Novo relatório do IPCC é “alarmante” e mostra pequena janela de oportunidade para limitar o aquecimento a 1,5°C até 2100

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O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou hoje um novo relatório sobre as ciências físicas que explicam as mudanças climáticas passadas, presentes e futuras.

O relatório apresenta as projeções mais recentes para o aumento da temperatura, avanços na atribuição de eventos climáticos extremos às mudanças climáticas, riscos maiores de alcançarmos pontos de inflexão em que impactos significativos se tornam irreversíveis e muito mais. Duas descobertas são especialmente relevantes:

• O mundo pode atingir 1,5°C de aquecimento nas próximas duas décadas.
• Ainda resta uma pequena janela de oportunidade para limitar o aquecimento a 1,5°C até 2100, mas será necessária agir de maneira decisiva e muito rapidamente para conter as emissões nesta década, bem como zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050.

Leia o posicionamento de Helen Mountford, vice presidente de Clima e Economia do World Resources Intitute (WRI):

“Se este relatório do IPCC não o assustar ao ponto de agir, deveria. O relatório elabora um quadro muito sério do mundo implacável e inimaginável que nos espera se nosso vício em queimar combustíveis fósseis e destruir florestas continuar. Uma das conclusões mais impressionantes é que podemos atingir 1,5°C de aquecimento uma década antes do que o IPCC havia previsto anteriormente”.

“As manchetes recentes sobre enchentes mortais, incêndios florestais e secas que acontecem ao redor do mundo parecem cenas de um romance distópico de ficção científica, mas são manifestações do aquecimento global que nossa poluição climática já induziu no sistema. Os impactos perigosos e custosos que estamos experimentando agora parecerão moderados em comparação com o que enfrentaremos se não limitarmos o aquecimento a 1,5°C até o final deste século. Isso reforça a urgente necessidade de as nações ricas fornecerem muito mais recursos financeiros aos países em desenvolvimento que são os mais vulneráveis ​​aos impactos climáticos e os menos responsáveis ​​pelas emissões. Este financiamento é essencial para que possam proteger pessoas, fontes de alimentos e recursos hídricos das consequências inevitáveis ​​de um clima em transformação”.

“Embora as descobertas do IPCC sejam alarmantes, elas não podem se traduzir em desesperança ou falta de ação. Pelo contrário, a necessidade de cortar rapidamente as emissões de gases de efeito estufa ficará cada vez maior à medida que as temperaturas aumentam e os impactos climáticos pioram mais e mais. Esse relatório deve estimular cada país, empresa, cidade e cidadão a lutar com todas as forças para evitar todo aquecimento possível”.

“A boa notícia é que sabemos o que é necessário para evitar um futuro calamitoso e ao mesmo tempo gerar empregos e um crescimento econômico de baixo carbono. O relatório mostra que temos uma pequena janela de oportunidade para limitar o aquecimento a 1,5°C, mas só o faremos se agirmos de forma decisiva. Fazer isso exigirá mudanças rápidas e radicais na maneira como usamos e produzimos energia, alimentos, administramos o uso da terra e transportamos pessoas e bens”.

“Nossa oportunidade de evitar impactos ainda mais catastróficos tem uma data de validade. O relatório sugere que esta década é nossa última chance de adotar as medidas necessárias para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C. Se falharmos coletivamente em reduzir de forma rápida as emissões de gases de efeito estufa até o fim da década, essa meta ficará fora de alcance”.

“Por muito tempo, diferentes interesses impediram o progresso e lançaram dúvidas sobre a ciência do clima, que é sólida como uma rocha. Esses dias devem ficar no passado”.

“Fique atento aos líderes mundiais que estão no cargo hoje. Nosso destino coletivo será determinado por suas escolhas. Este é um momento em que todos precisam remar na mesma direção e exigir que seus líderes tomem medidas climáticas corajosas, como se nosso futuro dependesse disso – porque realmente depende”.

Leia o posicionamento de Carolina Genin, diretora de Clima do WRI Brasil:

“O relatório do IPCC é explicito, temos 10 anos críticos diante de nós para conter o aumento da temperatura média da Terra. O papel do Brasil é acelerar a transição da sua economia para um modelo bem menos dependente de combustíveis fósseis. Nós podemos fazer isso através de energia limpa e biocombustíveis, e gerando empregos e novos mercados para empresas nacionais como a Petrobrás. Há oportunidades para o país de modernização e revitalização nesta crise global, mas quanto mais demorarmos para nos posicionarmos competitivamente, mais perderemos oportunidades e mercados.”

“Os desmatamentos na Amazônia e em outros biomas brasileiros contribuem para o aquecimento do planeta e não beneficiam o país, seu povo e sua economia formal. A ciência e a história recente do país revelam claramente que podemos produzir mais e melhor sem desmatar, e que os biomas são fundamentais para a agricultura e para garantir a segurança hídrica e energética de nossas cidades.”

“Os Desafios da Qualidade do Ar no Brasil” discute entraves gerados ao país pela poluição do ar e possíveis soluções

Série de 3 webinars do WRI Brasil fomenta debate público sobre a economia nacional e a saúde da população no contexto da retomada verde pós-pandemia. Indústria automotiva é o primeiro tema

poluição do ar

O WRI Brasil – instituto de pesquisa que transforma grandes ideias em ações por meio de estudos e soluções em florestas, cidades e clima – promove em parceria com o Instituto Clima e Sociedade (iCS) a série “Os Desafios da Qualidade do Ar no Brasil” para incentivar o debate público em torno de um problema que afeta silenciosamente a população brasileira: a alta concentração de poluentes atmosféricos locais (e a urgência do Brasil em aderir à economia de baixo carbono).

“Esses eventos online são muito importantes para alimentar um debate aprofundado sobre a qualidade do ar que respiramos e suas implicações em uma dimensão macro, em que qualidade de vida, economia e mudanças climáticas precisam caminhar juntas, e nas políticas públicas que possam construir esse caminho”, diz o coordenador de Clima e Cidades do WRI Brasil, Walter F. De Simoni, economista especializado em estudos ambientais pela Universidade de Tufts, em Boston (EUA).

A adoção de um monitoramento e de controle da poluição do ar adequados, como parte de um plano maior de transição para a economia verde, evitaria ao Brasil mortes e danos à saúde da população brasileira, além de gravíssimas perdas em gastos públicos, produtividade no setor privado e detrimento do meio ambiente e clima. Estudo liderado pelo WRI Brasil indica que a economia verde tem potencial de gerar ao país um aumento acumulado adicional do PIB de R$ 2,8 trilhões nos próximos dez anos, criando 2 milhões de empregos a mais em 2030.

“Os Desafios da Qualidade do Ar no Brasil”, que acontece em outubro, terá especialistas do setor público e privado que são reconhecidamente referências em suas áreas de atividade – para inscrições antecipadas, acesse o link aqui.

A série de webinars começa com “ECONOMIA VERDE E A RENOVAÇÃO DO SETOR AUTOMOTIVO” no dia 1/10 (quinta-feira), das 11h às 12h30. A pergunta que se propõe aos debatedores é se a indústria automotiva brasileira, que responde por 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos e faz do país o 8º fabricante mundial de veículos, será capaz de se modernizar e atender as demandas ambientais e econômicas da atualidade. Para o debate, participam Izabella Teixeira (ex-ministra de Meio Ambiente), Adalberto Maluf (diretor de Marketing, Sustentabilidade e Novos Negócios da BYD, empresa que atua no setor de energias limpas e mobilidade elétrica) e Roberto Schaeffer (professor de Economia da Energia da Coppe/UFRJ).

O segundo webinar, no dia 7/10 (quarta-feira), das 15h30h às 17h, será sobre “QUEIMADAS: UM PROBLEMA COLETIVO”. Além da evidente perda de biomas, as queimadas aumentam a emissão de poluentes no ar, afetando o clima como um todo, a água e a agricultura. A saúde das populações locais também fica comprometida, o que aumenta enormemente os custos sociais e econômicos. Para entender a dimensão do problema e os entraves locais para a adoção da economia verde, foram convidados Ane Alencar (diretora de Ciência do IPAM Amazônia), Carlos Nobre (cientista e pesquisador do clima e de mudanças climáticas) e Socorro Neri (prefeita de Rio Branco – uma das cidades mais atingidas pelas queimadas na região Norte).

A série de webinars termina com “O AR (POLUÍDO) QUE RESPIRAMOS”, em 21/10 (quarta-feira), das 11h às 12h30. Patologista e pesquisador, referência em Saúde e poluição do ar, Paulo Saldiva participa de uma conversa franca sobre os impactos evidentes e os não tão evidentes da poluição do ar na saúde individual e na coletiva, em especial no cenário que se desenha em um Brasil “pós COVID-19”. A gestão da qualidade do ar no Brasil é feita por poucos Estados e os padrões de concentração de poluentes permitidos no país são muito acima dos níveis considerados seguros pela OMS (Organização Mundial da Saúde). A combinação desses fatores colaboram diretamente com mais de 50 mil mortes por ano no Brasil em decorrência da poluição do ar, segundo a organização, que aponta para um dado ainda mais alarmante: 9 entre 10 pessoas respiram ar poluído no mundo.

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Sobre o WRI Brasil

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Divulgação: AViV Comunicação
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Restauração de 77 mil hectares de áreas degradadas poderá movimentar mais de R$ 23 milhões por ano no Alto Rio Doce

Estudo da fundação Renova e do WRI Brasil aponta que intervenções florestais de baixo carbono em área atingida podem gerar melhores oportunidades de restauração

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Técnicas de restauração florestal e práticas de agricultura de baixo carbono podem ser aplicadas com sucesso na recuperação da Bacia Hidrográfica do Rio Gualaxo do Norte, em Minas Gerais, que foi impactada pelo rompimento da barragem do Fundão em 2015. É o que mostra um estudo realizado a partir do projeto Renovando Paisagem, uma parceria entre a Fundação Renova, o WRI Brasil, o Icraf Brasil e a Fazenda Ecológica. De acordo com as análises, a restauração de 77,2 mil hectares de áreas degradadas na bacia pode gerar um valor adicionado de R$ 23,5 milhões por ano distribuído por 8 municípios e reduzir 281,2 mil toneladas de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.

O objetivo é recomendar ações e estratégias da retomada das atividades agropecuárias na região mais atingida, em propriedades localizadas em Mariana, Barra Longa, Acaiaca, Oratórios, Ponte Nova, Dom Silvério, Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado e regiões, a partir da implantação de 25 Unidades Demonstrativas (UDs), onde foram desenvolvidos Sistemas Agroflorestais (SAFs), silvicultura de espécies nativas e práticas de manejo ecológico de pastagem. Essas unidades, implantadas dentro de propriedades atingidas, servem de modelo para outros produtores.

Para se chegar aos resultados, foi aplicada a metodologia ROAM, sigla que significa, em português, Metodologia de Avaliação de Oportunidades de Restauração. A técnica é usada na identificação das melhores oportunidades de restauração em uma paisagem e já serviu de base para a elaboração de planos de restauração no Brasil e no mundo.

O estudo mostrou também que intervenções de restauração como as que foram implantadas nas UDs, como a silvicultura de espécies nativas, o manejo ecológico de pastagens e os sistemas agroflorestais, poderiam ser implementadas na bacia. O retorno econômico para cada uma dessas intervenções foi estimado e varia de acordo com o arranjo produtivo. Um dos exemplos propostos pode gerar uma renda de quase 180 mil reais por hectare num horizonte de 12 anos através de produtos madeireiros e não madeireiros. É importante ressaltar que o sucesso da implementação depende de incentivos e medidas como segurança jurídica, assistência técnica e extensão rural (Ater), acesso a mercados e pesquisa e desenvolvimento para melhorar a produtividade e retorno econômico. Logo, o estudo mostra que a restauração na escala da paisagem é uma alternativa viável para a região.

A ROAM é aplicada a partir de análises socioeconômicas e biofísicas provenientes de bancos de dados já produzidos no território a ser reparado. Um núcleo de articulação e engajamento com os atores relevantes no tema e proprietários rurais discute os dados e planeja as ações para restauração da paisagem.

“Para subsidiar a tomada de decisão, ao longo do processo são construídos vários mapas com base em informações primárias e secundárias com o total envolvimento dos proprietários rurais da região, ribeirinhos do Gualaxo, Carmo e Piranga (Alto Rio Doce). Ou seja, o território ganha informações que subsidiam o planejamento territorial ou a visualização de oportunidades com análises e mapas biofísicos e socioeconômicos”, afirma Vitor Hermeto, especialista do Programa de Uso Sustentável da Terra da Fundação Renova.

Foram envolvidos pesquisadores, professores e extensionistas agroflorestais que atuam localmente, implementadores de projetos socioambientais que estão em busca de novos recursos para apoiar suas ações, associações e cooperativas de agricultores e agricultoras que demandam apoio técnico para o desenvolvimento de atividades no meio rural. Em seguida, essas informações foram levadas a outros fóruns, como os Conselhos Municipais e os de Comitês de Bacia Hidrográfica para ajudar no refinamento de planejamentos existentes que visem o melhor uso do solo no meio rural, considerando que florestas trazem ganhos diversos, tanto socioeconômicos como ambientais. Os dados levantados também servirão de base para atuação de órgãos públicos, como o Instituto Estadual de Florestas (IEF), entre outros.

Segundo Mariana Oliveira, do WRI Brasil, o estudo mostra que o sucesso da restauração depende de conhecer as motivações e atender as expectativas e necessidades da população. “A promoção da restauração na escala da paisagem deve ser abraçada pelos governos municipais e lideranças locais e, também, deve buscar a valorização da produção local e resgate do conhecimento popular e promoção de trocas de conhecimento e experiências e engajamento das comunidades” diz.

Além da obrigatoriedade legal de reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem, os principais benefícios que as pessoas esperam das florestas e que foram identificadas no estudo são a melhoria da qualidade da água, a complementação da renda rural e as oportunidades de engajamento e interação social.

O projeto Renovando Paisagem, do Programa de Uso Sustentável da Terra da Fundação Renova, está de acordo com o Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), que prevê a retomada de atividades agropecuárias de forma integrada com a adequação ambiental.

Agenda global de restauração

O estudo foi feito a partir da aplicação da Metodologia de Avaliação de Oportunidades de Restauração (ROAM, na sigla em inglês). Essa metodologia já foi aplicada em várias regiões brasileiras, como nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Santa Catarina, Pará e no Distrito Federal. Uma das grandes vantagens da metodologia é o componente de engajamento e participação social das lideranças locais no processo de tomada de decisão.

A aplicação do diagnóstico participativo auxilia os tomadores de decisão dos municípios afetados pelo rompimento da barragem a otimizar a implementação e aplicação de recursos, identificando as áreas com o melhor custo-benefício da recuperação de áreas degradadas e reflorestamento. Isso permite que a restauração na região atenda aos interesses da comunidade local e ainda ajuda no cumprimento do compromisso assumido pelo Brasil no Acordo de Paris de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de áreas e florestas degradadas até 2030.

No mundo há cerca de 2 bilhões de hectares de áreas e florestas degradadas que podem se beneficiar de investimentos públicos e privados para recuperar sua funcionalidade e produtividade. Coincidentemente, 2 bilhões de hectares é a área necessária para atender à demanda global por alimentos e fibras até 2050, logo, a restauração de paisagens e florestas é uma das estratégias mais efetivas para atender necessidades fundamentais para o bem-estar da sociedade, tanto local como globalmente.