Mercosul-União Europeia, um acordo comercial neocolonial

A Comissão Europeia lança um acordo com o Mercosul, mas os protestos aumentam. A desindustrialização ameaça a América Latina

9.JPG

Pode explodir novamente: Protesto contra a cúpula do Mercosul em Montevidéu (6.12.2024). Foto: Martín Varela Umpierrez/REUTERS

Por David Siegmund-Schultze para o “JungeWelt” 

Se a Comissão Europeia tivesse conseguido o que queria, o acordo deveria ter entrado em vigor no ano passado, mas associações agrícolas conseguiram pressioná-lo contra ele. Na semana passada, porém, a Comissão finalmente iniciou a ratificação do acordo comercial com os países do Mercosul – Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. O acordo será votado no Conselho da UE no final de novembro. Para impedir sua adoção, a aliança “Stop UE-Mercosul”, juntamente com mais de 50 organizações de ambos os lados do Atlântico, lança uma campanha contra o acordo “tóxico” na terça-feira. “O acordo reforçaria o sistema tradicional de comércio neocolonial”, disse Bettina Müller, da associação “Power Shift Germany”, que participa da campanha, em entrevista ao Junge Welt . “Na América Latina, a exportação de produtos primários, como produtos agrícolas, seria promovida, enquanto, em troca, a importação de produtos industriais da União Europeia (UE) seria facilitada – isso cimenta a desigualdade entre as duas regiões.”

Além da Polônia, que já anunciou que votará contra o acordo, França, Áustria, Holanda e Itália são candidatos instáveis. Mas, após o veto de Paris no ano passado, a Comissão dividiu o acordo em uma parte comercial e uma parte política. E como o comércio é da competência da UE, apenas uma maioria qualificada de 65% é necessária para esta parte – o direito de veto para os Estados individuais foi eliminado. Além disso, a Comissão promete aos agricultores que seriam prejudicados pelo acordo uma indenização de um fundo de mais de um bilhão de euros. Além disso, um chamado mecanismo de salvaguarda visa permitir que a Comissão “intervenha” caso as importações agrícolas excedam determinadas cotas ou violem as diretivas ambientais da UE.

Para Müller, isso é apenas fachada: “São apenas promessas; nada de concreto foi apresentado ainda.” Além disso, o acordo também contém o chamado mecanismo de compensação. Isso permite que os países do Mercosul tomem contramedidas caso a UE restrinja novamente as importações de produtos agrícolas e aumente as tarifas. A Comissão, portanto, pensará duas vezes antes de intervir para proteger os agricultores. “Com seus compromissos, a Comissão está indiretamente admitindo que também pressupõe que a agricultura será duramente atingida”, disse Andoni García Arriola, da associação de pequenos agricultores da Via Campesina, à jW . “A compensação não nos serve de nada se o dano já ocorreu devido aos produtos baratos que inundam o mercado e derrubam os preços.”

Apesar da pressão constante das associações de agricultores, há indícios de que Paris e Roma aprovarão o acordo no Conselho da UE. O obstáculo final seriam os parlamentos dos quatro países do Mercosul. No entanto, os protestos aqui são menores, como observa Müller. “Tenho a maior esperança de que surja resistência na Argentina.” Os peronistas da oposição se opõem ao acordo há muito tempo, pois ele ameaça atingir a indústria local de forma particularmente dura.

No Brasil, os protestos de sindicatos e organizações de esquerda foram silenciados, pois não querem causar mais danos a Luiz Lula da Silva, que está sob pressão antes das eleições presidenciais do próximo ano. O chefe de Estado brasileiro mantém firme apoio ao acordo. Diante das tarifas americanas, ele se compromete com a diversificação comercial e chega a falar em efeitos positivos para a indústria e a tecnologia. No entanto, é justamente nessas áreas que se avizinham graves prejuízos: “Acordos anteriores entre a UE e os países latino-americanos mostraram que, nestes últimos, apenas a exportação de matérias-primas e produtos agrícolas aumenta – eles causaram enormes prejuízos à indústria”, diz Müller. A indústria automotiva, em particular, pode ser duramente atingida. Devido às altas tarifas, os fabricantes da UE até agora têm produção no Brasil e na Argentina para o mercado local. Assim que as barreiras comerciais forem suspensas, as fábricas nesses países correm o risco de serem fechadas.

Mas Lula se vê forçado a repetidamente ceder aos conservadores que dominam o Congresso. Além disso, 49% das exportações do país são provenientes do setor agrícola – impressionantes US$ 168 bilhões no ano passado. Desse total, 16% foram para a UE, o segundo mercado mais importante do setor. Governo “de esquerda” ou não, Lula não quer alienar a facção capitalista mais poderosa do país.


Fonte: JungeWelt

 

UE-Mercosul: Anatomia de um acordo colonial

Celebrado por neoliberais e governo, compromisso aprofunda desindustrialização do país, limita políticas públicas e agrava nossa condição primário-exportadora. Vale examiná-lo – e torcer para que suas contradições internas o inviabilizem

fragmentoImagem: Fragmento do catálogo de uma exposição de Susan Danforth

Título original:
Acordo Mercosul/União Europeia – um post mortem

Por  Paulo Nogueira Batista Jr para o “Outras Palavras”

Meus amigos, os brasileiros que procuram defender o Brasil têm vida quase sempre difícil. Alcançamos, em geral, pouco ou nenhum sucesso e raramente temos algo a comemorar. Uma razão é a tenebrosa “quinta coluna”. Não sei se o leitor conhece a origem dessa expressão. Durante a Guerra Civil Espanhola, os republicanos diziam que pior do que as quatro colunas do General Franco, que marchavam sobre Madrid, era a quinta coluna franquista que operava dentro da capital. Pois bem, a nossa quinta coluna faz sombra à madrilenha. É um numeroso exército de oportunistas e vassalos de interesses estrangeiros. Dou meu testemunho: ao longo da vida inteira, passei grande parte do tempo lutando contra esses quinta-colunistas.

Veja-se, por exemplo, o recém-concluído acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Foi recebido com certa empolgação no Brasil. Celebraram, por um lado, os setores liberais e seus porta-vozes na mídia tradicional. E, por outro, os defensores incondicionais do governo, muitos dos quais pouco informados sobre o assunto. Os liberais querem expor a economia aos ventos da concorrência europeia. Os demais defensores do acordo simplesmente não admitem a hipótese de que o governo possa errar em questões fundamentais. Não são da quinta coluna, claro, mas acabam colaborando com ela sem saber.

No final do ano passado e início deste, escrevi vários artigos explicando por que este acordo, herdado do governo Bolsonaro, era uma verdadeira fria para o Brasil (Ver, por exemplo, O Brasil não cabe no jardim da Europa”, de março deste ano). A conclusão não poderia surpreender ninguém. Afinal, o que de positivo deixou Bolsonaro?

O governo Lula obteve modificações em alguns aspectos do acordo. Embora não sejam desprezíveis, não mudam a essência neoliberal do acordo. É essa ideologia, dominante na época em que a negociação com os europeus foi lançada há duas décadas, que estabelece a orientação do acordo. O princípio da liberalização fundamenta as suas principais partes– a eliminação de tarifas sobre importações, a proibição de impostos sobre exportações e a abertura das compras governamentais a empresas estrangeiras. O pressuposto central é que a liberalização é benéfica, tão benéfica que vale a pena consagrá-la em acordo internacional, protegendo-a de decisões nacionais.

Ressalte-se que o neoliberalismo foi abandonado nesse meio tempo em quase toda parte, inclusive nos Estados Unidos e na Europa. Encontrou, porém, uma sobrevida entre nós. Como dizia Millôr Fernandes, quando ficam caquéticas, as ideologias vêm morar aqui no Brasil.

Uma curiosidade: o acordo com a União Europeia fica aquém do que seria um acordo de livre comércio para bens e serviços. Mas vai além disso em diversos outros campos, como por exemplo em compras governamentais e na proibição de tributação sobre exportações de minerais críticos.

Alterações no acordo

As alterações obtidas pelo governo Lula foram em três áreas principais: a) certa margem de manobra em compras governamentais; b) algumas exceções à proibição de taxar exportações de minerais críticos; e c) um pequeno alongamento do cronograma de desgravação tarifária no setor automobilístico.

Um ponto essencial, leitor. O que se conseguiu foi algum damage control (controle de prejuízos), e não propriamente vantagens. Esse ponto nem sempre é compreendido. Explico sucintamente.

Em compras governamentais, não temos hoje qualquer restrição à sua utilização como forma de favorecer a produção e a geração de empregos em território nacional. Temos a liberdade de definir margens de preferência para produtores nacionais nas licitações públicas, favorecendo-os relativamente a fornecedores estrangeiras. Pelo acordo com a União Europeia, fica limitado o uso desse instrumento de política desenvolvimento econômico e de política industrial. O que o governo conseguiu foi apenas introduzir exceções setoriais à liberalização. No que diz respeito a compras do Sistema Único de Saúde, agricultura familiar e pequenas empresas, por exemplo, conservou-se o direito de favorecer os produtores nacionais relativamente aos do exterior. Ou seja, limitou-se o estrago, mas a liberalização foi preservada no essencial.

No que diz respeito a minerais críticos, essenciais para áreas estratégicas como economia digital e energia, foi definida uma pequena lista de produtos sobre os quais o governo poderá estabelecer impostos de exportação até um limite de 25%. Ora, hoje o governo pode tributar exportações desses e outros produtos sem exceção e sem pedir licença a ninguém. Isso pode ser importante para garantir o nosso acesso a esses insumos e estimular que a sua elaboração seja feita em solo nacional, no lugar de exportá-los em estado bruto. Como esses minerais são decisivos para a produção em setores de vanguarda, preservar essa margem de manobra teria sido essencial. Obteve-se a título de damage control uma pequena lista sobre a qual impostos serão admissíveis até certo teto.

Quanto à eliminação de tarifas sobre bens industriais pelo Mercosul, adiou-se a redução a zero desse imposto para alguns tipos de veículos. No caso dos carros eletrificados, a eliminação das tarifas se dará em 18 anos. No caso de veículos a hidrogênio, a desgravação passa para 25 anos e para os de nova tecnologia, para 30 anos. Para os demais setores industriais, permanece o prazo original de 15 anos. Depois desse período, a indústria brasileira, com as exceções mencionadas, ficará exposta à concorrência desimpedida com a indústria europeia, que conta com acesso a fontes de financiamento e economias de escala muito mais vantajosas.

Na verdade, leitor, era impossível melhorar suficientemente o acordo fechado no tempo de Bolsonaro. Não era recomendável aceitar ponto de partida tão desfavorável para a retomada dos entendimentos com os europeus. Melhor teria sido simplesmente abandonar o acordo, como fez recentemente a Austrália em negociação semelhante com a União Europeia. E explorar outros caminhos para incrementar as relações econômicas com os europeus de forma equilibrada e mutuamente benéfica.

O que ganhamos?

Repito a pergunta que fiz nos meus artigos anteriores. O que exatamente ganhamos com esse acordo, mesmo modificado? Não estou falando em damage control, mas em vantagens concretas. Essa pergunta nunca foi respondida.

Ganhamos acesso adicional aos mercados europeus para produtos industriais? Praticamente nenhum. As tarifas europeias sobre importações industriais já são muito baixas.

Ganhamos acesso adicional para a nossa agropecuária? Pouco. O comércio desses bens em que o Mercosul é amplamente competitivo permanecerá regulado por cotas restritivas. Não é um acordo de livre comércio, portanto.

Nas áreas em que somos competitivos, prevalece o protecionismo. Só haverá livre comércio para os bens industriais em que a Alemanha e outros países têm largas vantagens competitivas. Não por acaso, a Alemanha se empenha pelo acordo. Depois de um período de transição, as tarifas de importação serão zeradas. Vamos assim exportar empregos industriais para a Alemanha. As montadoras estrangeiras, várias delas europeias, se inclinarão a produzir menos ou fechar fábricas no Brasil. Resultado: uma provável substituição de produção local por importações.

Bovinamente, os nossos representantes aceitaram negociar dentro desse esquema assimétrico…

Outra área que fica vulnerável com esse acordo é a agricultura familiar, setor para o qual não se prevê salvaguardas no processo de abertura. Não por acaso, o MST se pronunciou várias vezes contra esse acordo. O Ministério de Desenvolvimento Agrário, entretanto, parece ter ficado à margem do assunto.

Um rebanho bem comportado

Um aspecto curioso é que, mesmo sendo poucos os ganhos para a agropecuária do Mercosul, os agricultores europeus resistem ferozmente. Por isso, a França se posiciona abertamente contra a ratificação do acordo, assim como outros países com setores agrícolas vulneráveis à concorrência com o Mercosul.

Argumenta-se que o acordo não é tão ruim assim. Prova disso seria que a CNI, a Fiesp e outras entidades industriais são favoráveis a ele. Argumento falacioso. É preciso ter em conta o que realmente são essas entidades. Depois de décadas de desindustrialização, elas são industriais apenas no nome. As suas lideranças, em sua maior parte, não são empresários da indústria, mas burocratas de federações ou confederações. Ou então importadores e montadores, interessados em remoção de barreiras. Ou, ainda, filiais de empresas multinacionais, inclusive europeias, sem autonomia de decisão em relação a suas matrizes.

A verdade é que a burguesia industrial brasileira foi trucidada por décadas de políticas econômicas neoliberais, desde Collor e Fernando Henrique Cardoso. Foi-se o tempo em que havia um Antônio Ermírio de Moraes, um Cláudio Bardella, um Paulo Cunha, um José Alencar. Agora temos luminares como Paulo Skaf ou Robson de Andrade. Não sobrou quase ninguém.

Com a eliminação de tarifas sobre produtos industriais, inaugura-se provavelmente uma nova fase da desindustrialização da economia brasileira. O governo enche a boca para falar em “neoindustrialização”. Mais realista seria falar em neodesindustrialização.

Uma pequena sugestão: por que não criar uma medalha de mérito Visconde de Cairu, aquele discípulo de Adam Smith que, no início do século 19, pregava a abertura irrestrita da economia brasileira? Os negociadores desse acordo seriam os primeiros candidatos a receber essa honraria.

Realmente, como dizia Nelson Rodrigues, subdesenvolvimento não se improvisa. É obra de séculos.

Um acordo natimorto?

Termino o artigo com uma nota (envergonhada) de esperança. O que pode nos salvar dessa arapuca são alguns países europeus, notadamente a França. Ficamos nas mãos dos outros, como se colônias ainda fôssemos.

O melhor que ainda pode acontecer é a França montar uma coligação suficientemente forte, em termos de número de países e de população, capaz de constituir uma “minoria de bloqueio”. Pelas regras europeias, se houver oposição de pelo menos quatro países com pelo menos 35% da população do bloco, o acordo não passa. Mesmo que essa minoria não seja alcançada no âmbito dos poderes executivos, resta saber se os parlamentos europeus irão aprovar.

Ursula von der Leyen e Lula podem ter celebrado um acordo natimorto. O presidente Lula chegou a declarar, com notável desapego por ganhos concretos, que não era “tanto pela questão do dinheiro” que ele buscava finalizar o acordo, mas sim porque era preciso encerrar negociações que se arrastavam há mais de 20 anos…

De um diplomata que participou ativamente dessas negociações cheguei a ouvir que, embora pouco vantajoso para nós, o entendimento com os europeus teria o valor geopolítico para o Brasil de fazer um contraponto à China. É um mistério para mim que um acordo desvantajoso, que praticamente não abre mercados adicionais para as nossas exportações, possa servir como contrapeso à China, nosso maior parceiro comercial por larga margem. Não se fazem mais diplomatas como antigamente.

Essa mistura de ignorância, servilismo e desorientação estratégica nos levou a esse beco. Agora é torcer, passivamente, para que a França e outros países da União Europeia inviabilizem esse acordo danoso.

[Uma versão resumida deste artigo foi publicada na revista Carta Capital]


Fonte: Outras Palavras

Carrefour promete não vender carne originada do Mercosul na França

carrefour 0

A oposição da França ao acordo comercial do Mercosul, com a grande rede de supermercados Carrefour se comprometendo a não vender carne vinculada ao acordo, alinhando-se às preocupações dos fazendeiros franceses. (Foto de Chesnot/Getty Images)

Por Anne Laure Dufeal para o “Brussel Signal” 

Em meio à oposição da França ao acordo comercial União Europeia-Mercosul, a grande rede de supermercados francesa Carrefour prometeu não vender carne vinculada ao acordo, alinhando-se às preocupações dos fazendeiros franceses.

“O Carrefour quer se unir ao setor agrícola e agora se compromete a não comercializar nenhuma carne do Mercosul”, disse o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, em carta endereçada à Federação Nacional dos Sindicatos dos Produtores Rurais (FNSEA), o maior sindicato de produtores rurais do país.

O bloco Mercosul é formado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.

Bompard enfatizou na carta que a decisão foi tomada “em solidariedade com a comunidade agrícola”.

“Em toda a França, ouvimos a consternação e a raiva dos agricultores diante da proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul”, disse o chefe do segundo maior varejista da França, em 20 de novembro.

Contactada pelo Brussels Signal , a FNSEA recusou-se a comentar a carta, mas manifestou satisfação com as recentes manifestações contra o acordo, organizadas em conjunto com os Jeunes Agriculteurs (Sindicato dos Jovens Agricultores).

“Nós destacamos com sucesso nossa oposição ao acordo”, afirmou o assessor de imprensa da FNSEA.

O sindicato também anunciou planos para uma nova onda de protestos na semana que começa em 25 de novembro, desta vez com foco nos “desafios” que a indústria agrícola enfrenta na França.

O setor agrícola teme que o acordo do Mercosul inunde os mercados europeus com produtos estrangeiros baratos.

Um estudo publicado pela revista econômica francesa Capital em fevereiro de 2024 revelou que 97% da carne suína, 90% da carne bovina e 96% do frango vendidos em supermercados franceses foram originários da França.

Apenas alguns produtos, como bananas, abacates e cordeiro, foram importados de fora da União Europeia.

Em sua carta, Bompard pediu que outras grandes redes varejistas e o setor de buffet se juntassem a ele em sua posição.

“Apelo à indústria da restauração, que representa mais de 30 por cento do consumo de carne em França – 60 por cento da qual é importada – para se juntar a nós no nosso compromisso”, afirmou.

Bompard argumentou que essa era a única maneira de “ficar do lado dos fazendeiros franceses”.

No entanto, a EuroCommerce, o lobby europeu de supermercados, é a favor do acordo. Ela emitiu uma declaração conjunta com outras 78 associações empresariais pedindo que “a conclusão das negociações do acordo de livre comércio UE-Mercosul” seja acelerada.

“As associações destacam a importância do acordo UE-Mercosul, enfatizando que ele pode ajudar a mitigar os desafios impostos pela instabilidade geopolítica e interrupções na cadeia de suprimentos”, escreveram.

Os membros da EuroCommerce incluem a Federação de Comércio, Serviços e Distribuição (FCD), da qual Bompard é presidente desde 2023. No entanto, a FCD não aparece entre os signatários do documento

No entanto, o governo francês prometeu pressionar Bruxelas a abandonar o acordo comercial UE-Mercosul.

Estudo do Greenpeace-Alemanha encontra agrotóxicos proibidos em limões brasileiros vendidos na União Europeia

limones do veneno

Bruxelas – Um estudo do Greenpeace Alemanha sobre limões brasileiros vendidos na União Europeia (UE) encontrou resíduos de vários agrotóxicos, alguns deles proibidos para uso na Europa. Um laboratório credenciado e certificado testou mais de 50 amostras de limões comprados em supermercados e mercados atacadistas na Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha e Suécia e encontrou resíduos de agrotóxicos em quase todas as amostras, exceto uma. 

limoes 2

Os agrotóxicos – entre eles o herbicida glifosato, e os inseticidas imidaclopride e cipermetrina – são vendidos por empresas europeias no Brasil, um dos maiores usuários de agrotóxicos do mundo. O estudo foi conduzido à luz do planejado acordo comercial entre a UE e os países do Mercosul Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. O acordo UE-Mercosul eliminaria as tarifas sobre as exportações de agrotóxicos da UE para os países do Mercosul e reduziria os controles sobre os alimentos importados, o que significa que tanto o uso de pesticidas quanto os efeitos adversos devem aumentar acentuadamente.

Lis Cunha, ativista comercial do Greenpeace Alemanha, disse“Os gigantes químicos da UE exportam substâncias tóxicas para o Brasil, algumas das quais nem mesmo são aprovadas para uso dentro das fronteiras da UE, e a UE as reimporta como resíduos em alimentos. O acordo UE-Mercosul colocaria esse ciclo tóxico em marcha acelerada e consolidaria uma relação neocolonial e extrativista que favorece a UE. O acordo perpetua um modelo econômico que está destruindo nosso planeta, por isso estamos pedindo aos formuladores de políticas que enterrem o acordo UE-Mercosul de uma vez por todas”.

Marina Lacorte, ativista de alimentos e agricultura do Greenpeace Brasil, disse: “Os agrotóxicos já estão envenenando milhares de pessoas todos os anos no Brasil e matando milhões de abelhas, para citar apenas duas das muitas consequências. Então, quem se beneficiará com o acordo UE-Mercosul? Indústrias nocivas, como a indústria de agrotóxicos – mas certamente não as pessoas na Europa ou na América do Sul”.

Atualmente, mais de 3.000 produtos agrotóxicos comerciais estão registrados para uso no Brasil. Em fevereiro de 2023, 63% dos ingredientes ativos autorizados no Brasil não tinham autorização correspondente na UE . Um terço dos princípios ativos encontrados pelo estudo também são encontrados em agrotóxicos vendidos no Brasil pelas empresas europeias BASF e Bayer. Essas empresas devem se beneficiar do acordo comercial, que eliminaria as tarifas de mais de 90% das exportações de produtos químicos da UE, incluindo pesticidas.

Os ministros do Comércio europeus se reunirão em Bruxelas em 25 de maio para discutir o acordo UE-Mercosul.

Principais conclusões do estudo 

  • Das 52 amostras, 51 continham resíduos de agrotóxicos
  • Foram encontrados 27 ingredientes ativos: um biocida (clorato desinfetante), três herbicidas, dez fungicidas e 13 inseticidas
  • Seis dos ingredientes ativos encontrados não são aprovados ou proibidos na UE
  • Um terço das amostras continha o herbicida glifosato potencialmente cancerígeno
  • Mais de 90% das amostras contendo resíduos apresentaram um coquetel tóxico de até sete agrotóxicos diferentes
  • Mais da metade dos agrotóxicos encontrados nos limões brasileiros são considerados altamente perigosos porque representam um alto risco à saúde humana, aos animais ou ao meio ambiente.

compass black

Este texto escrito originalmente em inglês foi originalmente publicado pelo Greenpeace Europe [   ].

Três anos de Bolsonaro: três anos de destruição ambiental no Brasil

destruição amazônia

Em janeiro de 2022, Jair Bolsonaro comemorará seu terceiro aniversário como presidente do Brasil. Mas há poucas razões para comemorar o clima e a biodiversidade do Brasil. Em um relatório recente , o Greenpeace faz um balanço das políticas do presidente; o resultado é chocante: 75,6% mais desmatamento, 10% mais emissões de gases de efeito estufa, 1.500 pesticidas recém-aprovados, quase 40% mais conflitos de terra.

bolsonaro dangerous man

Quando Bolsonaro assumiu o cargo, começou uma espiral descendente de políticas antiambientais e anti-humanas. As emissões de gases de efeito estufa no Brasil aumentaram 10% desde 2019. Em 2020, foram liberadas 2,16 bilhões de toneladas de emissões, um aumento de 190 milhões de toneladas em um ano. Isso corresponde aproximadamente às emissões de gases de efeito estufa da Grécia ao longo de três anos. 

“Esse aumento pode ser explicado sobretudo pela crescente destruição de florestas – não apenas na Amazônia”, explica a porta-voz de políticas públicas do Greenpeace Brasil, Thaís Bannwart. “Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), somente entre agosto de 2020 e julho de 2021, uma área de 13.235 km² foi desmatada. Isso é 75,6% a mais em um ano.”

dersmatamento amazônia

Incêndios cada vez mais frequentes estão acelerando o desmatamento parcialmente ilegal das florestas no Brasil. Os seres humanos são responsáveis ​​por 98% desses incêndios, a maioria ilegalmente e com impunidade .

Para converter ainda mais terras para o cultivo de commodities agrícolas em monoculturas e pecuária, a política de Bolsonaro não recorre apenas a queimadas e desmatamentos. As comunidades indígenas estão sendo ameaçadas e deslocadas. Há até assassinatos para usar seus territórios para fins agrícolas.

Corrupção e misantropia estão tomando proporções drásticas no Brasil 

Somente em 2020, foram registrados 1.576 conflitos de terra, um novo e triste recorde desde 1985. Destes, 41,6% dos conflitos afetaram comunidades indígenas. Conflitos de terra mataram 18 pessoas no Brasil em 2020, sete dos mortos eram indígenas. Além disso, 35 pessoas foram vítimas de tentativa de homicídio – 12 indígenas, 159 pessoas ameaçadas de morte – 25 indígenas. O número de vítimas indígenas é comparativamente muito alto – eles representam 0,4% da população brasileira . 

O governo prepara o terreno para a violência contra indígenas e ativistas: Bolsonaro descreve as organizações não-governamentais (ONGs) como “câncer” e proclama que sua voz, a voz da sociedade civil, não tem sentido para ele. Em 2019, ele acusou as próprias ONGs de atearem os incêndios na Amazônia.

A corrupção e os crimes ambientais também já são um fato entre os membros do governo. O ministro do Meio Ambiente indicado por Bolsonaro, Ricardo Salles, foi forçado a renunciar em 2021 após alegações de envolvimento em extração ilegal de madeiraO Supremo Tribunal Federal continua investigando.

Bolsonaro retira fundos e funcionários de autoridades ambientais

O governo também enfraqueceu estrategicamente as autoridades ambientais desde a posse de Bolsonaro. Eles perderam dez por cento de seus funcionários durante este período. Em alguns casos, os funcionários foram até remanejados para a implementação de regulamentos ambientais.

Além disso, o governo Bolsonaro cortou drasticamente os recursos do governo. O orçamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ​​(IBAMA) caiu 30,4% entre 2019 e 2020, enquanto o orçamento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) caiu 32,7% no mesmo período. Para 2021, o orçamento geral da Secretaria de Meio Ambiente está no nível mais baixo desde 2010 .

Não surpreendentemente, as multas por violar as leis ambientais aplicáveis ​​também estão em níveis mais baixos, e as autoridades estão sistematicamente ignorando as queixas dos povos indígenas sobre apropriação de terras e destruição de florestas.

Ameaça de longo alcance para a biodiversidade

Cerca de 1.500 novos agrotóxicos foram aprovados desde a posse de Bolsonaro. Este é um novo recorde. Muitos dos pesticidas permitidos e usados ​​no Brasil contêm ingredientes ativos que não são permitidos na UE e são perigosos para a saúde humana e o meio ambiente. Por exemplo, o herbicida atrazina, proibido na UE há mais de 15 anos devido aos seus efeitos nocivos nas águas subterrâneas, ainda pode ser encontrado em mais de 70 produtos comerciais no Brasil. Com o acordo comercial UE-Mercosul prestes a ser ratificado, esses ingredientes ativos estão cada vez mais ameaçando acabar em nossos pratos. Eles já podem ser detectados em frutas importadas do Brasil.

Planos falsos em vez de medidas eficazes contra a destruição da floresta

As pessoas e o meio ambiente continuarão sofrendo com as maquinações de Bolsonaro. Enquanto interrompeu o Plano de Ação de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) no início de seu mandato, o governo Bolsonaro publicou seu “Plano Amazônia 2021/2022” em abril de 2021. Mas, em vez de parar o desmatamento, o decreto liberou 16% mais área intacta de floresta tropical para extração de madeira do que era permitido antes de ele assumir o cargo .

Portanto: Sem acordo com Bolsonaro! 

Apesar desse histórico terrível, a UE ainda mantém um acordo comercial com Bolsonaro. 

“O acordo UE-Mercosul solidificaria as políticas antiambientais e misantrópicas de Bolsonaro, aumentando as exportações brasileiras de carne bovina e soja para ração animal, bem como pesticidas altamente perigosos, para a UE”, explica Gesche Jürgens, especialista em florestas do Greenpeace. “Tal acordo à custa das pessoas e da natureza não pode ser o objetivo da política da UE. ”

É por isso que o Greenpeace está pedindo que o acordo seja interrompido.

color compass

Este texto foi escrito originalmente em alemão e publicado pelo Greenpeace Alemanha [Aqui!].