Com ou sem moeda própria, BRICS avança firme para a desdolarização

brics desdO poder econômico dos BRICS está aumentando rapidamente – no entanto, os membros não se unem em todas as questões

Por Wiebke Diehl para o JungeWelt

Seria um marco na história da aliança BRICS de países emergentes fundada em 2001. Segundo informações divulgadas pela Embaixada da Rússia no Quênia, os ex-BRICS Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul querem o seu, com ouro e outras commodities, como prata, ou introduzir moedas com cobertura de terras raras.  41 países já manifestaram interesse nessa moeda, o que será anunciado oficialmente durante a cúpula do BRICS marcada para 15 de agosto na África do Sul. Do ponto de vista dos países do BRICS, a criação de uma moeda própria facilitaria o comércio internacional, mas sobretudo tornaria o Sul Global mais independente da moeda líder, o dólar americano, que ficaria enormemente enfraquecido com isso, e ainda mais promoveria o desenvolvimento de uma ordem mundial multipolar.

No entanto, o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, afirmou desde então que seu país não tem planos para sua própria moeda do BRICS. O fortalecimento da rupia é uma prioridade para a Índia. O fato de a declaração ter sido feita logo após uma viagem aos Estados Unidos do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, durante a qual foi acertada uma intensificação da cooperação militar e econômica, alimenta especulações de que poderia ter sido feita sob pressão de Washington. As preocupações de que o principal concorrente da Índia, a China, possa ser fortalecida por uma moeda comum e uma expansão da aliança BRICS provavelmente desempenharão um papel decisivo no posicionamento de Nova Délhi. As expectativas também foram atenuadas pela vice-diretora do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, Leslie Maasdorp, que apontou no início deste mês que o yuan ainda está longe de ser considerado uma moeda de reserva. Portanto, as discussões sobre uma moeda alternativa são sobre um “objetivo de médio a longo prazo”.

É sabido que os países do BRICS têm atitudes diferentes em relação à criação de uma moeda central comum. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e representantes da Rússia são os maiores defensores da ideia. A África do Sul é muito mais reservada. No entanto, a necessidade de se tornar mais independente do dólar americano e também do sistema SWIFT controlado pelos EUA é indiscutível no Sul Global. Eles sofrem há muito tempo com o declínio de suas reservas em dólares. Mas a política de sanções dos Estados Unidos em particular, que por décadas tem sido um instrumento imperialista de governo dirigido especialmente aos países do Sul Global, permitiu que essa convicção crescesse. Como resultado, o comércio de outras moedas aumentou significativamente, principalmente o yuan chinês.

A expansão do comércio em moedas locais é um primeiro passo para a desdolarização. De acordo com o Ministério das Finanças da Rússia, 70% das transações comerciais entre a Rússia e a China são realizadas em rublos ou yuans. Para todas as transações comerciais russas, chega a 80%. As refinarias indianas pagam em yuan suas importações de petróleo da Rússia, que aumentaram significativamente nos últimos dois anos. A moeda local é aceita para transações entre Bolívia e Rússia, bem como entre Brasil e China. Ironicamente, estão em andamento negociações entre a Arábia Saudita, um aliado próximo dos EUA há décadas e o segundo maior produtor de petróleo do mundo, por um lado, e Pequim, por outro, para também realizar transações de petróleo entre si em yuan. 

Tais acordos comerciais bilaterais têm o potencial de “pôr em risco” significativamente o domínio do dólar americano e de ampliar as atuais mudanças tectônicas no equilíbrio de poder em direção ao Sul Global, cuja magnitude dificilmente alguém teria pensado ser possível apenas um ano atrás. E isso independentemente de se e quando a aliança BRICS realmente introduz sua própria moeda. O avanço de uma ordem mundial multipolar pelo Sul Global pode ser corretamente descrito como o verdadeiro ponto de virada. se e quando a aliança BRICS realmente introduzirá sua própria moeda. O avanço de uma ordem mundial multipolar pelo Sul Global pode ser corretamente descrito como o verdadeiro ponto de virada. se e quando a aliança BRICS realmente introduzirá sua própria moeda. O avanço de uma ordem mundial multipolar pelo Sul Global pode ser corretamente descrito como o verdadeiro ponto de virada.

A esperada expansão dos BRICS em agosto, em particular, terá um impacto na ordem mundial e na progressiva desdolarização do comércio mundial que não deve ser subestimado. Isso é particularmente verdadeiro tendo em vista que Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argélia, Egito, Turquia, Indonésia e México estão entre as quase 20 e, segundo outras fontes, até 40, importantes potências econômicas e países emergentes.

De acordo com dados atuais do Fundo Monetário Internacional (FMI), os atuais cinco países do BRICS já contribuem com 32,1% para o crescimento global, em comparação com 29,9% do G7. A China já é o parceiro comercial mais importante para cerca de 125 países. Se todas essas negociações fossem realizadas em yuan, a posição do dólar poderia muito bem ser prejudicada.


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Este texto escrito originalmente em alemão foi publicado pelo jornal “JungeWelt” [Aqui!].

Transparência RJ descobre outro “negócio da China” com o dinheiro público: a compra dos trens chineses para a SuperVia

O blog “Transparência RJ” continua sua busca por negócios feitos pelo (des) governo do Rio de Janeiro com o dinheiro público, normalmente para encher os cofres das corporações privadas. A última descoberta se refere à compra de trens chineses para entregar à SuperVia que opera a concessão desse setor do transporte público (Aqui!).

Alguns detalhes chamam a atenção em mais esse “negócio da China” com o dinheiro do contribuinte fluminense. A primeira questão observada é o encarecimento de cada unidade adquirida dos chineses, pois o preço saltou de pouco mais de R$ 9 milhões para quase R$ 19 milhões, o que rendeu um gasto total de pouco mais de R$ 1,31 bilhão. A segunda questão descoberta pelo Transparência RJ é que a causa desse aumento foi o uso do Yuan como moeda de referência e da mudança da taxa de conversão da moeda chinesa para Real. Em outras palavras, outra matemática financeira complicada que requereria maiores explicações dos responsáveis pelo contrato de compra dos trens chineses.

O outro elemento que me causa estranheza é o fato do estado do Rio de  Janeiro continuar comprando trens para usufruto da SuperVia.  Tal situação configura um verdadeiro negócio da China para a SuperVia que já vem sendo beneficiada com isenções fiscais milionárias e acaba recebendo de graça trens para cobraram algumas das tarifas mais caras no setor no mundo.  

Essa política de apropriação das verbas públicas para beneficiar operadores de serviços públicos privatizados se revela como um verdadeiro escândalo, já que não há sequer a contrapartida em termos de serviços de qualidade, o que é comprovado pela agrura diária a que a população que tenta usar os serviços prestados pela SuperVia que é controlada nada mais, nada menos que pela empreiteira Odebrecht (Aqui! e Aqui!).

A coisa fica ainda mais cheirando a escândalo quando se leva em conta que em 2010, o ex-(des) governador Sérgio Cabral prorrogou a concessão da SuperVia por mais 25 anos (Aqui!), garantindo assim que a Odebrecht possa tirar o maior proveito possível da compra dos trens chineses que agora, graças ao Transparência RJ, se sabe que não saíram tão barato quanto o anunciado em 2012. E a cereja neste bolo de gosto duvidoso é o fato da mulher de Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo, ter em sua carteira de clientes no período da renovação da concessão, a própria SuperVia!

E depois os culpados pela crise financeira por que passa o Rio de Janeiro são os servidores públicos da ativa e aposentados. Façam-me o favor!