Matéria do Estado de São Paulo quebra um primeiro mito da tragédia de Mariana: água chegando no Espírito Santo contém toda a tabela periódica

Não sei bem o que a diretoria da Mineradora Samarco (Vale + BHP Billiton) quando divulgou em nota que o material vazando em Mariana era “inerte” (e confirmou isso em nota ao Estado de São Paulo!). Como realizei minha dissertação de mestrado em química de chuva e estudei a presença de metais pesados na precipitação de uma área próxima à uma planta siderúrgica na Baía de Sepetiba (RJ), achei essa versão fantasiosa na hora que ouvi o pronunciamento do presidente da Samarco na TV. Agora com as primeira análises da água que está chegando no Espírito Santo já é possível medir a extensão da contaminação.

Uma frase lapidar do prefeito da cidade de Guandu (ES), Neto Barros já diz tudo: “Encontramos praticamente a tabela periódica inteira dentro da água”.  Essa declaração somada aos níveis de enriquecimento detectados em metais altamente tóxicos à vida ampliam de forma exponencial os danos ambientais e sociais associados ao incidente que ocorreu no dia 05/11 em Mariana.

E como já declarei aqui neste blog e em entrevista à Vice Mídia, os anunciados R$ 250 milhões de multa à Mineradora Samarco não dão conta nem da limpeza do terreno, quanto mais da mitigação dos gigantescos danos de média e longa duração que este despejo de matéria tóxica causou, está causando e causará ao longo do caminho de dispersão do tsunami de matéria tóxica que vazou em Mariana. E acrescento aqui: por total negligência da Samarco e das autoridades minerais que eram responsáveis por fiscalizar as lagoas de dejetos existentes em Bento Rodrigues.   

Análise aponta metais pesados no Rio Doce

 Prefeito de Baixo Guandu confirmou informação de que há mercúrio, arsênio, ferro e chumbo em concentrações acima das aceitáveis

lama

VITÓRIA 

Por Luciana Almeida, especial para o Estado

O  resultado da análise laboratorial das amostras de água coletadas no Rio Doce, em Minas, apontou níveis acima das concentrações aceitáveis de metais pesados como mercúrio, arsênio, ferro e chumbo na lama que escorreu para o rio com o rompimento das barragens em Mariana (MG). O prefeito de Baixo Guandu (ES), Neto Barros (PCdoB), confirmou a informação.

“Para se ter uma ideia, a quantidade de arsênio encontrada na amostra foi de 2,6394 miligramas, sendo que o aceitável é de no máximo 0,01 miligrama”, citou.

Ainda segundo o prefeito, são 100 quilômetros de material tóxico descendo pelo rio. “Encontramos praticamente a tabela periódica inteira dentro da água. Quero ver o que o presidente da Vale vai fazer para ajudar todo o povo”, disparou.

Desde o rompimento das barragens da Samarco na cidade mineira de Mariana, no último dia 5, especialistas alertam para o impacto provocado pela chegada dos rejeitos ao Rio Doce.

Na parte capixaba do Rio Doce, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) tem coletado, desde segunda feira, amostras chamadas “brancas”, ou seja, em locais que não foram afetados pela onda de lama de rejeitos. A atividade está sendo realizada pelo próprio Instituto, que possui contrato com um laboratório de análises, e o objetivo é produzir contra análises no futuro.

O material, de acordo com o Iema, foi coletado em Baixo Guandu, Colatina e Linhares, em um total de seis coletas realizadas pelo Iema e cinco pela Samarco. A empresa foi intimada pelo Instituto a realizar monitoramento tanto da água do Rio Doce quanto do mar, e a atividade está sendo acompanhada pela equipe de Fiscalização do Iema.

O recolhimento de amostras foi cessado na última quarta feira, e as próximas coletas serão realizadas em locais já afetados pela lama após sua chegada ao Espírito Santo.

O prefeito de Baixo Guandu disse que os resultados das análises são extremamente preocupantes. Por conta disso, ele determinou que fosse feito na tarde desta quinta feira, um bloqueio da estrada de ferro Vitória Minas (que liga o Espírito Santo à Minas Gerais), para impedir o transporte de minério que passa pelo município.

“Precisamos de respostas urgentes sobre o problema que atinge toda a região. Não vamos permitir qualquer atividade de mineração. Se não houve mobilização na cidade, as consequências poderão ser ainda mais graves”, afirmou.

Por meio de nota, a Samarco afirmou que desconhece o laudo técnico que aponta a presença de metais pesados na lama. “A empresa reforça que o rejeito é classificado como material inerte e não perigoso, conforme norma brasileira de código NBR 1000404,  o que significa que não apresenta riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Proveniente do processo de beneficiamento do minério de ferro, o rejeito é composto basicamente de água, partículas de óxidos de ferro e sílica (quartzo)”, diz a nota.

FONTE: http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,analises-aponta-metais-pesados-no-rio-doce,10000001873

 

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