Aditivos plásticos no oceano podem afetar organismos marinhos mesmo em baixas concentrações

Bisfenol-A, presente em itens plásticos do cotidiano desde os anos 1950, é um dos compostos mais estudados. Foto: Naja Bertolt Jensen / Unsplash 

Agência BORI

A maioria dos aditivos comuns em plásticos de uso doméstico e industrial apresenta alta toxicidade para organismos marinhos, mostra artigo publicado na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências na sexta (7). A partir da revisão de literatura científica, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) verificaram que essas substâncias, usadas para conferir aos produtos plásticos características como flexibilidade ou resistência ao calor, apresentam um potencial tóxico mesmo em concentrações baixíssimas.

O estudo analisou 25 artigos científicos que investigaram efeitos tóxicos de substâncias como bisfenol-A (BPA), alquilfenóis e ftalatos em organismos marinhos. Para quantificar a toxicidade, os pesquisadores analisaram parâmetros como a Concentração de Efeito Mais Baixa Observada (LOEC) e a concentração que causa efeitos ou morte em 50% dos organismos testados (EC50/LC50). O estudo identificou padrões preocupantes, com limiares de efeito na ordem de microgramas por litro (µg/L).

O bisfenol-A (BPA) foi um dos compostos mais estudados. Comum desde os anos 1950 em recipientes domésticos reutilizáveis, por exemplo, seus efeitos tóxicos começam a partir de 0,1 µg/L, atingindo organismos sensíveis como o mexilhão e a bolacha-do-mar. Ele é encontrado em concentrações medianas de 0,022 µg/L em ambientes costeiros, mas algumas regiões estudadas chegam a registrar até 4,8 µg/L, valor 4700% acima do limiar tóxico.

Segundo Denis Moledo de Souza Abessa, pesquisador do Instituto de Biociências da Unesp e coautor do trabalho, a presença do BPA nos ambientes marinhos se dá principalmente pelo esgoto, pois não é removido completamente em estações de tratamento.

Outro composto, o BPAF, criado como alternativa ao BPA, mostrou toxicidade semelhante, com alterações comportamentais em peixes a partir de 0,61 µg/L. Os alquilfenóis, como o nonilfenol (NP) e o octilfenol (OP), usados na fabricação de detergentes, cosméticos e produtos agrícolas, também se destacam pela alta toxicidade e tendência a se acumular nos tecidos animais. Concentrações máximas de NP de 4,1 µg/L foram relatadas em regiões estuarinas, áreas de transição entre rios e o mar. Esse valor é mais de quatro vezes superior ao nível considerado tóxico para embriões de ouriços-do-mar, que é de 0,937 µg/L.

As substâncias per e polifluoroalquil (PFAS), amplamente utilizadas em utensílios de cozinha antiaderentes, foram os únicos aditivos revisados com efeitos tóxicos em concentrações mais elevadas, na faixa de miligramas por litro. Ainda assim, são motivo de preocupação devido à sua persistência ambiental, ou seja, pela dificuldade de biodegradação.

Segundo Abessa, boa parte desses compostos é desreguladora do sistema endócrino. “Em locais contaminados por esgoto ou próximos a lixões, as concentrações ambientais já podem ser suficientes para causar desregulação hormonal em organismos aquáticos”, diz o pesquisador. Ele alerta ainda para riscos à saúde humana. Como os plásticos tendem a se acumular no fundo do oceano, a liberação e concentração desses químicos no sedimento marinho com antibióticos e outros compostos tóxicos criam um ambiente propício à seleção de superbactérias.

Além disso, muitos dos químicos podem se acumular em tecidos e chegar aos humanos. “Os alquilfenóis, por exemplo, têm afinidade por gorduras e tendem a se acumular nos tecidos de organismos marinhos, passando pela cadeia alimentar até chegar a predadores maiores, como atuns, robalos e tubarões, espécies que o ser humano consome”, explica Abessa.

Os autores concluem que as evidências disponíveis já indicam um potencial de risco ambiental significativo, mas destacam que os dados ainda são insuficientes para definir limites seguros de exposição. “Mesmo com poucos estudos, já se observa que as concentrações ambientais de alguns desses compostos podem atingir níveis capazes de causar alterações biológicas. Isso reforça a urgência de novas investigações e de políticas mais rigorosas de controle e regulação”, finaliza o pesquisador.


Fonte: Agência Bori

O Festival Doces Palavras, as viúvas do Livro Verde e o cinema do absurdo

Por Douglas Barreto da Mata

Tive notícias de que a audiência do referido festival gastro literário foi pífia…algo como o abraço no “corpo” da “terceira mais antiga livraria” que fechou… Sou campista do Parque Leopoldina, neto de ferroviários pelos dois lados, e confesso, tem coisa que só quem é daqui compreende. Nenhum outro lugar, senão Campos dos Goytacazes, tem um arremedo de “elite intelectual” com tamanha frustração existencial, talvez resultado direto de um processo histórico onde os ricos da terra massacraram com rara eficiência os pobres que os serviam. Este recalque talvez os livre do peso de consciência, caso possuam alguma.

Essa plêiade de janotas (desculpem os maneirismos paranasianos, mas são propositais) cultiva mitos de grandeza enquanto permanece de costas para seu povo. Assim, a livraria que dizem que era longeva, foi na maior parte de seu funcionamento uma tabacaria, e depois uma papelaria que vendia livros didáticos…uma fraude a estória. 

Com a distribuição gratuita de material escolar na rede pública, e com a digitalização das metodologias pedagógicas nas escolas da classe alta, o negócio faliu, mas antes tentou se vender como “patrimônio cultural”, um local de leitura que nunca foi, em, uma cidade onde os filhos dos pretos e pobres chegaram à escola após a década de 80 e 90 do século XX.

Alheio a tudo isso, esse “pessoal que sabia o javanês” (ver o conto de Lima Barreto, O Homem Que Sabia Javanês) seguiu firme na tarefa de “culturalizar” (ou colonizar ?) uma cidade “por cima”, pregando para convertidos (pouquíssimos), no meio do deserto social onde se auto exilaram. 

Lá, debaixo do sol escaldante da arrogância, gritam em uníssono, somos a primeira cidade a ter luz elétrica, somos a maior geografia do estado do Rio, aqui dormiu o Imperador, aqui tivemos o Cine Trianon, somos o espelho do Brasil…e claro, não poderia faltar a já citada livraria/tabacaria/papelaria. Com esse calor desesperador, surgem as alucinações e miragens, como um Festival de Cinema, que pode ser resumido a…a…a o quê mesmo?

Promessas de legado, de revolução e inovação das artes cinematográficas, surgimento de uma cadeia produtiva, impulso aos tratos acadêmicos da sétima arte, enfim, o paraíso na terra e…? Exibições de filmes em um mesmo lugar, sem nenhuma replicação pelos rincões da cidade, nenhum “cinema na praça”, seja em Custodópolis, seja no Parque Rosário ou Jockey Club. Matadouro ou Aldeia? Deuzolivre.

Lá na ponta, o Poder Público Municipal, espremido pelas pressões de sempre, vindas de uma mídia anacrônica, com forte sotaque cacofônico, que se acostumou a dar voz aos “Cabeças de Papelão” (ver o conto de João do Rio), acaba por patrocinar ou ajudar nesses eventos esvaziados, carentes de forma e conteúdo. 

Ao menos, ninguém dirá que o Prefeito Wladimir Garotinho não foi generoso com esse pessoal.  Fica a sugestão, apenas uma sugestão, não me levem a mal: a produção de cultura com um bem imaterial e público tem que ser elaborada com um viés claro de classe, em outras palavras, das periferias para o centro, nunca o contrário.

Esses movimentos têm que manter um “afastamento de respeito”, mas “uma proximidade de comprometimento e generosidade”.  Falar com quem quiser e necessitar ouvir, e aprender com quem quiser ensinar.  Dialogar, ao invés desses “monólogos em grupo”. Já chegou a hora desse pessoal ouvir amargas palavras: parem de encher a (nada santa) paciência e gastar dinheiro público por nada!

Porto Central: o sonho do Brasil em águas profundas construído sobre alicerces instáveis

Por Monica Piccinini para “The Canary”

No final de 2024, as dragas começaram a cavar no fundo do mar na costa de Presidente Kennedy, uma pequena cidade no sul do Espírito Santo, antes conhecida por suas praias tranquilas. Este é o local escolhido para o Porto Central, o próximo megaporto do Brasil e um dos projetos logísticos privados mais ambiciosos da história do país.

Os promotores descrevem o Porto Central como “um dos maiores complexos portuários industriais da América Latina”, um projeto destinado a redefinir o futuro das exportações do Brasil. No entanto, por trás das promessas de empregos e progresso, a tensão está crescendo ao longo deste trecho tranquilo da costa. Os críticos estão questionando quem realmente se beneficia dessa iniciativa ambiciosa e quem arca com os custos ocultos.

O Porto Central se estende por 2.000 hectares, uma área aproximadamente do tamanho de 2.800 campos de futebol, com um canal de acesso de 25 metros de profundidade capaz de hospedar navios gigantes VLCC (Very Large Crude Carrier). Um único VLCC pode transportar aproximadamente dois milhões de barris de petróleo bruto.

O projeto abrigaria até 54 terminais que atendem petróleo e gás, agronegócio, minerais, contêineres e até energia renovável. A construção é dividida em cinco fases, com investimento total estimado em torno de R$ 16 bilhões (aproximadamente US$ 2,9 bilhões).

Porto Central — Uma cidade à beira-mar

A atração do Porto Central é a geografia. Situada no meio da costa do Brasil, promete reduzir o transbordo e encurtar as rotas de exportação de petróleo e gás, grãos e minério de ferro.

Vários grandes patrocinadores, incluindo a TPK Logística S.A., a empresa holandesa Van Oord e a subsidiária europeia da empresa norte-americana Modern American Recycling Services (M.A.R.S.), estão apoiando o vasto projeto do Porto Central, um centro de águas profundas projetado para ligar os campos de petróleo do pré-sal do Brasil, o agronegócio e as indústrias de mineração diretamente às rotas comerciais globais.

O argumento é claro e simples: reduzir os custos de transbordo, encurtar as rotas de exportação e competir com gigantes marítimos como Roterdã, Cingapura e Xangai.

A Fase 1 envolve quatro componentes principais: dragagem de 60 milhões de m3 do fundo do mar (o equivalente a 25.000 piscinas olímpicas); construção de um quebra-mar sul com pedreiras 26 km para o interior; construção de um terminal de granéis e líquidos em águas profundas para transbordo de petróleo; e desenvolver uma área traseira de 65 hectares para montar dutos e fundações. A implementação começou no final de 2024, com capacidade operacional total planejada para o final da década.

No entanto, sob a demonstração de confiança na engenharia, existe uma teia emaranhada de riscos.

Dragando danos

As apostas socioambientais são imensas. O relatório de impacto ambiental (RIMA) do Porto Central traça uma lista de riscos raramente vistos em tal concentração: dragagem do fundo do mar que pode aumentar a turbidez sufocando corais e peixes, alterando o fluxo de sedimentos, acelerando a erosão costeira.

Espécies protegidas, incluindo tartarugas marinhas, golfinhos e até baleias migratórias, usam esse trecho da costa para se alimentar e se reproduzir. Ruído, tráfego de navios e luz artificial ameaçam esses ritmos.

Pescadores artesanais, agricultores familiares e comunidades quilombolas, muitos dos quais operam à vista do local de dragagem, correm o risco de perder áreas de pesca e renda. Programas de compensação anteriores para projetos semelhantes se mostraram inconsistentes.

Em 2023, o Ibama emitiu uma licença de instalação (LI) para o Porto Central referente à Fase 1 do projeto, exigindo monitoramento e mitigação extras. Ambientalistas alertam que a capacidade de fiscalização permanece limitada.

Vozes

Vozes locais alertam que os custos ecológicos e sociais do Porto Central podem superar em muito suas promessas. O professor, ambientalista e ativista José Roberto da Silva Vidal, que vem acompanhando o impacto do projeto em Presidente Kennedy, falou com profunda preocupação

É de partir o coração ver o que está acontecendo com nossa terra e mar à medida que o Porto Central avança. As florestas de restinga estão sendo derrubadas, as rochas são destruídas e a água que sustenta a vida aqui está ameaçada. Cada novo caminhão, cada máquina aumenta os danos, liberando mais emissões em uma atmosfera já frágil. Chamar isso de progresso ignora a verdade que todos enfrentamos – o planeta está nos alertando e, no entanto, continuamos optando por desviar o olhar.

Na linha de frente contra o projeto Porto Central, a organização não-governamental REDI, dá voz a famílias de pescadores e comunidades ribeirinhas cujas vidas e tradições estão em risco.  A FASE  do Espírito Santo está com eles, apoiando as comunidades locais, defendendo suas terras e águas e exigindo responsabilidade daqueles que promovem projetos destrutivos.

Marcos Pedlowski, pesquisador e professor associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), expressa profunda preocupação com o potencial impacto do Porto Central na pequena e frágil cidade de Presidente Kennedy. Suas preocupações se baseiam em quase duas décadas de pesquisa e experiência em primeira mão vivendo entre os atingidos pelo Porto do Açu, outro projeto de grande porte localizado a menos de 100 km do Porto Central:

Presidente Kennedy é um lugar pobre e tranquilo, despreparado para um projeto desse tamanho. Quando milhares de trabalhadores chegarem, a vida aqui mudará da noite para o dia, e não para melhor. Veremos mais tensão social, mais prostituição, mais álcool e drogas. A violência aumentará e a comunidade terá que lidar com as consequências.

Ele adverte que esses riscos sociais estão ligados a realidades políticas mais profundas:

Já convivemos com a corrupção e o policiamento pesado no Espírito Santo. Quando você adiciona um projeto como o Porto Central a essa mistura, você está preparando o terreno para uma injustiça ainda maior.

Para Pedlowski, o que está acontecendo em Presidente Kennedy é parte de uma história maior, que ele já viu se desenrolar antes ao longo da costa do Brasil:

Estes são o que eu chamo de portos de sacrifício. Os investidores sabem os danos que vão causar: a erosão, a poluição, o deslocamento de pescadores e famílias quilombolas. Mas os lucros falam mais alto. Por trás de todas as promessas, o que realmente está em jogo é a aquisição da terra e do mar, com o Estado trabalhando de mãos dadas com o poder corporativo.

Um ímã para combustíveis fósseis

Alguns dos clientes confirmados do Porto Central dificilmente são verdes. A empresa assinou contratos com a Petrobras (2021), a norueguesa Equinor (2024), a chinesa CNOOC (2024) e a espanhola Repsol Sinopec (2025), para lidar com petróleo bruto e derivados.

José Maria Vieira de Novaes, CEO do Porto Central, descreveu o petróleo como “uma das âncoras do projeto”, citando previsões do governo de exportações em expansão e infraestrutura existente limitada.

“Os terminais existentes não conseguem absorver o que está por vir”, disse ele à Folha Business em 2022.

Enquanto o Brasil se compromete a descarbonizar, seu mais novo megaporto é potencialmente construído para acelerar o combustível fóssil por toda parte.

Quem lucra?

No coração do Porto Central está a TPK Logística S.A., de propriedade da Organização Polimix, um dos principais conglomerados brasileiros de concreto, agregados e logística. A Polimix é controlada por Ronaldo Moreira Vieira, e José Maria Vieira de Novaes é um dos sócios da TPK Logística.

De acordo com o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), Ronaldo Moreira Vieira está listado no banco de dados conhecido como Panama Papers. Estar listado como “ativo” nesse banco de dados significa que a entidade estava operacional no momento do vazamento de 2016, evidência de envolvimento na estruturação offshore. Embora não seja prova de ilegalidade, a revelação convida ao escrutínio sobre a transparência e a propriedade efetiva.

Um presidente com 13 empresas

José Maria Vieira de Novaes, por sua vez, usa muitos chapéus. Registros corporativos mostram seu nome vinculado a 13 empresas, da Agropecuária Limão Ltda à Kennedy Energia Solar Ltda e  à Praia Kennedy Empreendimentos Ltda, que controlam coletivamente mais de R$ 388 milhões (aproximadamente US$ 72 milhões) em capital social.

Várias dessas empresas operam na mesma região do porto. Alguns são ativos no setor imobiliário e de energia, os mesmos setores que devem se beneficiar da ascensão do Porto Central. Essa sobreposição pode permitir que Novaes se beneficie indiretamente da expansão da infraestrutura do Porto Central, um potencial conflito de interesses que confunde a linha entre o bem público e o ganho privado.

Perigos e mitigação

O Ibama já exigiu que o Porto Central realizasse estudos adicionais de sedimentos e ruídos antes de avançar nas principais fases da construção. Embora a empresa afirme operar sob “padrões ambientais internacionais”, as ONGs locais a acusam de antecipar a aprovação total.

A lista de alguns dos perigos potenciais parece uma lista de verificação ambiental do inferno: destruição de habitats marinhos por dragagem, perturbação da nidificação de tartarugas e migração de mamíferos marinhos, erosão de praias devido a alterações no fluxo de sedimentos, poluição por derramamentos de óleo, resíduos e esgoto, ruído e vibração de máquinas pesadas que perturbam a vida selvagem e os residentes, salinização das águas subterrâneas, introdução de espécies invasoras via água de lastro, acidentes e derramamentos durante a transferência de navio para navio, destruição de manguezais, erosão de longo prazo ao longo da costa de Presidente Kennedy.

Porto Central x Porto do Açu: um conto de dois megaportos

Tanto o Porto Central quanto o Porto do Açu, localizados a menos de 100 km de distância ao longo da costa sudeste do Brasil, compartilham grandes visões, terminais em águas profundas e de exportação e zonas industriais que prometem empregos e crescimento.

O Açu, lançado em 2013 em São João da Barra, no estado do Rio de Janeiro, amadureceu e se tornou um porto funcional e um hub de energia. No entanto, pesquisas acadêmicas revelam cicatrizes profundas: deslocamento de famílias de pescadores, salinização de lençóis freáticos e compensação social não cumprida. Os trabalhos de pesquisa descrevem a perturbação da comunidade e a degradação ambiental como legados de longo prazo do projeto.

Carlos Freitas, ambientalista da ONG REDI, diz que a história que se repete em Presidente Kennedy é dolorosamente familiar. Seu grupo tem trabalhado com famílias de pescadores e agricultores nos assentamentos do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) perto do Morro da Serrinha, onde a extração para a construção do Porto Central já interrompeu vidas.

O que aconteceu no Porto do Açu está acontecendo novamente aqui – as mesmas promessas, o mesmo silêncio sobre os danos. Eles chamam isso de progresso, mas o que vemos é destruição disfarçada de desenvolvimento.

Ele explica que as reuniões da empresa são convocadas com apenas alguns dias de antecedência, deixando pouco espaço para uma participação real. Enquanto isso, explosões da pedreira assustam os animais, causam abortos espontâneos de gado e abalam as casas das famílias de agricultores.

As pessoas estão sendo enganadas com conversas sobre empregos e crescimento, enquanto explosões sacodem suas terras e os animais fogem. Nos assentamentos do MST, as famílias estão vendo suas plantações e animais sofrerem. O Porto Central não está trazendo vida para esta região – está tirando.

Isso ilustra um dilema brasileiro compartilhado, a rápida industrialização sem governança ou salvaguardas ecológicas.

Logística

Por trás da promessa de progresso está a incerteza. O projeto conta com ligações logísticas nacionais inacabadas, incluindo a ferrovia EF-118 entre a capital capixaba, Vitória e Rio de Janeiro, a EF-352 ligando os estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Goiás, e melhorias nas rodovias BR-101 e BR-262. Sem eles, o Porto Central pode se tornar um gargalo. Os promotores do porto insistem que o compromisso do governo estadual garantirá a conclusão, mas a história da infraestrutura do Brasil está repleta de ferrovias paralisadas.

Acrescente a isso o desafio climático, já que o aumento do nível do mar e as tempestades mais fortes podem testar as defesas do porto antes mesmo de estar operacional. 

Ambição e responsabilidade

O Porto Central resume o eterno paradoxo do Brasil: vasto potencial, governança frágil.

Poderia, em teoria, ancorar o futuro do Brasil no comércio global. No entanto, sem transparência, supervisão e gestão socioambiental rigorosa, corre o risco de se tornar mais um alerta, de lucro para poucos e poluição para muitos, uma encruzilhada entre desenvolvimento e destruição.

Com estruturas de propriedade se estendendo para jurisdições de sigilo offshore e liderança vinculada a uma constelação de empresas privadas, a responsabilidade permanece ilusória.

Se o Porto Central se tornará a Roterdã do Brasil, ou seu próximo escândalo de desenvolvimento, dependerá menos da engenharia do que da ética.

Para muitos moradores, a questão não é se o Porto Central vai crescer, mas a quem servirá quando isso acontecer.

O Porto Central não respondeu a um pedido de comentário.

Imagem em destaque no site do PortoCentral


Fonte: The Canary

Custos sociais do plástico nos EUA podem ultrapassar US$ 1 trilhão anualmente, mostra relatório

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Por Shannon Kelleher para “The New Lede” 

A produção, o uso e o descarte de plástico geram custos sociais de até US$ 1,1 trilhão para os Estados Unidos a cada ano, sendo a maior parte deles devido aos impactos na saúde humana, segundo um novo relatório da Universidade Duke, que classifica esse valor como uma estimativa “conservadora”.  

O relatório , publicado em 6 de novembro por cinco pesquisadores da Universidade Duke, conclui que os impactos na saúde humana associados ao uso de plásticos podem chegar a US$ 930 bilhões, com a exposição a substâncias químicas tóxicas presentes nos materiais ligada a despesas com saúde, morte prematura e uma força de trabalho menos produtiva, além de custos adicionais com saúde relacionados à extração de combustíveis fósseis usados ​​na fabricação de plásticos.

Segundo o relatório, as emissões nocivas de gases de efeito estufa geradas pela indústria de plásticos podem custar aos EUA até quase US$ 16 bilhões por ano, já que contribuem para eventos climáticos extremos e outros custos relacionados ao clima. Outros custos estão ligados ao descarte de resíduos plásticos em aterros sanitários e à limpeza do lixo plástico, bem como aos impactos dos detritos plásticos nos oceanos sobre as indústrias marítimas.

De forma geral, os pesquisadores estimaram os custos sociais anuais associados à produção e ao uso de plástico entre US$ 436 bilhões e US$ 1,109 trilhão, mas consideraram as estimativas “provavelmente subestimadas” devido à falta de dados. 

“Os preços que os consumidores pagam por produtos de plástico não contam toda a história dos seus custos”, disse Nancy Laure, cientista da Clínica de Direito e Política Ambiental da Universidade Duke e uma das autoras do relatório, em um comunicado. “Os subsídios aos combustíveis fósseis mantêm os plásticos relativamente baratos nos Estados Unidos. Mas, como nosso relatório revela, os verdadeiros custos econômicos, ambientais e de saúde para a sociedade são muito maiores.”

Os autores escreveram que as intervenções políticas devem reduzir tanto a oferta de novos plásticos quanto a demanda por produtos plásticos, observando que a falta de atenção às preocupações com o plástico pode levar a um custoso “jogo de soma zero”.

O relatório, baseado em uma análise de dados disponíveis realizada em julho, examinou todo o ciclo de vida dos plásticos, desde a extração e produção de combustíveis fósseis até o uso, descarte e “má gestão”.

O relatório da Duke surge na sequência de um relatório publicado em agosto na revista The Lancet, que classificou os plásticos como um perigo “grave” para os seres humanos e para o planeta, estimando que esses materiais resultam em custos de saúde no valor de 1,5 biliões de dólares em todo o mundo a cada ano. Apenas cerca de 5% dos plásticos são reciclados nos EUA, e prevê-se que a utilização global de plástico triplique até 2060 em comparação com os níveis de 2019.

Evidências científicas mostram cada vez mais que fragmentos de plástico com menos de 5 milímetros de comprimento, chamados microplásticos , se acumulam em diversos órgãos humanos, incluindo cérebro , testículos , pulmões, fígado e rins, e alguns estudos sugerem que eles podem aumentar o risco de várias doenças. Os microplásticos se formam quando pedaços maiores de plástico se quebram em partículas menores ou podem vir de minúsculas esferas encontradas em produtos de higiene e beleza.

Alguns estados e municípios estão tentando tomar medidas para reduzir o uso e a produção de plástico, mas estão enfrentando forte oposição da indústria.

Mais de 100 empresas e organizações estão fazendo lobby contra um projeto de lei de Nova York que busca reduzir embalagens descartáveis, eliminar gradualmente 17 substâncias químicas e materiais nocivos comumente encontrados em embalagens plásticas e impor uma taxa às empresas que vendem produtos embalados, de acordo com um relatório de outubro  do grupo Beyond Plastics. O projeto de lei foi aprovado pelo Senado do Estado de Nova York em maio, mas a Assembleia Legislativa do estado não o votou antes do término da sessão legislativa.

Uma ação judicial movida em setembro na Filadélfia contra as empresas Bimbo Bakeries e SC Johnson alega que as empresas enganaram os consumidores ao sugerir que seus sacos de pão e produtos Ziploc poderiam ser reciclados, somando-se a uma série de reclamações recentes sobre as alegações de reciclagem de plástico feitas por empresas, apresentadas por cidades e estados em todo o país.

A análise da Duke recebeu financiamento da Bloomberg Philanthropies, a organização beneficente do empresário e político Mike Bloomberg, que foi apelidado de ” Inimigo Público Número 1 no setor de plásticos  por seus esforços para bloquear a construção de fábricas petroquímicas nos EUA, incluindo uma fábrica de metanol e plásticos na paróquia de St. James, Louisiana.

“Este relatório contabiliza apenas os custos atribuídos aos plásticos, ignorando convenientemente os enormes benefícios econômicos, sociais e de saúde e segurança que os plásticos proporcionam”, disse Matthew Kastner, diretor sênior de relações com a mídia e porta-voz do American Chemistry Council (ACC), que se opôs às medidas de Bloomberg para conter a expansão da indústria de plásticos. 

Uma análise da ACC publicada em setembro concluiu que a indústria de plásticos contribui com mais de US$ 1,1 trilhão para a economia dos EUA. Segundo o relatório, o setor gera quase US$ 380 bilhões em remessas industriais, exporta cerca de US$ 64 bilhões em mercadorias e cria milhares de empregos que sustentam a indústria manufatureira americana.

“O caminho certo a seguir é fortalecer a forma como gerenciamos, reutilizamos e refazemos materiais, modernizando a infraestrutura de reciclagem, inovando e adotando políticas inteligentes, e não eliminando materiais essenciais à saúde, à segurança e a praticamente todos os aspectos da vida moderna”, disse Kastner.

Imagem em destaque: tanvi sharma / Unsplash


Fonte: The New Lede

Cúpula climática em área de alto risco: a redução das emissões é urgente, mas os poluidores têm seus próprios planos

Na conferência climática na Amazônia, o Brasil, país anfitrião, quer se concentrar principalmente na maior proteção das florestas tropicais.

Na conferência climática na Amazônia, o Brasil, país anfitrião, quer se concentrar principalmente na maior proteção das florestas tropicais. Foto: AFP/Douglas Magno

Por Kurt Stenger para o “Neues Deutschland”

“Os EUA não enviarão nenhum representante de alto escalão à COP 30.” Esta declaração de um porta-voz da Casa Branca, pouco antes do início da conferência climática da ONU em Belém, Brasil, trouxe alívio a muitos representantes de ONGs. Washington retirou-se do Acordo de Paris sob o governo de Donald Trump, mas ainda tem permissão para participar desta cúpula. É quase inimaginável o que uma delegação forte de Washington, repleta de negacionistas climáticos de direita e lobistas de combustíveis fósseis, poderia fazer durante as duas semanas de negociações.

Este incidente também demonstra o quão baixas são as expectativas para a COP 30. Ela enfrenta uma situação preocupante, dadas as tensões geopolíticas, a tendência para acordos comerciais bilaterais e a crescente oposição da direita a qualquer política climática. Dez anos após a adoção do Acordo de Paris sobre o Clima, o progresso é mais difícil do que nunca. No entanto, torna-se cada vez mais urgente: “Provavelmente já perdemos os recifes de coral tropicais”, afirma o meteorologista Frank Böttcher, organizador do congresso sobre clima extremo. “No máximo, quando o aquecimento atingir 1,5 graus Celsius, também entraremos em território de alto risco em relação a outros pontos de inflexão.”

A diplomacia climática, contudo, segue seu curso normal, como revela a agenda de Belém. Uma decisão sobre a expansão do financiamento para adaptação climática ainda está pendente. Discussões futuras se concentrarão na questão, adiada na COP 29 em Baku, de como mobilizar os US$ 1,3 trilhão necessários em financiamento climático anual para os países pobres. Permanece incerto se a significativa lacuna nos Planos de Desenvolvimento Determinados Nacionalmente (NDCs), que estão longe de ser suficientes para atingir a meta de 1,5 grau do Acordo de Paris, será abordada. O Brasil, país anfitrião, pretende excluir questões sensíveis do “acordo geral” planejado e fortalecer a proteção florestal para reivindicar o sucesso da conferência.

Nem todas as delegações estão satisfeitas com isso. A pressão aumenta por parte da Coalizão de Alta Ambição – um grupo de estados fundado pelas Ilhas Marshall, comprometido com a meta de 1,5 grau e com a solidariedade aos países vulneráveis. Pouco antes do início da cúpula em Belém, a coalizão pediu um acordo vinculativo para reduzir rapidamente a lacuna de emissões nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e medidas para reformar a arquitetura financeira internacional. A declaração foi assinada por 22 estados, principalmente da Europa, América Latina e pequenos estados insulares. Estes últimos enfrentam ameaças existenciais e precisam urgentemente de progressos reais em questões de proteção climática e finanças.

A diplomacia climática, no entanto, está se baseando na manutenção do status quo.

Mas isso só acontecerá se os principais poluidores, China, EUA e UE, também se comprometerem com uma “alta ambição” e trabalharem juntos. O Acordo de Paris só foi possível quando os presidentes de Washington e Pequim forjaram uma aliança climática surpreendente. Nada restou disso: durante o segundo mandato de Trump, o diálogo climático estratégico entre as duas superpotências foi suspenso.

Assim, as três grandes potências defenderão apenas seus próprios interesses nas negociações de Belém. A China, como porta-voz das principais economias emergentes, busca maior influência no cenário internacional. “Mudanças geopolíticas significativas estão moldando a ação climática global”, explica a ONG Germanwatch. Ao mesmo tempo, Pequim e seus aliados se recusam até agora a assumir compromissos financeiros reais com os países pobres, sem os quais a meta de um trilhão de euros permanecerá inatingível. É improvável que algo mude nesse sentido em Belém.

A China demonstra uma postura igualmente vaga em relação à proteção climáticaEmbora o presidente Xi Jinping tenha prometido uma redução absoluta de emissões de sete a dez por cento até 2035 na Assembleia Geral da ONU, isso equivale a pouco mais do que uma declaração de boa vontade, visto que Pequim ainda não apresentou essa promessa à ONU como um compromisso nacional no âmbito do Acordo de Paris. Além disso, Martin Kaiser, do Greenpeace, calcula que uma redução de pelo menos 30% seria necessária para manter o aquecimento global dentro da meta de 1,5 grau.

Isso também se reflete no setor energético. Embora a China tenha expandido sua capacidade de energia eólica e solar como nenhum outro país nos últimos anos, aumentando-a seis vezes em comparação com 2020, e a eletrificação dos transportes esteja progredindo rapidamente, com mais de 7,5 milhões de veículos elétricos vendidos este ano – mais do que no resto do mundo combinado –, ambos os desenvolvimentos são impulsionados por interesses comerciais de exportação. A China almeja se tornar líder global em tecnologia verde, uma meta claramente delineada em seu plano quinquenal para o período de 2026 a 2030.

Ao mesmo tempo, a República Popular da China está expandindo massivamente seu setor de carvão, particularmente prejudicial ao clima: de novas minas e infraestrutura de transporte a usinas termelétricas. De acordo com a “Lista Global de Desativação do Carvão”, publicada pela ONG Urgewald, dois terços de todo o financiamento global para novos projetos de carvão no ano passado vieram de bancos chineses, e outros países também estão expandindo sua produção devido à alta demanda da China. A Urgewald também aponta para a expansão do setor de produtos químicos derivados do carvão, onde quase metade dos novos projetos em todo o mundo estão localizados na República Popular da China. “Isso libera significativamente mais gases de efeito estufa do que a queima de carvão em uma usina termelétrica”, explica a diretora-geral Heffa Schücking.

Portanto, não é surpreendente que a China seja responsável por cerca de um terço das emissões globais anuais de CO2 . As emissões per capita são praticamente equivalentes às da Alemanha – embora as nações industrializadas ocidentais tenham historicamente contribuído muito mais para o aquecimento global, o que implica uma maior responsabilidade na redução das emissões.

O governo dos EUA não quer ter nada a ver com isso. O país ocupa o segundo lugar, atrás apenas das emissões globais, com 13%, e apresenta emissões per capita superiores às da China. Aqui também existe uma dicotomia no setor energético: Trump lançou o slogan “Perfurem, meu bem, perfurem” e está pressionando por novos projetos de petróleo e gás. As regulamentações de proteção climática também estão sendo flexibilizadas, como a classificação do CO2 como prejudicial à saúde. Por outro lado, os interesses econômicos defendem a expansão das energias renováveis. Nos estados de Iowa, Dakota do Sul, Kansas e Oklahoma, mais de 40% da eletricidade já é gerada por energia eólica, e o conservador Texas ultrapassou recentemente a Califórnia como líder em energia solar. Além disso, foram implementados sistemas regionais de comércio de emissões com preços para o CO2 .

As esperanças de algumas ONGs de que uma aliança União Eurpeia (UE)-China impulsionaria a diplomacia climática após a saída dos EUA não se concretizaram. A desconfiança mútua e os interesses econômicos estão a obstruir o processo. Bruxelas impôs tarifas punitivas às importações chinesas de carros elétricos e considera fazer o mesmo com as células solares. Ao mesmo tempo, a UE – o quarto maior emissor, com uma quota de 6% – não vai a Belém como pioneira. Os prazos da ONU para novos planos climáticos foram ultrapassados; os ministros do ambiente só recentemente chegaram a um acordo sobre uma meta modesta para 2035, com lacunas. Martin Kaiser vai ainda mais longe, argumentando que os debates sobre metas são, de qualquer forma, inúteis neste momento, uma vez que a implementação de todas as medidas de proteção climática da UE, desde o comércio de emissões à eliminação gradual dos motores de combustão, está a ser posta em causa sob pressão da indústria e da direita política.

Isso também afeta o financiamento climático: a Alemanha, um dos doadores mais importantes, cumpriu sua promessa de destinar seis bilhões de euros ao Sul Global pela primeira vez no ano passado. No entanto, cortes em favor das forças armadas já estão em curso: Jan Kowalzig, da Oxfam, prevê que apenas 4,5 a 5,3 bilhões de euros serão disponibilizados este ano e 4,4 a 5 bilhões de euros em 2026.

Apesar desses sinais, o Brasil, anfitrião da COP 30, aposta na mensagem de “mutirao” – mas o “esforço conjunto” provavelmente terá que vir de alguém que não sejam os grandes poluidores. Pelo menos não parece haver uma grande aliança de obstrucionistas liderada pelos EUA. Donald Trump estará, no entanto, presente em Belém, em 6.000 formas diferentes. Os artistas de rua Jens e Lasse Galschiøt planejam confrontar os delegados com esculturas em miniatura do presidente americano, acompanhadas da mensagem: “Rei da Injustiça”.


Fonte: Neues Deutschland

Milhares de lobistas de petroleiras conseguiram acesso às negociações climáticas da ONU – e continuaram perfurando

Pesquisa revela acesso sem precedentes de empresas de petróleo, gás e carvão às COP26-29, bloqueando ações climáticas urgentes

Tem havido apelos para que as empresas de combustíveis fósseis sejam banidas das negociações climáticas.

Tem havido apelos para que as empresas de combustíveis fósseis sejam banidas das negociações climáticas. Fotografia: Anton Petrus/Getty Images

Por Nina Lakhani , repórter de justiça climática, para o “The Guardian”

Mais de 5.000 lobistas da indústria de combustíveis fósseis tiveram acesso às cúpulas climáticas da ONU nos últimos quatro anos, um período marcado pelo aumento de eventos climáticos extremos catastróficos, ações climáticas inadequadas e expansão recorde da produção de petróleo e gás, revela uma nova pesquisa.

Lobistas que representam os interesses das indústrias de petróleo, gás e carvão – as principais responsáveis ​​pelas mudanças climáticas – foram autorizados a participar das negociações climáticas anuais, nas quais os Estados devem agir de boa fé e se comprometer com políticas ambiciosas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Uma pesquisa compartilhada exclusivamente com o The Guardian revelou que cerca de 5.350 lobistas que interagiram com líderes mundiais e negociadores climáticos nos últimos anos trabalharam para pelo menos 859 organizações ligadas a combustíveis fósseis, incluindo grupos comerciais, fundações e 180 empresas de petróleo, gás e carvão envolvidas em todas as etapas da cadeia de suprimentos, da exploração e produção à distribuição e equipamentos .

Apenas 90 das empresas de combustíveis fósseis que enviaram lobistas para negociações climáticas entre 2021 e 2024 foram responsáveis ​​por mais da metade (57%) de todo o petróleo e gás produzido no ano passado, de acordo com a análise da Kick Big Polluters Out (KBPO), uma coalizão de 450 organizações que fazem campanha para impedir que a indústria de combustíveis fósseis bloqueie e atrase a ação climática global.

Essas empresas, que incluem muitas das maiores petrolíferas e gasómenes privadas e públicas mais lucrativas do mundo, foram responsáveis ​​pela produção de 33.699 milhões de barris de petróleo equivalente em 2024 – o suficiente para cobrir mais do que toda a área da Espanha com uma camada de petróleo de 1 cm.

De acordo com a recém-divulgada Global Oil and Gas Exit List – uma lista de dados que inclui mais de 1.700 empresas, abrangendo mais de 90% da atividade global de petróleo e gás –, essas mesmas 90 empresas também são responsáveis ​​por quase dois terços (63%) de todos os projetos de expansão de curto prazo na exploração e produção de combustíveis fósseis, que estão sendo preparados para esse fim.

Se executados, esses projetos de expansão produzirão petróleo suficiente – 2,623 milhões de km² com 1 cm de espessura – para cobrir toda a área terrestre de sete países europeus (França, Espanha, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Noruega) juntos.

As conclusões levaram a novos apelos para que as empresas de combustíveis fósseis e outros grandes poluidores sejam banidos das negociações climáticas anuais, em meio a crescentes evidências científicas de que o mundo não conseguiu limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

“Essas informações expõem claramente a captura corporativa do processo climático global… o espaço que deveria ser dedicado à ciência e às pessoas foi transformado em um grande mercado de carbono”, disse Adilson Vieira, porta-voz do Grupo de Trabalho Amazônico. “Enquanto as comunidades florestais lutam pela sobrevivência, as mesmas empresas que causam o colapso climático compram credenciais e influência política para continuar expandindo seus impérios fósseis.”

“Os povos indígenas não apenas sofrem violações de direitos humanos na linha de frente da exploração extrativista, como também enfrentam o impacto devastador do caos climático em suas terras, com o agravamento de inundações, incêndios florestais e ondas de calor extremas. Precisamos remover a placa de ‘vende-se’ da Mãe Terra e impedir a entrada de lobistas do petróleo e do gás em Cop”, afirmou Brenna Yellowthunder, coordenadora principal da Rede Ambiental Indígena, membro da KBPO.

A 30ª Cúpula do Clima da ONU (COP30) começa nesta segunda-feira em Belém, cidade da Amazônia brasileira – a maior floresta tropical do mundo, que está sendo destruída pela exploração cada vez maior de combustíveis fósseis, pela agricultura industrial e pela mineração, entre outras indústrias extrativas.

As reuniões anuais são onde todos os países do mundo negociam a melhor forma de enfrentar a crise climática. As decisões devem ser orientadas pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), um tratado juridicamente vinculativo, e pelo Acordo de Paris de 2015, que visa limitar o aquecimento global a menos de 1,5°C.

A pesquisa analisa os lobistas de combustíveis fósseis que participaram das negociações em Glasgow (Cop26), Sharm el-Sheikh (Cop27), Dubai (Cop28) e Baku (Cop29). Até então, a UNFCCC não compilava informações sobre esses lobistas.

A crescente indignação com a falta de ações significativas por parte dos países mais ricos e poluentes do mundo foi agravada pelas revelações de que a indústria de combustíveis fósseis parece ter maior acesso às negociações climáticas do que a maioria dos países.

No ano passado, 1.773 lobistas registrados do setor de combustíveis fósseis participaram da cúpula no Azerbaijão – 70% a mais do que o número total de delegados das 10 nações mais vulneráveis ​​às mudanças climáticas juntas (1.033).

Mas o verdadeiro alcance dos tentáculos dos combustíveis fósseis é, sem dúvida, mais profundo, uma vez que os dados dos lobistas excluem executivos e outros representantes de empresas em delegações oficiais de países que participam diretamente das negociações confidenciais, bem como aqueles que comparecem como convidados de governos, conhecidos como delegados excedentes.

O maior número de lobistas conhecidos nos últimos anos representava empresas estatais dos Emirados Árabes Unidos, da Rússia e do Azerbaijão.

Muitas das empresas de combustíveis fósseis mais lucrativas do mundo também estiveram presentes nas recentes cúpulas da COP, num momento em que os governos enfrentavam enorme pressão pública – mas não conseguiram – chegar a um acordo para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, apesar dos impactos climáticos mortais que afetam todos os cantos do planeta.

Nos últimos cinco anos, as quatro maiores empresas petrolíferas obtiveram lucros combinados superiores a 420 bilhões de dólares.

Na sexta-feira, o CEO da Exxon, Darren Woods, será o palestrante principal de um evento de lançamento da COP30 em Brasília, organizado pela Câmara de Comércio dos EUA, intitulado “Soluções Empresariais Pragmáticas para Contabilização de Carbono e Redução de Emissões”. Os EUA, que, como todos os países, são legalmente obrigados pelo direito internacional a enfrentar a crise climática, retiraram-se do Acordo de Paris e não enviarão uma delegação à cúpula.

A Petrobras, multinacional brasileira controlada majoritariamente pelo Estado e que enviou pelo menos 28 lobistas às últimas quatro cúpulas do clima, recebeu recentemente uma licença para realizar perfurações exploratórias de petróleo no mar da Amazônia, região que abriga diversas comunidades indígenas e cerca de 10% das espécies conhecidas do planeta.

Um porta-voz afirmou: “A Petrobras estará presente na COP30, como já esteve em edições anteriores, porque reconhece a oportunidade de discutir modelos sustentáveis… A participação da empresa na COP30 reforça seu compromisso de acompanhar e contribuir para os debates internacionais sobre clima e energia.”

Shell, BP, ExxonMobil e Chevron não responderam aos pedidos de comentários.

Após anos de campanhas de grupos da sociedade civil, os delegados da COP deste ano estão sendo solicitados a divulgar publicamente quem está financiando sua participação e a confirmar que seus objetivos estão alinhados com a UNFCCC. No entanto, a nova exigência de transparência exclui qualquer pessoa em delegações governamentais oficiais ou grupos de apoio, e os apelos por proteções mais rigorosas contra conflitos de interesse para reduzir a influência da indústria não foram devidamente atendidos, afirmam os defensores dessa medida.

“As novas regras são um começo bem-vindo, mas chegam décadas atrasadas… e transparência sem exclusão é mera formalidade. Não se pode alegar que se está a corrigir um processo já capturado pelas mesmas empresas que destroem o planeta e financiam guerras”, afirmou Mohammed Usof, diretor executivo do Instituto Palestino para a Estratégia Climática. “A UNFCCC deve passar da divulgação à desqualificação… sem reforma, este processo não salvará o mundo, pelo contrário, apenas contribuirá para o seu colapso.”

Em comunicado, um porta-voz da agência da ONU para as mudanças climáticas afirmou: “O secretariado tomou medidas concretas em 2023 e novamente este ano para aumentar a transparência dos participantes da COP. Assim como não se pode esperar que uma única COP resolva a crise climática da noite para o dia, melhorias adicionais são um processo contínuo que continuaremos apoiando, lembrando que os governos nacionais têm autoridade exclusiva para decidir quem fará parte de suas delegações.”


Fonte: The Guardian

Comunidades tradicionais denunciam destruição causada pelo agronegócio no Cerrado do Piauí

O Coletivo de Povos e Comunidades Tradicionais do Cerrado no Piauí denunciou violações de direitos por empresas do agronegócio e demanda medidas urgentes por parte dos órgãos públicos

A Secretaria do Meio Ambiente do Piauí concedeu licença para o agronegócio se apropriar da água no brejo da comunidade Grinalda do Ouro. Esse é um ataque direto aos territórios tradicionais e significa a morte dos rios no Cerrado.

Na mesma região, a empresa do agronegócio Insolo destruiu a estrada de acesso às comunidades rurais no município de Santa Filomena. Essas comunidades tradicionais habitam a região há gerações e sofrem violência por parte do agronegócio. 

Apoie as comunidades

Escreva para os órgãos estaduais abaixo para apoiar os direitos das comunidades tradicionais do Cerrado e denunciar a destruição do agronegócio:

Ministério Público do Piauí

Defensoria Pública do Piauí

Instituto de Terras do Piauí

Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos

As comunidades demandam ações urgentes do Estado para a proteção de suas vidas e do seu território.

Santa Paciência será palco de lançamento de evento com lançamento de curta-metragem inédito

Amanhã (08/11) ocorrerá na Santa Paciência Casa Criativa a pré-estreia do curta-metragem “No Começo de Tudo”, com direito a uma série de atividades  muito interessantes.

A entrada gratuita será garantida com o simples preenchimento do seguinte formulário: https://forms.gle/wLwti2oQRqM6cRtx6 

Além do lançamento do curta, também haverá música, uma exposição e ainda um debate com a equipe que produziu este interessante curta metragem.

teremos música, café, bar, exposição artística e um debate com a equipe.

A programação completa  estará disponível  no perfil  @tralhafilmes da rede social Instagram.

 

Retorno do investimento para a floresta tropical?

Brasil: Governo planeja criar fundo de US$ 125 bilhões para proteger a floresta tropical

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O retorno do investimento deve ser alto: o fundo tem como objetivo salvar as florestas tropicais, lucrando com sua proteção 

Por Nobert Suchanek para o “JungeWelt”

Na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém, em novembro, o governo brasileiro planeja lançar um fundo internacional de investimento para a proteção das florestas tropicais em todo o mundo. O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), com um capital inicial de US$ 125 bilhões, recebeu o apoio de oito países vizinhos do Brasil na Amazônia em uma declaração conjunta no final de agosto: Peru, Colômbia, Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana Francesa e Suriname. Alemanha, França, Noruega, Emirados Árabes Unidos e Singapura já manifestaram a intenção de contribuir para o fundo.

O TFFF é descrito como um instrumento financeiro pragmático que fornece pagamentos baseados em desempenho para países com florestas tropicais que conseguem reduzir o desmatamento e promover a expansão florestal. O fundo também reconhece o papel dos povos indígenas e comunidades locais na conservação das florestas tropicais e os valoriza por meio de financiamento adequado em retribuição aos seus esforços na proteção florestal e no desenvolvimento sustentável. O mecanismo foi desenvolvido pelo gerente do Banco Mundial, Kenneth Lay, há cerca de 15 anos. O governo brasileiro adotou inicialmente o conceito como “Tropical Forest Finance Facility” (Mecanismo de Financiamento para Florestas Tropicais). Mas “Forever” (Para Sempre) soa melhor.

Inicialmente, o TFFF (Fundo de Conservação Florestal Tropical) está planejado para ser financiado com US$ 25 bilhões em capital semente de nações industrializadas ricas. Espera-se que outros US$ 100 bilhões venham de investidores privados, que investirão o dinheiro em títulos de alto rendimento emitidos por economias e empresas emergentes. Os retornos serão então parcialmente devolvidos aos investidores, enquanto outra parcela será destinada à conservação florestal, totalizando aproximadamente US$ 4 bilhões anualmente. Países com florestas tropicais que não aumentam ou até mesmo reduzem o desmatamento têm direito a pagamentos anuais de US$ 4 por hectare de floresta protegida . O Brasil, por ser o país tropical com a maior área florestal, seria o principal beneficiário.

Medidas para proteger as florestas brasileiras poderiam ser implementadas de forma mais econômica. O governo pretende utilizar capital internacional para a proteção florestal, enquanto simultaneamente usa dinheiro público para promover a exploração madeireira legal e a degradação florestal. Projetos de infraestrutura planejados, como estradas e barragens na Amazônia, também podem ser abandonados. Além disso, 63 milhões de hectares de florestas públicas estatais podem ser declarados reservas naturais ou reservas indígenas “sem finalidade definida”.

“O Brasil, como um dos maiores países com florestas tropicais, se beneficiaria enormemente, enquanto muitos países, especialmente no continente africano, não obteriam nenhum benefício com a iniciativa ”, criticou a organização ambiental e de desenvolvimento Germanwatch. No entanto, a TFFF também apresenta “um potencial significativo”, pois oferece incentivos de longo prazo para a preservação das florestas tropicais e mobiliza capital privado para a proteção do clima e da biodiversidade “sem endividar os países mais pobres”, observou a organização.

A proteção florestal não deve depender do mercado de ações, critica a Coalizão Global para Florestas (GFC), que rejeita o fundo. “A sobrevivência das florestas tropicais jamais será garantida por soluções equivocadas que visam gerar receita para governos nacionais e lucros para investidores privados, em vez de abordar os problemas reais desses ecossistemas vitais para a humanidade”, afirmou a coalizão, composta por 133 organizações não governamentais e grupos indígenas. As propostas atuais envolvem pagamentos aos ministérios da fazenda dos países tropicais participantes – sem especificar como os fundos seriam utilizados. A alocação proposta de apenas 20% dos quatro dólares americanos por hectare de floresta para povos indígenas e comunidades locais é insuficiente. Além disso, os pagamentos poderiam ser reduzidos ou suspensos caso o retorno previsto de 7,5% não seja alcançado.


Fonte: JungeWelt

Agrotóxicos sem Fronteiras: Um Dilema Global, o documentário

Filmado no Brasil, Bélgica, França e Suíça, o documentário “Agrotóxicos sem Fronteiras” acompanha a geógrafa Larissa Bombardi em uma investigação que atravessa fronteiras geográficas e políticas para revelar o colonialismo químico — a cadeia que conecta o agronegócio brasileiro às decisões europeias sobre a produção, exportação e uso de agrotóxicos altamente perigosos.

Larissa Bombardi conduz conversas com cientistas, lideranças indígenas, juristas e ativistas que expõem o custo humano e ambiental desse modelo. Entre eles, a toxicologista Angelique Lise Massu; Lia Giraldo (Fiocruz) e Vanderlei Pignati (UFMT), que relacionam o uso intensivo de agrotóxicos a doenças graves; a chef Bela Gil, que fala sobre a alimentação como forma de resistência; Joenia Wapichana e Watatakalu Yawalapiti, que relatam os impactos diretos das pulverizações sobre os territórios indígenas; Marcos Orellana, Relator Especial da ONU para Substâncias Tóxicas, que enquadra o tema como uma questão de direitos humanos; e Arnaud Apoteker, articulador do Tribunal Monsanto em Paris, que discute as possibilidades de responsabilização diante da insuficiência dos mecanismos oficiais.

Com entrevistas, imagens de arquivo e animações originais, o filme traduz ideias complexas — regulação internacional, lobby corporativo e justiça socioambiental — em uma narrativa poética, acessível e contundente. “Agrotóxicos sem Fronteiras” é um chamado por soberania alimentar, transição agroecológica e cooperação global, onde ciência, arte e ativismo se unem em defesa da vida.