Fiocruz Atravessou a Rua – Abbey Road Manguinhos

Dia nublado em Manguinhos: ato contra prisão do pesquisador Paulo Bruno, manifestação na favela contra arbitrariedades da polícia

Joyce Enzler

Nesta quinta, 17 de outubro, a Fiocruz realizou ato em repúdio a prisão do professor e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Paulo Roberto de Abreu Bruno, no dia 15 de outubro, na manifestação dos professores. O diretor da Ensp, Hermano Castro, disse para um auditório lotado que a Escola paralisará suas atividades até o pesquisador ser solto. “Não se pode prender um cidadão por estar se manifestando”, disse.

O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, ressaltou que Paulo Bruno realiza pesquisa em consonância com a história da Fundação. “Essa casa sempre foi aliada dos movimentos sociais. Não há dúvida sobre a legitimidade da Fiocruz e dos seus profissionais”, falou Gadelha. Eduardo Stotz, professor, pesquisador e coordenador do Fórum de Articulação da Ensp com os Movimentos Sociais explicou que Paulo Bruno é integrante deste Fórum, que foi criado alguns dias antes do começo das manifestações de junho deste ano, e estava registrando estas atividades para pesquisa sobre movimentos populares urbanos, produzida na Ensp.

O ex-ministro da Saúde e senador Humberto Costa esteve no ato e disse estar à disposição para se somar a estas vozes. Alex Molinario, vice-diretor em Desenvolvimento Institucional e Gestão (VDDIG), falou que todos devem se posicionar e se manifestar contra qualquer injustiça cometida pelo Estado: “A livre expressão é um direito do cidadão e não somente da mídia”.

Enquanto acontecia, na Fiocruz, ato contra a arbitrariedade policial, lá fora, Manguinhos voltava a ser um território em guerra. Cerca de 40 jovens, revoltados após a morte do rapaz de 17 anos, também chamado Paulo, jogaram pedras na polícia que revidou com tiros e bombas, segundo vários moradores. Da Fundação, todos ouviam o barulho assustados. Na rua, uma jovem de 17 anos foi baleada na perna. Então, um ato se interliga no outro como que para reacender nesta Fundação todo o seu passado de luta ao lado dos movimentos populares. Monique Cruz, moradora e militante do Fórum Social de Manguinhos, entrou no auditório e colocou todos a par do que acontecia do lado de fora dos muros.

Monique contou que Manguinhos estava uma praça de guerra e que a população ficou revoltada com a morte do rapaz após ser abordado pela polícia, num beco da favela. “Peço a solidariedade desta casa. Está na hora de unificar as lutas”, disse. A Vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc SN), Justa Helena Franco falou que a morte do rapaz a diminuiu porque faz parte da raça humana. Além do relato, Monique relembrou outros casos de violência policial contra moradores de Manguinhos, que, como qualquer favela, tem um pouco de navio negreiro. E como se o gigante acordasse, foi tirada uma comissão da Fiocruz para negociar o fim dos ataques aos moradores.

Paulo Gadelha, Hermano Castro, Carla Moura do Fórum de Articulação da Ensp com os Movimentos Sociais, os representantes da Asfoc, Justa Franco e Alexandre Pessoa e mais Pedro Teixeira, Marcus Vinicius Giraldes, Francisco de Abreu Franco e Paula Ávila de Oliveira atravessaram a rua em direção à favela. Este gesto tão simbólico quanto à foto da capa do LP dos Beatles, Abbey Road, diz muito.

A Comissão se encontrou com algumas lideranças comunitárias. Após a conversa, o presidente da Fiocruz negociou o término da guerra com o Capitão Toledo. As bombas cessaram. Choveu muito. Como se lavasse tudo de ruim que aconteceu, hoje, ontem, há 500 anos.

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