Cultura Kayapó chega ao Mac Niterói em forma de exposição no dia 28 de outubro

Mostra ‘Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos’ vai contar a ‘cultura da mistura’ na perspectiva dos jovens Kayapó

Metoro (festa) das mulheres na aldeia Mydjam_Tomoti Kayapo

A constante transformação da cultura do povo Mebêngôkre-Kayapó – habitante de seis terras indígenas no sul do Pará e no norte do Mato Grosso – é tema da exposição Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos, que ocupa o mezanino do Museu de Arte Contemporânea – MAC Niterói em outubro e novembro. Com experiências imersivas, depoimentos inéditos e um acervo composto por obras produzidas pela nova geração do povo Mebêngôkre-Kayapó, a mostra abre dia 28 de outubro e segue até 26 de novembro.

“Mekukradjá Obikàrà”, o conceito que inspirou e nomeia a mostra, pode ser traduzido para o português como “cultura impura”, resultado da mistura entre a modernidade e tradições Kayapó. Para retratar essa história, membros do Coletivo Audiovisual Beture, responsável pela curadoria da exposição, percorreram aldeias Kayapó para produzir materiais que desconstroem estereótipos sobre a população indígena e fortalecem a cultura da comunidade através de um olhar voltado para o futuro mas que respeite e honre o passado.

Um grupo de cineastas Kayapó viajou por algumas aldeias para produzir materiais que vão se unir com retratos e vídeos do acervo do Coletivo. Eles se juntam com uma grande tela pintada por 15 mulheres Kayapó durante o Acampamento Terra Livre (ATL) de 2023, fotografias e arquivos históricos.

A arquitetura circular do MAC de Niterói remete às aldeias Kayapó construídas em círculo com a ngá (casa dos homens) no centro e permitirá que o público se transporte ao local de origem dos indígenas e se sinta parte da comunidade. Os espaços contendo fotos, vídeos, obras de artesanato e peças históricas representam diferentes aspectos da cultura e das tradições Kayapó. Por meio das instalações, os visitantes poderão conhecer lideranças Kayapó, adornos usados nas festas e rituais até chegarem ao último espaço, dedicado à modernização das tradições.

Uma programação especial com a presença do cacique Raoni, liderança Kayapó mundialmente reconhecida, está prevista para o dia de abertura. Danças e cantos tradicionais serão apresentados por indígenas Kayapó que viajarão para acompanhar esse momento. Além disso, haverá feira de artesanato, oficina de pintura corporal, mostra de filmes do Coletivo Beture e roda de conversa com Alberto Guarani também estão na agenda do dia (programação completa abaixo).

A Exposição Mekukradjá Obikàrà: com os pés em dois mundos é realizada pelo Tradição e Futuro na Amazônia (TFA), projeto patrocinado pelo Programa Petrobras Socioambiental e gerido pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO). A Conservação Internacional Brasil e as organizações representativas parceiras do projeto, os institutos Kabu e Raoni e a Associação Floresta Protegida apoiam a iniciativa.

O Coletivo Beture

O Coletivo Beture é um movimento dos Mekarõ opodjwyj – cineastas e comunicadores indígenas Mẽbêngôkre-Kayapó. A denominação vem de uma formiga, encontrada no território Kayapó, que tem como característica uma mordida bastante potente, a cabeça vermelha e a bunda preta, mesmas cores usadas pelos indígenas desta etnia quando se pintam para a guerra.

Surgido em 2015, o Beture tem contribuído para organizar e estruturar um movimento da juventude que vem surgindo em muitas comunidades. A juventude Mẽbêngôkre-Kayapó deseja registrar a vida e a cultura de seu povo por meio de tecnologias audiovisuais e diversas mídias. Hoje o coletivo desempenha um papel fundamental na conquista de reconhecimento cultural assim como na visibilidade das estruturas políticas. Desde então, formações audiovisuais têm sido realizadas com o objetivo de potencializar as produções do coletivo e ofertar aos cineastas mais conhecimento sobre as técnicas de captação de imagens, de roteirização e edição.

O trabalho dos Mekarõ opodjwyj também tem o objetivo duplo de construir um caminho profissionalizante para garantir uma fonte alternativa de renda para o povo Mẽbêngôkre-Kayapó, assim como gerar a possibilidade de jovens lideranças de participar em mobilizações políticas e trocas de conhecimento com outros povos. O audiovisual passou então a ser um instrumento dos mais potentes para o fortalecimento cultural: os Mẽbêngôkre-Kayapó deixam de ser apenas objeto de estudo para fazer seus próprios

registros sobre a vida, atividades cerimoniais e cotidianas.

O Beture tem uma produção de cerca de 30 filmes por ano, que geralmente tratam sobre: metoro – festas de nominação, eventos políticos, e alguns filmes de ficção que representam narrativas oriundas da mitologia Mẽbêngôkre-Kayapó, geralmente transmitida oralmente pelos velhos. Os filmes circulam bastante nas comunidades e são muito bem recebidos nas aldeias Mẽbêngôkre-Kayapó. Esses filmes também circulam amplamente atingindo outros públicos a nível regional, nacional e internacional.

Programação completa do evento de abertura – ENTRADA FRANCA

10h – Abertura do Museu e entrada simbólica dos indígenas na exposição

10h30 – Início da feira de artesanato (haverá pintura corporal na parte da manhã – serviço pago)

10H30 – Plenária dos povos tradicionais em defesa de seus territórios e maretórios com representantes dos povos indígenas, quilombolas e caiçaras do Pará, Mato Grosso e Rio de Janeiro

17h – Apresentação de canto e dança – Metoro (festa)

17h30 – Apresentação Cacique Raoni e lideranças Kayapó sobre a história do povo

18h a 20h – Mapping (projeção) da arte Kayapó na fachada do prédio

19h – Apresentação musical – Rapper Matsi

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