Fogo na Terra Indígena Yanomami cai 62% no primeiro bimestre

Operação que retomou a presença do Estado e expulsa garimpeiros da região é um fator que pode explicar queda na área queimada

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A Terra Indígena Yanomami apresentou queda de 62% na área queimada em janeiro e fevereiro de 2023, em comparação ao primeiro bimestre do ano passado. O número é do Monitor do Fogo, iniciativa do MapBiomas em parceria com o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Para especialistas, a redução está ligada à operação que retomou a presença do Estado, expulsando garimpeiros e invasores da terra indígena.

“Normalmente, janeiro e fevereiro são meses de muita chuva no Brasil. Mas, existe um lugar onde a chuva chega mais tarde e esse lugar é Roraima. Segundo o Monitor do Fogo, apesar de o estado ter sido o que mais queimou a Amazônia no período este ano, houve uma redução que foi ainda maior na terra indígena Yanomami. É possível avaliar essa mudança como uma consequência do reaparecimento do Estado na região e de uma governança que foi reinaugurada para o cumprimento da lei”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo.

Dados divulgados essa semana pelo Monitor do Fogo mostram que a Amazônia foi o bioma mais queimado no Brasil nos dois primeiros meses do ano, e que Roraima, Mato Grosso e Pará foram, respectivamente, os estados com maior área atingida. Ainda assim, o estado de Roraima teve uma queda de 44% no fogo em comparação com o ano passado: foram 259 mil hectares em 2023, ou 48% de toda a área queimada no Brasil. Em janeiro e fevereiro de 2022, haviam sido 470 mil hectares.

“A redução dos focos de queimadas na Terra Indígena Yanomami é a comprovação de que a presença do governo federal é fundamental para a proteção dos territórios indígenas. Somente a atuação firme do Estado pode garantir a proteção e segurança dos povos e seus territórios e, a partir da fiscalização e devida punição aos criminosos ambientais, assegurar também a preservação de nossas florestas”, afirma a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara.

A Terra Indígena Yanomami chegou a ser uma das com maior área sob invasão do garimpo na Amazônia, entre elas, também com presença de povos indígenas em isolamento voluntário, as terras Kayapó, Munduruku e Sawré Muybu, no Pará. Um estudo publicado pelo IPAM e pela COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), em janeiro deste ano, mostrou que Terras Indígenas com isolados são metade de todas as atingidas pelo garimpo e têm maior área (10,9%) com sobreposição de registros ilegais no Cadastro Ambiental Rural do que as sem isolados (7,8%).

No total, a área queimada no bioma Amazônia no primeiro bimestre de 2023 equivale a quatro vezes a capital paraense Belém e representa 90% de tudo o que queimou no país. O Brasil teve 536 mil hectares queimados nos dois meses, uma área 28% menor do que a registrada no mesmo período em 2022.

TV Cultura estreia documentário sobre Tragédia da Chuva no litoral de São Paulo

Com reportagem de Laís Duarte, produção inédita da emissora vai ao ar neste sábado (18/3), a partir das 20h

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Neste sábado (18/3), estreia na TV Cultura o documentário São Sebastião – Uma tragédia no paraíso. Produzida pelo Jornalismo da emissora, a produção inédita relata a situação dos desabrigados pela pior chuva da história do Brasil, Vai ao ar às 20h.

Em meio à tragédia, a repórter Laís Duarte e os repórteres cinematográficos Alexandre Silva, Marco Antonio Gallo e Euclides Jose testemunharam cenas tocantes de solidariedade entre os moradores que perderam parentes e amigos. Imagens que dão esperança aos sobreviventes que precisam recomeçar do zero.

O documentário traz imagens das principais áreas destruídas em São Sebastião, o resgate de vítimas soterradas e o trabalho de amparo às famílias que perderam tudo. E conta também com relatos de quem perdeu amigos e parentes e de quem conseguiu escapar da lama.

A produção relembra ainda outra tragédia no litoral de São Paulo, ocorrida em 17 de março de 1967, em Caraguatatuba, quando cerca de 500 pessoas morreram.

Tragédia no Litoral Norte

Cerca de dez milhões de brasileiros moram em áreas de risco, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. E na madrugada do dia 19 para 20 de fevereiro, em pleno carnaval pós-pandemia, uma chuva de mais de 600 milímetros atingiu seis cidades deixando um rastro de morte, centenas de casas destruídas e as principais estradas do litoral paulista fechadas. São Sebastião, Caraguatatuba, Guarujá, Bertioga, Ilhabela e Ubatuba.
 

Bertioga registrou 682 milímetros. São Sebastião, 626 milímetros por metro quadrado. São os maiores volumes acumulados já registrados no país. A Barra do Sahy foi o ponto mais atingido e as famílias mais pobres as que mais sofreram. Mães e pais tiveram que acordar seus filhos às pressas, enquanto suas casas eram inundadas pela lama, galhos de árvores e todo o entulho que despencou junto com os morros. Muitos não tiveram sequer uma chance de reação. Morreram dormindo ou quando davam os primeiros passos para fugir de casa.
 

Do alto dos morros desceu a avalanche de detritos. As casas foram esmagadas tirando a vida de mulheres, homens, idosos e muitas crianças. A união e solidariedade dos moradores não esmoreceram. Uma corrente humana se formou para dar comida, roupa e alojamento aos desabrigados e desalojados. Mantimentos chegaram de todas regiões. Os governos federal, estadual e municipal se uniram para socorrer os sobreviventes, reabrir estradas e reconstruir moradias.

Documentário “São Sebastião – Uma tragédia no paraíso”

Dia 18/3/23 (sábado), às 20h
Reportagem de Laís Duarte
Imagens: Alexandre Silva, Marco Antonio Gallo e Euclides Jose
Assistentes: Carlos Jardim, Erinaldo Clemente e Ricardo Coelho
Produção: Ricardo Ferreira
Edição: Jorge Valente, Simão Scholz e Leandro Silva

Brasil tem o 5º pior salário mínimo da América Latina

País fica na frente somente da Venezuela, Argentina, Rep. Dominicana e Colômbia

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Ao considerar os salários mínimos atualizados no ano de 2023, o Brasil ficou na 5ª pior posição do ranking da América Latina.

Somente 4 países possuem um salário mínimo menor que o Brasil: Venezuela, Argentina, Rep. Dominicana e Colômbia.

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É o que revela um estudo divulgando pela plataforma de descontos online CupomValido.com.br com dados referentes às informações oficiais de cada país.

O valor do salário mínimo médio ao considerar todos os países foi de R$1.751, um valor mais de 32% maior que no Brasil.

O primeiro e o último colocado

Com o valor de R$3.183, a Costa Rica é o país com o maior salário mínimo da América Latina. Este valor é mais que 2.4x maior que no Brasil.

A Costa Rica possui uma forte economia no setor de turismo, agricultura e exportação. Além disso, ao levar em consideração a expectativa de vida, educação, e renda per capita, o país possui o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,809, um valor considerado como muito elevado.

Na ponta oposta, com apenas R$42, a Venezuela é o país com o pior salário mínimo.

O país sofre com uma crise severa, com o PIB encolhendo e a inflação subindo vertiginosamente. Somente em 2022 a inflação foi de mais que 300% no ano.

FonteInformações oficiais de cada paísCupomValido.com.br

Escândalo das verbas secretas do governo do Rio de Janeiro chega ao procurador e chefe do gabinete do reitor da UERJ

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O Portal UOL publicou nesta 4a. feira mais uma reportagem assinada pelos jornalistas Igor Mello e Ruben Berta sobre o emprego das chamadas verbas secretas enviadas pelo governador Cláudio Castro para execução de projetos “especiais” pela Fundação Ceperj e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Desta vez o foco da reportagem está no próprio gabinete do reitor Mário Sérgio Alves Carneiro, pois envolve o chefe daquela repartição, o procurador Bruno Garcia Redondo.

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Segundo apontam Mello e Berta, “a esposa, a sogra, o cunhado, ex-sócios e até um ex-personal trainer do procurador da Uerj Bruno Garcia Redondo aparecem em uma lista de 18 pessoas que receberam, em pouco mais de um ano, R$ 5 milhões em verbas públicas para bolsas de pesquisa sob suspeita”. Ainda segundo a reportagem, “os pagamentos estão registrados nas chamadas folhas secretas da Uerj, reveladas pelo UOL em 2022”.  É importante lembrar que parte desses dados só se tornou pública após o Tribunal de Contas do Estado (TCE) ter solicitado as folhas de pagamento à Uerj.

Curiosamente, além de ser chefe de gabinete do reitor da Uerj, Bruno Garcia Redondo ainda teve tempo para ser, segundo a reportagem, atuar como coordenador em dois desses projetos, tendo recebido R$ 375,5 mil brutos, entre junho de 2021 e agosto de 2022, para complementar o salário mensal de mais de R$ 20 mil que recebe como procurador da instituição. Mas, além disso, a esposa do procurador, a também advogada Fernanda de Paula Fernandes de Oliveira, recebeu outros R$ 180 mil brutos em um desses projetos, mesmo sendo funcionária comissionada da Secretaria Estadual de Agricultura, onde se encontrava nomeada para um projeto de inovação em escolas públicas.

Agora que Mello e Berta tiraram, digamos, o gato de dentro do saco, vamos como se darão as apurações dos fatos que são mostrados nesta reportagem por parte dos órgãos fiscalizadores. Mas nunca é demais lembrar que a própria criação da Procuradoria da Uerj em 2020 foi motivo de questionamentos, mas a sua criação foi apresentada como uma forma de ajustar a carreira dos advogados da Uerj “às demais carreiras jurídicas” do estado do Rio de Janeiro. 

Outra matéria também assinada por Igor Mello e Ruben Berta, traz as respostas de alguns dos beneficiados pela concessão de bolsas nos projetos especiais da Uerj, a começar pelo próprio Bruno Redondo e sua esposa Fernanda de Paula Fernandes de Oliveira. A reportagem intitulada “Cabide da Uerj: Bolsistas ligados a procurador negam irregularidades” traz explicações das mais diversas para fatos bem difíceis de serem explicados.

Um detalhe a mais é que houve uma tentativa de também criar uma procuradoria na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), mas a proposta acabou sendo barrada pelo Conselho Universitário (Consuni) da instituição sediada em Campos dos Goytacazes. Com esse escândalo envolvendo o procurador e chefe de gabinete Bruno Redondo, quem reclamou da decisão tomada pelo Consuni da Uenf pode agora estar respirando aliviado. 

Sob comando de Wladimir Garotinho, Prefeitura de Campos quer instalar lixódromo em área experimental do Colégio Agrícola Antonio Sarlo

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Como se a situação das áreas experimentais existentes no espaço do Colégio Agrícola Antonio Sarlo (CAAS) (hoje anexado à Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf)) já não fosse desafiadora o suficiente para professores, servidores e estudantes que ali realizam suas atividades diárias; agora a Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes resolveu acrescentar uma nova camada de dificuldade ao pretender instalar um lixódromo em uma área adjacente a pontos de realização de pesquisas e aulas.

O Blog do Pedlowski teve acesso ao MODELO DE CONTRATO DE COMODATO – PEV ALDEIA” que foi apresentado pela Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes, via a Secretaria Municipal de Serviços Públicos, para ocupar e usar gratuitamente uma área de 1,6 hectares pelo prazo de dois anos para usar como depósito de entulhos.

Se não bastasse a proposta de criar mais um desses espaços horrorosos onde todo tipo de entulho é jogado ao relento, o fato de se querer usar um espaço destinado à realização de ensino, pesquisa e extensão beira os raios da irresponsabilidade e do desvio de finalidade.

Com certeza transformar uma área de 1.600 metros quadrados em depósito de lixo (que é do que se trata esse comodato) estava nos planos de quem transferiu o CAAS para ser cuidado pela Uenf em 2018. Aliás, de lá para cá, pouco ou nada se fez para cumprir as promessas feitas para justificar a referida transferência. Mas daí se concordar em transformar parte do terreno em um lixão, já é demais. Com a palavra o reitor da Uenf!

Peixes com “níveis mais altos de herbicidas no mundo” são encontrados em bacia dominada por monoculturas de soja na Argentina

sabalo-Parana-996x567Curimbatás (Prochilodus lineatus) são altamente consumidos em toda a bacia do Paraná. Crédito da imagem: Jonas Techy Potrich/Wikimedia Commons, sob licença Creative Commons (CC BY-SA 3.0)

Os peixes do Río Salado, afluente do Paraná (o maior rio sul-americano depois do Amazonas), mostrarão restos de novos inseticidas, herbicidas e fungicidas aplicados em cultivos transgênicos de soja, milho e algodão que abundam nessa bacia fluvial.

Embora os efeitos em peixes e humanos ainda não estejam completamente certos, os autores aconselham sobre a necessidade de medidas extremas de precaução em um dos cursos de água mais importantes do país, que provê alimento tanto no âmbito local como para exportação.Estudio planta que “se necessita urgentemente aumentar a distância entre os cultivos transgênicos dependentes de agrotóxicos e os ecossistemas aquáticos, assim como melhorar a abordagem dos riscos ambientais”. Rafael Lajmanovich, responsável pela pesquisa,  disse ao SciDev.Net que essa distância deveria ser de 1.000 metros como mínimo.

Os pesquisadores analisam sedimentos do rio, músculos e vísceras de 16  peixes comprados de pescadores ao longo de 100 quilômetros de alta produtividade agrícola.

No tecido muscular, há “concentrações muito altas” do inseticida cipermetrina (até 204 microgramas por quilo); do fungicida piraclostrobina (50 μg/kg); dos herbicidas glifosato (187 μg/kg), junto com seu ácido de degradação AMPA (3116 μg/kg), e glufosinato de amônia (677 μg/kg).

Antes deste trabalho, os maiores níveis de glifosato registrados em peixes eram “menores a 10 ug/k” e “não havia” informações sobre a presença de glufosinato, assegurou Lajmanovich em um correio eletrônico.

“É necessário aumentar urgentemente a distância entre os cultivos transgênicos dependentes de pesticidas e os ecossistemas aquáticos, assim como melhorar o tratamento dos riscos ambientais”.

Publicado em: “Cocteles de residuos de plaguicidas en peces Prochilodus lineatus del río Salado (América del Sur): Primer registro de altas concentraciones de herbicidas polares”.

Um estudo sobre os efeitos de herbicidas polares publicado em 2021 detectou níveis máximos de AMPA de 300 ug/k no tecido muscular e de 650 ug/k no fígado de peixes Hoplosternum littorale (mais conhecidos como cascudos) da mesma província, precisou em outro e-mail Andrea Rossi, uma das autoras. Embora não tenho sido encontradas  evidências de danos celulares ou efeitos neurotóxicos, é possível encontrar alterações nos parâmetros hematológicos dos espécimes amostrados.

A exposição aguda às quantidades encontradas nesta ocasião, sem nenhuma dúvida, poderia gerar efeitos “múltiplos”, tanto em peixes como em humanos, que incluíam genotoxicidade (capacidade de causar danos genéticos) e disrupção hormonal, associada ao aparecimento de tumores, malformações , disfunções do aparelho reprodutor, neurotoxicidade ou problemas imunológicos, explica Lajmanovich.

Entre 2019 e 2022, o mesmo investigador ―professor titular da Cátedra de Ecotoxicologia da Universidade Nacional do Litoral― fez várias advertências semelhantes sobre os efeitos combinados do glifosato com o arsénico e com os microplásticos .

Os autores reconhecem que a alta solubilidade dos agrotóxicos faz com que a determinação dos níveis de contaminantes seja “problemática”, embora essa mesma solubilidade provoca que sua toxicidade aumente em ambientes aquáticos, onde as membranas dos peixes facilitam a absorção.

Nesse sentido, o médico  Eric Speranza – que há 14 anos encontrou altos níveis de hidrocarbornetos em curimbatpas próximos da cidade de Buenos Aires – disse por telefone que está satisfeito que foi possível medir o glifosato e o glufosinato no tecido muscular do peixe.

“Está evidenciando o impacto da atividade agrícola sojeira”, avisou o investigador do Laboratório de Química Ambiental y Biogeoquímica das universidades argentinas de La Plata e Arturo Jauretche.

Em relação a uma possível vedação provincial sobre a pesca, Speranza é cautelosa, já que se trata de uma medida que “requer ter em conta fatores econômicos e sociais, como as próprias pessoas que vivem dessa atividade”.

Fontes do Servicio Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria –encarregado de controlar a segurança dos alimentos de origem animal e vegetal na Argentina – diz ao SciDev.Net que o relatório “recebeu relativa importância”, pois eles têm dúvidas sobre sua metodologia,  , por exemplo, em relação à quantidade de exemplares analisados.

A agência atualmente não mede vestígios de herbicidas em peixes; limites máximos de resíduos (LMR) são estabelecidos apenas para vegetais. Mesmo assim, eles sugerem que os valores encontrados não representam risco à saúde humana. No caso da soja para consumo, por exemplo, o LMR para glifosato é de 5.000 μg/kg.

No entanto, os autores do trabalho insistem em que “a contaminação por agrotóxicos do Rio Salado representa uma ameaça prejudicial à viabilidade da população de peixes e outros organismos aquáticos, e um grande risco para os consumidores”.

Propõe-se uma regulação clara sobre os níveis máximos toleráveis ​​para essas substâncias, permitindo uma melhor abordagem da situação.

Diversas tentativas da SciDev.Net para obter uma declaração oficial sobre medidas futuras por parte do governo de Santa Fé foram infrutíferos até o fechamento deste texto

Link para o resumo do artigo na Science of the Total Environment


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Este artigo foi produzido pela edição de América Latina e Caribe de  SciDev.Net [Aqui!].

Sensor de papel detecta agrotóxico em alimentos de modo rápido e barato

maça agroDispositivo criado na USP se assemelha a um medidor de glicose usado por diabéticos; ao entrar em contato com a superfície de frutas e legumes, ele identifica e mensura a quantidade do fungicida carbendazim – amplamente empregado no Brasil, apesar de proibido (foto: acervo dos pesquisadores)

Por Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram um sensor eletroquímico de papel kraft capaz de detectar em tempo real a presença de pesticida em frutas e verduras. Ao entrar em contato com maçãs ou repolhos, por exemplo, o sensor, ligado a um dispositivo eletrônico, identifica a presença e mensura a quantidade do fungicida carbendazim – amplamente utilizado no Brasil, apesar de proibido.

O trabalho, apoiado pela FAPESP por meio de três projetos (18/22214-619/13514-9 e 22/03758-0), envolveu grupos dos institutos de Física (IFSC-USP) e de Química (IQSC-USP) do campus de São Carlos. Os resultados foram divulgados na revista Food Chemistry.

“Para verificar a presença de pesticidas em alimentos por meio de abordagens convencionais é preciso triturar uma amostra, submetê-la a processos químicos demorados para só então detectar a substância. Os sensores vestíveis, como o que desenvolvemos para o monitoramento contínuo da concentração de pesticidas na agricultura e na indústria de alimentos, eliminam a necessidade desses procedimentos complexos. Fica muito mais fácil, barato, além de ser muito mais confiável para um supermercado, restaurante ou importador fazer a verificação”, afirma Osvaldo Novais de Oliveira Junior, professor do IFSC-USP.

O novo dispositivo tem grande sensibilidade e se assemelha aos medidores de glicose [glicosímetro] utilizados por diabéticos. Para medir a quantidade de agrotóxico em alimentos, o sensor eletroquímico capta a presença do fungicida e o resultado pode ser acessado, em questão de minutos, por meio de um aplicativo de celular.

“Nos testes que realizamos, o dispositivo teve sensibilidade semelhante à do método convencional. Tudo de uma forma mais rápida e barata”, conta José Luiz Bott Neto, pós-doutorando e autor correspondente do artigo que descreve o desenvolvimento da ferramenta.

Como funciona

Como explica Bott Neto, o dispositivo é basicamente um substrato de papel modificado com tinta de carbono e submetido a um tratamento eletroquímico em meio ácido para a ativação de grupos carboxílicos – o que permite fazer a detecção.

“Utilizamos o mesmo sistema empregado na serigrafia [estamparia de roupas] para fazer a transferência da tinta condutora de carbono para a tira de papel kraft, criando assim um dispositivo baseado em eletroquímica. O dispositivo é confeccionado com três eletrodos de carbono e mergulhado em uma solução ácida para a ativação dos grupos carboxílicos. Em outras palavras, átomos de oxigênio são adicionados na estrutura do eletrodo de carbono. Ao entrar em contato com uma amostra contaminada com carbendazim, o sensor induz uma reação de oxidação eletroquímica que permite a detecção do fungicida. Assim, a quantidade de carbendazim é medida via corrente elétrica”, explica Bott Neto à Agência FAPESP.

Para desenvolver o dispositivo, os pesquisadores avaliaram a estabilidade e o impacto da estrutura do papel na construção dos sensores. “Além do desenvolvimento do dispositivo, o trabalho teve uma parte voltada para entender a questão das propriedades do papel na fabricação do dispositivo”, conta o pós-doutorando Thiago Serafim Martins.

Melhor opção

Os pesquisadores analisaram dois tipos de papel: o kraft e o pergaminho. Ambos se mostraram estáveis o suficiente para a construção dos sensores. Porém, segundo Martins, a natureza porosa do papel kraft conferiu maior sensibilidade ao sensor e aos grupos carboxílicos formados durante a ativação eletroquímica.

Ele explica que a fabricação dos eletrodos em papel abre a possibilidade para diversas aplicações. “Existem eletrodos comerciais feitos com plástico ou cerâmica. No nosso trabalho, conseguimos desenvolver sensores eletroquímicos com papel, um material muito mais maleável, o que amplia o seu uso em vários campos, não apenas na agricultura ou no setor alimentício, mas em outras áreas como a da saúde, por exemplo”, diz.

O artigo Optimized paper-based electrochemical sensors treated in acidic media to detect carbendazim on the skin of apple and cabbage pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0308814623000456?via%3Dihub.


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Este texto foi originalmente publicado pela Agência FAPESP [Aqui!].

Sistema bancário dos EUA está em uma espiral histérica, e por motivos bem reais

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Como em 2008, o sistema bancário dos EUA está em uma espiral histérica, graças à quebra de dois bancos, o Silicon Valey Bank  (SVB) e Signature Bank (SB), que representaram respectivamente a segunda e a terceira maiores falências da história daquele país.  Como as causas estruturais dos problemas do SVB e do SB estão disseminadas em todo o sistema financeiro estadunidense, isso já está tendo repercussões nos mercados de ações globais, o Brasil incluso.

Uma crise financeira global viria em péssima hora para o sistema capitalista que ainda sofre com as consequências trazidas pela pandemia da COVID-19, com o risco de atingir um setor extremamente sensível que são as empresas de tecnologia que é altamente carente de novos investimentos.

O curioso é que a crise que agora pode atingir as empresas de tecnologia podem ter efeitos contraditórios sobre outros segmentos, a começar pelo das hipotecas, que lembramos foi o que causou a crise do sistema financeira de 2008. 

De toda forma, o que estamos vendo é que a manutenção de altos níveis de especulação financeira é uma certeza de crises cíclicas nos bancos, na medida em que a espiral de apostas por parte dos especuladores torna insustentável o cumprimento das obrigações tomadas. Como não há outro caminho a ser trilhado a estas alturas do campeonato, outras crises certamente virão. Resta apenas quem vai sobreviver a esta que está apenas começando e já causa tanto estrago.

Marketing acadêmico: Editora da Unioeste lança livro que discute a relação [dialética] do Homem com a Natureza em Karl Marx

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A relação dialética do homem com a natureza: Estudos histórico-filosóficos sobre o problema da natureza em Karl Marx

Autor: Wolfdietrich Schmied-Kowarzik
Tradução: Rosalvo Schütz
Revisão da tradução: Hans-Georg Flickinger

Nessa obra, Wolfdietrich Schmied-Kowarzik trava um debate científico-filosófico sobre a natureza, em que fica evidente que Marx expressa uma preocupação com a natureza, com a terra, com o solo, e isto é evidenciado em sua crítica à produção burguesa de valores que pressupõe o trabalho e a natureza, uma vez que, para ele, trabalho é uma relação metabólica entre o homem e a natureza. Para que haja valores de uso, são necessários dois fatores: o substrato material, que a natureza oferece, e o trabalho, com o qual o homem transforma a natureza para satisfazer as suas necessidades. É pelo trabalho que o homem se apropria dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à sua vida e, atuando assim sobre a natureza externa e inorgânica, ele a modifica e transmuda a si mesmo.

A relação do homem com a natureza, em Marx, no entanto, não deve ser entendida apenas como condição necessária do intercâmbio material entre o homem e a natureza, pois Marx fala, em O capital, que o trabalho envolve: 1) o próprio trabalho, que é também intercâmbio entre trabalho e trabalho (os diversos ramos de trabalho); 2) uma atividade que se aplica à natureza, o objeto universal do trabalho humano; e 3) seus meios, ferramentas, instrumentos, com os quais o homem transforma a natureza. Schmied-Kowarzik pensa a relação homem-natureza de modo outro que aquele das categorias orientadas pelos fins da racionalidade utilitarista das ciências e técnicas modernas.

O autor se opõe àqueles que acusam Marx de não ter se preocupado com os problemas ambientais. Tal acusação não procede, pois a crítica de Marx à sociedade burguesa é, precisamente, porque a lógica de sua produção – sua “racionalidade” – econômica reduz o homem e a natureza a simples objeto de lucro. Essa crítica de Marx significa que, enquanto a sociedade capitalista estiver erigida, não cessarão a degradação humana e a ambiental, ecológica. Do mesmo modo que a produção da economia capitalista visa à produção de mais-valia como resultado da exploração do tempo da força humana de trabalho, promovendo a degradação do ser humano, para Marx, tal produção causa também a degradação da natureza, uma vez que a busca do lucro é realizada a partir da exploração dos recursos naturais, não considerando os limites da natureza. O pensamento de Marx denuncia, pois, a pilhagem da natureza, a destruição ambiental, e antecipa, com isso, muitas ideias do discurso ecológico atual, já que sua crítica à economia política do capital não se manteve desvinculada da crítica à degradação do homem e de suas condições de existência, dadas pela natureza.

Adquira a obra: http://www.unioeste.br/edunioeste/ 

Amazônia concentra 90% da área queimada no Brasil no primeiro bimestre de 2023

Foram 487 mil hectares queimados no bioma; confira os dados do Monitor do Fogo divulgados nesta segunda-feira (13)

Fire Monitoring in the Amazon in July, 2021Monitoramento de Queimadas na Amazônia em Julho de 2021

Queimada feita em uma área de desmatamento recente na Amazônia

A Amazônia foi o bioma mais queimado no Brasil nos dois primeiros meses do ano, com 487 mil hectares atingidos pelo fogo. A área equivale a quatro vezes a capital paraense Belém e representa 90% de tudo o que queimou no país no período. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (13) pelo Monitor do Fogo, iniciativa do MapBiomas em parceria com o IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).

“O principal fator para o fogo na Amazônia nesse período é a ocorrência do fogo em formações campestres, principalmente ao norte do Bioma. Ainda que seja um número alto para a época de chuvas, é 25% menor que os 654 mil hectares que pegaram fogo no bioma em janeiro e fevereiro do ano passado”, comenta Vera Laisa Arruda, pesquisadora no IPAM responsável pelo Monitor do Fogo.

Entre os estados em todos os biomas, Roraima foi o que mais queimou nos meses de janeiro e fevereiro. Foram 259 mil hectares, ou 48% de toda a área queimada no Brasil. Roraima, Mato Grosso e Pará, os últimos com 90 mil e 70 mil hectares queimados, concentram 79% do fogo ocorrido no Brasil no período.

“O padrão de área queimada em Roraima pode estar relacionado a características climáticas e ambientais únicas do estado. Roraima está localizado no hemisfério norte, enquanto a maior parte dos demais estados se localiza no hemisfério sul. Dessa forma, enquanto o período de seca em boa parte do país ocorre entre os meses de maio a setembro, em Roraima os meses de seca ocorrem entre dezembro e abril”, explica Felipe Martenexen, pesquisador no IPAM e responsável pelo mapeamento da Amazônia no Monitor do Fogo.

Campos, como os lavrados roraimenses, foram o tipo de vegetação mais afetado: na Amazônia, os 266 mil hectares que pegaram fogo entre janeiro e fevereiro de 2023 eram de formações campestres, ou 55% da área queimada no bioma; no Brasil, a proporção chega a 84% .

“As vegetações campestres têm um papel fundamental na manutenção dos ciclos naturais essenciais para a vida, como o do carbono e do nitrogênio, além de contribuírem para a absorção e distribuição de água pelo solo. Por essa relação interdependente e complementar, medidas de proteção da biodiversidade devem considerar ecossistemas como um todo para serem efetivas”, acrescenta Vera Arruda.

O Cerrado foi o segundo mais queimado em janeiro e fevereiro, com 24 mil hectares atingidos pelo fogo. A época de chuva em regiões do bioma dificulta o alastramento dos incêndios. No total, o Brasil teve 536 mil hectares queimados nos dois meses, uma área 28% do que a registrada no mesmo período em 2022