas de passarinho estavam localizadas em galhos inferiores e a poda foi para lá de drástica. Me parece claramente que não.

Árvore mostrada acima na Secretaria Municipal de Meio Ambiente antes de sofrer a poda drástica

A questão aqui é que existem soluções menos drásticas para a remoção das infestações de “Erva de Passarinho” que incluem a simples remoção manual ou apenas a retirada do galho infestado. A solução de podar toda a árvore não apenas é drástica, como vai muito além do que seria necessário, comprometendo a vida útil desses instrumentos fundamentais para a regulação climática urbana. Pelo jeito o que vale é o bordão “pode vir quente que estou fervendo”.

O pior é que se o governo municipal que deveria dar o exemplo no esforço de proteger o nosso limitado estoque de vegetação, o que dirá da população em geral?  Ao realizar essas podas drásticas, o que o governo municipal está dando é uma espécie de licença para podar drasticamente e do jeito que for. Eu digo isso porque se olhar atentamente as árvores podadas sequer a aplicação da calda bordalesa foi realizada, deixando as árvores em condições propiciais para a infestação por fungos e bactérias.  Tudo isso em nome de uma guerra às árvores em uma cidade em que chove pouco e as temperaturas médias são de um tropical “caliente”.

Finalmente, uma pergunta inocente: para onde é levada toda a madeira obtida com essas podas drásticas? É que eu lembro de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pelo prefeito Arnaldo Vianna junto ao Ministério Público Estadual para não apenas diminuir a prática das podas drásticas, mas também para impedir a comercialização da madeira obtida com elas. Aliás, depois de mais de 20 anos desde que aquele TAC foi assinado, eu me pergunto sobre quem acompanha o seu cumprimento.  Pelo jeito, ninguém.

Alvisseras notícias: Wladimir Garotinho corrige erro e recria secretaria de Meio Ambiente e adiciona Sustentabilidade

Wladimir Garotinho | O pôr do sol da nossa cidade é um PETÁCULO mesmo🌅❤️  Tão bonito que até peguei o cavaquinho só pra lançar o enigma do dia:  alguém arrisca... | Instagram

Quando é para dar boa notícia, a gente dá.  Graças a um colega pesquisador da UFF-Campos, hoje fui informado que no dia 02 de junho o Diário Oficial do Município trouxe a excelente notícia da recriação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e que agora abarcará também o tema da Sustentabilidade, tendo como secretário o ex-vereador Jorge Rangel (ver imagem abaixo).

Como os leitores deste blog sabem, venho criticando o prefeito Wladimir Garotinho desde que ele tomou posse do seu primeiro mandato por ter cometido a impropriedade de extinguir, em vez de fortalecer, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Agora, apesar de ainda não constar do organograma da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes, o maior município do estado do Rio de Janeiro, onde existem engatilhados vários problemas graves do ponto de vista socioambiental, poderá a ter uma secretaria própria para avançar o processo de adaptação climática.

Como estou terminando a orientação de mais uma dissertação que confirma o atraso crônico na adoção dos chamados Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da ausência objetiva de ações mínimas em prol da adaptação climática no plano municipal, posso dizer que melhor do que recriar a secretaria, o prefeito Wladimir Garotinho deveria oferecer o devido suporte orçamentário para as ações urgentes que precisam ser tomadas.